• Percival Puggina
  • 18/05/2018
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AMARRARAM CACHORRO COM LINGUIÇA

 

 Desculpem a expressão pouco polida e, ainda menos, criativa. No entanto, é a exclamação que me ocorre diante do que se cristalizou como cenário das próximas eleições parlamentares.

 Promover uma grande renovação nas duas casas do Congresso Nacional era a principal aspiração da sociedade brasileira para a futura eleição parlamentar em 7 de outubro. Tratava-se de pura racionalidade: afastar os corruptos, os coniventes com a corrupção e os incompetentes, preservando os melhores. A conduta dos eleitores, aliás, deveria ser sempre essa, mas os eventos dos últimos anos – em especial os achados da Lava-Jato e operações análogas – tornaram tal conduta uma imposição dos fatos a todo eleitor consciente, a todo cidadão preocupado com o presente e o futuro do país.

 Foi no contexto desse clima político-eleitoral que começaram as pressões para extinguir o financiamento empresarial aos candidatos e partidos. Seria esse financiamento (e não o irracional modelo político) “a” causa fundamental da corrupção, por gerar conluio de interesses escusos entre financiadores e financiados. Tão indigno sistema – assim se dizia - deveria ser substituído por uma fonte pública, imune a quaisquer compromissos.

Chamada a opinar, a sociedade não aderiu à tese. Nem mesmo a poderosa organização formada por mais de uma centena de entidades e associações que se integraram na famosa “Coalizão por Reforma Política e Eleições Limpas”, sob a liderança da OAB e da CNBB, conseguiu sensibilizá-la. Empenharam-se os patrocinadores da tese em campanha que se estendeu por mais de um ano, entre 2014 e 2015, tentando, inutilmente, coletar 1,5 milhão de adesões a um projeto de iniciativa popular. O financiamento público encabeçava as propostas. Alegavam expressar o desejo social e pediam assinaturas durante missas em todo o país, mas nem assim conseguiram os patrocinadores coletar a metade disso! O povo jamais considerou ser de seu dever custear campanhas eleitorais, através de recursos públicos pelos quais cada cidadão estaria, inclusive, financiando candidatos contrários às próprias convicções.

A falsa lógica do beatificado fundo eleitoral público, porém, já havia contaminado os “legisladores” do STF. Em setembro de 2015, por oito a três, atropelando, inclusive, um projeto em sentido oposto que procurava disciplinar o financiamento por pessoas jurídicas, o Pleno decidiu que ele era “inconstitucional”.

Resultado: em 2017, o Congresso aprovou a formação de um fundo público para a eleição de 2018. Esse recurso, no montante de R$1,7 bilhão, será destinado aos partidos e neles manejados por seus líderes. E quem são estes? Como regra quase geral, nas executivas nacionais e nas secções estaduais, são deputados federais e senadores. Ou seja, os recursos “públicos” serão privatizados por aqueles que, em grande proporção, a sociedade não deseja ver reeleitos, frustrando-se a efetivação do cristalino anseio nacional pela renovação. OAB, CNBB e STF estão devendo explicações para esse terrível malfeito que realiza o sonho de todos os corruptos cuja reeleição estava em risco! Amarraram cachorro com linguiça, entregando-lhes – logo a eles! – o privilégio de se financiarem com meios que a nação sangrou para produzir e arrecadou na forma de tributos federais. Quem quiser furar esse esquema que trate de correr o chapéu juntando trocados de pessoas físicas, na base da “vaquinha”, ou do me dá um dinheiro aí.

Apesar desse desastroso papelão, persiste o desejo de renovação. Não se omita, não vote em corruptos, preserve os bons e renove. Sobretudo, dedique tempo à escolha que fará, e renove!
 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 


Decio Antônio Damin -   22/05/2018 20:05:25

Tento sempre me manter informado à respeito dos fatos políticos. Isto não impediu que na última eleição presidencial tivesse, votando conscientemente, me enganado ao escolher Aécio! não escolhi o" menos ruim". Achei que estava acertando e escolhendo o bom...! Devemos tentar mas, é evidente, não temos como saber todo o passado e como será o comportamento dos nossos "escolhidos"! Pagar para essa turma toda com o dinheiro que nos falta para o essencial é uma piada de mau gosto! Com financiamento público, privado, ou misto...algum inocente e ingênuo acredita que não haverá mais corrupção e venda de privilégios? Alguma coisa tem de ser feita... mas, o que? Sem apelar para a violência, é claro..., se for possível !!

Pedro tenvia -   20/05/2018 08:23:56

Tem também aquela outra frase, " muito cuidado com o que deseja pois pode conseguir", de tanto se criminalizar as campanhas, conseguimos com que pessoas com patrimônio a zelar, se afastem da política, pois este é o caminho mais curto para perde-lo além de possívelmente a liberdade, e quem não tiver dinheiro, não terá como bancar a campanha, resumindo, vamos ver campanhas e candidatos virem do crime organizado.

Paulo Rubens Dias dos Santos -   20/05/2018 04:02:54

Infelizmente, chegamos em um momento sem retorno pela vias democráticas e só com intervenção militar para recomeçarmos, o que ainda é melhor que uma guerra civil!Os políticos de bem, honrados, honestos, fichas-limpa, tardam em abandonar as siglas dos partidos políticos tradicionais e se mesclam com o que de mais podre e corrupto existe com o pretexto "não os apoiamos" ou "não somos do mesmo grupo".Poucos se manifestam claramente criticando seus parceiros de partido mesmo diante de claras evidências de corrupção.Parecem temer represálias ou, talvez,quem sabe, contarem com aliados, futuramente, onde tudo acaba esquecido no tempo e impune.Vide Venezuela: sem retorno, tarde demais!Essa é a tendência para a América do Sul onde, se cairmos nas mãos do comunismo internacional com seus aliados islâmicos, ADEUS BRASIL!

Brenda Fernandes Aprigliano -   19/05/2018 23:41:08

OAB, CNBB e STF, eis aí um trio que perdeu o nosso respeito. A OAB com as pautas de esquerda que defende já nem representa os advogados inscritos. A CNBB, majoritariamente Teologia da libertação de cunho esquerdista, vem enganando os católicos há anos, dirigindo sua coleta para a militância política, em prol de eleger um partido corrupto e seu guru também corrupto, manipulando as Comunidades eclesiais de base. O STF tomado de soberba age cotidianamente contra os anseios da população, visto que um de seus ministros, o Fux, afirmou em entrevista, que depois de empossados, não deviam satisfação a mais ninguém, um escárnio muito semelhante ao do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Portanto, desse contexto tenebroso, não poderia sair nada mais indigno do que o financiamento público de campanha, onerando mais uma vez um povo que já vem sendo roubado há décadas pelos políticos e por todo o aparelhamento esquerdista bolivariano das Instituições. Sejam políticos, sejam sindicatos ou qualquer outra representação de grupo, o honesto seria que fossem financiados pelos seus inscritos ou adeptos e não compulsoriamente por canetadas de pessoas que não têm qualquer compromisso com a verdade dos fatos, com o bem da população e do País. Não votem em ninguém da esquerda socialista progressista e nem na esquerda fantasiada de Centro! O que essa gente psicopata quer é nos colocar numa cama de pregos igual à da Venezuela. Não reagir à essa infâmia é ficar igual cego em tiroteio ou caminhar feito zumbis para o abismo! “Com Bolsonaro você pode errar, mas com os outros você já errou!”

Áureo Ramos de Souza -   19/05/2018 23:23:39

Eu colaborar com politicos que ganham uma fortuna com direitos a grandes regalias. E eu aqui ganhando uma merreca e outros passando fome para fazer corruptos ficarem ricos. Não amarrarei cachorro com linguiça

Helena Nunes -   19/05/2018 20:00:16

É gritante a desfaçatez, o mau-caratismo de centenas de políticos, a população não aceita mais esse modelo de fazer política, a maioria já sabe que não há seriedade entre esses, são corruptos, hienas sorridentes. Quanto aos órgãos públicos principais que deveriam dar as respostas objetivamente para que a população tivesse maior alento, seus representantes, pagos com dinheiro do público, são omissos porque são beneficiados do mesmo esquema de poder, basta saber TSE, não respeita a lei para o voto impresso em 100% das urnas eletrônicas, exatamente porque haverá fraude eleitoral, urnas inauditas, ganha quem o sistema quer, para continuarem a sangria aos cofres públicos. Se as FFAA, não tomarem providências cabíveis em defesa da Nação, em algum momento o caldo vai entornar, porque a população não vai ser chamada a vida inteira de "trouxa com a cara para as costas" (dito popular do NE)

Yeda Crusius -   19/05/2018 15:58:33

Não foi por falta de aviso - para usar outro ditado repetido cada vez mais devido aos absurdos sequenciais que tem sido perpretados pelos que não fazem (teoricamente) política nem leis, mas se acham mais capacitados honestos etc dos que fazem. Assim igualam todos pelos piores e geram situações concretas como essa do fundo eleitoral. Haja. Naveguemos nesse mar turbulento dos monopolistas do saber...

Eric Puggina -   19/05/2018 15:36:54

"Amarrar o cachorro com linguiça", "dar a chave do galinheiro para a raposa" são expressões populares muito apropriadas para a situação que vivemos. Ao que me parece o desejo de renovação urge apenas da boca para fora entre os eleitores mais conscientes porém entregam nas mãos dos velhos políticos os rumos da tão desejada "revitalização" dos cargos eletivos. Há cerca de 6 meses resolvi me engajar em apoio a candidatos que nunca exerceram cargos políticos e ainda me causa assombro a forma como as pessoas reagem quando digo que estou doando meu tempo e algum dinheiro de forma voluntária e desinteressada, sem esperar uma contrapartida. Não sei se existe modelo ideal para financiamento de campanhas, mas ao menos já tenho convicção de que o modelo público atual serve apenas para manter nas cadeiras aqueles que tanto desejamos remover de lá. Hoje acredito que o candidato deveria ser avaliado pelos próprios partidos para verificar se os mesmos tem um mínimo de capacidade para ocupar os cargos aos quais concorrem e a forma de financiamento deveria ser algo similar ao modelo vigente nos EUA. Até outubro ainda temos um longo caminho e espero que os frutos de uma mudança de mentalidade sejam colhidos pelo bem do nosso país em uma colheita mais farta do que a prevista.

JEFFERSON WANDERLEY DOS SANTOS -   19/05/2018 15:16:08

Excelente!!

Ricardo -   19/05/2018 15:13:17

Puggina, obrigado por compartilhar estas informações que esclarecem as pessoas que desejam conteúdo que não seja somente transmitido pela mídia tradicional. Peço a gentileza que escreva sempre que possível, afinal plataformas como o Youtube também começam a emburrecer as pessoas. Artigos, textos e livros de qualidade são a melhor maneira de aprender. Muito obrigado!

sebastiao madeira barbosa -   19/05/2018 00:40:08

amarrar cachorro com linguiça parece ser 1 tradiçao nacional. como dizia Roberto campos;" a burrice no Brasil tem 1 passado glorioso e 1 futuro promissor " Continue o bom traballho Puggina, é 1 alento contar com pessoas como voce para ajudar abrir os ollhos de cada vez mais gente.

Odilon Rocha -   18/05/2018 22:44:11

Caro Professor Ainda bem que aqui em casa estamos com a nossa consciência tranquila. Nunca caímos nesse engodo. Aproveitando o seu título, é como eu dizia, o partido quer dinheiro? Que vá vender cachorro-quente na esquina! Em tempo: compre uma cadeira bem confortável, porque o STF, CNBB e OAB, trio assombração, não dará patavina de explicações. Os tolos tem de pagar, senão nunca deixarão de sê-lo.