• Percival Puggina
  • 15/05/2018
  • Compartilhe:

NO VALE DO SILÍCIO DA CORRUPÇÃO

 

Quando a bancada do ainda minúsculo PT da Assembleia Nacional Constituinte eleita em 1986 se recusou a assinar a Constituição, não estava antevendo os problemas que forçosamente dela adviriam. Era por motivos errados que o partido rejeitava a Carta. Reprovava-a por não ser suficientemente socialista, estatista, coletivista, corporativista e sindicalista, nem suficientemente avessa à propriedade privada, ao cristianismo e à civilização ocidental. Tudo que ela tinha de ruim, o PT queria ainda pior. Para quase todas as teses derrotadas ou não tão vitoriosas quanto desejava, o partido tinha apoio da ala esquerda do PMDB, que nos últimos meses do processo constituinte rompeu com o governo Sarney e fundou o PSDB. É bom não esquecer: o PSDB nasceu mais próximo do PT que do PMDB e muito distante do DEM (então PFL), com o qual viria a andar por bom tempo.

A plataforma e as posições políticas que o PT sustentara na constituinte serviram para atazanar todos os governos subsequentes. O partido foi contra o Plano Real, o pagamento da dívida externa, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o superávit fiscal, as privatizações, a abertura ao mercado externo, o agronegócio, bem como a toda e qualquer proposta que significasse redução do tamanho e do peso do Estado. Na oposição, o PT fez muito mal ao Brasil. O partido pode ser representado por uma figura de costas para o século XXI, empacada com um pé na primeira metade do século XX, outro na segunda metade do século XIX. Não apenas impediu, ou dificultou, de modo sistemático, a aprovação de medidas modernizantes, mas emperrou, na mesma sintonia, a mentalidade de parcela significativa da população brasileira, seduzida pelo discurso partidário. O único, por sinal, que fez e faz política em tempo integral, tendo, por isso, elevado poder de convencimento.

O tempo veio mostrar o quanto era hipócrita o duro combate à corrupção que embalava a oratória do PT oposicionista. Esse vício moral não surgiu com o PT. Não nasceu em 2003. Bem antes, já engatinhava pelos corredores do poder, preparando-se para os “malfeitos” do porvir. Na longa continuidade do governo petista, ganhou tempo para alcançar maturidade e se profissionalizar. Brasília se tornou uma espécie de Vale do Silício da corrupção, terra dos negócios bilionários, das “sacadas” geniais, pluripartidárias, conferindo notáveis fortunas a indivíduos dos quais ninguém, antes, sequer ouvira falar.

Os treze anos de governos petistas criaram o caos. Derrubaram a economia, reintroduziram a inflação, exponencializaram o déficit público, jogaram milhões de brasileiros no desemprego, não promoveram quaisquer das reformas estruturais e institucionais que a realidade nacional exigia e naufragaram em irresponsabilidade fiscal e corrupção. O país afundou.

Com o impeachment de Dilma, o partido voltou à oposição e ao mesmo padrão de conduta que o levara ao poder. Passou a opor-se às mais indispensáveis e inadiáveis reformas, que por não terem sido feitas no tempo devido, tornaram-se urgentíssimas. Em vão. O PT e seus anexos cuidam apenas de impedir que o governo governe. A irresponsabilidade, na política brasileira, é uma coisa doentia, que o PT também não inventou, mas à qual conferiu estatura épica. Passou da hora de os partidos políticos brasileiros assumirem suas responsabilidades e colocarem o bem do país em primeiro lugar. Parafraseando Temer pelo avesso: não dá para manter isso aí, viu?

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 


Henrique -   17/05/2018 20:05:04

Perfeita descrição da obra e ainda no "gran finale" nos entregou( ou fomos entregues) Dilma...

Antonio Turci -   17/05/2018 09:55:28

Tenho certa dificuldade em entender que um cristão possa ser esquerdista. Sempre soube que tudo quanto é esquerda tem origem na cabeça de pensadores ateus. Portanto, como aceitar, acompanhar, votar nas esquerdas sendo cristão? Como afirmar e acreditar em Deus se, na política, acompanha e apregoa a doutrina de Marx a qual, sabidamente, abomina a Divindade?

Nara Rosangela Rodrigues -   16/05/2018 21:18:20

Sempre excelente, Puggina. Teus textos são como uma brisa fresca de lucidez, absolutamente necessária quando estamos envoltos por "jornalistas" que falam os maiores absurdos mantendo no rosto uma expressão de criança inocente, que não tem ideia de estar sendo ilógica e incoerente. Em suma, uma brisa de lucidez em meio à insanidade.

Odilon Rocha -   16/05/2018 13:02:17

Caro Professor Este país, em que pese a Lava Jato ter feito um estrago danado no maior esquema de roubo da História da Humanidade, até o momento, um verdadeiro buraco no casco desse cargueiro pesado de cargas de iniquidades jamais imaginadas, levará muitos anos, muitos, até se aprumar. Da máfia dos remédios, farmácias em cada esquina, passando pela do leite, combustíveis, roubo de cargas, diplomas falsificados, etc., até às facilidades coniventes dos vários escalões públicos, o foro privilegiado é talvez o principal fôlego de tudo isso. O óleo lubrificante dessa máquina de horrores. Tire-se isso, de todos! (eu tenho esse sonho), e eu gostaria de ver como as ‘coisas’ ficariam.

Fernando A. O. Prieto -   16/05/2018 09:28:41

Texto esclarecedor; análise que nos relembra, de maneira proveitosa, a história recente! Que se pode esperar de um partido fundado em bases de doutrinas que já se provaram erradas (coletivismo, rejeição à importância da liberdade individual, falsa prioridade do social em todos os casos, determinismo histórico a partir da luta de classes,...)? Só mesmo esse triste resultado que estamos vendo no Brasil (e, com alguns outros fatores influindo, no mundo inteiro)... Se, mesmo onde existem sólidos fundamentos doutrinários, o Mal consegue se infiltrar e deformar, muitas vezes, a ação de grupos que tentam agir para promover o Bem, mais facilmente ainda entrará nos que não tem essas bases. Mais uma vez fica clara a necessidade de estudo constante de fontes boas, para melhorar o mundo em que estamos. Sabemos que os resultados não dependem de nós, mas isto não nos tira, de modo nenhum, o dever de fazer nossa parte.

Mauro -   16/05/2018 07:55:17

A questão mais impressionante, é o conjunto de toda uma sociedade, subjugada aos desmandos recorrentes das esquerdas. Nem a família, as religiões, nenhuma instituição se opôs de verdade.

Donizetti Oliveira -   15/05/2018 20:07:54

Por isso é importantíssimo que na próxima eleição não elejamos nenhum representante da esquerda. Temos que fazer uma assepsia geral e irrestrita, extirpando o comunismo e os comunistas da vida pública brasileira.

Guilherme -   15/05/2018 18:03:42

Ainda sobre os males que o PT causou, ainda temos o torpor a que submeteu grande parte da população, seja pela ignorância reinante, seja por interesses de grupos. Percebo isso em pessoas religiosas (inclusive evangélicas) e em gente simples. Conseguiram impingir a ideia de protetores dos pobres (mesmo que roubem), principalmente entre os mais fragilizados e necessitados de valores e líderes decentes. Isso também se deve ao vácuo de personalidades e estadistas, rarefeitos nessa profundidade do mar de problemas em que se encontra o Brasil.

Dalton Catunda Rocha. -   15/05/2018 16:27:20

Mesmo após dúzias de emendas, acabando por exemplo com o monopólio estatal da telefonia, a PROSTITUIÇÃO de 1988 segue sentenciando o Brasil ao estado de total miséria, corrupção, crise econômica, etc. Numa das poucas vezes que falou algo certo, o próprio autor da iniciativa de constituinte, o lulista José Sarney declarou que: "A Constituição de 1988 iria deixar o Brasil ingovernável. " Trinta anos depois, assim segue.

fernandão -   15/05/2018 15:17:07

P e r f e i t o .... Aprendam esquerdopatas enquanto é tempo ....