• Mateus Colombo Mendes
  • 23/05/2015
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HUMANIZA REDES E A AUTODEFESA

(Publicado originalmente em Zero Hora de hoje, 23/05/2015)

 

Sou contrário à iniciativa governamental do Humaniza Redes porque ainda há judiciário e polícia neste país e porque me recuso a ouvir o que se pode ou não dizer de um governo que vem quebrando nossa economia, negligenciando a segurança e estimulando tensões sociais.

À exceção de psicopatas, ninguém é a favor da disseminação do ódio. Qualquer pessoa em sã consciência procura evitar atitudes odiosas; na pior das hipóteses, quando incorre em postura extremada, sente-se mal após o ato de raiva. Mas quem defende o Humaniza Redes diz que seus opositores são a favor do ódio. Ora, isso sim é odioso!E malicioso. Equivale a fundar o Partido do Amor e dizer que quem não lhe der seu voto não tem amor no coração. A crítica à ação estatal de controle do que se fala na internet vai muito além desse maniqueísmo maldoso, do “nós, o bem, os humanistas” contra “eles, os que odeiam”.

Em qualquer democracia sadia, a polícia investiga e o judiciário julga, com base em códigos formulados e estabelecidos conforme a tradição e os valores locais. Não é papel de governo algum pautar o que a população pode falar e julgar o que for dito – isso é próprio de ditaduras. E se isso não é recomendável a nenhuma administração pública, que dizer de uma gestão que, antes de querer regrar algo, deve muitas explicações à população? É do governo do “Mensalão” e do “Petrolão” que ouviremos o que é certo ou errado?

Num país em que quase 60 mil pessoas são assassinadas por ano, é uma afronta ao povo a mobilização de recursos públicos para, com tons humanitaristas, dourar a pílula da censura. Foi o que tentei dizer no “plenarinho” da Assembleia Legislativa, na última quarta-feira (20/5), no lançamento do Humaniza Redes RS. O evento foi organizado pela deputada estadual Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do Brasil – que, há alguns meses, publicou manifesto em defesa daditadura da Coreia do Norte, país em que imperam o medo e a miséria; e onde “liberdade” é, se muito, apenas uma palavra no dicionário.

Opor-se ao controle da linguagem por parte de mensaleiros e amigos de ditadores não é ódio – é autodefesa.