No ano passado, centenas de entidades, entre as quais a CNBB e a OAB, formaram uma Coalizão pela Reforma Política e Eleições Limpas. Reitero, aqui, o desafio recentemente feito por Bruno Braga, em artigo que pode ser lido no meu site (aqui): se houver real interesse cívico por eleições limpas, comecem pelo último pleito.
Desnecessário rememorar. Os fatos, além de recentes, se agravam com a reviravolta adotada pela presidente. Ela consegue fazer pior do que Lula em 2002. Naquele ano, antes das eleições, Lula jogou no lixo o discurso demagógico e populista construído ao longo de seus anos de oposição e firmou uma “Carta ao povo brasileiro” comprometendo-se com preservar o que condenara. Seus eleitores, se leram a carta, não entenderam bulhufas. Dilma, em 2014, não escreveu carta alguma. Afirmou reiteradamente, até o dia 26 de outubro, que os desatinos que cometia na condução da Economia e das finanças públicas atendiam ao mais elevado interesse público. Quem dissesse o contrário era atacado com os piores adjetivos. No dia 27, mudou tudo.
Conversões instantâneas, a partir de experiências místicas, não são fatos incomuns. O marido, desatencioso, irresponsável e beberrão, subitamente muda de vida. A família estranha, os vizinhos comentam, os colegas elogiam e a mulher esclarece faceira: “Ele encontrou Jesus!” É o que chamamos metanóia, palavra grega que significa arrependimento, conversão, mudança de mentalidade e de atitudes. Nossa presidente implodiu o PIB, tornou deficitários todos os nossos superávits, furou o teto da meta e tratou disso, na campanha, com indisfarçado orgulho, como se expressasse honrosa insubmissão aos receituários neoliberais. Alcançada a vitória, converteu-se às teses “demoníacas” que atribuía a seu adversário. E foi buscar entre os melhores afiliados da Escola de Chicago, um discípulo de Armínio Fraga, a quem tanta ruindade atribuíra. Até quando faz a coisa certa, Dilma desliza na maionese ética. Ela não poderia ter dito quanto disse, para, logo após, fazer tudo ao contrário. Sem qualquer ato penitencial. Constrangida, sequer compareceu à posse de seus novos ministros da área econômica.
O que teria determinado a aparente conversão da presidente, de uma economia de liquidação, de uma gestão orçamentária com jeito de caderno de armazém, tipo “o Brasil é meu e eu levo as coisas como quero”, para a ortodoxia da Escola de Chicago? Sei não, mas essa sua nova atitude é problemão criado para seus próprios devotos. São milhões, e terão que mudar de reza, trocar de retórica, e engolir, palavra por palavra, aquele besteirol que defendia a marcha para o caos como um modo superior de administrar para o interesse público. Ontem, ao anistiarem o crime de responsabilidade cometido pela presidente quando descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, eles ainda usavam a cartilha antiga.
* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
José P.Maciel - 08/12/2014 13:36:28
Como acreditar nessa gente,partido e presidenta seguidores de Gramci(pois não?),cujo objetivo é manter o poder a qualquer custo ,como crer que tenham reconhecido seus erros e procurem uma política econômica restauradora?Tomara que o país melhore,para que muita gente saia do sufôco,não sabemos em quanto e por quanto tempo.Nossa situação é triste:-o bom Brasil nas mãos dos falsos chefes,dos corruptos-ladrões,inclusive grandes "empresários", e o congresso de "cócoras! O que é isso,meus companheiros?Estamos precisando de quê? Sou todo ouvidos.Gilberto C. Coiado - 05/12/2014 23:29:33
Quanta ingenuidade desse meu povo... A "conversão" de Dilma, tem um único motivo, o IMPERATIVO da candidatura Lula..!!! Quer que eu desenhe..???!!Sérgio Alcântara, Canguçu RS - 04/12/2014 20:12:43
Parece que a iminência de uma grave crise econômica, aliada ao recado das urnas e das manifestações deste ano e, sobretudo, do ano passado , fez com que nossa "presidenta" optasse por colocar em banho-maria a tão almejada república bolivariana, apesar da anistia recebida em relação à sua irresponsabilidade com o erário. Porém, seus asseclas ainda esbanjaram arrogância na sessão parlamentar de ontem, demonstrando estarem alheios à realidade política, que já começa a se alterar.Luiz Felipe Salomão - 04/12/2014 19:51:41
Caro Professor, Isso é nada mais nada menos do que a velha receita comunista: ‘dar dois passos para trás, para poder andar três para frente’. Além disso, em meio a toda essa névoa ideológica da esquerda, é oportuno lembrar o que disse o craque (no melhor dos sentidos) Lothar Matthaus, que criticou o comportamento dos brasileiros na Copa de 2014: “Não compreendo por que um jogador de futebol chora. Os brasileiros sempre choram. Se soa o hino, eles choram. Eliminaram o Chile e choraram. Perderam para a Alemanha e choraram. Eles têm que mostrar que são homens, que são fortes. Nunca tinha visto nada tão nefasto como a linguagem corporal dessa equipe". Pois está aí, no contexto dessa balburdia petista, a oportunidade, única, do brasileiro mostrar quem ele verdadeiramente é! Cordiais Saudações!Ismael de Oliveira Façanha - 04/12/2014 17:36:52
Mas ha que não se convertesse ao Sr. Mercado! Ele a converteria, já, já, em ex-presidente...Jotabe - 04/12/2014 17:13:22
No bate boca que houve no congresso, com minústucula mesmo, porque esse poder se apequenou tanto com a subserviência, a ponto de Aécio Neves defini-los como de cócorass - eu prefiro a posição de quatro que é quando se facilita a peneração - alguém classificou esse ato da re-presidenta como esquizofrenia. Convoca um Ministro da Fazenda, para com toda a ortodoxia, promover as reformas para recuperar o Brasil e envia uma alteração na LDO que não passa de um descarado calote!!! Professor Puggina, em seu aritigo do dia primeiro, próximo passado, o Sr. pergunta: "Voto de confiança em Dilma"? Quem o concedeu certamente já se arrepende ou está sofrendo das faculdades mentais. Ela sempre foi um conjunto de mentiras que não se sustentam por muito tempo e, agora, toda a população brasileira sabe disso Não há como negar. O consolo é que, após o ínico do ano de 2015, a cada dia que passar, estaremos mais próximos do feliz desenlace quando, finalmente, estaremos livre desse encosto, 31 de dezmbro de 2017. O tempo passa rápido. Demorado será o rescaldo para debelar os focos do grande incêndio provocado em quatro mandatos petistas. Todo cuidado é pouco para elegermos uma brigada contra incêndio e não mais um incendiário... o criador de encostos..