23/07/2011
MANIFESTO DO GRUPO PENSAR! (do qual sou um dos membros signatários) A Alteração da Matriz Tributária O Grupo PENSAR! é integrado por profissionais com atuação em vários ramos da Ciência e nos meios de comunicação. Foi constituído originalmente no Rio Grande do Sul e se dedica a debater e formar opinião sobre os problemas econômicos e sociais do Estado e do país. Está em sintonia com o Movimento Brasil Eficiente. O presente manifesto decorre dessa vocação cívica, comum aos membros do PENSAR!, que veem com muita preocupação a correção da matriz tributária pretendida pelo governo gaúcho. A experiência ensina que jamais houve na prática fiscal brasileira mudança de composição tributária que não tenha significado aumento de impostos pagos pela sociedade. E não há registro de que tais aumentos tenham resultado em melhoria do bem estar social ou da qualidade dos serviços prestados pelo Estado. Também são exaustivas e irrefutáveis as comprovações teóricas e práticas de que quanto maior o pagamento de tributos, menor a geração de empregos e renda das economias. Lembramos às autoridades o importantíssimo estudo realizado por um dos maiores tributaristas mundiais - Vito Tanzi - no qual restou demonstrado que quando a carga tributária ultrapassa os 20% do PIB (e a nossa já está em 37%) é acionado sobre a economia um efeito perverso que age em detrimento das classes menos favorecidas. Esse efeito independe de onde vão cair os impostos, se no arroz ou no feijão, se nos combustíveis ou noutras formas de energia envolvidas na produção. A economia funciona como vasos comunicantes. Ademais, num sistema tributário com predomínio dos impostos indiretos é indiferente o ponto onde o governo faz incidir o tributo. Todos irão pagá-lo igualmente, em valores monetários, penalizando mais os indivíduos de menor renda. Em 2010, a arrecadação do ICMS cresceu cerca de 18%. No primeiro semestre de 2011 ocorreu novo ganho de 9% sobre base já alta. Ora, medidas econômicas costumam ter efeitos visíveis e efeitos invisíveis. Um acréscimo tão desproporcional na arrecadação desse tributo em relação à variação do PIB estadual deveria advertir as autoridades para seus efeitos ocultos mas reais: menos recursos para a sociedade, menos poder de compra, menor competitividade da economia, menor liberdade de decisão para os agentes econômicos. Ao mesmo tempo, em nenhum dos setores nos quais o Estado se dispõe a promover elevação da qualidade de vida da sociedade parece ter havido melhoria dos indicadores, malgrado esse aumento da arrecadação. Nas modernas democracias, governar é atribuição dos partidos. Mas não existe qualquer motivo para o aparelhamento partidário da administração, que deve ser neutra e profissional. O contribuinte não tem motivos para arcar com os custos e os tributos necessários à inserção de estruturas político-partidárias na administração pública. Os resultados de um enxugamento de despesas que comece por aí, e tenha sequência com a redução de secretarias, órgãos de governo e despesas de custeio serão muito mais benéficos do que qualquer outra alternativa que se busque para os problemas do Tesouro do Estado pela via da receita tributária. A matriz que precisa ser corrigida, no Rio Grande do Sul, é a matriz da despesa pública. Por todos esses motivos, dirigimos ao governo do Estado, às autoridades fiscais, às representações políticas, empresariais e sindicais, bem como à comunidade sul-rio-grandense, a presente nota de alerta. Atenção! O cenário da economia gaúcha e as nuvens que sombreiam o horizonte mundial recomendam uma atitude de prudência na adoção de medidas que inevitavelmente atingirão, por dois flancos, os menos aquinhoados. De um lado, pelo próprio valor do imposto e, de outro, pelos empregos que os tributos suprimirão em virtude da perda de competitividade da economia. Porto Alegre, 22 de julho de 2011

Percival Puggina

23/07/2011
Twitter: @percivalpuggina Há muita semelhança entre os dias que correm e aqueles que, desde meados de 2005, fluem, na batida do relógio, para o sorvedouro das prescrições e impunidades. En aquel entonces, como se diz lá em Santana do Livramento, era comum ouvir-se das lideranças petistas entrevistadas algo que pessoalmente, desde muito antes, eu já esgarçara as cordas vocais de repetir: esse nosso sistema político é corrupto e corruptor. O maior culpado pelas desonestidades no setor público nacional é o sistema que as proporciona e estimula. Durante aqueles tumultuados meses, enquanto Lula se agarrava nas beiradas da sua popularidade e adoçava a boca da base parlamentar para não escorrer rampa abaixo do Palácio do Planalto, deputados e dirigentes do Partido dos Trabalhadores repetiam, em debates dos quais participei, essa mesma frase: O sistema é o causador principal desses males. Dado que carrego comigo onde quer que eu vá, quase como se fosse uma mochila, a convicção de que nosso modelo institucional é ficha-suja, imprestável, saber que o PT passava a partilhar o mesmo entendimento acendia em mim a esperança de que nos avizinhávamos de uma boa reforma. Finalmente, presumia eu, seis anos atrás, um partido grande, com forte disciplina interna, estava aderindo à minha tese. Qual o quê! Foi só o assunto mensalão cair em desuso para que a ideia de uma reforma institucional que separe Estado, governo e administração, atribuindo a função governo à maioria parlamentar, fosse metralhada e sepultada na vala comum dos esquecimentos. Aproveitadores não querem nem ouvir falar nisso. De todo aquele farisaísmo e de quanto veio a seguir, ficou-me a imagem símbolo: Lula, em Paris, nos jardins da residência Marigny, concedendo entrevista exclusiva a uma jornalista brasileira sediada na França, e atribuindo o mensalão a uma operação de caixa dois. Tornava-se réu confesso, o ex-presidente, a partir daquele dia 15 de julho de 2005: O PT fez do ponto de vista eleitoral o que é feito no Brasil sistematicamente, declarou o presidente da República. E apesar desse reconhecimento, foi excluído do processo. Nos anos seguintes, jamais faltou ao noticiário um escandalozinho semanal capaz, por si só, de transformar Fernando Collor num modelo de virtudes. Geraram-se fortunas à volta de Lula. A iniciar pela do próprio filho. Mas o PT sempre cuidou de proteger seu santo padroeiro com o manto blindado de todas as graças e fervores. De tudo que aconteceu em seu governo, só das coisas boas Lula teve responsabilidades absolutas e méritos compartilhados com Dilma. Nenhuma das outras era com ele. Curiosamente, tal benevolência só vale para os governos do PT porque não pode incidir miséria maior sobre qualquer governante com oposição petista do que um sinalzinho de fumaça na prateleira do almoxarifado de qualquer secretaria sob seu comando. Basta isso para que o PT se apresente com lança-chamas e tonéis de gasolina para incendiar o governo inteiro e seu titular na fogueira das suspeitas e das CPIs. Aí não tem sistema culpado nem presunção de inocência. Aconteceu no governo, a culpa é do governante. Pois bem, parece bastante óbvio que o efeito dominó em curso na área de infraestrutura do governo federal tem origem em um aparelho que ali opera desde 2005. Coisa tão antiga quanto feia. Atravessa três mandatos presidenciais consecutivos: o primeiro de Lula, o segundo de Lula com Dilma de gestora e o mandato de Dilma. Diante de tais fatos, o que começa a dizer o PT? Que se trata de uma fumacinha bem localizada e que a culpa é do sistema. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Reinaldo Azevedo

21/07/2011
A QUE ESTÁGIO CHEGAMOS Reinaldo Azevedo Mais três pessoas ligadas à cúpula do PR foram demitidas hoje. Desde a reportagem de VEJA, já são 16 os defenestrados ? na hipótese de que Luiz Antonio Pagot realmente caia fora. Muito bem! Após receber hoje a medalha Santos Dumont, uma condecoração da Aeronáutica, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a Polícia Federal vai avaliar os pedidos de investigação feitos pela oposição e, depois dessa análise, um inquérito poderá ser aberto para apurar o que se deu no Ministério dos Transportes. Hein??? Quer dizer que Dilma botou 16 pessoas na rua, e Cardozo alimenta dúvidas hamletianas sobre o que se passou por lá? Cardozo é o mesmo que anunciou que a PF vinha investigando o Ministério dos Transportes havia muito tempo? Sei. É uma pena que não tenha recorrido aos mesmos métodos empregados para apurar a sem-vergonhice no governo de José Roberto Arruda, não é mesmo? O Brasil só será uma República quando um órgão federal empregar contra os canalhas da ?situação? os mesmos métodos que emprega contra os canalhas da oposição. Até que não o faça, é sinal de que os direitos de pessoas decentes também estão sendo desrespeitados em razão de sua filiação partidária. A declaração de Cardozo é obviamente vergonhosa. Mas não tenho esperança de que ele se constranja.

Datafolha

17/07/2011
DATAFOLHA REVELA ENIGMA DAS MULTIDÕES EM ESPAÇOS PÚBLICOS A edição da revista SãoPaulo deste domingo (17) ajuda a desvendar o enigma das multidões. Medição feita pelo Datafolha mostra que grandes eventos na cidade não atraem a quantidade de pessoas que os organizadores divulgam. Em toda a avenida Paulista e a rua da Consolação, que recebem a Parada Gay, por exemplo, a capacidade máxima é de 1,5 milhão de pessoas, bem menos do que os 4 milhões, como estimam os organizadores. A íntegra está disponível para assinantes da Folha e do UOL.

Percival Puggina

17/07/2011
Twitter: @percivalpuggina Mês passado, minha mulher e eu realizamos um antigo sonho. Percorremos longo trecho dos Alpes, viajando de leste para oeste, através da Áustria, Suiça e Itália, naqueles cenários de Noviça Rebelde. Ainda trazemos nas retinas lagos esplêndidos, encostas verdejantes, picos nevados e vilarejos no belo estilo bávaro, que começam no jardim da primeira casa e terminam no jardim da última, em verdadeiro concurso de sacadas floridas, capricho e harmonia com a natureza. A todo momento era preciso descer do carro para contemplar, como num êxtase, o que chamávamos protagonismo da paisagem. Em viagens anteriores, centrávamos nossa atenção, principalmente, nas obras que a humanidade ofereceu a Deus - as catedrais, os mosteiros, a arte sacra. Desta feita, desfilavam diante dos nossos olhos muitas das mais belas obras oferecidas por Deus à sua criatura. Entre elas, os lagos alpinos. O roteiro incluía vários: o Zeller, o Hallstatter, o Thun e o Birenz em Interlaken, o Genève e o Maggiore. Pois é sobre os lagos que quero escrever. Aliás, é menos sobre eles e mais sobre o Guaíba. Acontece que aqueles lagos nos faziam lembrar, todo tempo, deste que temos aqui, perto do coração e longe dos olhos. Por quê? Porque era forçoso, em face do que víamos nos Alpes, fosse admirando o conjunto, desde fora, fosse contemplando as orlas em passeios de barco, lamentar o abandono do nosso Guaíba, sentenciado ao ostracismo. Ostracismo? Sim, ostracismo. O Guaíba é um isolado, um ermitão, um misantropo solitário, patrulhado por uma mentalidade sociofóbica que afasta as pessoas e reserva suas margens às ruínas e ao inço. Se essa mentalidade, que primeiro o segrega e, depois, o abandona, orientasse o uso dos lagos de lá, não haveria turismo, nem charmosos hotéis, nem clubes, nem parques, nem piers, nem restaurantes, nem ocupação residencial, nem empresas de navegação transportando, diariamente, milhares de passageiros ávidos por fotografar o harmonioso convívio da urbanização com o cenário natural. Tudo seria barrado, proibido. Promoveriam abraços ao lago, assembléias e passeatas. Haveria candentes discursos e abaixo-assinados em defesa do lago - O lago é do povo!. Qualquer uso significaria privatização de um patrimônio natural, apropriação capitalista da paisagem e lucro auferido em prejuízo das barrancas, das capoeiras e das rãs. O bom é manter a orla inacessível, perigosa e suja. Já pensava em escrever esta crônica quando recebi um levantamento fotográfico das margens do Guaíba, mostrando exatamente isso em 30 deprimentes imagens. Pois é. Bilhões de pessoas considerariam inexcedível privilégio viver num sítio como o de Porto Alegre. Dezenas de milhares de cidades do mundo inteiro ralariam cotovelos de inveja diante do nosso Guaíba! E ele, como tudo neste Estado, está aí, sendo surrado pela ideologia do atraso. Outro dia, indagado sobre o metrô (aquele que ia ficar pronto para a Copa) afirmei que dificilmente sairá do papel. Quando começarem a cavar, descobrirão que a linha vai causar prejuízo ao trânsito de tatus e tuco-tucos, às minhocas e à fauna subterrânea. Pára tudo! E, se os duríssimos debates a esse respeito forem superados pelo bom senso, reze, leitor, para que não encontrem, nas escavações, algum fragmento de cerâmica indígena. Aí, o metrô pode acabar passando por cima da sua casa. ZERO HORA, 17 de julho de 2011.

Percival Puggina

15/07/2011
twitter: @percivalpuggina Na esteira do recente surto de crescimento da economia brasileira começam a surgir demandas por recursos humanos qualificados. O próprio governo federal, diante do fracasso do nosso sistema educacional capturado e ideologizado pela esquerda, decidiu criar mecanismos para a importação de talentos. Como seria bom termos gente mais bem preparada!, dizem uns. Precisamos de logística e recursos humanos melhores!, reclamam outros. Logística e gente? Vá lá. Um binômio esquisito, mas serve para dizer isto: é muito mais fácil, rápido e barato duplicar a infindável BR-101 do que prover Educação ao povo. Quem desejar um Brasil mais qualificado sob o ponto de vista educacional terá que arrumar um banquinho e aguardar pelo menos uma geração inteira. Isso se começarmos amanhã de manhã bem cedo. Uma geração inteira?, talvez se exclame, preocupado, o leitor destas linhas. Sim, uma geração inteira porque antes de começarmos a alfabetizar melhor nossas crianças será preciso refazer um longo percurso que começa pela formação dos professores naquelas usinas dos recursos humanos do sistema que são as universidades (estou pensando, principalmente, nos professores dos professores). Ao mesmo tempo, haverá que abrir caminho até os registros e válvulas que comandam a entrada e saída de recursos do erário. E, também concomitantemente, acabar com as iniquidades instaladas na tradição brasileira, entre elas a que faculta ensino superior gratuito a quem poderia pagar por ele. Em menos palavras: melhores professores, mais recursos financeiros, mais bom senso. Se abrirmos a janela para uma espiada no Brasil real será impossível não perceber que vive-se a cultura do não saber. Poucos são os alunos que querem aprender. Menos numeroso ainda os que têm hábitos de leitura. Separa-se o lixo na cozinha, mas não se separa o lixo inserido na Educação e nos meios de comunicação. É a epifania da ignorância! Cultura? Não a mencionarei sequer. A infeliz, com todas as formas de arte, só tem lugar em guetos quase desabitados. A literatura exige alguém que a produza e gente capaz de a apreciar naqueles objetos que rumam para se juntar, nos sótãos e nos porões, às lamparinas e às máquinas de escrever. Visite, leitor, o site do movimento Todos pela Educação (www.todospelaeducacao.com.br). É um bom site, frequentado principalmente por pessoas envolvidas com os temas da educação no Brasil. Na maioria, professores. Da última vez que o acessei estava aberta uma enquete pedindo aos visitantes para expressarem sua opinião sobre a principal qualidade de um bom professor. Eram quatro as escolhas possíveis. Dominar a matéria tinha 9,9% dos votos. Saber ensinar a matéria tinha 28,9%. A resposta que teve a larga preferência (58,7%) foi Perceber as dificuldades de cada um. Entende-se aí por que os professores se empenham tão pouco no aprimoramento e atualização do seu saber específico. As consequências são visíveis no desempenho dos alunos. Educação não é charuto. De charutos podemos dizer que tais são de qualidade e que tais não o são. Com Educação não é assim. Ou ela é de qualidade ou não é Educação. E só a teremos quando as elites brasileiras colocarem crachá no peito, adesivo nos carros e forem aos parlamentos e aos governos clamar por ela com a mesma intensidade com que reclamam dos impostos que todos pagamos. Note-se, por fim: parte desses impostos vão bancar as disputas corporativas, ideológicas e partidárias de um sistema educacional que se conta entre os piores do mundo.

Percival Puggina

14/07/2011
Twitter: @percivalpuggina ?Todo o poder emana do povo?, dispõe a Constituição, afirmando um conceito político que as pessoas reconhecem como válido. Numa extensão indevida dessa mesma ideia, muitos creem que também na Igreja deva ser assim: o poder decidido no voto e a maioria deliberando sobre tudo que interesse ao povo de Deus. Não, não estou exagerando. A ideia de escolher o Papa em eleição geral, por exemplo, está na cabeça das pessoas. Em outubro de 1991, durante a segunda visita de João Paulo II ao Brasil, a Folha de São Paulo publicou pesquisa de opinião sobre vários assuntos relacionados à Igreja. Diante da pergunta ?como deve ser indicado o Papa??, 50% dos católicos e 51% dos entrevistados optaram por uma eleição direta entre os fiéis. Diante daquilo fiquei pensando em campanha para Papa, com direito a horário gratuito e debate na tevê. No mesmo viés, todos estamos habituados a ouvir que ?a Igreja precisa se adaptar aos tempos modernos? e parar de afirmar coisas ?que as pessoas não aceitam mais?. Aí estão as duas teses a que referi: o voto como a única fonte legítima do poder e a opinião da maioria entendida como fonte de doutrina. É incorreto importar da Política, para uso em outras realidades, conceitos que a elas não se aplicam. Muitos poderes não emanam do povo. Não emanam do povo, entre outros, o poder do pai e da mãe sobre os filhos, o poder de Deus, o do patrão, o das forças da natureza. Tais poderes, malgrado sua origem ?não-popular?, são absolutamente legítimos e ninguém cogitaria de uma assembléia geral para eleger o Santíssimo, ou o chefe de família, ou o gerente, ou o raio e o trovão. Na Igreja, o poder foi dado pelo Pai ao Filho e pelo Filho aos apóstolos, aos quais enviou ?da mesma forma? como o Pai o enviara, estabelecendo que ficaria ligado no Além tudo o que ligassem no Aquém. Bem ao contrário do que a expressão possa sugerir, ?democratizar a Igreja?, na forma como alguns pretendem, significaria tornar ilegítimo o poder que nela viesse a ser exercido e, por via de conseqüência, destrui-la, visto que ela é uma instituição onde o poder emana de Deus. Assim também, dispor sobre matéria moral com base em opiniões majoritárias representaria, na maior parte das vezes, renunciar à Revelação ou conceder ?razão? aos homens contra a vontade manifesta de Deus.

Percival Puggina

09/07/2011
Twitter: @percivalpuggina Na agitada vida estudantil dos anos 60, em Porto Alegre, primeiro naquela usina de lideranças que era o Colégio Júlio de Castilhos e, depois, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nunca tive alinhamentos políticos automáticos. Ainda que me faltassem bases filosóficas, gostava de pensar por conta própria. Jamais aceitei ser liderado pelos antagonismos em confronto. Mas se tivesse que eleger um grupo para valorizar sob o ponto de vista cultural, sem dúvida essa turma seria a da esquerda. Vocês não imaginam o quanto os caras eram sabichões. O que liam! Traziam sempre, embaixo do braço, livros da Editora Civilização Brasileira, da Paz e Terra e se reuniam em pequenos grupos para trocar ideias sobre temas cuja profundidade eu sequer arranhava. Aliás, todo estudo não acadêmico a que posteriormente me dediquei na área das ciências humanas teve como motivação a tentativa de alcançar um nivelamento intelectual com a esquerda do meu tempo de estudante. Eu precisava estar preparado para desarmar as bombas filosóficas que arquitetavam. Há dois motivos para esta crônica das minhas primeiras ignorâncias. Hoje tenho ignorâncias novas, maiores e muito melhores. Um é sublinhar o fato de que a esquerda brasileira daquele período, embora equivocada nos seus pontos de partida, nos meios e nos fins (isso eu intuía com correção), tinha gabarito intelectual e tinha ideais. Os esquerdistas que conheci não eram aproveitadores nem negocistas. Muitos estão por aí e são pessoas respeitáveis. A história evidenciou, posteriormente, que seus mitos e referências internacionais foram uns pervertidos e que o seu marxismo é uma usina de equívocos, mas suponho que eles não tivessem como discerni-lo nos emaranhados dos esquemas de formação, informação e desinformação em que se moviam durante a juventude. O segundo motivo deste relato é mostrar o quanto a esquerda brasileira afundou sob o ponto de vista intelectual e moral. Frei Betto, cuja vida e obra se caracteriza por primeiro fazer os estragos e, depois, observar os danos de longe, poeticamente, escreveu assim em artigo de setembro de 2007, ao desembarcar do governo Lula: ?A sofreguidão esvaziou projetos, a gula cobiçosa devorou quimeras. O pragmatismo acelerou a epifania dos avatares do poder. Pois é. Não fosse intelectual o frei poderia dizer simplesmente que deu m... Voltando à pauta. Quem poderia imaginar a esquerda brasileira em prontidão para defender pessoas como Fidel Castro, seus métodos e seus sicários; abraçando caudilhos e brutamontes como Hugo Chávez; reverenciado primatas como Evo Morales; dando vivas a Saddam e cortejando Ahmadinejad; adotando Lula como seu estadista de referência; assumindo, como suas, causas que solapam os valores universais; proferindo juras de amor aos maiores vilões da política brasileira e fornecendo tantos e tantos prontuários e fotos aos arquivos da polícia e do ministério público? Quem poderia? Quem poderia imaginar, em 1992, que o chefe dos caras-pintadas, Lindberg Farias, passados 18 anos, eleito senador pelo PT, estaria trocando afagos com Fernando Collor, seu parceiro de fé na base do governo Dilma? Quando eu me lembro daqueles terríveis anos 60 e 70, marcados por severíssimos conflitos ideológicos e do quanto lhes sobreveio em violência e sofrimento, não posso deixar de pensar que essa mesma decadência é a marca registrada de todas as hegemonias políticas. A esquerda brasileira leu Gramsci. Aprendeu dele as técnicas de construção da hegemonia. Construiu-a. Mas com ela perdeu o que de melhor dispunha. Seu arco do triunfo é, também, o seu arco do fracasso. É o que, há alguns anos, se lê, com os olhos da vida vivida, logo abaixo das manchetes de todos os jornais, ainda que eles não digam isso. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, arquiteto, empresário e escritor, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Érico Valduga

07/07/2011
É VELHO: SE FICAR O BICHO COME, SE CORRER O BICHO PEGA Érico Valduga, em Periscópio Somente um político de prestígio e de habilidade invulgares pode liderar um governo de coalizão no presidencialismo sem prejuízos à ética pública Se o chefe do Executivo precisa dos votos do PR no Congresso, e por isto o partido enfeudou o ministério dos Transportes (orçamento de R$ 21.5 bilhões), a renúncia de Alfredo Nascimento é apenas mais um episódio escabroso do brete em que estamos metidos por força dos métodos gerados pelo presidencialismo imperial e pelo voto proporcional. A forma de governo e o sistema eleitoral facilitam a impunidade política e penal, e praticamente tornam o governante refém da coalizão que garante a aprovação de seus projetos no Legislativo. Nem bem o amazonense confirmou, na manhã de ontem, sua saída do governo, acossado por novas e graves denúncias de rápido enriquecimento de familiares e assessores, à tarde o Senado aprovou (46 votos a 18) a tal flexibilização na contratação de obras da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, em que não haverá licitações formais e os preços serão sigilosos até que o processo de contratação seja concluído. Quer dizer, a porteira aberta está aberta. Pretendem alguns que a presidente Dilma passa menos a mão pela cabeça de seus malfeitores do que o fazia o sindicalista que a antecedeu (e que pretende voltar ao Palácio do Planalto em 2014). Pode ser, mas passa, porque passar é método da gestão em que não se pode brigar com legendas da base de apoio. É do partido aliado, por acordo que obriga as partes, a indicação de quem o representa no Executivo, como forma de pagamento dos votos no Legislativo. Por que existiu o Mensalão, prezados leitores? Foi a moeda de Lula, em negócio com dinheiro vivo, deputado por deputado. O resultado foi o maior escândalo de corrupção da história do país. Até agora. Hoje, o dinheiro flui dos superfaturamentos de preços e aditivos nos contratos com órgãos da União, para os caixas 1 e 2 das agremiações e dos parlamentares. E irá continuar como moeda de Dilma e de qualquer outro presidente da República, em maior ou menor grau.