- O PT e a sua candidata ganharam a eleição, mas não venceram a batalha política, mesmo tendo à disposição a máquina estatal, a profissionalização do aparelhamento e as décadas de militância e doutrinação ideológica. A prova foi a eleição apertada e a significativa quantidade de pessoas que achou que o melhor (para elas) era não votar. Se o PT e a sua candidata tivessem sido, de fato, os vencedores da luta política, o percentual de votos teria sido maior e os brasileiros que queriam demiti-los não teriam se mobilizado de forma tão intensa na campanha, mesmo não sendo eleitores do PSDB nem de Aécio Neves. Isto tudo é extremamente relevante.
- A presidente eleita e o seu governo saem enfraquecidos com o resultado das urnas, inclusive pelas conquistas da oposição nas cadeiras do Congresso e nos governos estaduais. Portanto, não têm legitimidade para enfiar goela abaixo do parlamento e dos brasileiros as propostas intervencionistas e antiliberais de praxe. Não ter legitimidade não quer dizer que não o farão. Significa que, se o trabalho for inteligente, essas ações podem ser neutralizadas. Mas não se pode dormir nem acreditar que a oposição formal faça o seu trabalho espontaneamente. Terá que ser provocada o tempo inteiro.
- Quem sai politicamente vitorioso da eleição é o brasileiro que voluntária e espontaneamente trabalhou para demitir um governo que não o representava, nem que para isto fosse preciso conceder a vitória a um candidato que também não o representava, mas que não encarnava uma natureza e uma prática ideológica fundamentada num autoritarismo metodológico e instrumental. A participação intensa dos brasileiros na eleição, que não se restringiu às redes sociais, mostra que se esse envolvimento for duradouro e não se limitar à véspera da eleição, as chances de demitir um candidato no futuro serão muito maiores.
São constatações relevantes para o trabalho de oposição daqui em diante.
- Todos os que trabalharam para demitir o PT do governo, incluindo os partidos, devem aproveitar o momento para fazer a oposição contundente de alto nível que jamais se fez para o bem do país, algo que o PT desconhece e que jamais faria caso tivesse perdido. Os petistas, na oposição, teriam seguido o método de sempre para destruir quem estivesse no comando político do país e assim beneficiar-se do caos.
- A melhor oposição da sociedade, e a dos partidos não alinhados com o PT, será aquela que pressionar os políticos e os governos para que neutralizem o projeto político do partido e que atue para forçar os políticos a deixarem de atrapalhar as nossas vidas. Oposição vigorosa, séria, implacável, fundamentada, sem moleza nem maluquice. Se o governo do PT fizer nos próximos quatro anos o que fez nos quase quatro anos de governo até agora, seremos todos prejudicados e ainda teremos que pagar a conta.
- O Brasil já estava politicamente dividido e isto é uma grande notícia. Esta eleição mostrou que parte numerosa dos brasileiros não está com o PT nem com o PSDB. Também mostrou que a parcela dos eleitores que votou no PT é formada por aqueles que estão ideologicamente e moralmente alinhados com o partido; por aqueles que, embora não alinhados, acreditam no PT; por aqueles que não votam no PSDB; e por aqueles que votam porque dependem do governo.
A parcela de eleitores que não votou no PT é composta por pessoas que queriam demitir o PT do governo; que queriam alternância de poder; que estavam de alguma maneira desiludidas com o PT; que não estavam ideologicamente e moralmente alinhadas com o PT; que não são eleitoras do PSDB; que são eleitoras do PSDB ou de outros partidos.
- Os insultos contra os nordestinos, ou contra quaisquer indivíduos das regiões que votaram em massa no PT, terão como resultados nefastos reforçar o discurso dos petistas baseado na divisão entre ricos e pobres, pretos e brancos et caterva, e manter as pessoas economicamente vulneráveis no colo do partido, além de agredir estupidamente todos aqueles que nesses lugares trabalharam bravamente contra a reeleição da presidente. Uma simples análise do mapa de votação por estado mostrará que, embora a concentração seja maior no norte e no nordeste, em vários outros pontos do país o PT foi o mais votado. Minas Gerais é o exemplo mais notável e emblemático.
- A derrota de Aécio Neves em lugares antes considerados improváveis como Minas Gerais merece reflexão. Os mineiros que votaram contra Aécio o conhecem melhor do que o resto do país. Quando Marina Silva subiu no foguete após a morte de Eduardo Campos eu até brinquei no Facebook perguntando se Aécio era candidato. Ele parece ter acordado e decidido efetivamente trabalhar como tal na véspera da eleição. Só teve a votação que teve porque parte da sociedade brasileira se mobilizou para demitir o PT, não porque foi persuadido de que ele era o melhor candidato.
- Separar o país não irá resolver o problema das regiões mais pobres. A pobreza e a dependência estatal de uma grande parcela da população e a falta de capitalismo positivo são os principais problemas de regiões como o Norte e o Nordeste. Quanto menos prosperidade, mais dependência, mais governo, mais servidão.
- As reações no sentido de transferir ao governo e aos petistas a ajuda aos mais necessitados só reforça a mentalidade estatista e a dependência de parte da população, ratificando o discurso torpe feito pelo PT. Quanto mais a sociedade ajudar voluntariamente quem precisa e fazer com que eles menos dependam (ou deixem de depender) do governo, melhor para os brasileiros e pior para os políticos que conquistam seu eleitorado com esse tipo de relação.
- Precisamos de uma cultura política mais apurada baseada nas melhores experiências domésticas e internacionais. E é importante ter referências de homens que atuaram virtuosamente e fazem parte da história política do Brasil. Joaquim Nabuco é um exemplo dentre vários. É sofrível que num debate à presidência os nomes citados sejam os de José Simão e de Tancredo Neves.
- Por tudo o que se apresenta até agora, fruto de erros medonhos da presidente e de sua equipe, parece que enfrentaremos tempos difíceis e um governo que tem tudo para ser pior do que tem sido. Mas o país parece ter entrado num processo de construção de uma participação política mais ativa e não mais limitada aos partidos e aos seus militantes. Há muita gente disposta e disponível, e atuando em diversos segmentos e instituições, incluindo as estatais, para não deixar que os piores continuem a ditar o debate político e os rumos da política. E também para criar alternativas ideologicamente diferentes das que existem atualmente, incluindo outros partidos que representem pessoas que, como eu, hoje não têm qualquer opção de voto, a não ser negativa (demitir em vez de eleger).
Se essa participação for ampliada e lapidada, certamente veremos, no futuro, um debate político mais qualificado e políticos menos piores, mas, principalmente, viveremos numa sociedade que, em termos gerais, não vê mais o estado e o governo como os agentes mais importantes da vida social, política e econômica.
É um processo árduo e demorado, mas possível. Depende do que cada um de nós fizermos daqui em diante.
A divergência e o debate são comuns e saudáveis em uma democracia. Podemos discordar em muitos pontos, mas tenho certeza que concordamos nos principais valores básicos, essenciais à sociedade que sonhamos para o futuro.
Podemos discordar das privatizações, mas não precisamos aceitar que a roubalheira, o aparelhamento político e a incompetência tomem conta das nossas estatais.
Podemos admirar os programas sociais do PT, mas não precisamos aceitar um governo que mente descaradamente que seus adversários acabariam com eles em um óbvio terrorismo eleitoral.
Podemos não gostar dos EUA, mas não precisamos apoiar um governo que se alia às piores ditaduras do mundo e defende países terroristas.
Podemos não gostar da Globo ou da Veja, mas não precisamos de um governo que tenta controlar a imprensa.
Podemos não gostar do PSDB, mas não podemos aceitar um governo, que se dizia guardião da ética, viver mergulhado em escândalos diários, e se aliar e defender a escória da política nacional como Maluf, Collor, Renan, Sarney, Jader Barbalho.
Podemos não gostar do Aécio, mas não podemos permitir que todas essas práticas sejam incentivadas, premiadas e perpetuadas.
Podemos querer outras alternativas, mas não podemos deixar no poder uma quadrilha cuja cúpula, mesmo presa na Papuda, é tratada como heróis e continua filiada ao partido!
Não podemos deixar que continuem a sambar na nossa cara, infiltrando membros no STF para livrar seus pares, comprando o legislativo com mesadas, sangrando nosso país em benefício próprio e de ditaduras e pseudodemocracias. Se fizermos isso será um atestado de que somos tão sem-vergonhas quanto eles, que NADA nos choca e tudo pode nessa terra porque não temos mais qualquer capacidade de indignação.
Se você não concorda com isso, é hora de mudar. Voto nulo, branco ou abstenção é o mesmo que endossar suas práticas.
É hora de união contra aqueles que tentam rachar o país, com um discurso irresponsável e preconceituoso de "nós" contra "eles", "pobres" contra "ricos", "negros" contra "brancos", "povo" contra "elite branca"...
O sentimento não é meu, é de todo brasileiro que cansou e quer um país melhor.
Eu votei no PT ao longo de toda a minha vida. Fui traída. PT nunca mais.
• Esta carta é atribuída a uma magistrada federal. Para algumas fontes, a autoria é desconhecida. Então, em favor da segurança e tendo em vista da qualidade das ponderações que nela se contém, vai assim, divulgo-a sem explicitação da autoria.
1º lugar ... “Se hoje é o dia das crianças, ontem eu disse que criança… o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais, sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás.”
2º lugar .... “Eu estou muito feliz de estar aqui em Bauru. O prefeito me disse que eu sou, entre os presidentes, nos últimos tempos, uma das presidentes, ou presidentes, que esteve aqui em Bauru.”
3º lugar .... “Eu ontem disse pro presidente Obama que era claro que ele sabia que depois que a pasta de dente sai do dentifrício ela dificilmente volta pra dentro do dentifrício. Então que a gente tinha de levar isso em conta. E ele me disse, me respondeu que ele faria todo esforço político para que essa pasta de dente pelo menos não ficasse solta por aí e voltasse uma parte pra dentro do dentifrício.”
4º lugar .... “Eu quero, então, voltar aonde eu comecei. Eu vou falar agora que aqui tem 37 municípios. Eu vou ler os nomes dos municípios, porque eu acho importante que cada um de vocês possam (sic) se identificar aqui dentro e, por isso… Eu ia ler os nomes, não vou mais. Por que não vou mais? Eu não estou achando os nomes. Logo, não posso lê-los.”
5º lugar .... “O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”
6º lugar .... “Em Vidas Secas está retratado todo problema da miséria, da pobreza, da saída das pessoas do Nordeste para o Brasil.”
7º lugar .... “Primeiro, eu queria te dizer que eu tenho muito respeito pelo ET de Varginha. E eu sei que aqui, quem não viu conhece alguém que viu, ou tem alguém na família que viu, mas de qualquer jeito eu começo dizendo que esse respeito pelo ET de Varginha está garantido.”
8º lugar .... “Em Portugal, o desemprego beira 20%. Ou seja, 1 em cada 4 portugueses estão desempregados.”
9º lugar .... “A autossuficiência do Brasil sempre foi insuficiente.”
10º lugar .... “Eu também vou falar… eu vou falar pouco. Vou explicar por quê: todo mundo, antes de mim, disse que ia falar pouco, não é? E aí, tinha uma senhora ali, na frente, que falou o que todos nós estamos sentindo.
11º lugar .... “Eu quero adentrar pela questão da inflação,e dizer a vocês que a inflação foi uma conquista desses 10 últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo.”
12º lugar .... “Eu vi. Você veja… Eu já vi, parei de ver. Voltei a ver e acho que o Neymar e o Ganso têm essa capacidade de fazer a gente olhar.”
13º lugar .... “Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente.”
14º lugar .... “Vamos dar prioridade a segregar a via de transporte. Segregar via de transportes significa o seguinte: ou você faz metrô, porque o metrô… porque o metrô, segregar é o seguinte, não pode ninguém cruzar rua, ninguém pode cruzar a rua, não pode ter sinal de trânsito, é essa a ideia do metrô. Ele vai por baixo, ou ele vai pela superfície, que é o VLT, que é um veículo leve sobre trilho. Ele vai por cima, ele para de estação em estação, não tem travessia e não tem sinal de trânsito, essa é a ideia do sistema de trilho.”
15º lugar .... “A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia.”
16º lugar .... “A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e se sustenta, tudo isso abrindo o negócio.”
17º lugar .... “A única área que eu acho, que vai exigir muita atenção nossa, e aí eu já aventei a hipótese de até criar um ministério, é na área de… Na área…
18º lugar .... “Eu sempre escuto os prefeitos. Por que é que eu escuto os prefeitos? Porque é lá que está a população do país, ninguém mora na União, ninguém mora… “Onde você mora?”
Luiz Inácio da Silva está de saco cheio - nas palavras dele, naturalmente. Caprichando no timbre pré-histórico que o Brasil consagrou, Lula atacou mais uma vez o denuncismo da imprensa burguesa, que fica publicando coisas desagradáveis sobre a Petrobras. O ex-presidente em exercício disse que não aguenta mais a mesma coisa em toda eleição. De fato, se não fosse essa mídia golpista a serviço da elite branca, os companheiros poderiam continuar a roubar a maior empresa brasileira de forma silenciosa e discreta, sem esse falatório todo que só atrapalha os bons negócios privados feitos dentro da estatal (abaixo da camada pré-sal).O mais estranho de tudo é que, pelo cenário da corrida presidencial, parece que o eleitorado começou a acreditar nas manchetes da imprensa golpista - um absurdo, pois Lula já cansou de avisar aos brasileiros para não acreditar no que sai na mídia.
Eles nunca acreditaram, como se viu na reeleição dele em pleno mensalão e na eleição da sucessora, em pleno escândalo Erenice Guerra. Para corrigir essa perigosa distorção, segue um retrato do segundo turno da eleição mais surpreendente da história em manchetes elaboradas especialmente para não transbordar o saco de Luiz Inácio:
O presidente dos Correios que distribui panfletos de Dilma é ligado ao tesoureiro do PT que está no petrolão. Vote 13 pela coerência.
Dilma calou os críticos. Mesmo com os preços de energia amordaçados, ela acaba de estourar o teto da meta de inflação. Pensam que é fácil?
O despachante de José Dirceu na Papuda, e governador do DF nas horas vagas, não foi nem ao segundo turno. Infelizmente, há unhas que nem Delúbio desencrava.
Fantasmas do passado assombram a elite vermelha (aterrorizada com a ideia de ter de trabalhar a partir de 2015).
A Bolsa subiu, o dólar caiu, as ações da Petrobras dispararam. Volta, Dilma!
Com a boa votação de Luciana Genro, o Brasil enfim discutirá a sério a reforma agrária, o imperialismo ianque e, quem sabe, até as Diretas Já.
Marcelo Freixo, o revolucionário do bem, já declarou seu voto para Dilma. O recado das ruas em junho de 2013, portanto, foi o seguinte: deixa pra lá.
Lá vem a direita gritar que mais um petista (ligado ao governador eleito de MG, Fernando Pimentel) foi pego com uma montanha de dinheiro. Pura inveja da elite vermelha. Eduardo Jorge apoia Aécio e pira o GPS dos bonzinhos. Fica a dica: a esquerda éado relógio, e a direita a da caneta.
Falando em pureza, Luciana Genro liberou seus fiéis para votar em Dilma. Pela margem de erro, os puros poderão escolher de Collor a Sarney.
Mantega diz que Armínio cortará programas sociais. É verdade. O Bolsa Ministro Ocioso, por exemplo, desaparecerá.
Delatores revelam: Vaccari, tesoureiro do PT, regia o petrolão. Delúbio está morrendo de ciúmes.
Armínio ao PT: "Comparações com FH precisam ser mais honestas". Pedir honestidade ao PT? É um fanfarrão, esse Armínio.
O Brasil aguarda ansiosamente o manifesto dos intelectuais de esquerda em defesa da Petrobras e dos heróis que fizeram dela um anexo do PT.
Dilma diz que o petrolão só apareceu porque ela investigou. As cabeças cortadas também só apareceram porque o Estado Islâmico filmou.
Dilma disse que acha "muito estranha" a história contada pelos delatores da Petrobras. Bota estranha nisso, presidenta.
Dilma denuncia: divulgação dos podres da Petrobras é golpe. Cadê o manifesto dos intelectuais petroprogressistas contra o novo golpe da elite branca?
E os sonháticos... Cada vez mais erráticos. Nenhuma surpresa. A coletiva de Marina pós-eleição parecia um almoço de domingo. Haja poesia.
Um lembrete: nenhum jornalista, cientista político ou tucano genérico apostou em Aécio. Diziam que ele não batia no PT e estava no tom errado.
Aécio esterilizará as nordestinas (essa manchete é para poupar trabalho à central de inteligência dos companheiros).
Dilma reclamou das delações na Petrobras em época de eleição. É mesmo um absurdo. Mas roubar a empresa está liberado em qualquer época.
Se você também não suporta mais ver o filho do Brasil de saco cheio em véspera de eleição, siga @GFiu-za_Oficial: a política brasileira em manchetes que não ardem nos olhos e não irritam a alma sensível dos companheiros (só um pouco).
O Brasil tem em sua frente, pelos próximos quinze dias, uma escolha bem séria — junto com a opção entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, precisará decidir entre democracia e alguma coisa chamada "projeto do PT". Ninguém explicou bem, até agora, o que poderia ser isso. Mas democracia com certeza não é. Não é democracia por um motivo simples: ou um país vive com liberdades individuais e públicas por inteiro, dentro do desenho que todos conhecem e pode ser explicado em menos de cinco minutos, ou vive numa ditadura. Exagero? Não, não é — não quando se quer lidar com ideias descomplicadas. Naturalmente, essa ditadura não requer um general de quepe, bigode preto e óculos escuros na Presidência da República; também não precisa seguir os moldes de Cuba ou da Coreia do Norte. Ela pode ser disfarçada. Pode fingir que é um novo modelo de justiça, no qual ficam dispensados direitos obsoletos que só atrapalham a tarefa superior de salvar os bons e punir os pecadores, missão que seria privativa da trinca Lula, PT e Dilma Rousseff.
Ou, ainda, pode ser um desses regimes que dividem a liberdade em dois tipos, a boa e a ruim — cabendo a quem manda no governo decidir qual é uma e qual é a outra. O problema é que só existe um tipo de democracia: essa aí que temos, com todos os seus vícios, mas melhor que qualquer outro sistema já tentado até hoje na história. Se não é assim, é tirania, aberta ou oculta. Infelizmente, não há "terceira via7". Ou é produto legítimo, ou é produto falso.
A nuvem de gás totalitário que se espalha hoje pelo Brasil não é uma questão de palavras ou de opinião; pode ser detectada e medida pela observação direta dos fatos. Os fatos comprovam em alta definição, logo de saída, que o sermão oficial da campanha para a reeleição da presidente tem como alicerce o principal mandamento das ditaduras: "Os únicos votos legítimos são os nossos; todos os demais são viciados, desonestos e vêm de inimigos da vontade popular". A votação do primeiro turno mal tinha terminado e esse bumbo já estava sendo batido por Dilma. "O povo não quer de volta os fantasmas do passado", disse ela. Como assim? O povo tinha acabado de dar 57 milhões de votos a Aécio e Marina Silva, dois candidatos absolutamente de oposição; bem mais, por sinal, do que os 43 milhões dados à candidata oficial. Não é possível, simplesmente, que milhões de brasileiros tenham sentido, justo no dia da eleição, uma súbita vontade de sofrer com a volta de fantasmas. Além disso, considerando que o eleitorado total do país é de 143 milhões de cidadãos, a aritmética mostra que 100 milhões de eleitores, no fim das contas, não votaram em Dilma.
Eis aí uma dificuldade e tanto para a doutrina do governo. Segundo o evangelho do PT e dos seus subúrbios, o Brasil de hoje está dividido entre dois lados. Um deles, o lado de Dilma, é o dos pobres, da esquerda e de todos os que querem justiça e progresso; o outro lado. onde ficam os que estão contra a sua candidatura, é o dos ricos, da direita e dos senhores de engenho que querem voltar aos tempos da escravidão. É uma divisão impossível. Pelo que as urnas do dia 5 de outubro acabam de mostrar, 100 milhões de brasileiros — ou no mínimo os 57 milhões que votaram em Aécio e Marina — seriam ricos etc. Que nexo faz uma coisa dessas? Nenhum, mas as ideias totalitárias são exatamente isto: dane-se o nexo, o que interessa é intimidar, agredir e calar a voz de quem discorda delas. Ou "desconstruir" os adversários, como o PT fez com Marina — desconstruiu tão bem, aliás, que acabou construindo Aécio para o segundo turno.
Ninguém melhor que Lula para provar que a candidatura oficial não admite pontos de vista contrários. "Eu não entendo como tanta gente quer votar no Alckmin aqui em São Paulo", disse o ex-presidente, num surto de sinceridade, já no fim da campanha. É exatamente isto: Lula não admite que alguém tenha o direito de preferir um candidato diferente do seu. No caso, Geraldo Alckmin foi eleito pela terceira vez como governador do Estado de São Paulo com quase 60% dos votos: só perdeu em um dos 645 municípios paulistas e só em quatro das zonas eleitorais da capital, enquanto o "poste" que Lula inventou para a disputa foi rejeitado por mais de 80% dos cidadãos que formam o maior eleitorado do Brasil. O que mais seria preciso para provar livremente a existência de uma maioria? Nada, é óbvio — mas o ex-presidente Lula diz que "não entende". Fica-se com a impressão, assim, de que ele acredita num fenômeno fabuloso: 644 municípios de São Paulo seriam controlados pelas elites que não se conformam com o bem-estar dos pobres etc. Ou, então, a imensa maioria da população paulista seria composta de idiotas incapazes de votar direito ou entender os próprios interesses.
A campanha de Dilma deixou mais do que claro, também, seu maciço empenho em aproveitar todas as oportunidades de falsificar a realidade — outra instrução-chave do manual de regras das ditaduras. Não se trata apenas de inventar que durante o governo Fernando Henrique o Brasil quebrou "três vezes", catástrofe que pelo menos 60% da população nacional não chegou a perceber, ou que Aécio levará o país ao racionamento de energia elétrica. A marca da maldade, na vida real, está na negação de fatos visíveis para todos, dentro da doutrina segundo a qual qualquer barbaridade acabará ignorada pelo "povão" se os responsáveis disserem, o tempo todo, que não aconteceu nada. É exatamente o procedimento adotado por Dilma e sua tropa de apoio diante dos crimes de corrupção cometidos na Petrobras durante os últimos anos. Os dois principais acusados admitiram oficialmente os delitos que praticaram, tanto que recorreram ao benefício da "delação premiada"; a Justiça ainda tem um demorado caminho a seguir até uma avaliação completa do caso, mas a roubalheira está provada acima de qualquer dúvida. A única resposta do governo, até agora, tem sido a falsificação dos fatos e a recusa intransigente em aceitar as verdades mais elementares.
Dilma, no caso da Petrobras, parece estar tendo um severo acesso da conhecida doença ocupacional dos governantes totalitários — a fé exagerada na própria capacidade de controlar os acontecimentos. A presidente chegou a dizer, em público, que foi ela quem demitiu da empresa o principal envolvido na ladroagem, o altíssimo diretor que hoje vive equipado com uma tornozeleira eletrônica para não fugir da cadeia. É falso. Está comprovado que o homem pediu demissão, e foi brindado ao sair com uma salva de elogios oficiais. Dilma sustenta que é praxe permitir que funcionários demitidos do serviço público por justa causa saiam "a pedido". Trata-se de uma desculpa desesperada; se o que a presidente afirmou fosse verdadeiro, não dá para entender por que raios o demitido recebeu tantos elogios na saída e menos ainda por qual motivo não foi imediatamente denunciado à polícia e ao Ministério Público. O DNA das tiranias está presente, também, numa das alegações em que Dilma mais insiste: a de que é ela, por seus méritos pessoais, que tem permitido à Polícia Federal e aos promotores de Justiça investigar atos de corrupção em seu governo. Só em regimes de força o chefe do governo permite ou proíbe que a polícia faça isso ou aquilo. Numa democracia, a autoridade policial e judiciária não tem de pedir licença a ninguém para apurar violações ao Código Penal; ao contrário, fazer isso é a sua obrigação legal.
As liberdades, como se sabe, raramente se dão bem com a fraude. Mais informações a respeito no dia 26 de outubro.
A Papuda é a nossa esperança. Ampliem a Papuda. Está na hora de o Brasil fazer um grande mutirão para a maior reforma de todos os tempos: a da Papuda. Ou melhor, do Complexo Penitenciário da Papuda. Inaugurado no final dos anos 70 para cerca de 300 presos, foi sendo ampliado e hoje comporta 5000 em vários pavilhões. Do jeito que a coisa anda e pelo que se desenha pela frente, a Papuda já está pequena, apertada, desconfortável. Zé Dirceu, Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, Pedro Henry, Valdemar Costa Neto e outros tantos bandidos do Mensalão que o digam.
Os depoimentos reveladores de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef são bombásticos. Primeiro, eles assinaram um acordo de delação premiada. Agora, já nas audiências, estão contando tim tim por tim tim, os detalhes do esquema criminoso que lesou a pátria e saqueou nossa maior estatal a ponto de comprometer seu futuro. Quem não pagasse propina não conseguia contratos com a Petrobras. Simples assim. Esquema de máfia.
Segundo Costa, que depôs por cerca de duas horas na semana passada, havia na estatal um propinoduto para abastecer PT, PP e PMDB. Ele revelou que 3% de todos os contratos superfaturados eram divididos entre ele e os partidos. O PT ficava com a maior fatia: 2%. “Muita gente foi beneficiada”, contou, sem citar os nomes. Quando fez a delação premiada falou de pelo menos três governadores, um ministro, seis senadores e 25 deputados federais beneficiados pelo esquema. E é aí que entra a figura do doleiro.
Alberto Youssef, que também fez delação premiada e igualmente depôs, era quem distribuía o fruto do roubo. Ele contou que o então presidente Lula cedeu às pressões e nomeou Costa para a poderosa diretoria, onde ficaria saqueando o país por oito longos anos. Chegou a citar o trancamento da pauta do Congresso como uma das ações que levaram Lula a decidir pela nomeação. Portanto, se de fato houve pressão, Lula nomeou Costa deliberadamente para fazer o que fez? Tinha noção da gravidade de colocar tal figura em um posto chave da Petrobras? Um cheiro cada vez pior infesta o ambiente.
O governo federal poderia, já nesta reta final de mandato, investir pesado na reforma e ampliação da Papuda. No horizonte se vislumbra muitos denunciados pelos procuradores. Se projetam também novas investigações e processos correlatos. Acreditem em mim. A Papuda vai ficar pequena.
Jornal METRO Porto Alegre