A presidente Dilma esforça-se para transparecer que o momento é de normalidade e que reina a calmaria na cena política. O anúncio da equipe econômica foi o lance principal desse esforço para impor uma agenda positiva ao noticiário dominado pelo escândalo da Petrobrás e pelos números cada vez piores da economia.
O “mercado”, dizem, reagiu bem aos três nomes. Sempre acho estranha essa propensão ao otimismo e ao desejo de acreditar no governo que essa entidade abstrata que chamam de “mercado” revela pela boca de certos comentaristas. Qualquer analista com conhecimentos parcos da teoria econômica poderia prever, com base nos livros e na experiência, que as aventuras de Dilma e Mantega na condução da economia só poderia dar no que deu.
As estripulias começaram quando Mantega assumiu o ministério da Fazenda esforçando-se para destruir o trabalho de Henrique Meireles no BC, para conter a inflação. Isso, no entanto, não impediu a conceituada revista The Economist, de insuspeitas inclinações liberais, de publicar aquela capa com o Cristo Redentor disparando aos céus como um foguete a representar a suposta consistência dos rumos do Brasil sob comando petista.
Não bastaram a teoria e as experiências pregressas com as concepções econômicas de Dilma e Mantega para The Economist projetar o cenário que hora se apresenta. Foi preciso o fracasso se apresentar como evidência e prova para que The Economista publicasse outra capa com nosso Cristo voando como galinha rumo ao fundo da baía da Guanabara.
E o erro se repete com a anúncio da “nova” equipe econômica. A toada dos comentaristas chapa branca reconhece os tempos difíceis, afinal, é não dá para negar o óbvio, mas revela otimismo e confiança de que Dilma teria se rendido e jogado os livros nos quais estudou economia no lixo e mudado de posição para o extremo oposto.
O fiador desse otimismo injustificado é Joaquim Levy. Somente ele. Nelson Barbosa reza pela cartilha de Dilma e Mantega em matéria econômica e somente saiu do governo por discordar da criatividade de Arno Augustin no trato da contabilidade governamental.
O aumento dos juros logo após a eleição foi percebido pelo “mercado” como sinal de independência do BC. É o contrário. O aumento dos juros se fazia necessário muito antes da eleição e só não aconteceu porque Tombini obedeceu as ordens de João Santana. Tombini somente foi guindado à presidência do BC por ser submisso à Dilma.
As tintas com que mandaram pintar a fachada da “nova” política econômica, de fato, respondem à necessidade incontornável de corrigirem-se as trapalhadas de Dilma e Mantega nos dois últimos mandatos presidenciais. Levy é um cavaleiro solitário lutando contra o exército de ministros da Dilma, todos sedentos por gastar, gastar e gastar.
Os otimistas baseiam seu otimismo na comparação entre o governo Dilma II com o governo Lula I. Ocorrer que os ajustes ortodoxos patrocinados por Palocci no governo Lula I foram implementados tendo como base uma economia com os fundamentos organizados legados por FHC ao seu ingrato sucessor.
A situação atual é muito diferente. Não há mais dinheiro sobrando no mundo com disposição para correr riscos em apostas em quem pensa e governa como Dilma e o PT. Há quem confunda inflação com o índice que o IBGE divulga de tempos em tempos. O índice é apenas o índice. Inflação é um fenômeno econômico decorrente do descontrole do gasto público e não do aumento ocasional do preço do chuchu, do tomate, da carne ou dos ovos.
Enquanto os fundamentos da economia não forem reorganizados, não bastará ao BC aumentar ainda mais, e sem convicção, os juros, para conter a inflação. A bagunça é tamanha que torna difícil entender-se a pressa com que o “mercado” sorriu para Dilma olhando para Joaquim Levy.
As análises mais sérias que se podem encontrar nas páginas dos jornais projetam um cenário de prolongada estagnação (ou recessão) com inflação cercando o teto da meta nos próximos dois anos, somente caminhando para um crescimento de 2% do PIB em 2018, ano em que Lula decidiu voltar à Presidência da República. Isso, é claro, se Dilma deixar Joaquim Levy fazer tudo o que precisa ser feito para consertar seus estragos.
Faltou combinar com os árabes, que decidiram derrubar os preços do petróleo para um patamar próximo dos U$ 50,00 o barril, por cerca de quatro ou cinco anos, para tornar desinteressante aos americanos o investimento nos novos métodos de produção do ouro negro e do gás de xisto.
Essa decisão levará a Venezuela ao colapso nos próximos dias e forçou Cuba a abrir as pernas para Obama, pois os Castro sabem que da Venezuela e do Brasil não receberão mais almoço “grátis” às nossas custas. Só o capitalismo, de mercado ou de estado, salvará Cuba de um destino venezuelano. E isso tem fortes impactos políticos sobre o projeto bolivariano hegemonista que o Foro de São Paulo projetava para o continente. Dilma terá que se virar sozinha para sair dessa enrascada.
Tudo indica que recém começa-se a perceber o tamanho do estrago que a quebra da Petrobrás causará à economia brasileira. Os custos econômicos dessa aventura patrocinada pelos corsários do lulopetismo ainda não são claros e crescem assustadoramente a cada dia que passa. Lula e Dilma gastaram os créditos futuros do pré-sal. A Petrobrás não tem dinheiro nem crédito para financiar a exploração no mar profundo. Explorar esse petróleo se tornou desinteressante com o barril a U$ 50,00.
Isso que as investigações nas demais obras públicas de todo o país e de vários ministérios, da lista de 750 encontradas na planilha de Alberto Youssef, sequer começaram a ser investigadas. Dadas as circunstâncias, não convém, também, menosprezar a declaração do Procurador Federal Hélio Telho Corrêia Filho ao afirmar que o escândalo do BNDES poderá ser sete vezes maior do que o do petrolão.
Terá Dilma a humildade, a competência e a coragem para desfazer a cagada de Lula quando resolveu mudar o sistema de exploração do petróleo do modelo de concessões criado por FHC, pelo modelo de partilha? Será possível recuperar a Petrobrás sem privatizá-la? E se a privatização for inevitável, Dilma venderia o que sobrou da “nossa” queridinha? E a Eletrobrás? E o BNDES? Duvido!
Bem, até aqui estivemos falando de economia. Mas economia não é ciência dos números; é ciência do comportamento. E, não é possível projetar cenários econômicos sem considerar as variáveis políticas, que também são comportamentais. Não parece que o apressado otimismo com que o “mercado” recebeu Levy tenha precificado essa variável em todas as suas dimensões. Até porque, a ignoraram e também, porque os custos intermináveis dessa roubalheira indiscriminada não param de jorrar das páginas do noticiário. Impossível precificar agora.
Lula foi chamado a PF para esclarecer o mensalão e será chamado de novo para explicar o petrolão. Se a PF está chamando Lula só pode ser porque o nome de Lula já circula nos relatórios das delações premiadas. Assim como os custos econômicos da destruição da Petrobrás não param de crescer, a precificação do strike que esse escândalo fará em todo o sistema político também é impossível agora, diante do desconhecimento sobre o tamanho da frota de corsários que sangra os cofres públicos a serviço do projeto hegemonista do petismo.
Num país sério todos os condenados deveriam pagar penas perpétuas. As empreiteiras deveriam ser declaradas inidôneas e sofrer intervenção do governo na tentativa de sanear o setor e salvar algumas com novos donos. Mas, para isso, Dilma, ou o presidente que vier a sucedê-la depois do impeachment, terá que abrir o mercado às empreiteiras estrangeiras. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?
Num país sério, certamente, ao final das investigações desse escândalo, partidos-máfia inteiros terão que ser extintos e proscritos. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?
Por fim, não convém menosprezar as manifestações de rua que se seguiram ao fim da eleição pedindo o impeachment de Dilma. A imprensa mente e distorce os fatos, tenta minimizar e descaracterizar essas manifestações. Mas, num cenário que combina crise econômica com crise política e institucional, num contexto em que os pagadores de impostos serão chamados a arcar com a conta desse descalabro, a hipótese de que vejamos repetirem-se eventos como os de junho de 2013 não é nada desprezível. Só que agora há líderes à frente das manifestações de 2014. E são todos de direita. E os defensores de um golpe militar são minoritários, para desagrado do PT e da mídia chapa branca.
O termo (cleptocracia) refere-se a uma situação regular e constante de corrupção e de roubos sistemáticos praticados no âmbito do Estado, permitidos pelos seus agentes. Ela implica que representantes do governo mantenham vínculos com a delinquência organizada, isto é, com sindicatos do crime. Os mais conhecidos são as associações nascidas no sul da Itália, entre as quais se destaca a Máfia, depois disseminada internacionalmente. Nos Estados Unidos, Hollywood, com seus dramas e comédias, pode ter edulcorado a ação desses grupos criminosos, que, além de intimidar simples comerciantes, corrompem policiais, juízes e até elegeram senadores; a realidade é geralmente mais sórdida do que a que aparece: ela é feita de muita violência e de grave deterioração das instituições.
Em suas manifestações práticas, Estados mafiosos, ou governos cleptocráticos, estão associados a situações autoritárias, nas quais predomina o arbítrio dos dirigentes em condições próximas de ditaduras abertas ou disfarçadas. Nada impede, porém, que formas de cleptocracia se instalem pelas vias normais da democracia eletiva, como já se viu no passado da América Latina, e como ainda pode estar ocorrendo mesmo agora. Em manifestações mais amenas do que a corrupção generalizada em todas as esferas de governo, ela pode conviver nos regimes democráticos com formas especiais de atuação política: no sistema americano, por exemplo, isso tem o nome de pork barrel; na antiga partidocracia italiana, a lotizzazione e a distribuição de favores recíprocos entre o Executivo e o Legislativo também redundavam em corrupção nos negócios públicos, seja em cargos, seja em concorrências, concessões e compras governamentais.
Um livro recém-publicado de uma pesquisadora de política russa e soviética da Universidade Miami do Estado de Ohio, Karen Dawisha, intitulado Putin's Kleptocracy: Who Owns Russia? (Nova York: Simon & Schuster, 2014), descreve justamente as formas pelas quais o novo czar conseguiu instalar um sistema predatório que desvia recursos imensos do país e de seus cidadãos trabalhadores para enriquecer um punhado de magnatas devotados inteiramente ao seu absolutismo personalista, funcionando como uma democracia de fachada. Métodos similares de extração de valores não mensuráveis - pois, além de desviar dinheiro real, existe também o chamado custo-oportunidade, ou seja, o que se deixa de investir em outras atividades - podem estar sendo usados em outros países, mas foi na Rússia de Putin que a cleptocracia chegou ao seu estado de perfeição institucional. De certa forma, ela não deixa de ser uma petroditadura.
Karen Dawisha lista os expedientes típicos dos regimes corruptos, todos eles em uso, e em expansão, no Estado sucessor da União Soviética - que já era um sistema de roubo "normal" -, mas facilmente encontráveis em outras paragens também: propinas de empresas nacionais e estrangeiras para trabalhar com empresas públicas; pedágios em contratos inflados, não sujeitos a sistemas abertos de licitação nos projetos do governo; regulação ajustada para beneficiar certos grupos e enriquecer os amigos do poder (pode ocorrer em processos viciados de privatização); mecanismos de "coleta" de parte dos recursos amealhados por eles para financiar campanhas eleitorais, ou diretamente para contas bancárias no exterior; operações de comércio exterior, com faturamento a mais ou a menos nos preços; subsídios estatais seletivos; doações legais ou semilegais para obras públicas; transações imobiliárias a preços fictícios, escondendo pagamentos por fora dos contratos; lavagem de dinheiro; financiamento de atividades políticas, com ou sem campanha eleitoral; contas não declaradas em bancos no exterior; maquiagens contábeis nas contas domésticas; arranjos lucrativos com cartéis, quando não com os próprios sindicatos do crime; intimidação, manipulação e controle da mídia; no limite, eliminação física dos "obstáculos" a esses negócios heterodoxos. Déjà vu?
É evidente que quanto mais recursos criados na esfera privada, pelos produtores diretos de renda e riqueza, passam pelos mecanismos de intermediação estatal, maiores são as oportunidades para que várias dessas formas de corrupção se instalem de maneira regular no âmbito do Estado. Cleptocracia existe quando os mais altos agentes públicos sancionam, e até estimulam, esses comportamentos típicos de associações criadas para delinquir. A tradição bolchevique conviveu, desde a origem, com várias dessas formas de atividade criminosa, quando não com formas ainda mais diretas de extração de recursos de particulares e de agências públicas. É sabido, por exemplo, que Stalin começou sua vida "profissional" na ala leninista do partido operário social-democrata russo empreendendo alguns assaltos a agências postais ou a bancos, como forma de financiar as atividades de propaganda do POSDR.
No Brasil, o Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella, não punha restrições a esse tipo de recurso. O primeiro item do capítulo 9, dedicado às ações dos guerrilheiros, referia-se ao "assalto a banco como modelo popular" (sic), seguido de outros tipos de ação: emboscadas, desvios, confiscos, expropriações de armas, execuções, sequestros, sabotagem, terrorismo, propaganda armada, guerra de nervos (cf. http://www.marxists.org/portugues/marighella/1969/manual/index.htm).
Nem todos os candidatos a guerrilheiros passaram por todas essas etapas e formas de ação. Muitos deles, reciclados, preferiram enveredar por outros tipos de negócios, em alguns casos à la russa. Quando surpreendidos, tentam justificar o método sob o argumento especioso de que "todos fazem assim"; ou então que a indução partiu de agentes privados, ávidos para conquistar mercados de obras públicas. O cinismo também vem junto...
* Diplomata e professor universitário (www.pralmeida.org e diplomatizzando.blogspot.com)
É o cara que se escandaliza com Bolsonaro, mas não vê problema algum em Graça Foster, em Dilma, em Lula.
É o cidadão que se preocupa com os centavos da passagem de ônibus, mas ignora os milhões da Petrobras.
É a moça que defende o aborto, mas considera a palmada um crime hediondo.
É aquele que odeia os judeus e quer a destruição do Estado de Israel, mas faz campanha contra o racismo e xinga os adversários de nazistas.
É aquele que acusa Bolsonaro de ser apologista do estupro, mas ignora o professor que defendeu o estupro de Rachel Sheherazade.
É aquele que chama empresário de sonegador, mas aceita a maquiagem fiscal da Dilma.
É aquele que protesta quando morre um traficante, mas festeja quando morre um policial militar.
É aquele que não se importa em destruir a vida do adversário, se isso for importante para a causa.
É aquele que passa a odiar sua cidade quando a maioria não vota em sua candidata.
É aquele que chama o caso Celso Daniel de “crime comum”.
É aquele que usa a expressão “ação penal 470” para se referir ao mensalão.
É aquele que prega a estatização do financiamento eleitoral.
É aquele que usa a palavra “estadunidense”.
É aquele que tem uma grande simpatia pelos nanicos da linha auxiliar do PT.
É aquele que não vê nada demais no fato de o PIB per capita da Coreia do Sul ser de 32 mil dólares e o da Coreia do Norte, de 1.800 dólares. Afinal, a Coreia comunista é mais igualitária.
É aquele que apoia o movimento gay, mas também apoia o regime cubano, que já fez campos de concentração para homossexuais.
É aquele que acredita em governo grátis, mesmo quando o País trabalha até maio só para pagar impostos.
É aquele que odeia a censura, mas quer o controle social da mídia.
É aquele que faz tudo para acabar com a família e a igreja, pois sabe que elas são os principais focos de resistência ao poder do Estado e dos movimentos sociais.
No fundo ele sabe que o país está sendo saqueado, exaurido, violentado – mas diz que o problema é o Bolsonaro.
É aquele que nunca perdoa.
Publicado originalmente no Jornal de Londrina
O economista Francês Pikety em seu alentado tratado do capital, discorrendo sobre a economia moderna na fluência estética da língua francesa, converge em receituário para a solução do velho problema social da desigualdade: taxar a riqueza exageradaem prol dos mais pobres. Parece-me um resultado ingênuo. Marx em seu prolixo Das Kapital, interpretando a formação do capital como resultado da forma de produção capitalista, antevia o destino da evolução econômica na história, na tradução dialética da afirmação: “o capitalismo traz o germe da própria destruição- o proletariado”.
Não aconteceu. O proletariado articulado em poderosas associações sindicais enfrentando os donos dos meios de produção, sob um aparato judicial inarredável construído pela experiência, estabelece um equilíbrio de forças desconhecido em todo passado histórico. Ainda que o processo produza a concentração de renda que separa os mais ricos dos mais pobres, estes auferem crescentemente o poder de compra dos benefícios sociais do progresso. Um operário moderno tem a seu dispor confortos de vida superiores ao burguês do século XVI.
Esta correlação pode ser observada na geografia urbana, no desenho evolutivo da cidade. A partir do núcleo formador, a cidade vai se expandindo à figura de uma ameba,dilatando-se pelas lindes de menor resistência econômica da terra. Os imóveis mais depreciados vão sendo substituídos por investimentos de maior valor através da simplicidade da compra e venda, da transação livre entre as partes interessadas, quando ao final, os valores se acomodam ao sabor do mercado e da disposição livre dos parceiros. Pari passo os impostos são crescentes nos imóveis de maior valor, e decrescentes ao mais depreciados, enquanto os serviços que qualificam e definem os padrões civilizatórios vão sendo democraticamente estendidos a todos.
Claro que descrevo o processo teórico de urbanismo assentado em economias culturalmente e historicamente consagradas. Porque são estas que apontam o evoluir das cidades das mais primitivas e mais pobres, lentamente no elastério da desigualdade, a democratização do enriquecimento geral.
• Arquiteto e urbanista (PAlegre, 15 / 12/ 04)
No Brasil e no exterior, ideologia de gênero causa perseguição
Por Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz – Por ocasião da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, foi distribuída aos jovens uma cartilha intitulada “Keys to Bioethics” (Chaves para a Bioética). Produzida pela Fundação Jéròme Lejeune e traduzida em diversas línguas, ela pretendeu ser um manual de Bioética para jovens, respondendo a questões atuais de maneira direta, objetiva e repleta de ilustrações. Um apêndice de oito páginas foi dedicado a explicar e refutar a “teoria do gênero”. A cartilha explica que, segundo essa ideologia, “a identidade sexual do ser humano depende do ambiente sociocultural e não do sexo – menino ou menina – que caracteriza cada ser humano desde o instante da concepção. […] A nossa identidade feminina ou masculina teria muito pouco a ver com a realidade do nosso corpo, e de fato nos seria imposta pela sociedade. Sem outra escolha, desde a mais tenra infância cada pessoa interiorizaria o papel que supostamente deve desempenhar na sociedade na condição de mulher ou de homem”. Após a explicação, vem a crítica: “A teoria de gênero subestima a realidade biológica do ser humano. Reducionista, supervaloriza a construção sociocultural da identidade sexual, opondo-a à natureza”.
Exemplares da cartilha que sobraram da JMJ 2013 foram distribuídos em março de 2014 aos professores que participaram do X Fórum de Ensino Religioso, promovido pela Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Ora, esse material incomodou o grupo de pesquisa “Ilè Obà Òyó”, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A coordenadora do grupo, professora Maristela Gomes de Souza Guedes (autodenominada Stela Guedes Caputo) noticiou o fato ao Ministério Público do Rio de Janeiro, dizendo que as páginas da cartilha são “recheadas de conservadorismo, homofobia e discriminação contra a mulher, com ilustrações perversas e debochadas”[1]. A promotora Renata Scharfstein, da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção à Educação da Capital, após a abertura de um inquérito civil, determinou que a Secretaria de Educação recolhesse as cartilhas distribuídas no Fórum por considerar seu conteúdo “discriminatório (homofóbico e machista)”, além de vinculado a religiões (!). Determinou ainda a realização de campanhas em toda a rede estadual sobre a necessidade do “respeito a todos os modelos familiares [sic] eorientações sexuais [sic] existentes na sociedade, bem como a fim de neutralizar qualquer conteúdo eminentemente religioso [sic] divulgado na (s) cartilha (s)”, em especial aquele que repudia “o conteúdo descrito como teoria do gênero”[2]. A decisão da promotora surpreendeu a própria denunciante Stela Caputo, que a considerou “inédita e histórica”. Espantosa foi a subserviência da Secretaria de Educação, que, sem questionar o abuso de poder do Ministério Público, informou que já havia providenciado o recolhimento das cartilhas e comprometeu-se a não mais realizar fóruns de ensino religioso[3].
Ora, o Ministério Público deve agir como fiscal da lei, e não como partidário de uma ideologia. Muito menos de uma ideologia que, desprezando a base biológica da natureza humana, pretende legitimar os mais aberrantes comportamentos sexuais, desde o homossexualismo até o incesto e a pedofilia.
Ao agir desse modo, o Ministério Público abriu um perigoso precedente. Se a cartilha sobre Bioética foi condenada por opor-se à ideologia de gênero, de modo análogo poderia ser condenado o uso da Bíblia, que usa palavras muito duras para qualificar o homossexualismo: “abominação” (Lv 18,22; 20,13), “paixões aviltantes”, “relações contra a natureza”, “torpezas”, “aberração” (cf. Rm 1,26-27).
Note-se que essa arbitrariedade do Ministério Público foi cometida sem que esteja em vigor qualquer lei federal que considere crime a oposição ao homossexualismo. Imagine-se qual será a intensidade da perseguição da ideologia de gênero se uma lei “anti-homofobia” for aprovada, como tanto deseja nosso governo do PT.
Enquanto isso, na Alemanha…
[matéria do jornalista Leone Grotti transcrita da revista italiana on line Tempi.it de 13/11/2014][4]
Em 24 de outubro [de 2014], um oficial da polícia apresentou-se à porta da família Martens em Eslohe, pequeno município da Renânia Setentrional, Vestfalia, na Alemanha. Enquanto abria a porta, Eugen já sabia a finalidade daquela visita: a prisão da esposa e mãe dos seus nove filhos Luise. Sabia tudo de antemão porque pelo mesmo motivo ele próprio já tinha sido preso em 8 de agosto de 2013.
O que fizeram de tão grave os dois cônjuges de 37 anos de modo a merecerem a prisão? Não mataram, não roubaram nem causaram dano a ninguém. Sua única culpa é a de serem pai e mãe de uma menina que se recusou a participar duas vezes das aulas de educação sexual previstas pelas escolas primárias. No ano passado Luise não foi levada à prisão com o marido porque estava grávida. Neste ano, o oficial da polícia não a “levou à força como deveria” porque está ainda amamentando o último filho. “Infelizmente, porém, não termina aqui. A procuradoria fará aplicar a decisão do juiz”, afirma o policial…
“Muitíssimas famílias estão nesse mesma situação do casal Martens na Alemanha, declara a tempi.it Matias Ebert, casado, com quatro filhos, que depois de tomar conhecimento da história dos Martens, decidiu fundar em Colônia a associação “Besorgte Eltern” (“Pais preocupados”). O movimento já organizou diversas manifestações na Alemanha com milhares de participantes a fim de que “se discuta publicamente esse escândalo gigantesco e se impeça a corrupção de nossos filhos”, que a partir de seis anos devem participar de cursos de educação sexual onde se propugna a ideologia de gênero.
Por que se uma menina falta a duas oras de aula os pais são colocados na prisão?
Na Alemanha a escola é obrigatória e se uma criança falta às lições, a escola tem a faculdade de denunciar os pais e o tribunal pode multar a família. Os cônjuges Martens por isso receberam uma multa de cerca de 30 euros. Isso é absurdo porque a filha abandonou a aula por sua própria iniciativa.
A família não podia pagar e pronto?
Não, porque é uma questão de princípio. O que irrita é que o tribunal use dois pesos e duas medidas. Algumas crianças não vão à escola por meses e nada acontece com os pais. Mas quando uma menina falta duas horas de educação sexual, a família é prontamente denunciada. […]
Por que a menina não queria participar dos cursos de educação sexual?
Porque o conteúdo das lições é perverso. Não só se mostra às crianças como funciona o sexo dos homens e das mulheres, mas se lhes põe diante de uma “variedade” de práticas sexuais: sexo oral, sexo anal e muitos outros.
Diz-se também às crianças, desde a escola primária, que o seu gênero não é determinado e que não podem saber se são meninos ou meninas, que devem refletir sobre isso. Isso para mim se chama manipulação dos pequeninos.
Há outros casos além do da família Martens?
Certamente. Não conheço o número exato dos pais presos, mas só o pequeno grupo de pais da cidade de Paderborn (150 mil habitantes) passou ao todo nos últimos anos 210 dias na prisão. É um escândalo gigantesco também porque são as próprias crianças que querem sair da aula. Na cidade de Borken, por exemplo, em uma classe a lição perturbou tanto as crianças que seis delas desmaiaram.
[fim da transcrição]
Anápolis, 12 de dezembro de 2014.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
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[1] http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-04-26/mp-cartilha-polemica-na-mira.html
[2] http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/11/1553289-governo-do-rio-recolhe-cartilhas-consideradas-homofobicas-pelo-mp.shtml. O destaque é nosso
[3] Cf. http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/por-ordem-do-mp-governo-do-rio-recolhe-cartilhas-homofobicas-suspende-foruns-religiosos-14648765#ixzz3K6uRCn8e
[4] http://www.tempi.it/germania-scandalo-genitori-incarcerati-figli-corsi-gender-scuola#.VIcmOTHF9qV
O Globo - 16/12/2014
'Como será maravilhoso o fim da propriedade privada'
“Eu sou de esquerda. E tenho muito orgulho disso. Eu sou bom, minha consciência é limpa. Eu sou tão superior a esta população de idiotas, alienados, que inflo o peito com alegria ao ver-me pairando acima da massa de babacas tanto da pequena burguesia quanto da elite branca, que deve ser arrasada para que impere a verdadeira elite vermelha, que sou eu, somos nós. Como será maravilhoso o fim da propriedade privada, mesmo que para isso seja necessário enquadrar, prender, até matar reacionários como fizeram nossos chefes tão criticados pelos social-democratas, os maiores inimigos da Revolução. Lembro sempre as palavras de Trotski: ‘Quem foi que disse que a vida humana é sagrada?’.
Claro que os dirigentes terão direito a apartamentos duplex ou triplex, automóveis oficiais, porque afinal ter o controle dos meios de produção, limitação da mídia, dá muito trabalho — e não são privilégios, não; são direitos nossos de comandantes na construção do futuro. Desde que entrei no Partido, sou parte de um olimpo de pessoas extraordinárias. Nos olhamos com o doce sentimento de pairar acima das multidões. Ai, que bom... participar de comitês revolucionários com discussões ideológicas que se estendem até o cu da madrugada, sair ao amanhecer e ver a multidão de operários indo para o trabalho, enquanto nós decidíamos seu futuro. Mesmo as brigas internas me emocionavam, aquela luta pela fome de subir no Partido, a vigilância do outro, o silêncio sobre os erros, as falsas autocríticas, até mesmo a alegria de injustiças feitas em nome do Bem.
Eu sou um elo da cadeia que vai desde a revolução soviética, em 1917, até hoje, na grande reconstrução da Venezuela feita pelos nossos irmãos bolivarianos. Ainda bem que o Putin está refazendo tudo que a URSS perdeu por obra dos agentes do imperialismo ianque, pois todos sabemos que o canalha do Gorbatchov foi treinado na CIA. Depois que eu virei um revolucionário do Partido, faço sucesso com as companheiras e mesmo as reacionárias, o que me dá, ao comê-las, uma mistura de prazer com vingança. Mas, o grande prazer é sentir-se na ‘linha justa’, é saber que nada é culpa nossa, mas do imperialismo americano, este dragão do mal que até instilou câncer no corpo do comandante Chávez, como ele próprio denunciou, na forma de um passarinho no ouvido do comandante Maduro.
Aí, ficam os neoliberais nos acusando de roubo das companhias estatais, como a Petrobras. Mas, nós temos o direito de desapropriar instituições para financiar nosso futuro. A Petrobras sempre foi nossa, sempre foi um tesouro dos amantes do povo, sempre esteve ali como um motor para mover a revolução nacionalista. Armar grandes fontes de propinas que caem em nosso partido é um gesto revolucionário. Tudo bem que o valor da Petrobras tenha caído de R$ 700 bilhões para R$ 150 bilhões por causa dos escândalos, dos roubos, mas nos consola saber que esse dinheiro desviado foi para o Bem do povo que professamos, pois não há Bem sem verba.
Aliás, nem só a Petrobras, mas qualquer companhia pública do país nos favoreceu: aeroportos, portos, fundos de pensão (oh... maravilha!) podem ser desapropriados (ou predados, como dizem os neoliberais), pois estamos a criar um novo país. Ainda não sabemos como será, mas certamente queremos que o Estado seja dono de tudo, inclusive do desejo das pessoas, livres da sociedade alienada onde se acoitam os inimigos do povo.
Esse papo de democracia é muito sem ‘design’, muito falatório, muitas opiniões, muita liberdade e uma insuportável multiplicidade de desejos. Bom é o ‘um’, em vez do burburinho de opiniões diversas. Por isso eu amo a Coreia do Norte. Tudo bem que eles sejam um pouco radicais, mas há que reconhecer que vibro com o universo controlado que o Kim armou para organizar tudo. Os passos de ganso dos desfiles patrióticos, toda a população chorando e fingindo teatralmente quando morreu o pai do Kim. Como é belo tudo isso; parece haver só um homem, todos iguais ao próprio presidente Kim, com seu cabelinho cortado que todos devem copiar...
Ah... que saudades dos velhos tempos de 1963... Agora estamos voltando a essa época. Por isso desenterramos o Jango para revigorar a boa ‘teoria da conspiração’, afirmando que ele foi envenenado pelo imperialismo. Minha fé no Partido me deixa muito feliz, porque o comunista não morre nunca; somos seres sociais como as formigas, e por isso, a morte individual pequeno-burguesa não me atingirá — sinto-me eterno.
Agora estamos sob ataque das forças da elite conservadora. Muitos supostos crimes foram delatados e nos chamam de organização criminosa. Nada disso. Não temos medo das consequências jurídicas, porque sei que essas revelações são tantas que cairão na vala comum do Poder Judiciário, que não tem como julgar tanta coisa. Com chicanas e recursos e ministros petistas vai se criar um congestionamento de processos que vão virar uma massa informe que tem como aliada o esquecimento.
E mesmo que isso tudo signifique o desprestígio total do Brasil no mundo, me consola a certeza de que mudamos o Brasil, mesmo transformando-o num lixo porque, afinal, não acreditamos no conceito de ‘país’— somos um sistema.
E tem muita gente que me pergunta como vejo o futuro do país.
Bem, eu imagino Brasília tomada de uma vez por todas. As praças e prédios do poder invadidos e aparelhados, com multidões na Praça dos Três Poderes aclamando os líderes do nosso futuro, protegidos pelas milícias do MST e pela guarda pretoriana dos intelectuais orgânicos das universidades e pelos pelotões do Bolsa Família. Já vejo com emoção a brancura dos monumentos e dos palácios cobertos de milhares de bandeiras vermelhas ao vento e o grande pendão da esperança vermelha tremulando no mastro central.
E mais: onde era o monumento do JK estará o grande caixão de cristal onde jazerá o Lula, embalsamado para toda a eternidade!”