Percival Puggina

27/05/2018

Engana-se quem pensa que essa greve traz à população algo que não seja caos. Ela é pelo Diesel e não reduzirá nem o frete.

 Essa frase, que postei dia 26/05 nas minhas páginas do Facebook, suscitou inúmeros comentários. A maioria expressando desagrado. Era previsível porque pesquisa feita pelo Instituto Methodus informava, na véspera, que 86% da população apoiava a greve. No entanto, não tenho o hábito de auscultar a opinião pública para decidir o que devo escrever ou falar. Se fosse fazê-lo, não teria escrito ou dito coisa alguma quando poucos, muito poucos, combatíamos as ideias de esquerda e o petismo na segunda metade dos anos 80.

 Estou convencido, pela simples aplicação da razão aos fatos, de que é preciso distinguir as motivações. Uma coisa é a greve dos caminhoneiros, com apoio dos transportadores e produtores rurais interessados em reduzir o preço do diesel. Atendida essa reivindicação e isentos do pagamento de pedágio quando vazios, não fica um caminhão no acostamento. Ou alguém acredita que seus condutores continuarão parados até que o país tome jeito, que o Estado encolha, que os impostos diminuam, que a segurança aumente, que as estradas melhorem?

Outra coisa, então, são as pautas nacionais, sobre as quais muito tenho escrito e das quais poucos se têm ocupado. Quanto mais terrível for a situação no dia 7 de outubro, quanto maior o caos, mais receptiva estará a massa de eleitores a quem lhe oferecer, em 7 de outubro, o conhecido prato feito de mentira, populismo, corporativismo, estatismo e, claro, subsídios públicos. Não vislumbro a menor chance de que em tal situação a maioria do eleitorado decida optar por uma política econômica liberal. Ao contrário, ela se inclinará para o lado de quem lhe oferecer doses mais robustas do mesmo veneno através da mão falsamente dadivosa do Estado. Sou contra o plantio do caos.

Comece a falar em privatização e fim do monopólio e veja o que acontece. Quais as demandas da greve da Federação Única dos Petroleiros (FUP) programada para quarta feira? Demissão do presidente da Petrobras, retirada das Forças Armadas das refinarias onde garantem o abastecimento dos caminhões, manutenção dos empregos, “não às privatizações” e ao “desmonte da Petrobras”. Ah! Enquanto a empresa era vampirizada pelo governo petista que a transformou em objeto de escândalo e escárnio mundial, a turma da FUP, agora grevista, posava para fotos ao lado de Lula e Dilma. Agora, faz greve e se une aos caminhoneiros... “para o bem do Brasil”. Deve haver apoiador do caos aplaudindo a greve desses hipócritas porque, afinal, ela ajuda o caos, certo?

A pluralidade de expectativas em relação aos caminhoneiros é uma evidência de que ela está sendo vista como uma espécie de Bombril com usos contraditórios. Ora é uma porta aberta para a “intervenção militar constitucional”, ora uma oportunidade para o "Fora Temer", ora uma chance de criar clima para a volta da esquerda ao poder, ora uma oportunidade de acabar com os males do estatismo e ora uma oportunidade de buscar soluções junto ao Estado, ora servirá para acabar com o monopólio do petróleo e ora servirá para preservar definitivamente o monopólio. Entendam-se, porque eu não entendo.

Ponderação final: se você está convencido que a greve é boa para o país, que o “Fora Temer” petista que vi em caminhões, vindo ontem de Santa Maria, é uma boa pauta, que o agravamento do caos institucional fará o que até agora não foi feito, responda para você mesmo, a quatro meses de eleições gerais, qual o grupo político que colherá maior vantagem dele com vista aos próximos quatro anos de poder no país?

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

25/05/2018

 De onde a vejo, como cidadão e consumidor, a Petrobras é apenas uma empresa pública monopolista que, em perspectiva recente, adquiriu péssima reputação. Embora responda por 99% do petróleo refinado no Brasil e detenha o invulgar privilégio de fixar o preço de seu produto concorrente – o etanol –, permitiu que o governo anterior lhe criasse gravíssimos problemas financeiros e de imagem pública. Se eu tiver que escolher uma empresa para admirar e proteger, certamente ela não será monopolista, nem pública, nem vampirizada por corrupção ou corporativismo. Portanto, como cidadão brasileiro, o valor de suas ações me afeta muito menos do que a falta de combustível no posto da esquina.

E os caminhoneiros, grevistas da vez? Estão tapados de razão. Sintonizo com eles quanto aos preços dos combustíveis. Considero uma irracionalidade estarem submetidos a uma empresa monopolista que se concede o direito de alterar os preços de seus produtos dezenas de vezes por mês! Imagine uma indústria que adote a mesma prática em tempos de pequena ou nenhuma inflação. Imagine uma loja trocando diariamente, e mais de uma vez por dia, as etiquetas de preço na vitrina. Imagine isso num supermercado em tempos de preços estáveis. Loucura!

Como podem as atividades econômicas altamente dependentes dos combustíveis controlar seus próprios custos se um item tão importante oscila diariamente segundo a cotação do barril de petróleo, segundo a cotação do dólar, segundo as necessidades da Petrobras e segundo os interesses fiscais da União e das unidades da Federação? Tenho idade suficiente para afirmar que coisa igual nunca se viu. Não faltam razões, portanto, para a atitude dos caminhoneiros. Mesmo assim, sou contra o que estão fazendo. Não é a justiça da reivindicação que legitima a conduta dos manifestantes. Se aceitar que se tranquem rodovias, que se aterrorize a população com o pânico da escassez, que se leve caos à sociedade, devo admitir que as práticas delinquentes do MST se habilitem ao escrutínio da mesma lupa moral. E isso, por motivos óbvios, não posso fazer.

Uma soma algébrica de erros não produz um acerto. Agindo sobre erros antigos, não está certa a direção da Petrobras ao ver a empresa na perspectiva quase claustrofóbica em que a vê. Pedro Parente é um grande gestor, mas existe vida fora da Petrobras. Quando motoristas e transportadores usam a população e a escassez como forma de pressão, não estão a agir diferentemente de certos movimentos sociais que colocam mulheres e crianças na linha de frente de suas ações criminosas. O governo, ao tratar a Petrobras como se fosse uma prateleira de cristais, está deixando claro, para mim, que esses cristais não deveriam estar nessa prateleira.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

22/05/2018

 

Telefonou-me antiga secretária. Contou-me que, aposentada, voltou aos bancos escolares e cursa os últimos meses de uma titulação acadêmica na área de Ciências Humanas. “Marxismo de tudo que é jeito, em doses maciças, Puggina!”, exclamou-se ela. No início, contestava os professores, mas, lá pelas tantas, cansada dos repetitivos confrontos, impôs silêncio a si mesma para não se prejudicar. Contou que nos primeiros meses, sempre que apontava os sucessivos fracassos das experiências comunistas, os professores tiravam da manga o velho clichê: “Interpretaram mal o Marx”.

Quem ainda não ouviu isso em aula ou roda de amigos? Pois é. Marx é o indivíduo mais mal interpretado da história humana. Só a militância de esquerda, titular do quadro negro, proprietária do toco de giz, exercendo de modo monopolista o direito de atribuir nota a seus alunos é capaz de interpretá-lo corretamente. E assim, dentro da sala de aula, no estranho mundo de palavras onde a esquerda habita, as 43 experiências políticas do comunismo, com seus 100 milhões de mortos (aos quais se acrescenta agora o genocídio venezuelano) se tornam um problema de interpretação. Basta ler Marx adequadamente para o comunismo emergir purificado e se tornar um sucesso no mundo das palavras.

Embalados por professores aos quais foi dado o privilégio de interpretar Marx perfeitamente, políticos de esquerda, mundo afora, desenvolveram, como afirmou alguém, extraordinária capacidade de dizer e propor coisas terríveis de modo absolutamente cativante. Espalham ódio, acabam com as liberdades públicas, produzem fome e violência, mas o fazem sorrindo, em nome da fartura, da igualdade, da solidariedade e dos mais elevados valores que se possa conceber. E que se danem os fatos mesmo quando a realidade se mostra desengonçada do discurso. É o caso da Venezuela e do entusiasmado apoio da esquerda brasileira aos ditadores Hugo Chávez e Nicolás Maduro, e à autodenominada revolução bolivariana, com a população em fase de perda doentia de peso, a caminho de seu holodomor.

Talvez não tenha repercutido como deveria, fora do Rio Grande do Sul, a reação da delegação do Grêmio quando foi à Venezuela disputar, dia 15 de maio, contra o Monagas uma partida pela Libertadores da América. A fome da população, exibida em sua face mais dramática, chocou os jogadores, que coletaram dinheiro e deixaram por lá tudo que podiam. O atleta Cícero, assim se expressou, falando por todos: “Nós somos seres humanos. Eu vim de classe média-baixa e sei o que passei lá atrás. Eu cheguei e vi uma situação até arrepiante. Ser humano pegando prato de comida como se fosse o último dia de vida dele. A gente juntou uma coisa boa para eles. Essas coisas não tem preço na vida. Poder ajudar as pessoas”. E foi seguido pelo treinador Renato: “Chega a machucar o coração. Tivemos essa experiência já no ano passado. Recebemos pedidos para trazermos coisas como remédio, água, papel higiênico. Trouxemos bastante coisa. O mundo precisa olhar um pouquinho mais para a Venezuela. O que nós vimos e sentimos aqui nos últimos três dias choca. Fizemos a nossa parte, mas não é suficiente. Ajudamos algumas pessoas, mas a coisa aqui está muito feia”.

No mundo de palavras geradas na mente esquerdista, contudo, a Venezuela – “brilhante democracia popular” – tem um futuro revolucionário promissor. E assim será dito, até que os professores, em sala de aula, comecem a ensinar que Marx foi mal interpretado por Chávez e Maduro.
 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

18/05/2018

 

 Desculpem a expressão pouco polida e, ainda menos, criativa. No entanto, é a exclamação que me ocorre diante do que se cristalizou como cenário das próximas eleições parlamentares.

 Promover uma grande renovação nas duas casas do Congresso Nacional era a principal aspiração da sociedade brasileira para a futura eleição parlamentar em 7 de outubro. Tratava-se de pura racionalidade: afastar os corruptos, os coniventes com a corrupção e os incompetentes, preservando os melhores. A conduta dos eleitores, aliás, deveria ser sempre essa, mas os eventos dos últimos anos – em especial os achados da Lava-Jato e operações análogas – tornaram tal conduta uma imposição dos fatos a todo eleitor consciente, a todo cidadão preocupado com o presente e o futuro do país.

 Foi no contexto desse clima político-eleitoral que começaram as pressões para extinguir o financiamento empresarial aos candidatos e partidos. Seria esse financiamento (e não o irracional modelo político) “a” causa fundamental da corrupção, por gerar conluio de interesses escusos entre financiadores e financiados. Tão indigno sistema – assim se dizia - deveria ser substituído por uma fonte pública, imune a quaisquer compromissos.

Chamada a opinar, a sociedade não aderiu à tese. Nem mesmo a poderosa organização formada por mais de uma centena de entidades e associações que se integraram na famosa “Coalizão por Reforma Política e Eleições Limpas”, sob a liderança da OAB e da CNBB, conseguiu sensibilizá-la. Empenharam-se os patrocinadores da tese em campanha que se estendeu por mais de um ano, entre 2014 e 2015, tentando, inutilmente, coletar 1,5 milhão de adesões a um projeto de iniciativa popular. O financiamento público encabeçava as propostas. Alegavam expressar o desejo social e pediam assinaturas durante missas em todo o país, mas nem assim conseguiram os patrocinadores coletar a metade disso! O povo jamais considerou ser de seu dever custear campanhas eleitorais, através de recursos públicos pelos quais cada cidadão estaria, inclusive, financiando candidatos contrários às próprias convicções.

A falsa lógica do beatificado fundo eleitoral público, porém, já havia contaminado os “legisladores” do STF. Em setembro de 2015, por oito a três, atropelando, inclusive, um projeto em sentido oposto que procurava disciplinar o financiamento por pessoas jurídicas, o Pleno decidiu que ele era “inconstitucional”.

Resultado: em 2017, o Congresso aprovou a formação de um fundo público para a eleição de 2018. Esse recurso, no montante de R$1,7 bilhão, será destinado aos partidos e neles manejados por seus líderes. E quem são estes? Como regra quase geral, nas executivas nacionais e nas secções estaduais, são deputados federais e senadores. Ou seja, os recursos “públicos” serão privatizados por aqueles que, em grande proporção, a sociedade não deseja ver reeleitos, frustrando-se a efetivação do cristalino anseio nacional pela renovação. OAB, CNBB e STF estão devendo explicações para esse terrível malfeito que realiza o sonho de todos os corruptos cuja reeleição estava em risco! Amarraram cachorro com linguiça, entregando-lhes – logo a eles! – o privilégio de se financiarem com meios que a nação sangrou para produzir e arrecadou na forma de tributos federais. Quem quiser furar esse esquema que trate de correr o chapéu juntando trocados de pessoas físicas, na base da “vaquinha”, ou do me dá um dinheiro aí.

Apesar desse desastroso papelão, persiste o desejo de renovação. Não se omita, não vote em corruptos, preserve os bons e renove. Sobretudo, dedique tempo à escolha que fará, e renove!
 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

17/05/2018

 

Esclarecendo um pouco mais a expressão acima, utilizada anteontem no artigo que pode ser lido aqui: ninguém neste país, tanto quanto o Grupo Pensar+ e, especialmente, o amigo pensador Gilberto Simões Pires em seu pontocritico.com, advertiu para o que iria acontecer com a economia brasileira se a reforma da Previdência não fosse aprovada.

 Não foi por falta de evidências nem de reiterados avisos que o Congresso Nacional cometeu, por maioria, a imprudência de deixar como está para ver como fica aquilo que não pode ficar como está e já se vê como está ficando. A teimosa e insistente advertência do amigo Gilberto induz a uma nova aplicação das muitas paráfrases suscitadas pela famosa gravação de Michel Temer: não dá para manter isso aí, viu? Um país pobre, uma economia estagnada, instituições levadas às barras dos tribunais, não pode manter, para sua previdência social, padrões que sequer as economias ricas suportam.

Esse modelo institucional está, ele mesmo, exigindo uma reforma que também não acontece. Já não falo nas patacoadas do STF. Refiro-me ao fato de que o Congresso Nacional iniciou o biênio do governo Temer apoiando iniciativas apontadas pelo presidente e as deixou ao léu quando a imagem moral do mandatário, como num mecanismo de vasos comunicantes, nivelou-se com o padrão do legislativo. Nesse momento, a base foi se afastando de Temer para não "macular" sua  própria imagem...

Dá-me forças para viver! O roto se constrange com a companhia do descosido e a nação que se dane.  Displicentemente, empurram-se as reformas  para o ano que vem, onde passarão a depender da composição do Congresso e de quem tenha sido eleito para ocupar a presidência. Diga-me o leitor: qual outro empreendimento humano se deixa conduzir mediante rituais tão desengonçados e desestabilizadores?

Quando tantos consideram que a reforma da Previdência é uma perversidade; que a reforma trabalhista é uma supressão de direitos; que a responsabilidade fiscal é uma submissão aos padrões neoliberais; que a queda inflação, dos juros e o fim da recessão nada significam, somos obrigados a deduzir que bom, mesmo, deve ser a economia parada, os 13 milhões de desempregados, e o horizonte de incertezas em que nos deixou o governo petista. No fim do voo da galinha, aliás, pode faltar dinheiro para todo mundo.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

16/05/2018

 

 Até quando os poderes de Estado continuarão vivendo às nossas custas sem fazerem o que devem? Até quando deixarão de lado o interesse nacional para curtirem seus “baratos” ideológicos, platitudes filosóficas e nebulosas teorias? Indignar-nos ante a violência e a insegurança é tudo que podemos e, até a isso, se permitem execrar classificando como “sanha punitivista”. Padece e não reclama!

 Irmãos nossos estão sendo mortos, bens estão sendo tomados e há uma violenta guerra assimétrica declarada pelo crime contra a indefesa sociedade. Como chegamos a isso? Com governantes que deveriam construir presídios e não o fizeram e com legisladores e magistrados que, detendo o monopólio da reação, da elaboração das leis, da condenação e da execução penal, distribuindo benefícios aos criminosos na magnanimidade de quem leva presente de Natal ao asilo. Ora, por favor!

Na cena de ontem, um delegado da polícia federal foi morto dentro de casa por dois bandidos, um dos quais beneficiado por generosa “saidinha” do Dia das Mães. Na cena de anteontem, o criminoso da vez investiu, arma na mão, contra  mães e crianças diante de uma escola (!), com o intuito de assaltar uma ou todas. Felizmente, o caso acabou bem, com o bandido morto graças à ação expedita e correta de uma militar. É pouco provável que se tratasse de iniciante na vida criminosa.

Graças à impunidade oficializada, sacramentada por magistrados e legisladores ideologizados e avoados, que olham para essas cenas e se penalizam dos bandidos, convivemos com condenados soltos, a praticar crimes, e há mais criminosos nas ruas do que nas prisões. A contragosto, centenas de milhares de brasileiros estão deixando o país para levar suas vidas em lugares mais seguros.

Nas próximas eleições temos que exigir daqueles em quem votarmos compromisso com a construção de presídios, apoio à atividade policial e avigoramento da legislação penal.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

15/05/2018

 

Quando a bancada do ainda minúsculo PT da Assembleia Nacional Constituinte eleita em 1986 se recusou a assinar a Constituição, não estava antevendo os problemas que forçosamente dela adviriam. Era por motivos errados que o partido rejeitava a Carta. Reprovava-a por não ser suficientemente socialista, estatista, coletivista, corporativista e sindicalista, nem suficientemente avessa à propriedade privada, ao cristianismo e à civilização ocidental. Tudo que ela tinha de ruim, o PT queria ainda pior. Para quase todas as teses derrotadas ou não tão vitoriosas quanto desejava, o partido tinha apoio da ala esquerda do PMDB, que nos últimos meses do processo constituinte rompeu com o governo Sarney e fundou o PSDB. É bom não esquecer: o PSDB nasceu mais próximo do PT que do PMDB e muito distante do DEM (então PFL), com o qual viria a andar por bom tempo.

A plataforma e as posições políticas que o PT sustentara na constituinte serviram para atazanar todos os governos subsequentes. O partido foi contra o Plano Real, o pagamento da dívida externa, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o superávit fiscal, as privatizações, a abertura ao mercado externo, o agronegócio, bem como a toda e qualquer proposta que significasse redução do tamanho e do peso do Estado. Na oposição, o PT fez muito mal ao Brasil. O partido pode ser representado por uma figura de costas para o século XXI, empacada com um pé na primeira metade do século XX, outro na segunda metade do século XIX. Não apenas impediu, ou dificultou, de modo sistemático, a aprovação de medidas modernizantes, mas emperrou, na mesma sintonia, a mentalidade de parcela significativa da população brasileira, seduzida pelo discurso partidário. O único, por sinal, que fez e faz política em tempo integral, tendo, por isso, elevado poder de convencimento.

O tempo veio mostrar o quanto era hipócrita o duro combate à corrupção que embalava a oratória do PT oposicionista. Esse vício moral não surgiu com o PT. Não nasceu em 2003. Bem antes, já engatinhava pelos corredores do poder, preparando-se para os “malfeitos” do porvir. Na longa continuidade do governo petista, ganhou tempo para alcançar maturidade e se profissionalizar. Brasília se tornou uma espécie de Vale do Silício da corrupção, terra dos negócios bilionários, das “sacadas” geniais, pluripartidárias, conferindo notáveis fortunas a indivíduos dos quais ninguém, antes, sequer ouvira falar.

Os treze anos de governos petistas criaram o caos. Derrubaram a economia, reintroduziram a inflação, exponencializaram o déficit público, jogaram milhões de brasileiros no desemprego, não promoveram quaisquer das reformas estruturais e institucionais que a realidade nacional exigia e naufragaram em irresponsabilidade fiscal e corrupção. O país afundou.

Com o impeachment de Dilma, o partido voltou à oposição e ao mesmo padrão de conduta que o levara ao poder. Passou a opor-se às mais indispensáveis e inadiáveis reformas, que por não terem sido feitas no tempo devido, tornaram-se urgentíssimas. Em vão. O PT e seus anexos cuidam apenas de impedir que o governo governe. A irresponsabilidade, na política brasileira, é uma coisa doentia, que o PT também não inventou, mas à qual conferiu estatura épica. Passou da hora de os partidos políticos brasileiros assumirem suas responsabilidades e colocarem o bem do país em primeiro lugar. Parafraseando Temer pelo avesso: não dá para manter isso aí, viu?

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

11/05/2018

 

 Em uma conferência proferida em 1982, Darcy Ribeiro foi incisivo: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.

 Darcy Ribeiro era estreitamente ligado a Leonel Brizola, que governou o Rio Grande do Sul de 1959 a 1963 contabilizando, entre suas realizações, a construção de mais de três mil escolas. Desde então, prédios e professores nunca foram, no Rio Grande do Sul, um problema a que se pudesse ou se possa atribuir nossos altíssimos índices de criminalidade. Durante décadas, o estado gaúcho ponteou os indicadores educacionais do país. Era “referência nacional”, dizia-se há algumas décadas, com a também reconhecida “modéstia” sulina.

Como explicar, então, o banditismo e a consequente insegurança instalada nestas bandas? Como explicar que em Porto Alegre ocorram duas vezes e meia mais homicídios/10 mil habitantes do que no Rio de Janeiro e quatro vezes mais do que em São Paulo, tornando-se a capital mais violenta do país fora das regiões Norte e Nordeste? Há algo aí cobrando, dos peritos, as necessárias explicações.

A Folha de São Paulo, em matéria de 17 de julho do ano passado, relatou que a cada dia, em média, quase dois professores são agredidos em seus locais de trabalho no Estado de São Paulo, com agressões que vão de socos a cadeiradas (tais dados só foram obtidos pelo veículo por meio da lei de acesso a informação). Numa pesquisa da OCDE que ouviu 100 mil professores em 34 países, 12,5% dos brasileiros relataram que são agredidos ou intimidados uma vez por semana dentro da escola. Sublinho: tudo isso acontece “dentro das escolas”! E o Brasil é o número 1 nesse lamentável indicador.

Na matéria de O Globo mencionada acima, a pesquisadora Rosemeyre de Oliveira, da PUC-SP, atribui a violência nas escolas à impunidade. Diz ela: “O aluno que agride o professor sabe que vai ser aprovado. Pode ser transferido de colégio - às vezes é apenas suspenso por oito dias”. Ou seja, também aí, no microcosmo da sala de aula, nossa tão conhecida impunidade é a regra, com resultados assustadores.

É possível que Darcy Ribeiro, se vivo fosse, estivesse postulando escola em tempo integral, solução pedagogicamente importante para ocupação do tempo das crianças e adolescentes, reduzindo sua disponibilidade para a influência das más companhias. Mas não creio que seja uma “solução” técnica e financeiramente factível por um setor público saqueado, vampirizado e falido. No RS, com drástica redução do crescimento demográfico, não faltam escolas (ao contrário, há unidades sendo fechadas). A despeito disso, os presídios estão superlotados e, visivelmente, pelos dados sobre ocorrências criminais, há mais bandidos soltos do que presos. É a impunidade no macrocosmo, estimulando a criminalidade e gerando insegurança.

A simples existência de vagas prisionais tem claríssima e indispensável função pedagógica.


* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

05/05/2018


“Em Cuba se pratica a coerência entre o dizer e o fazer, e ao ser coerente, segue uma linha em que se praticam e sustentam os direitos humanos com uma dimensão integral na qual o povo é o eixo central”. (Adolfo Pérez Esquivel, em maio de 2016, falando a sindicalistas argentinos numa comemoração aos 90 anos de Fidel Castro)

 Não acompanho a vida e obra de Esquivel, Nobel da Paz, mas conheço o arquétipo. Ele integra aquele grupo de militantes comunistas preservados dentro do armário para não desacreditarem suas performances quando convocados a socorrer companheiros em dificuldade mundo afora. Por isso, a rumorosa presença de Esquivel, juntando-se aos que querem transformar a carceragem da Polícia Federal de Curitiba em sala de visita e Comitê Operativo de Emergência do petismo, me fez dar uma olhada em suas atuações. O homem se presta para todas! Procure por ele aqui e aqui, por exemplo. Essa frase que coloquei em epígrafe, bem como o inteiro teor da referida palestra, é quase tão descabida quanto a indicação que fez de Lula para se juntar a ele entre os agraciados com o Nobel da Paz. Ou, sua vinda ao Brasil, em 2016, sempre com a mão esquerda erguida, para se opor ao “golpe”.

As duas características que mais me surpreendem nesse tipo humano e em suas atitudes é a pressuposição que faz de nossa ingenuidade e a sua infatigabilidade. Não cansam de desempenhar o seu papel diante de nossos olhos incrédulos. Como pode alguém correr mundo como reverenciado atleta dos direitos humanos e ser assíduo bajulador da sexagenária ditadura castrista? Ou declarar, como declarou em 17 de fevereiro de 2014 que "há uma intenção (dos EUA) de desestabilizar não apenas a economia como também a ação social e política" na Venezuela? E mais: quando Macri, recém-eleito, quis usar a cláusula democrática do acordo do Mercosul para expulsar a Venezuela do bloco, Esquivel saltou em defesa daquele regime assassino onde “não só há habitação digna, mas há educação, saúde e médicos nos bairros”.

A criativa desonestidade intelectual desses verdadeiros charlatões do circo político não tem limites. Vejamos, por exemplo, o cenário do tal “golpismo”. Lula assumiu a presidência em 2003 e já em 2005, constrangido, revirando os olhos para cima, dizendo-se apunhalado pelas costas, dava pinotes para afastar de seu colo o escândalo do mensalão. Anos mais tarde, o companheiro Joaquim Barbosa – relator daquela ação penal – fez um esforço imenso, mas cumpriu seu papel. Livrou a cara de Lula e jogou a culpa no Dirceu. E os “golpistas”, diante do mensalão, pediram impeachment de Lula? Não. Um ano mais tarde, Lula foi reeleito, a irresponsabilidade ganhou novo fôlego; e os “golpistas”? Quietos. Mais quatro anos, o “poste” foi eleito. E os “golpistas” continuaram vendo a banda passar, com cara de paisagem. Veio a Lava Jato, e os “golpistas”, nada. Dilma foi reeleita. E os “golpistas” continuaram como se não fosse com eles. O Congresso Nacional, aliás, durante bom tempo, persistiu como mero observador dos fatos, cada um cuidando da própria retaguarda. Foi perante a opinião pública e o mundo jurídico que a situação do governo ficou insustentável. E o Congresso veio atrás. E o Esquivel chegou correndo, com o punho erguido.

Estou fazendo esse relato porque o PT vem, há anos, seguindo o mesmo protocolo: fatos inconvenientes exigem versões impostas por repetição. Assim como o “extraordinário desenvolvimento social do Brasil” foi uma versão imposta por repetição, embora desmentida por 14 milhões de desempregados, era imperioso afirmar o “golpismo” do impeachment, apesar de todo o rigor com que foi conduzido no Congresso, sob severa vigilância do STF, ao longo de mais de um ano.

Agora, a mesma lengalenga se renova diante da carceragem da Polícia Federal com inspeções humanitárias sobre a privilegiadíssima condição prisional que Moro proporcionou ao condenado Lula e que a juíza de execuções criminais tem mantido. E o falsário defensor de direitos humanos está aí, de punho erguido. É com gente desse perfil que o PT conta para seu proselitismo.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.