Ot?o Cabral
A fazenda Est?ia do C?era uma t?ca propriedade dos pampas ga?s. Localizada em S?Gabriel, a 320 quil?ros de Porto Alegre, seus 5 000 hectares eram ocupados por 10 000 bois e 6 000 carneiros que pastavam entre planta?s de arroz e soja. O cen?o, de t?buc?o, parecia um cart?postal. Tudo mudou na fria e ensolarada manh?o dia 14 de abril passado. Por volta das 7 horas, 800 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, invadiram a propriedade aos gritos. N?anhamos. Ganhamos dos porcos. A fazenda ?ossa. Armados com foices, fac? estilingues, bombas, roj? lan?, machados, paus e escudos, os sem-terra transformaram a Est?ia do C?em um inferno. Alimentos e produtos agr?las foram saqueados. As telhas da sede da fazenda foram roubadas. Os sem-terra picharam paredes, arrancaram portas e janelas e espalharam fezes pelo ch? Bombas caseiras foram escondidas em trincheiras. Animais de estima?, abatidos a golpes de lan? foram jogados em po? de ?a pot?l. Quatro dias depois, quando a pol?a finalmente conseguiu retirar os sem-terra da fazenda, s?bravam ru?s.
A barb?e, embora n?seja exatamente uma novidade na trajet? do MST, ?m retrato muito atual do movimento, que festejou seu anivers?o de 25 anos na semana passada. Suas a?s recentes, repletas de explos?e f?, j?eixaram evidente que a organiza? n??ais o agrupamento rom?ico que invadia fazendas apenas para pressionar governos a repartir a terra. Agora, documentos internos do MST, apreendidos por autoridades ga?s nos ?mos seis anos e obtidos por VEJA, afastam definitivamente a hip?e de a selvageria ser obra apenas daquele tipo de catarse que, ?vezes, animaliza as turbas. O modo de agir do MST, muito parecido com o de grupos terroristas, ?ma estrat?a. A papelada – cadernos, agendas e textos esparsos que somam mais de 400 p?nas – ?ma mistura de di?o e manual da guerrilha. Parece at?ma vers?rural, por?rudimentar, do texto O Manual do Guerrilheiro Urbano, escrito por Carlos Marighella e b?la para os grupos que combateram o regime militar (1964-1985). Os documentos explicam por que as a?s criminosas do movimento seguem sempre um mesmo padr?
O registro mais revelador sobre a face guerrilheira do MST ?ormado por quatro cadernos apreendidos pela pol?a com os invasores da Est?ia do C?em maio passado. As 69 p?nas, todas manuscritas, revelam uma rotina militarizada – e bandida. Muita arma no acampamento, escreveu Adriana Cavalheiro, ga? de cerca de 40 anos, uma das l?res da invas? ligada aos dirigentes do MST Mozart Dietrich e Edson Borba. Em outro trecho, em forma de manual, o texto orienta os militantes sobre como agir diante da chegada da pol?a. Mais pedra, ferros nas trincheiras (...) Zinco como escudo (...) Bombas tem um pessoal que ?reparado. Manter a linha, o controle de horas e 800 ml, anotou a militante, descrevendo a f?la das bombas artesanais, produzidas com garrafas de pl?ico e l?ido inflam?l. O manual orienta os militantes a consumir o que ?oubado para evitar a pris?em flagrante. Tamb?d?nstru?s (veja trechos) sobre como fraudar o cadastro do governo para receber dinheiro p?co. H?t?icas sobre pol?cos que devem ser acionados em caso de emerg?ia. Basta chamar o deputado federal Ad?Pretto e o ex-deputado estadual Frei S?io. Ganha um barraco de lona preta quem souber o partido da dupla.
Em seus cap?los n?contemplados pelo C?o Penal, o manual exp?ma organiza? claramente assentada sobre um trip?eninista, com doutrina? pol?ca, centralismo duro e vida clandestina. Al?de teorias esquerdistas, repletas de homenagens a Che Guevara e Zumbi dos Palmares, h?elatos de espionagem e tribunais de disciplina. Uma militante, que precisou de licen?de um m?para fazer uma cirurgia, s?i autorizada a realizar o tratamento com a condi? de que ele fosse feito num ?o dia. Brigas, investiga?s internas e puni?s tamb?explicitam o r?do e desumano controle exercido sobre suas fileiras. Assim como nas favelas controladas pelo narcotr?co, o MST atua como pol?a e juiz ao impor e fiscalizar seu c?o de conduta, afirma o fil?o Denis Rosenfield. Exagero? Talvez n? Dos 800 invasores que depredaram a fazenda Est?ia do C? por exemplo, 673 j?oram identificados. Nada menos que 168 tinham passagem pela pol?a. Havia antecedentes de furto, roubo e at?stupro. O MST ?ormado por alguns desvalidos, v?os aproveitadores e muitos bandidos, diz o promotor Gilberto Thums, do Minist?o P?co ga?. Eles usam t?cas de guerrilha rural para tomar territ?s escolhidos pelos l?res.
Embora raramente sejam expostos ?uz, manuais de guerrilha s?lidos como best-sellers nos acampamentos. Tamb?no Rio Grande do Sul, ber?e laborat? do MST, a pol?a apreendeu tr?documentos que registram o lastro te?o de sua configura? de guerra. O mais recente, apreendido em julho passado, orienta os militantes a se engajar na derrubada de inimigos estrat?cos. Os inimigos, claro, n?se resumem aos gatinhos das fazendas ocupadas pelo MST. O objetivo ? derrota da burguesia, o controle do estado e a implanta? do socialismo. O documento lista exemplos de como interromper as comunica?s do inimigo e incendiar as proximidades para tornar o ambiente irrespir?l. Pode n?ser obra do acaso. H?ois anos, um membro das Farc foi descoberto pela pol?a em meio aos sem-terra ga?s. A combina? entre teoria e pr?ca deixa poucas d?as sobre os prop?os do MST. O movimento, que seduziu a intelectualidade nos anos 80 e caiu nas gra? do pov?na d?da seguinte, est?archando para a guerrilha rural. Diz o fil?o Roberto Romano: O MST est?e filiando ?radi? leninista de tomada violenta do poder por meio de uma organiza? centralizada e autorit?a.
A estrat?a da guerrilha ?m sucesso recente nos pampas gra? a sua efic?a. As invas?e os acampamentos t?funcionado em muitos casos. Em novembro passado, ap?inco anos de guerra com o MST, o fazendeiro Alfredo Southall resolveu vender a Est?ia do C?ao Instituto Nacional de Coloniza? e Reforma Agr?a (Incra). Cansei da batalha. Joguei a toalha, desabafa. Suas terras ser?transformadas em um assentamento para 600 fam?as. O fazendeiro ga? Paulo Guerra teve sua fazenda invadida seis vezes desde 2004. Os invasores destru?m uma usina hidrel?ica e 300 quil?ros de cercas. Tamb?queimaram dois caminh? dois tratores e onze casas, al?de abaterem 300 bois. Minha fam?a se dedica ?azenda h?00 anos. Podemos perder tudo, mas n?vamos entregar nosso patrim? ao MST, diz. Nos ?mos dois anos, mais de 600 processos j?oram abertos contra militantes do movimento. Uma a? judicial pede que o MST seja colocado na ilegalidade. Enquanto ela n??ulgada, por? os promotores t?conseguido impedir seus integrantes de circular em algumas regi? N?se trata de remover acampamentos. A inten? ?esmontar bases usadas para cometer reiterados atos criminosos, justifica o promotor Luis Felipe Tesheiner.
O MST passa atualmente por uma curiosa transmuta? pol?ca. Desde a chegada ao poder de Lula e do PT, aliados hist?os do movimento, a sigla abrandou os ataques ao governo federal. A tr?a, que beneficia a ambos, permitiu que os sem-terra apadrinhassem vinte dos trinta superintendentes regionais do Incra. ?um comportamento muito diferente de quando o MST liderou as manifesta?s Fora, FHC e invadiu a fazenda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002. O terrorismo agora ?raticado preferencialmente no quintal de governadores de oposi? a Lula, como a ga? Yeda Crusius e o paulista Jos?erra. A reputa? do MST acompanha sua guinada violenta. Dez anos atr? a maioria dos brasileiros simpatizava com a sigla. Agora, a selvageria, aliada ?xtraordin?a mobilidade que levou 14 milh?de pessoas a ascender socialmente nos ?mos anos, mudou a imagem do movimento. Pesquisa do Ibope realizada no ano passado mostra que metade dos entrevistados ?ontra os sem-terra. O MST, hoje, ?isto como sin?o de viol?ia. As pessoas descobriram que ?oss?l melhorar de vida sem que para isso seja necess?o fazer uma revolu?, diz o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. 3 vezes ?reciso tempo para enxergar o ?o.
Fonte: VEJA Edi? 2097, de 28 Jan 09