Percival Puggina

04/12/2014

 


 No ano passado, centenas de entidades, entre as quais a CNBB e a OAB, formaram uma Coalizão pela Reforma Política e Eleições Limpas. Reitero, aqui, o desafio recentemente feito por Bruno Braga, em artigo que pode ser lido no meu site (aqui): se houver real interesse cívico por eleições limpas, comecem pelo último pleito.

 Desnecessário rememorar. Os fatos, além de recentes, se agravam com a reviravolta adotada pela presidente. Ela consegue fazer pior do que Lula em 2002. Naquele ano, antes das eleições, Lula jogou no lixo o discurso demagógico e populista construído ao longo de seus anos de oposição e firmou uma “Carta ao povo brasileiro” comprometendo-se com preservar o que condenara. Seus eleitores, se leram a carta, não entenderam bulhufas. Dilma, em 2014, não escreveu carta alguma. Afirmou reiteradamente, até o dia 26 de outubro, que os desatinos que cometia na condução da Economia e das finanças públicas atendiam ao mais elevado interesse público. Quem dissesse o contrário era atacado com os piores adjetivos. No dia 27, mudou tudo.

 Conversões instantâneas, a partir de experiências místicas, não são fatos incomuns. O marido, desatencioso, irresponsável e beberrão, subitamente muda de vida. A família estranha, os vizinhos comentam, os colegas elogiam e a mulher esclarece faceira: “Ele encontrou Jesus!” É o que chamamos metanóia, palavra grega que significa arrependimento, conversão, mudança de mentalidade e de atitudes. Nossa presidente implodiu o PIB, tornou deficitários todos os nossos superávits, furou o teto da meta e tratou disso, na campanha, com indisfarçado orgulho, como se expressasse honrosa insubmissão aos receituários neoliberais. Alcançada a vitória, converteu-se às teses “demoníacas” que atribuía a seu adversário. E foi buscar entre os melhores afiliados da Escola de Chicago, um discípulo de Armínio Fraga, a quem tanta ruindade atribuíra. Até quando faz a coisa certa, Dilma desliza na maionese ética. Ela não poderia ter dito quanto disse, para, logo após, fazer tudo ao contrário. Sem qualquer ato penitencial. Constrangida, sequer compareceu à posse de seus novos ministros da área econômica.


 O que teria determinado a aparente conversão da presidente, de uma economia de liquidação, de uma gestão orçamentária com jeito de caderno de armazém, tipo “o Brasil é meu e eu levo as coisas como quero”, para a ortodoxia da Escola de Chicago? Sei não, mas essa sua nova atitude é problemão criado para seus próprios devotos. São milhões, e terão que mudar de reza, trocar de retórica, e engolir, palavra por palavra, aquele besteirol que defendia a marcha para o caos como um modo superior de administrar para o interesse público. Ontem, ao anistiarem o crime de responsabilidade cometido pela presidente quando descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, eles ainda usavam a cartilha antiga.


* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
  

Percival Puggina

01/12/2014

                               "Não creio que seja hora de torcer contra nem de ficar cobrando pelo que foi dito em campanha". Economista Roberto Teixeira da Costa, em artigo publicado no jornal "O Globo" deste domingo,  30/11.

 

 O texto em questão leva um título bem alinhadinho e elegantemente palaciano: "Voto de confiança". O quê? Voto de confiança? Quer dizer que não se deve cometer a leviandade de cobrar o que foi dito em campanha? Ora, leitor, isso me parece moral com agendamento, com data de vigência, segundo calendário eleitoral. A propósito: calendário eleitoral tem foto de mulher pelada, como folhinha de borracharia? Quer dizer que a presidente pode se eleger dizendo uma coisa até o dia 26 de outubro e fazer o oposto a partir do dia 27? E quem apontar a desonestidade de tal conduta torce contra o país?

O autor do referido artigo crê que a presidente deve receber um voto de confiança. Quanta infelicidade em apenas três palavras! Tenho certeza de que ele não daria esse voto de confiança para fazer dela gerente de seus próprios negócios. Aliás, pergunto: qual grande empresário, desses que despejaram quase R$ 400 milhões na campanha da candidata Dilma Rousseff, cometeria o desatino de admiti-la como executiva, mesmo em escalões inferiores de suas empresas? Os motivos para não o fazerem são tão evidentes que dispensam análise minuciosa, seja de currículo, seja de desempenho, seja - para usar a palavra do texto em análise - de confiança. Mas para presidir a República e gerir os recursos dos pagadores de impostos, ela lhes convém.

Convém, sim, claro. E merece "voto de confiança". Mesmo que tenha chantageado os miseráveis espalhando, de inúmeras maneiras, que o Bolsa Família seria extinto se fosse eleito seu adversário. Logo o seu adversário, que propôs a transformação do referido benefício em programa de Estado e não contou, para esse fim, com o apoio dela e de seu partido, exatamente porque perderiam a capacidade de chantagear a miséria nacional. Esse fato torna evidente a grande verdade de 2014: não são os pobres que precisam do PT, mas é o PT que precisa dos pobres em estado de pobreza. Para quem não se deu conta, essa é a nova relação de causa e efeito da miséria no Brasil.

O texto que comento aqui afronta o bom senso e os mais elementares princípios morais. Não se pode dar voto de confiança a quem mentiu e mente tanto, e há tanto tempo, que não pode mais distinguir verdade de mentira. Dilma ocultou dados, dissimulou estatísticas, iludiu o mercado e o eleitorado. Criou a contabilidade criativa. Na contramão, injuriou seus adversários acusando-os de intenções tão malévolas quanto a de entregar a área financeira do governo a bons economistas do odioso "mercado". E o pior é que, de tanto mentir, de tanto conviver e comandar partidos com raízes cravadas no submundo da corrupção, acabou por corromper milhões de brasileiros que já não se importam de ser guiados por ladrões. Contanto que também levem seu quinhão.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

27/11/2014

Na terça-feira, dia 25 deste mês, ocorreu uma reunião conjunta da Câmara e do Senado para apreciar vetos presidenciais. Trinta e oito dessas interdições trancavam a pauta e atrasavam a votação do que mais interessava ao governo: o projeto que desobriga a presidente da República de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Incrível, mas verdadeiro! Em ano eleitoral, o governo gastou nosso dinheiro além da conta em busca de votos, e quer uma lei que retroaja efeitos para inocentá-lo do crime de responsabilidade cometido. Tudo ao modo carinhoso e benevolente do PT quando as matérias envolvem suas conveniências.

 Os trabalhos da tumultuada sessão eram presididos pelo notório senador Renan Calheiros. Também ele, seguindo a cartilha da mistificação, assegurava, com serenidade franciscana, que não estava fazendo aquilo que fazia diante de todos: rasgar acordos e o Regimento Interno para atender ordens do Palácio do Planalto. Como consequência, o Plenário rugia. Senadores e deputados batiam boca no microfone de apartes. E por toda parte. Resultava quase impossível falar e ser ouvido. Ademais, todos os argumentos da oposição eram rejeitados liminarmente por Renan Calheiros. O Plenário fremia em sucessivas questões de ordem, razões, irrazões e desordens.

De súbito, o senador Aécio Neves pediu a palavra e anunciou que iria à tribuna. Foi surpreendente o que aconteceu. Sobre a agitação do Plenário, lotado por membros das duas Casas, fez-se inesperada quietude e silêncio. Quem estava sentado levantou-se para ver melhor e todos se voltaram para o orador como se fossem cantar-lhe o hino à Bandeira. Calou-se a oposição, claro. E se calou, também, a ainda mais numerosa e barulhenta base do governo. Do começo ao fim do discurso.

O senador disse o que precisava ser dito a seus pares, ao notório Calheiros e à presidente da República. Mas a conduta do Plenário, fato principal entre todos, mostrou o peso político de quem ocupava a tribuna e recebera, há bem poucos dias, 51 milhões de votos. Mesmo os que creem que a eleição de outubro não foi fraudada pela mentira, pela ocultação da verdade, pela injúria e pela chantagem feita com os mais pobres, reconheceram que ali estava um porta-voz autorizado por pelo menos a metade dos cidadãos brasileiros. Realidade incômoda para um partido que, dias antes, firmara, em Resolução do Diretório Nacional, a determinação de construir sua hegemonia sobre a nação.

Então, prezado senador Aécio Neves, nesta obscura viela da história, o senhor é esse líder. Continue a sê-lo. Seja-o no Senado, seja-o nos meios de comunicação infestados de governistas e de usuários do governo, e o seja, principalmente, nas ruas das quais o senhor não deverá mais se ausentar. Não permita que lhe tomem das mãos a liderança oposicionista que soube conquistar a partir do momento em que chamou mentirosos os que mentem, levianos os insensatos, omissos os que não cumprem seus deveres, irresponsáveis os que conduzem mal o país e se deixam alinhar segundo acordos regados a mojitos nos banquetes de Havana.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

26/11/2014

A recente decisão tomada pelo Conselho Federal da OAB me fez ver como esses devaneios históricos transitam no Brasil. Devagar e sempre. Demoram mas vão para onde os querem levar. As motivações para que avancem são muitas e graves: é tudo questão de privilégio, poder e dinheiro.

A notícia me lembrou de um artigo que escrevi em 1999, para o Correio do Povo. Estávamos, no Rio Grande do Sul, sob o governo petista de Olívio Dutra, nosso conhecido Exterminador do Futuro. A Secretaria de Educação, totalmente dedicada à conquista gramsciana da hegemonia, lançara uma cartilha que tratava obviedades históricas como achados ideológicos do governo popular e democrático. O texto que escrevi a respeito dessa cartilha tinha por título "Aqui são outros quinhentos" e, lá pelas tantas, dizia assim:

"Doravante, de acordo com o livrinho vermelho dos pensamentos da SEC, passa-se a ensinar a grande novidade de que havia índios no local do desembarque ocorrido em 21 de abril de 1500, atribuindo-se a esse episódio, portanto, o nome de Invasão. Tal verdade histórica estabelece uma conveniente referência para homologar as práticas do MST. Nesse livreto é ensinado ao povo que o país chamado Brasil, constitui, há cinco séculos, um sinistro e gigantesco usucapião lançado contra os primitivos e legítimos proprietários."

E prossegui, ironizando: "Também é denunciado, ali, que os ancestrais dos negros e mulatos foram trazidos para a América como escravos, nos infectos porões de navios negreiros. Quem ler a cartilha fica com a impressão de que antes do governo popular e democrático, a versão dominante é a de que os negros aportaram ao Brasil como turistas, a bordo de confortáveis transatlânticos. Só a democracia popular e participativa do governo petista teria permitido arrancar o véu da mentira e revelar para a História, que os escravos, inclusive, trabalhavam de graça e eram frequentemente maltratados."

Passados 15 anos, chega a vez da OAB. Transitando ao largo de bibliotecas inteiras, toneladas de livros escritos sobre o tema em diversos idiomas, propõe ela que o governo crie uma Comissão da Verdade sobre a escravidão. A tarefa, é claro, tem que envolver o governo petista. Qualquer outro, mandaria a OAB cuidar da própria vida. Mas sabe bem a OAB que se o governo não participar não aparece dinheiro para a colheita.

Enfim, na perspectiva dos pais da ideia, tudo se passa como se a vinda dos escravos africanos fosse um mistério insondável, um autêntico naufrágio da verdade que agora, felizmente, sob um governo que sabe muito bem criar e se beneficiar de cisões e ressentimentos, será "resgatada" dos mais profundos abismos da história universal. Parolagem político-ideológica que a Secretaria de Educação do governo Olívio Dutra iniciou no Rio Grande do Sul há 15 anos e que, agora, poderá render um "fundo de reparação" cuja conta, como sempre, virá para a sociedade. Como será com a farra do "Petrolão", a respeito do qual a OAB nada diz.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

23/11/2014

Por todas as razões e evidências sociais e históricas, combater política e culturalmente o comunismo não é fascismo. É dever moral. Aliás, em países submetidos a esse totalitarismo, quem acusasse o regime de homicídio e genocídio era rotulado fascista. E virava prova material da acusação que fazia. Portanto, chamar adversários de "fascistas", como fazem muitos vermelhos e estrelados por aí, não é novidade. Para completar o antigo ritual, só falta o tiro na nuca.

 A Câmara de Porto Alegre, com honrosas exceções, criou condições para que se erguesse um Memorial da Iniquidade, destinado à Luiz Carlos Prestes, o homem símbolo da luta bolchevista no Brasil. Nosso legislativo anda em descompasso com a opinião pública, como se viu nos dias de fúria e baixaria que a Casa tolerou por dez dias, em 2013, quando um bloco de pelados a ocupou, se drogou e, literalmente, ejaculou no Plenário.

 Certas decisões sugerem que o tradicional cafezinho foi substituído pelo chá do Santo Daime. Recentemente, foi alterado o nome da Av. Castelo Branco para Av. da Legalidade e da Democracia. Alegação: Castelo foi um ditador. Como se Deodoro não tivesse dado um golpe militar. Como se Floriano não houvesse feito pior. Como se Júlio de Castilhos, não fosse o "homem que inventou a ditadura no Brasil", seguido à risca pelo discípulo Borges. Como se o ditador Getúlio Vargas fosse um expoente do constitucionalismo democrático. Ou está havendo manipulação da ignorância de alguns edis pelos mais sabidos, ou tem chá no meio dessa alucinação.

Há anos, na gestão de Raul Pont, a cidade doou terreno para um memorial a Luiz Carlos Prestes. Se dependesse da generosidade dos fãs do referido senhor, a obra jamais aconteceria. Mas com recursos alheios, à moda comunista, é prá já. Bastaria que a Câmara aprovasse o que aprovou em 2009: cessão de parte do terreno para a Federação Gaúcha de Futebol, que se comprometeu a construir o Memorial. Terreno público e obra construída com dinheiro dos pagadores de ingressos no futebol. Feito.

O apátrida, símbolo do comunismo, terá o que não parecem merecer gaúchos de imenso valor moral e serviço ao povo e sua cultura, como, entre outros, D. Vicente, Osvaldo Aranha, Silveira Martins, Flores da Cunha, Pasqualini, Landell de Moura, Érico Veríssimo, Simões Lopes Neto, Lupicínio. Pergunto: não são todos maiores e melhores do que o homem que mandou matar a menina Elvira Cupelo Colônio, por mera suspeita de delação? Enquanto, no mundo, somem de vergonha os funestos símbolos do comunismo, edis espetaram esse Memorial da Iniquidade no coração da capital dos gaúchos.
 

Zero Hora, 23/11/2014

Percival Puggina

21/11/2014

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que me perdoe. Malgrado seus muitos e inegáveis méritos, ele tem grande responsabilidade pela expansão e consolidação de seus opositores no poder.

 Sim, a nação lhe deve boas iniciativas. Mas ele tem grave responsabilidade pela chegada do PT ao poder. Nada fez para evitar que isso acontecesse. Franqueou ao partido da estrela acesso à alma de parcela significativa do povo brasileiro pela via da mistificação e da mentira. Enquanto no governo, Fernando Henrique Cardoso prestava atenção e levava em grande conta o que Lula dizia. Havia algo de petista, um pigarro socialista, na garganta e na alma do acadêmico que governou o Brasil durante oito anos. Lula, por seu turno, uma vez eleito, teve o mérito de manter o que havia de melhor nas políticas de seu antecessor, lixando-se para o seu próprio discurso e para seu partido. Está aí o principal motivo do maior sucesso político do governo de Lula sobre o de FHC. Como consequência, o PT cresceu mais com FHC do que com Lula. Com Lula, o PT ganhou o controle da máquina. Com FHC o controle de corações e mentes.

O ex-presidente que me perdoe, mas isso é imperdoável. Visivelmente, ofereceu-se ele em holocausto para a vitória do PT. Tirou o casaco, a gravata e abriu a camisa para o assassinato de sua reputação. Permitiu que o importante trabalho social iniciado por sua mulher, Ruth Cardoso, fosse menosprezado e, depois, usurpado por seus adversários. Omitiu-se nas eleições subsequentes ou, por tudo isso, foi alijado delas por seus correligionários Serra e Alckmin. Retornou agora, tarde demais, idoso demais, irrelevante demais, na campanha de Aécio Neves.

Não agiu contra o assassinato da própria reputação. Não mostrou que o PT no governo, com todos os meios de investigação disponíveis, não provou uma única das acusações que lhe fez ao longo de oito anos. Não exibiu o consagrador estado de probidade administrativa representado por esse silêncio. Não se valeu dele para mostrar a criminosa capacidade de difamar e injuriar que caracteriza o petismo. Com tudo isso, Fernando Henrique descumpriu um dever moral perante o qual não poderia se omitir. Não é próprio dos homens de bem tolerar o que ele tolerou. Por agir como agiu, tornou possível o escárnio dos escárnios, que se manifesta quando os petistas, confrontados com a indizível tragédia moral em que se meteram, permitem-se afirmar que não são piores do que os demais. E encontram quem neles creia!

Ao abrir caminho, como de fato abriu, para o crescimento do PT e sua ascensão ao poder, Fernando Henrique fez mal ao Brasil. Desde que li o Manifesto de fundação do PT em 1980, eu sabia o que era e o que viria a ser esse partido. Com muito maior razão ele, homem inteligente e político experiente, tinha que saber o que iria acontecer quando o país caísse nas mãos em que veio a cair.

* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

18/11/2014

Em sessão com clima de anúncio relevante, a presidente da Petrobras Graça Forster montou no cavalo encilhado dos escândalos e assumiu seu lugar à mesa dos trabalhos com fisionomia de atendente de UTI de Pronto Socorro, em final de turno, numa segunda de Carnaval. Do cabelo à ponta do nariz, tudo que podia desabar tinha desabado. Afinal, as horas antecedentes não haviam sido moleza. Todos os grandes senhores das empreiteiras nacionais, que eram recebidos com tapete vermelho nos gabinetes da empresa, estavam dormindo no chão do xadrez. Delações premiadas espocavam de toda parte e lembravam extrações da Loteria Federal. Às avessas. Milhões regurgitavam de todos os cantos.

Os sólidos muros da impunidade tombavam pelo simples fato de que ainda há juízes em Curitiba e lá está o celebérrimo magistrado federal Sérgio Moro, a quem a capital paranaense já deve uma estátua no meio da Praça Carlos Gomes.

A presidente da empresa iria anunciar providências. Eram necessárias. Dois dias antes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, chamado às falas, mostrou porque o antipetismo é tão indispensável ao país. Estas investigações, havia dito ele, não podem ser vistas "como o 3º turno da eleição presidencial". Chegará o dia em que esse petismo desabrido vai entrar para o CID-10 (Código Internacional das Doenças).

Voltando à Graça e aos perigos do petismo delirante. Qual o anúncio feito por aquela senhora de quem já se disse ser tão competente e familiarizada com a empresa que conhece como ninguém? Ela anunciou a criação de uma diretoria para fiscalizar as diretorias. Não é genial? É algo assim como uma presidência para fiscalizar a presidência. Pelo que se sabe, ninguém ainda foi cogitado e, principalmente, claro, não há partidos interessados.
 

Percival Puggina

16/11/2014

Já vi concentrações maiores, inundadas por bandeiras vermelhas. Eram manifestações assustadoras! Nada era dito sobre o Brasil e muito era dito sobre a tomada do poder no Brasil. Festejavam vitórias no mesmo tom com que o MST comemora suas invasões. Algo fora tomado de alguém. A democracia dava mais um passo para trás e a revolução mais um passo a frente. E eram vistosas as manifestações.

 Foi curioso perceber que a eleição do dia 26 de outubro não proporcionou qualquer daquelas antigas explosões estelares e escarlates. Ao contrário, viu-se muita gente cabisbaixa, com expressão de criança que sujou as fraldas. Fez e sabe que fez. De algum modo, manifestavam o sentimento nacional, o sentimento de um país que precisa trocar as fraldas, um país que não pode continuar sendo governado por um governo que não controla os esfíncteres.

No início da tarde do último sábado, feriado de 15 de novembro, aniversário da Proclamação da República, um grupo de 5 mil pessoas se reuniu numa das esquinas do Parque Moinhos de Vento em Porto Alegre (vídeos aqui e aqui). Era um desses dias esplendorosos, em que o céu da capital gaúcha se engalana num azul de lápis de cor. Vi pais levando seus filhos em carrinhos de bebê. Vi uma senhora de 93 anos percorrer altiva e solene a longa caminhada de três horas até o Monumento do Expedicionário, no Parque Farroupilha.

Qual a força que me levou até lá, uniu-me a eles numa aderência eletrostática, que nos imantou e mobilizou a todos através da marcha? Não hesito em afirmar: foi um sentimento de bastança, de demasia. O partido que nos governa foi longe demais e a multidão regurgitava 12 anos de desaforos levados para casa. Quem estava ali eram pais e mães de família de verdade, trabalhadores que trabalham, empresários que fazem andar a roda dos negócios mas não se vendem, estudantes que estudam, pessoas de fé que rezam e pessoas sem fé que respeitam a religiosidade alheia, pensadores que pensam a liberdade, a democracia, os bons princípios e os mais elevados valores. "Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil" sussurrou-me alguém ao ouvido. E essas palavras acompanharam-me ao voltar para casa.

É preciso libertar a Pátria. Soltar as amarras em que vem sendo gradualmente envolta. Romper a teia conspiratória e apátrida que quer nos unir à "Pátria Grande" neocomunista, bolivariana, no mapa continental vermelho, sem fronteiras e virado do avesso, proposto pelo Foro de São Paulo. E, por fim, mas não por último, acabar com eleições que não merecem crédito, com o império da mentira, da enganação, da chantagem, da injúria, onde o juiz da partida é sócio do clube, onde se faz gol com a mão, três horas depois do segundo tempo. O Brasil do bem não suporta mais ser explorado, taxado, tributado, rotulado, dividido, roubado, enganado, e reagirá com os meios proporcionados pelo Estado de Direito e pela democracia.

É preciso dizer à imprensa infiltrada, submissa e omissa, à imprensa "empadinha", que combater o comunismo, ainda que disfarçado e com vergonha do próprio nome, não é fascismo (como acusavam embusteiramente os marxistas-leninistas ao levar seus opositores para o agasalho definitivo das covas rasas). Ao contrário, é indeclinável exigência moral, numa sociedade de homens livres, que conhecem História. E foi o que fizemos, da melhor forma que pudemos, numa tarde em que o céu de Porto Alegre exibia, orgulhoso, um céu azul de lápis cor.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

14/11/2014

Doravante, cada vez mais, você ouvirá falar de "Pátria Grande". A expressão é cunhada nas elucubrações do Foro de São Paulo. Designa a unidade geopolítica a ser construída através da exportação do comunismo cubano e venezuelano aos demais países da outrora chamada América Latina ou Ibero-América, em marcha para se tornar "Pátria Grande". Pátria grande uma pinoia!

Exceto nas cabeças petistas (assista vídeos de Lula e Rui Falcão aqui), o Brasil nada tem a ver com essas pequenas nações que outrora integraram a Coroa espanhola. Se elas sonham com deitar à sombra da economia brasileira, se creem que continuarão, vida afora, contando com as prodigalidades proporcionadas pelo governo petista em seus sonhos de hegemonia continental, podem armar suas redes noutras varandas. Tivemos origem diversa, cursamos rumos diferentes na História e os dias do PT estão contados. Julgo oportuna esta advertência porque, do jeito que a coisa vai, em breve haverá cubanos, bolivianos, salvadorenhos e nicaraguenses fazendo projetos com os recursos do pré-sal... Vamos parar com isso! E vamos parar já.

Um dos elementos da identidade brasileira cuja construção inspira justificado sentimento de orgulho é a unidade do território e da língua comum. Ao longo dos séculos, essa não foi uma conquista fácil. Não nos faltaram invasores nem traidores. Não nos faltaram divisionistas e, em muitos momentos, não nos faltaram motivos para a divisão. A América Espanhola, seja como território, seja pelo vulto dos recursos populacionais, seja pelos minerais preciosos disponíveis para o custeio do povoamento, andou melhor e ensejou mais rápida prosperidade ao projeto da Coroa espanhola. Portugal, a seu turno, era carente de recursos humanos e materiais e o Brasil nunca lhe foi fonte de abundantes riquezas. Povoar defender um país continental, guardar a extensa Costa Atlântica, muito acessível à cobiça de ingleses, franceses, holandeses, envolveu gastos elevadíssimos. No entanto, enquanto o Brasil permaneceu unido, eles se dividiram e pagam a conta da divisão. Agora os bolivarianos querem "Pátria Grande". E conosco...

Quando, no início do século 19, Napoleão invadiu a Península Ibérica, a Coroa portuguesa percebeu que deveria mudar-se para o Estado do Brasil. O Brasil era, desde sempre, Província e Estado de Portugal como qualquer outro Estado lusitano. O ineditismo caracterizado pela transferência da Coroa para América foi motivo de surpresa em Portugal e de alegria no Brasil. Cogitaram do mesmo, mas não levaram a cabo suas intenções, os reis de Espanha, Carlos IV e Maria Luísa. Essa hesitação e demora, ensejou a invasão francesa e a designação de José Bonaparte para o trono espanhol. Nesse momento rompeu-se o laço com a matriz ibérica e com os Bourbons, desencadeou-se uma sucessão de fracionamentos e surgiram muitas novas nações, governadas por caudilhos e déspotas locais. Já o Brasil, com D. João, D. Pedro I e D. Pedro II, manteve-se uno, seja nas guerras da Independência, seja nas da República.

Essa história e nossa identidade não são patrimônio de desmiolados que deveriam estar declamando noutra freguesia seus projetos de Napoleão de hospício.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.