• Milton Pires
  • 21 Favereiro 2015

Ontem, dia 20 de fevereiro de 2015, mais uma vez, um grupo de brasileiros que recebeu da imprensa amiga o título de “intelectuais” veio a público afirmar que “a democracia está em risco, que a situação é a mesma de 1964 e que prepara-se no país um golpe contra o Governo Dilma”.

Não tenho mais argumentos e não vejo mais necessidade de escrever um artigo para refutar os conceitos dessa gente. Tampouco entendo ser necessário definir, mais uma vez, quem tem, numa nação livre, o direito de apresentar-se como “intelectual”. Acho, por outro lado, que é essa uma oportunidade para me dirigir à sociedade em mais um apelo para que ela, sociedade, consiga entender a diferença entre o PT e qualquer outro partido que esteve antes no Governo Federal.

Certa vez eu disse que o entendimento do brasileiro médio, a sua capacidade de emitir juízo sobre a realidade política, “oscila entre o lúdico e o obrigatório”, entre a mulata e o imposto de renda, entre o churrasco do final de semana e a conta do dentista. Existe no Brasil, desde sempre, uma espécie de mistura entre o pragmatismo e o utilitarismo, uma incapacidade congênita de avaliar qualquer ação em termos transcendentais e que atravessa, que perpassa toda atividade ou pensamento. Essa regra que aqui descrevo não é exceção no conjunto de motivos que seduziram, que motivaram até hoje, os marginais do poder. Os brasileiros sempre souberam que foram roubados, sempre tiveram, de forma clara e independente do seu nível de informação e educação, a noção de que o poder corrompe, de que os partidos mentem, e os candidatos mudam. O que então está acontecendo de diferente desde a chegada do PT ao poder em 2003? Por que a necessidade constante de invocar o Governo FHC como a origem da corrupção? Por que a reunião e a manifestação desses supostos intelectuais em defesa de Dilma Rousseff? Qual a importância de afirmar veementemente, fanática e histericamente, que tudo que estamos assistindo “sempre foi assim”?

Leitores que até aqui tiveram a paciência de seguir meu raciocínio, a resposta é uma só: porque em toda história do Brasil isso NUNCA foi assim ! É a primeira vez que a Nação enfrenta como governantes um grupo de criminosos com uma “causa”. Não estamos mais tratando com Sarneys ou Malufs, não lidamos mais com projetos de enriquecimento pessoal, com a compra de bens materiais ou com o acesso ao “sexo fácil”.Não é freudiana a explicação para o projeto de poder petista e eu diria que sequer sei, na verdade, se alguma teoria existe capaz de fornecer completamente os elementos para uma “explicação”. Pela primeira vez, em toda história, os brasileiros enfrentam uma força que rouba em nome de uma “causa”, que supera a crise imediata, a questão prática do dilema que envolve prazer e obrigação e que imperava, até hoje, no firmamento dessa nau chamada Brasil que, em pleno século XXI, navega orientada pelas estrelas. Nossa “estrela guia” é agora desgraçadamente vermelha, nosso timão é uma foice e nossa âncora um martelo. Pobre do nosso país ! Até hoje essa nação sabia o que significava ser governada por aqueles que lhe tiravam dinheiro mas agora vai aprender, a qualquer custo, o que é ser governado por alguém que lhe rouba a liberdade. É para confundir matéria e pensamento, dinheiro e liberdade..É para tornar a mesma toda história do Brasil contada até aqui, para dizer que estamos novamente em 1964 que os “intelectuais” vieram a público: o Foro de São Paulo continua (e assim dever ficar) ignorado. A ideia de uma América Latina inteira governada pelo socialismo segue como “teoria da conspiração”, não é ?

O PT “é um partido como outro qualquer”..Foram indivíduos que, visando “enriquecimento pessoal” praticaram “mal feitos” ..Em outras palavras: “A Luta Continua” e mais importante - “A Causa” segue ignorada...

Porto Alegre, 21 de fevereiro de 2015.
 

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  • Paulo Briguet
  • 21 Favereiro 2015


1. Meu amigo Chicó é inteligente e sabe fazer contas. Diante da dificuldade que nós temos para dimensionar o estrago que o PT fez na Petrobras, ele nos ajuda com a matemática. Raciocine com o Chicó: se você ganhasse um dólar por segundo, demoraria 32 anos para acumular 1 bilhão de dólares. Quase a idade de Cristo. E 1 bilhão de dólares é apenas uma pequena parte do rombo da Petrossauro.

2. Oscar Wilde dizia que só as pessoas muito superficiais não levam em conta as aparências. Basta um rápido olhar para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, para saber que estamos diante de dois homens muito diferentes. Ambos são profissionais da área jurídica. Ambos dizem defender a lei. Ambos são amados por uns e odiados por outros. Mas escolher entre Moro ou Cardozo parece-nos ser uma questão decisiva para o Brasil atual.

3. Moro prende acusados de corrupção. Cardozo se reúne para protegê-los. Um é o juiz da Lava-Jato. O outro é o ministro esconde-lama. Quem você prefere?

4. O Brasil é mesmo diferente. Enquanto outros países têm ministro da Justiça, nós temos um ministro contra a Justiça.

5. Quando Lula visitou a Guiné Equatorial, perguntou a Teodoro Obiang qual era o segredo para ficar mais de 30 no poder. Fez a pergunta em tom de brincadeira, mas logo em seguida ajudou as empreiteiras nacionais a fechar negócios muito lucrativos com o país africano, que tem uma das populações mais pobres e um dos governantes mais ricos do mundo.

6. A Guiné Equatorial é o país dos sonhos de Lula e do PT. Lá o mesmo presidente está desde 1979 no poder. Há controle social da mídia. A oposição está no exílio ou na cadeia – onde as torturas só não são mais comuns que as parasitoses. Nas eleições, Obiang nunca tem menos de 99% dos votos. Chicó, de quantos anos nós precisaríamos para acumular a fortuna do presidente da Guiné?

7. Graças ao generoso apoio de empreiteiras nacionais e de Teodoro Obiang, a Beija-Flor ganhou o Carnaval do Rio com uma homenagem à Guiné Equatorial. A escola poderia trocar de nome. A partir de agora, vou chamá-la de Beija-Mão. Beija-mão de ditador.

*Jornalista

http://www.jornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra/beija-mao/

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  • Olavo de Carvalho
  • 19 Favereiro 2015

Em artigo escrito já há algum tempo (http://siterg.terra.com.br/post/2014/03/18/procura-se-uma-nova-classe-alta-por-nizan-guanaes/), o publicitário Nizan Guanaes observa que às nossas classes altas falta, sobretudo, cultura. Pura verdade, mas por que somente às classes altas? Ao longo da quase totalidade da história humana, o conjunto dos homens mais cultos e sábios raramente coincidiu com o dos mais ricos e socialmente brilhantes. “Livros e dinheiro são uma mistura perfeita para elegância, savoir faire e bom gosto”, diz Guanaes. É certo. Mas também é certo que elegância, savoir faire e bom gosto não são propriamente a alta cultura: são a vestimenta mundanizada que ela assume quando desce do círculo das inteligências possantes e criadoras para o âmbito mais vasto dos consumidores abonados, da sociedade chique. São cultura de segunda mão.

O que falta no Brasil não são apenas ricos educados. O que falta são intelectuais capazes de educá-los. Um indício claro, entre inumeráveis outros, é que nenhuma universidade brasileira, estatal ou privada, foi jamais incluída na lista de cem melhores universidades mundiais do Times de Londres (Times Higher Education World Ranking, http://www.timeshighereducation.co.uk/news/the-100-most-international-universities-in-the-world-2015/2018125.article). Não há nessa exclusão nenhuma injustiça. Rogério Cezar de Cerqueira Leite explicou o porquê em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/202892-producao-cientifica-e-lixo-academico-no-brasil.shtml.

Foi talvez sentindo obscuramente a gravidade desse estado de coisas que o próprio Guanaes mandou seu filho estudar na Phillips Exeter Academy, de New Hampshire, tida como a melhor escola preparatória americana, na esperança de colocá-lo depois em alguma universidade da Ivy League, como Harvard, Yale, ou Columbia.

Sem deixar de cumprimentar o publicitário pelo seu zelo paterno, observo que suas próprias ações provam antes o meu diagnóstico da situação do que o dele: se cultura faltasse somente aos homens ricos, bastaria enviar seus filhos a alguma universidade local ou fazê-los conviver com intelectuais de peso em São Paulo ou no Rio, e decorrida uma geração o problema estaria resolvido. Mas aí é que está: faltam universidades que prestem e os grandes intelectuais morreram todos, sendo substituídos por duas gerações de tagarelas incompetentes, cabos eleitorais e cultores da própria genitália, como documentei abundantemente em O Imbecil Coletivo (1996) e O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser Um Idiota (2014), além de centenas de artigos, muitos deles neste mesmo Diário do Comércio.

Ricos e até governantes incultos não são, por si, nenhuma tragédia, desde que haja em torno uma classe intelectual séria, capaz de lhes impor certos padrões de julgamento que eles não precisam compreender muito bem, só respeitar. Foi assim na Europa ao longo de toda a Idade Média e até épocas já bem avançadas dentro da modernidade, quando a casta nobre considerava que a única ocupação digna da sua posição social era a guerra, deixando os estudos para os padres e demais interessados. O Imperador Carlos Magno só começou a aprender a ler – de má vontade – depois dos trinta anos. Afonso de Albuquerque, sete séculos depois, ainda considerava que saber línguas estrangeiras era coisa para subalternos. A alta cultura não era sinal de posição social elevada, era um ofício especializado. Daí a palavra clerc, “clérigo”, que não designava só os sacerdotes, mas, de modo geral, toda pessoa letrada.

Complementarmente, os homens de estudos eram o que podia haver de mais diferente do grand monde, dos ricos e elegantes. Até bem recentemente, mesmo nos EUA, os intelectuais, sobretudo universitários, primavam por uma vida austera, sem divertimentos nem confortos, a não ser que, por coincidência, viessem eles próprios de alguma família rica.
Tudo mudou nos anos 80, com o advento dos yuppies. Um yuppie é um jovem com diploma de universidade prestigiosa, um emprego regiamente pago em alguma cidade grande, um círculo de amigos importantes que se reúnem em clubes chiquérrimos e uma cabeça repleta de regras de polidez politicamente corretas, um conjunto formidável de não-me-toques que facilitam a aceitação social na mesma medida em que dificultam o pensamento. Foi aí que formação cultural começou a significar elegância, bom gosto e refinamento em vez de conhecimento e seriedade intelectual.

Esse foi um dos danos maiores produzidos pela desastrosa administração Jimmy Carter. Até os anos 70 os EUA ainda tinham a melhor educação do mundo, toda ela fruto da iniciativa autônoma da sociedade. A intervenção estatal, associada ao império do esquerdismo chique e ao açambarcamento de toda atividade cultural pela burocracia universitária, iniciou o processo de degradação intelectual documentado por Russell Jacoby em The Last Intellectuals: American Culture in the Age of Academe e por Allan Bloom em The Closing of the American Mind, ambos de 1987.

No Brasil, a palavra “Harvard” ainda pode significar altíssima cultura, mas nos EUA ela evoca antes a pessoa de Barack Hussein Obama, que chegou a diretor da Harvard Law Review sem ter ultrapassado o nível das redações ginasianas e depois fez fama de autor com dois livros escritos inteiramente por Bill Ayers, um terrorista doublé de talentoso artista da palavra.

Nada mais expressivo do vazio intelectual de Harvard do que o sucesso de John Rawls, o qual, segundo a boutade de Eric Voegelin, escreveu uma Teoria da Justiça sem notar que se tratava de uma teoria da injustiça.

O que hoje resta da antiga pujança intelectual americana refugia-se em grupos autônomos, como o círculo de discípulos do próprio Eric Voegelin, as redações de New Criterion e Commentary, meia dúzia de editoras high brow ou o time seleto de scholars que compõem a equipe de Academic Questions, uma revista acadêmica dedicada ao estudo... da decadência acadêmica.

Em comparação com o que temos no Brasil, é muito, é uma abundância invejável, mas, para o antigo padrão americano, é quase miséria. Os EUA só continuam sendo o paraíso dos estudos superiores no sentido yuppie do termo. Não por coincidência, Guanaes cita como protótipo de pessoa culta a riquíssima, chiquíssima e politicamente corretíssima Ariana Huffington, fundadora do Huffington Post, um front de antijornalismo obamista empenhado em manter acesa a chama do “Yes We Can” contra todos os fatos, contra toda evidência e contra todo o descrédito geral.

Não quero me meter na vida da família Guanaes, mas mandar um filho estudar nos EUA – digo nas grandes universidades, e não nos círculos dos happy few -- é um meio de defendê-lo contra a debacle cultural brasileira? Sim, se o que você quer para ele é uma carreira de yuppie e uma alta cultura constituída de “elegância, savoir faire e bom gosto”. Não, se você quer fazer dele um estudioso sério, capaz de compreender o Brasil e ajudar o país a sair do atoleiro.

Digo isso, também, por outro motivo. Cultura não é só aquisição de conhecimento, é a formação de uma personalidade ao mesmo tempo arraigada na realidade histórico-social concreta e capaz de transcendê-la intelectualmente. Essa formação só é possível se ela começa pela absorção da cultura local na língua local e se prossegue nesse caminho até abarcar essa cultura como um todo e, então sim, tiver necessidade de ampliar o seu horizonte pelo contato mais aprofundado com outras culturas. Se um jovem ignorante da sua cultura nacional é transplantado para o ambiente acadêmico de outro país, é melhor que ele fique por lá mesmo, pois, se voltar, dificilmente chegará a compreender o lugar de onde saiu. O Brasil está repleto de diplomados de universidades estrangeiras, cujos palpites sobre a situação nacional superlotam as colunas de jornais com amostras de incompreensão que raiam a alienação psicótica. O projeto “Ciência Sem Fronteiras” está se encarregando de produzir mais alguns com dinheiro público.

Pode-se retrucar que, nas presentes condições, a aquisição da cultura brasileira se tornou inviável porque o jovem interessado não encontra guiamento nem na universidade, nem fora dela. Não tenho resposta pronta para isso, mas desde quando a dificuldade de resolver um problema torna desnecessário resolvê-lo?

 

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  • Leandro Narloch
  • 16 Favereiro 2015

 

O Masoquistão, país de dimensões continentais situado abaixo da linha do Equador, é a terra dos masoquistas. O governo dessa estranha nação se esforça para tornar a vida um eterno inferno, enquanto os cidadãos escolhem os políticos que mais os castigam. Hoje falaremos da economia do Masoquistão, área em que esse padrão de comportamento se revela de forma mais patológica.

As empresas estatais do Masoquistão oferecem serviços terríveis, criam rombos no orçamento, estão atoladas em corrupção e de vez em quando abrigam acidentes de trabalho com explosões e morte de operários. Por isso mesmo os cidadãos as consideram orgulho nacional – e são radicalmente contra propostas de privatização. Na campanha eleitoral, candidatos se valem desse tabu para trocar acusações. “Você vai privatizar! Vai nos livrar daquela empresa que nos faz tanto mal!”, diz um candidato. “Pelo contrário, vou reestatizar”, responde o adversário.

Jovens estão entre os defensores mais radicais do sofrimento causado pelas estatais. Enquanto a Justiça e a imprensa revelam escândalos bilionários de corrupção na maior empresa estatal do país, jovens manifestantes tomam as ruas, depredam bancos e queimam carros reivindicando:

- Queremos mais estatais! Lutamos por uma grande estatal do transporte coletivo!

Os políticos com mais sucesso no Masoquistão estão sempre atentos a formas de aumentar a agonia dos cidadãos. Um caso exemplar dessa tendência ocorreu em dezembro de 2013. Em pleno período de férias, quando milhares de pessoas se preparavam para viajar ao exterior, o governo elevou o aumento do imposto para compras internacionais no cartão de crédito. A medida foi considerada urgente para garantir a preocupação dos habitantes mesmo quando estivessem fora do país.

As leis trabalhistas do Masoquistão são conhecidas no mundo inteiro por tirar o incentivo a contratações e empurrar metade dos trabalhadores do país à informalidade. Por isso mesmo, quando o governo pensa em flexibilizar as leis, provoca uma gritaria geral da população. Rapidamente o governo volta atrás; diz que foi um mal-entendido e promete seguir atrapalhando os trabalhadores.

Todos no Masoquistão sabem que poderiam comprar carros, computadores, remédios, máquinas, equipamentos médicos e uma infinidade de produtos muito mais baratos no exterior. Ora, isso seria fácil demais. Para evitar algo que poderia ser considerado felicidade, todos por ali concordam que é preciso elevar barreiras alfandegárias e dificultar a compra de importados. Sem concorrência, as montadoras nacionais produzem carros mais caros, de pior qualidade e com menos segurança que os importados. Tudo o que os habitantes do Masoquistão mais desejam.

É verdade que nem tudo no cotidiano do Masoquistão é sofrimento. Alguns empreendedores até conseguiram facilitar a vida dos moradores, fornecendo a eles comida barata, aparelhos eletrônicos e remédios a doenças antes incuráveis. Se os masoquistenses gostam? Nada. Eles culpam as empresas e o agronegócio por todos os problemas do país. Aprendem na escola a odiar grandes empresas e idolatrar líderes que lutaram contra o capitalismo, empobreceram países e ergueram ditaduras.

Na história recente do Masoquistão, uma presidente se destacou por esculhambar a economia inteira. Aumentou a dívida pública, descuidou da inflação, quebrou contratos e afugentou investidores e empresários que criariam empregos. Foi reeleita com festa pela população.
 

http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/2015/02/11/a-economia-do-masoquistao-o-pais-dos-masoquistas/

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  • Gilnei Lima
  • 15 Favereiro 2015

 

É difícil de acreditar que alguém, entre os que têm se mostrado céticos, ainda tenha esperança de que o governo que se instalou no país, com nossa aprovação, tenha projetos de melhoria da qualidade de vida da sociedade. Mais difícil ainda tem sido encontrar alguém que não rejeite as aberrações dos escândalos produzidos em escala industrial e que vertem a cada minuto, quase como se fosse uma fonte inesgotável.

A população brasileira foi subestimada em sua inteligência e capacidade de análise. Como se as pessoas mais humildes não fossem capazes de fazer uma mínima observação, vendo com seus próprios olhos o estrago que já foi feito, e pior, continua sendo feito, como se tudo estivesse às mil maravilhas.

Praticamente todos já se deram conta de que há muita coisa errada acontecendo, à despeito do que dizem os governantes que agora são reconhecidos como mentirosos e corruptos. A verdade não escapa ao cotidiano, mostrando a realidade cruel que desaba sobre um país que há bem pouco era muito bom de se viver, mesmo que longe de ser perfeito. Era o país da estabilidade, do crescimento, da oferta crescente de empregos e melhores condições de vida.

O brasileiro foi enfeitiçado pelo canto da sereia. Ouviu as trombetas apregoadas em textos apocalípticos e sucumbiu às tentações. Agora clama em uníssono: livrai-nos do mal.

Quase todas as pessoas, particularmente as mais humildes, e todas que têm preocupações reais com o que vai acontecer com suas vidas, já se agitam ao contar as moedas em suas carteiras cada vez mais vazias, e fazer a maldita contabilidade para comprar o pão e leite. Cada dia a mesma quantidade de moedas compra menos pão. Em muito pouco tempo não comprará mais o leite. Talvez nem tenhamos leite. Com sorte, teremos pão.

Algumas destas pessoas, das quais podemos ouvir seus comentários em conversas nas filas dos pontos de ônibus ou mesmo nos corredores dos pequenos mercados de bairro, nos bancos dos coletivos do transporte público o tema é praticamente o mesmo: corrupção do governo, roubalheira generalizada, escândalos e a pergunta que é quase um mantra: onde vamos parar?

É constrangedor ficar fingindo que não se ouve, mas todos percebem que há um contágio de insatisfação, que já está prestes a se tornar epidemia social. E é aí que o perigo se torna real e imediato. O medo faz as pessoas se recolherem ao exílio de suas casas, mas a angústia provocada pela sensação crescente de que a fome está em frente à porta, transforma aquelas pessoas pacíficas em guerreiros dispostos a tudo para defender suas famílias e livrar seus filhos do perigo de não ter o que comer, porque o governo lhes rouba tudo, todos os dias, várias vezes por dia; ininterruptamente. Esta é a sensação percebida, de que se produz um novo escândalo de roubo e corrupção a cada minuto.

Muitos não percebem, mas os convido a utilizar os meios de transporte público. Faça este teste e perceberá por si mesmo, que essa é a verdade que está nas ruas, e cresce na mesma proporção em que se noticiam os escândalos e crimes sem quaisquer perspectivas de punição. E mais, mesmo que os veículos de comunicação sejam "estimulados" ou impedidos de noticiar, a rede mundial e as redes sociais são de domínio público.

Para quem pensa que aquelas senhoras e senhores humildes e de baixa renda, que vivem longe dos centros urbanos, nas periferias, nos bairros afastados estão desconectados do que vem ocorrendo, prestem atenção. Estes são os maiores inimigos da corrupção, pois são a grande massa popular que está sendo afetada. São os que sofrem mais rapidamente com o roubo de qualquer centavo de suas rendas. Estes míseros centavos fazem falta para pagar o pãozinho de 50g ou completar a passagem do ônibus ou do metrô.

Há um exército formado e prestes a entrar em revolta. Eles não usam fardas ou armas convencionais. Este exército é composto por jovens que se desiludem e percebem que diminuem suas esperanças; em cada trabalhador que vai sendo tomado pelo desânimo; em cada aposentado que tenta desesperadamente sobreviver com o pouco que recebe.

A munição para este conflito, prestes a se tornar revolta popular é reabastecida a cada denúncia de escândalo, nas quais a Justiça não pune os verdadeiros culpados e a polícia é vergonhosamente desrespeitada pelo poder público. Quando se vê, a cada dia, os impostos aumentando, a conta de luz cada vez mais pesada; os combustíveis com preços absurdamente fora da realidade, e pensam que esta legião de pessoas não sabem que, se os combustíveis ficam mais caros, todo o resto também ficará. 

A recarga da munição de repúdio ao governo é feita pelo próprio governo, que não facilita em nada a vida dos brasileiros, mas doa para outros países montanhas de dinheiro produzido por essas pessoas, para que naqueles outros lugares sejam construídos portos, estradas e hidrelétricas, enquanto aqui falta água e luz todos os dias. 

Diante de todas estas coisas que acontecem diariamente, sem previsão de um final feliz e pacífico, os brasileiros sempre tão cordiais e ordeiros, trabalhadores que pouco se queixam e levam a vida como podem, percebem mais e mais, que se esvaziam as prateleiras do supermercados das esquinas, pois cada vez mais poucos podem comprar.

O decreto definitivo para o fim deste governo e sua extinção, poderá vir diretamente do balcão de alguma padaria, quando sobrar o último pão e o cidadão não puder comprá-lo.

*Jornalista

www.gilneilima.com

 

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 15 Favereiro 2015

 

Mario Vargas Llosa, escritor peruano e Prêmio Nobel de literatura, em artigo publicado pelo O Estado de S. Paulo em 08 de fevereiro de 2015, discorreu sobre suicídio político, que é de teor coletivo e “praticado nos países que, presos de um desvario passageiro ou prolongado, decidem empobrecer-se, barbarizar-se, corromper-se ou todas essas coisas juntas”.

Vargas Llosa cita como exemplos desse tipo de suicídio na Europa, Hitler e Mussolini “que chegaram ao poder por vias legais e um bom número de países centro-europeus que se atiraram nos braços de Stalin sem maiores pudores”. Na atualidade o escritor aponta a Grécia, “que em eleições livres acaba de levar ao poder o Syriza, um partido demagógico e populista de extrema esquerda que se aliou para governar com um pequeno grupo de direita ultranacionalista e antieuropeu”.

Como latino-americano Llosa não podia deixar de dizer que em matéria de suicídio político “a América Latina é pródiga em exemplos trágicos”. Ele analisa especialmente a Argentina na fase peronista que arruinou o país antes considerado de Primeiro Mundo, mas absteve-se de falar no atual e desastroso governo de Cristina Kirchner. Focou também na Venezuela sob o comando do caudilho messiânico, Hugo Chávez, sucedido por Nicolás Maduro “que embora inepto para tudo o mais, na hora de fraudar eleições, encarcerar, torturar e assassinar opositores,” não vacila.

Sem dúvida a América Latina é pródiga em suicídios políticos e muitos outros exemplos podem ser dados. Entre eles o do Brasil que recentemente cometeu quatro suicídios políticos ao eleger petistas.

Lula da Silva foi presidente de direito durante dois mandatos e presidente de fato na gestão de Dilma Rousseff, assim continuando no mandato que ora se inicia. E ele não pretende apear do cargo mais alto da República, pois avisou que já está a postos para dar continuidade ao seu longevo poder, em 2018.

Esta sequência que visa à hegemonia petista confirma a profecia de José Dirceu, o Bob como é conhecido nas lides criminosas do petrolão e que praticamente está livre da Papuda depois de ter sido o cérebro do esquema igualmente criminoso do mensalão. Talvez, os 20 anos previstos por Dirceu ainda sejam poucos. Quem sabe ele próprio retome a carreira interrompida e entre em campanha para se eleger presidente da República em 2022. Afinal, a propensão para suicídios políticos na América Latina é arraigada.

A questão é que os caminhos da vida e das sociedades ainda são mutáveis, imprevisíveis e complexos, antes que os avanços tecnológicos confirmem um mundo inteiramente controlado que aparece nos livros e filmes de ficção. No nosso caso o dinamismo social, político e econômico está trazendo complicações que se antepõe ao projeto petista de poder.

O primeiro mandato de Lula da Silva foi fácil. Ele singrou nas águas da estabilidade econômica obtida pelo Plano Real de FHC. Pareceu excelente para os pobres das bolsas esmola e para os ricos banqueiros, empreiteiros, enfim, para a “dona zelite” que lucrou como nunca antes nesse país. O período foi cantado em verso e prosa pelo ególatra, tido pelo povo como um operário pobrezinho que logrou chegar lá. Contudo, no decorrer do tempo o partido autointitulado como o único ético, puro, aquele que vinha para mudar o que estava errado, extrapolou em escândalos de corrupção e na incompetência governamental.

Nos quatro anos de Rousseff o processo de arrebentar a economia se consumou, o que pode ser simbolizado pela devastação da Petrobras assaltada pelo PT e companheiros. Como não podia deixar de ser caiu vertiginosamente a aprovação da criatura, enquanto no Congresso surgiu uma verdadeira oposição liderada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Para piorar, o desenrolar da operação Lava Jato vai se aproximando perigosamente de Lula da Silva e de Rousseff.

Como não podia deixar de ser, o presidente de fato entrou em campo. Junto com o ministro da Justiça e outros tenta influir na Operação Lava Jato para anular as delações feitas. Pede também o impossível a Rousseff: que ela seja simpática e dialogue com os partidos, com os movimentos sociais, com governadores e prefeitos.

Lula pode até conseguir algumas coisas, exceto mudar instantaneamente a insatisfação popular com a economia e controlar a ação judicial contra a PTbras aberta por acionistas americanos que se sentiram roubados.

Lembra um amigo meu, que um bilionário chamado Madoff deu um gigantesco golpe em investidores americanos. Em dois anos foi julgado, condenado e preso nos Estados Unidos. Hoje, aos 80 anos, trabalha na lavanderia da prisão. Se viver mais 30 anos, sairá, mas é pouco provável. Vai ver, que o grande temor de Lula, Rousseff e demais companheiros é a lavanderia, único meio de impedir que brasileiros cometam outro suicídio politico.

* Socióloga

mlucia@sercomtel.com.br

www.maluvibar.blogspot.com.br
 

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