• Percival Puggina
  • 27/08/2018
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A DIGNIDADE NACIONAL FRENTE À IDEOLOGIA DO CONFLITO

 

Como entender esse sentimento de inferioridade, de desapreço em relação a nós mesmos, sendo herdeiros de uma história e de uma cultura tão ricas? Qual a causa desse rastejar em culpas e remorsos, como se ser brasileiro equivalesse a viver num estuário de vilanias e maldições?

A visão negativa a que me refiro iniciou com a propaganda republicana. No entanto, nada fez tanto estrago à nação quanto o discurso esquerdista ao suscitar conflitos sem os quais sua ação política entra em coma.

É como se a história do Brasil fosse uma reportagem de horrores que começa com genocídio indígena e escravidão. A partir disso não tem mais cura nem conserto. Ora, qual país não registra páginas escuras em seus anais? Qual não viveu ou criou situações assim? Não conheço outro, contudo, que as traga de modo permanente à luz para repudiar suas origens desde o Descobrimento, injuriar a identidade nacional e desprezar a própria dignidade. Desconheço estupidez análoga em outro lugar planeta!

São ideias difundidas por supostos estudiosos dos temas nacionais que se aborrecem com o fato de nosso povoamento haver transcorrido no período histórico correspondente ao absolutismo monárquico. Deprime-os a maldição de que o mercantilismo fosse o sistema econômico então vigente. Incomoda-os saber que no século XVI foi levado o último toco de pau-brasil, sem o qual fomos obrigados a sobreviver até hoje. Atribuem nossas dificuldades financeiras ao ouro arrancado de nossas entranhas (uma exploração privada, sobre a qual a Coroa cobrava 20% de imposto) e que gerou desenvolvimento econômico e social em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

De fato, a Coroa portuguesa entre os séculos XVI e XIX não regia uma economia de livre mercado, não era uma monarquia constitucional, nem uma “democracia popular”, nem era “politicamente correta”! Ora pombas, que coisa mais anacrônica!

Prefiro outro modo de ver a história. Prefiro valorizar a riqueza cultural de que somos herdeiros, enriquecida pelo aporte das varias etnias que aqui se agregaram. Nessa herança, valorizo o idioma que falamos. Ele resulta de laboriosa construção no tempo e lança raízes na Península Ibérica desde que, vitorioso na 3ª Guerra Púnica, o Império Romano conquistou a região e criou a província Lusitânia. Não fosse isso, falaríamos o idioma púnico de Cartago, ou o germânico dos suevos, ou o gótico dos visigodos. A história do nosso belo idioma também é nossa e tem tudo a ver com a cultura e a identidade nacional.

A religião é parte integrante da cultura dos povos em todas as civilizações. Não há povo sem religião. Parte valiosa de nossa identidade, então, está fornecida pelo cristianismo aqui aportado de múltiplas formas pelos nossos povoadores. É igualmente longo, procede de Roma e vive momentos decisivos na Ibéria do século VI, o processo de conversão daqueles povos ao cristianismo. Também é nossa essa história.

 A ideologia do conflito, revolucionária, precisa destruir a base cultural das sociedades ocidentais cristãs. Tanto quanto Marx viu a religião como ópio do povo, seus seguidores percebem que precisam destruir a cultura do Ocidente. Para isso trabalhou a Escola de Frankfurt e para isso opera parcela expressiva do mundo acadêmico brasileiro.

Como parte dessa estratégia perversa, enquanto outros povos se orgulham de sua nacionalidade, cultuam seus grandes vultos, enfeitam suas cidades com monumentos que os exibem à memória e reverência de sucessivas gerações, aqui eles são escondidos. Quantos monumentos a Bonifácio? Frei Caneca? Nabuco? D. Pedro II? Isabel? Mauá? Rio Branco? Caxias? Patrocínio? Rui? Quantos estudantes brasileiros conseguiriam escrever cinco linhas sobre qualquer deles?

Se não vemos dignidade em nossa história, dificilmente a veremos em nós e muito mais dificilmente a veremos nos outros. Seremos grotescos pichadores de nós mesmos. Tenho orgulho das minhas raízes como brasileiro. É a política do tempo presente que me constrange.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.


 


Heloisa -   31/08/2018 02:32:17

Belo artigo, mas concordo com o comentarista Esdras: a implantação da doutrina socialista junto aos jovens ocorre no mundo inteiro, talvez mais por aqui devido à baixa escolaridade dos povos da América do Sul. Essa gente não descansa. Como dizia Nelson Rodrigues, “a burrice não dorme, e repito, a burrice é uma eterna vigília “. Quanto ao Dalton, meu marido sempre diz o mesmo que ele:Deus é americano.

Herbert Sommer -   31/08/2018 00:24:40

"Quantos monumentos a Bonifácio? Frei Caneca? Nabuco? D. Pedro II? Isabel? Mauá? Rio Branco? Caxias? Patrocínio? Rui? Quantos estudantes (E PROFESSORES) brasileiros conseguiriam escrever cinco linhas sobre qualquer deles?" PERFEITA DEFINIÇÃO!

FERNANDO A O PRIETO -   30/08/2018 15:42:30

Muito bom seu artigo, Sr. Percival , como sempre. Devo ressaltar porém que concordo integralmente com a opinião do Sr. Esdras, de que está em curso nas nações ocidentais (e não só no Brasil), um processo de desvalorização, de desapreço, de desprezo pelos valores que formaram sua base cultural, que são os da civilização de raízes greco/romana e judaico/cristã. Justamente os "líderes" (?), que deviam preservá-los e defendê-los, estão dando apoio aos que querem destruí-los! Esta ação nefasta é empreendida sobretudo pela Esquerda mundial, mas tem o apoio de outras correntes, como o Islã, que pensa poder aproveitar-se do caos ,que, se acontecer, provocará conflitos de proporções jamais vistas, em que essas correntes malignas se devorarão mutuamente... Deus nos dê meios de ação para que esta desgraça possa ser evitada!

Esdras -   29/08/2018 11:46:46

Percival, me chamou atenção este trecho: -- "Desconheço estupidez análoga em outro lugar planeta!" Infelizmente desconheces a porção do planeta conhecida como "ocidente". Seja na Alemanha, nos EUA, Austrália, Inglaterra etc. tudo o que se fala para as crianças em sala de aula desde os primeiros anos é que o país onde eles cresceram é malvado, explorador, escravagista, beligerante etc. e tem culpa por tudo de mau, ruim e feio que existe no mundo. E que parte dessa culpa resvala nos estudantes propriamente ditos, pois são herdeiros de uma tradição má, cruel, feia, etc. -- isso é a NORMA em todas as salas de aula do mundo ocidental, não é uma particularidade do Brasil. Isso é, evidentemente, parte da estratégia do movimento comunista para justificar, perante a opinião pública, seu objetivo de criar uma "nova sociedade". Para que o povo venha a apoiar a "revolução" e a imensa transformação que ela trará é preciso 2 coisas: 1) ensinar as pessoas, desde crianças, a terem vergonha e ódio da sua nação e tradições. Qualquer forma de orgulho e respeito por nações e tradições deve ser execrado e taxado imediatamente de "nazismo" (vide Guga Chacra "cobrindo" as comemorações da independência da Polônia.) 2) criar um ambiente caótico e intolerável (gays vs. heteros, trans vs. cis, satanistas vs. cristãos, pais vs. filhos, brancos vs. negros etc.), em que as pessoas tenham medo se relacionar umas com as outras sem mediação do Estado (pode tomar processo...), até que eventualmente o comunista irá oferecer uma "saída" para essa "crise" : o Estado Totalitário, que irá regulamentar toda a vida de todos para o bem comum e para evitar "ofensas", "discriminação" etc. Assim, Percival, pareceu-me que você ignorou este estratagema em curso e optou por atribuir à "síndrome de viralata" algo que não o é. Admito que há confusão, pois a "síndrome" é um fenômeno real e antigo, mas ela sozinha não explica por que Franceses estão aprendendo a odiar a França, ou americanos aos EUA etc. Trata-se de manipulação COMUNISTA da cultura. É preciso dar nome aos bois.

Horacio Lima -   28/08/2018 19:31:40

Obrigado Professor. Mais um belo artigo, desta vez reacendendo o amor pelo Brasil dentro do peito. Moro aqui nos USA desde 1999, mas nunca como antes, tenho pensado e orado para que possamos resgatar para as futuras geracoes a nossa rica historia, a nossa cultura euro-africana-tupiniquim e a nossa abencoada Fe' em Cristo.

Luis -   28/08/2018 18:14:09

Puggina, concordo contigo e devemos ter orgulho da nossa herança portuguesa. Os portugueses com poucos recursos criaram um império e construíram o Brasil do nada, verdadeiramente "tiraram leite de pedra".

Dalton Catunda Rocha. -   28/08/2018 17:30:47

Como engenheiro agrônomo (desempregado) que sou, eu devo lembrar que em relação aos Estados Unidos: 1- O Brasil não tem nenhuma parte de seu território em clima temperado. Já a esmagadora maioria do território americano é de clima temperado. É a zonalidade. Exceto quando haja um vulcão, as terras tropicais tendem a ser pobres. E terras pobres dão povos pobres; mais ainda antes de se terem adubos, que foi o caso do Brasil, por alguns séculos. Nenhuma parte do Brasil tem solos altamente férteis. Mesmo em área do Brasil de fertilidade do solo razoável, esta parte do Brasil cabe no território do vizinho Uruguai. Já os Estados Unidos tem a maior área de solos de alta fertilidade natural do mundo, em parte por causa de clima temperado e em parte, por super vulcão, que fica no atual Parque de Yellowstone e soltou adubos em todo o território americano e canadense há centenas de milhares de anos atrás. 2- Em um recursos natural chave, o carvão mineral, os Estados Unidos não só tem carvão em imensas quantidades, coisa de centenas de bilhões de toneladas, como também este carvão é de alta qualidade e altamente barato e fácil de explorar. O Brasil tem poucou carvão mineral, que é ruim em qualidade e difícil de explorar. 3- Em um terceiro recurso natural chave, o petróleo, o Brasil só começou a explorar petróleo 80 anos depois dos Estados Unidos e hoje, o petróleo terrestre do Brasil é menor que o petróleo produzido nos Estados Unidos de 1890. Ou seja, a natureza deu aos americanos e aos brasileiros: 1- A natureza deu aos americanos, a maior área de solos altamente férteis do mundo. Aos brasileiros, a natureza não deu nenhuma área de solos altamente férteis e, pouquíssima área percentual de solos de fertilidade ao menos regular. 2- A natureza deu aos americanos as maiores e mais fáceis e baratas de se explorar reservas de carvão mineral do mundo. Aos brasileiros, a natureza deu um carvão mineral de baixa qualidade, apenas em reservas pequenas e ainda por cima de cara e difícil extração. Hoje, o Brasil produz menos carvão mineral anualmente, que os Estados Unidos produziam, em 1878. 3- A natureza deu aos americanos vastíssimas reservas de petróleo, exploradas desde 1859. Aos brasileiros, as reservas terrestres de petróleo só são 2% das reservas de petróleo terrestres originais dos Estados Unidos. E o Brasil só achou petróleo em 1939, 80 anos depois dos americanos. Em resumo: Deus não é brasileiro. Deus é americano.