• Reinaldo Azevedo
  • 01 Agosto 2015


Publicado na Folha em 31/07/2015 

O "petrolão" já tem uma derivação: o "eletrolão". Com mais algumas enxadadas, novas minhocas podem brotar. Quem sabe o "estradão", "meu casão meu vidão", "saudão", "escolão", "pacão"... E quantos outros aumentativos vocês queiram rimar aí para indicar um estado que foi literalmente assaltado pelo crime e que não tem solução.

O governo desapareceu. Dilma se alimenta de algumas esperanças que, embora plausíveis, têm pouco efeito prático para ela. Pensemos em Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. A sua situação vai, por desdobramento óbvio, se agravar –afinal, é certo que será denunciado por Rodrigo Janot.

Digamos, só por hipótese, que Cunha saísse de cena. Dilma ficaria rigorosamente onde está. Seu discurso dialoga cada vez mais com os rinocerontes que batem à porta. A mais recente contribuição da presidente, todos vimos, foi anunciar que, tão logo cumpra no ProUni a meta que faz questão de não ter, pretende dobrá-la. Fez tal raciocínio especioso uma vez. Achou pouco. Repetiu-o. A claque aplaudiu.

Em todas as outras crises, antes ou depois de 1964, sempre houve ao menos com quem conversar. Quando a conversa falhou... Conversar sobre o quê? Não precisa ser sobre um arranjo de compadres, táticas ou estratégias para conter as investigações ou conchavos, conluios e conspiratas. Há, é evidente, um núcleo de interesses que não diz respeito ao governo ou à oposição, mas ao país. Até Lula, apesar dos discursos rombudos, mantinha interlocutores.

Desta feita, não há ninguém, o que decorre também das escolhas feitas pela presidente para cuidar da política. O vice, Michel Temer, reconheça-se, até que tenta esfriar a crise com falas moderadas, ensaiando a constituição de um núcleo de governabilidade no Congresso, mas a realidade insiste em atropelá-lo. Eis aí o "eletrolão" tomando vulto, com todos os elementos necessários para causar um curto-circuito também no PMDB.

Até João Santana, competentíssimo na sua área, mostra que se deixou contaminar pelo clima de bunker sitiado. O ator que vai conduzir o programa do partido na TV, no dia 6, é uma espécie de "hater" profissional, que sempre escolheu com os críticos do governo, nos embates nas redes sociais, as armas da agressão verbal e da desqualificação. Na prática, Dilma e o PT vão convocar o megaprotesto do dia 16.

Esse costuma ser o fim de governos em crise. Mas estamos apenas no começo. É o colapso do petismo. Não sobrou ninguém nem para acender a luz.
 

 


 

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  • Carlos Newton
  • 31 Julho 2015


Está chegando ao final um dos maiores mistérios da República. Os autos do Mandado de Segurança 20895, impetrado pelo repórter Thiago Herdy e por O Globo já estão conclusos desde 27 de março, na mesa do ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal de Justiça, para que mande cumprir o acórdão da 1ª Seção da corte, que autorizou o acesso aos dados do cartão corporativo do governo federal usado pela ex-chefe da representação da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha.

O tribunal acolheu pedido feito pela rede de jornais Infoglobo e pelo jornalista Thiago Herdy Lana para terem acesso aos gastos, com as discriminações de tipo, data, valor das transações e CNPJ/razão social.

TÓRRIDA PAIXÃO
Como se sabe, desde a década de 1990, quando se conheceram no Sindicato dos Bancários de São Paulo, numa reunião conduzida pelo dirigente sindical João Vaccari Neto, Rosemary era concubina do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2003, ao assumir o poder, Lula trouxe a companheira para perto de si, nomeando-a para o importante cargo de chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. E o romance prosseguiu, com o presidente usufruindo da companhia de Rose em 32 viagens internacionais que tiveram a ausência da primeira-dama.
Tudo continua bem, até que novembro de 2012, já no governo Dilma Rousseff, Rose acabou envolvida na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que investigou venda de pareceres técnicos para liberação de obras favorecendo empresas privadas, foi imediatamente demitida e está respondendo a processo.

DILMA USOU ROSE
Desde 2013, já rolava na Justiça o mandado de segurança apresentado pelo repórter Thiago Herdy e pelo O Globo para quebrar o sigilo dos gastos do cartão de Rose, sob argumento de que o acesso a documentos administrativos tem status de direito fundamental, consagrado na Constituição Federal e em legislação infraconstitucional.
Em 2014, quando cresceu no PT o movimento "VOLTA, lula", para que o ex-presidente Lula fosse candidato, Dilma Rousseff resistiu e NÃO quis abrir mão da candidatura. Lula insistiu e ela então "lançou sobre a mesa a cartada decisiva", AMEAÇANDO DIVULGAR OS ABSURDOS GASTOS DE "ROSE" NO CARTÃO CORPORATIVO DA PRESIDÊNCIA, que se tornariam um escândalo capaz de destruir a campanha eleitoral do PT, Lula foi obrigado a recuar (COBRA ENGOLINDO COBRA!). Mui amiga ...

DIREITO LÍQUIDO E CERTO
Para o relator do caso no STJ, ministro Napoleão Nunes Maia Filho, a recusa de fornecer os documentos e as informações a respeito dos gastos efetuados com o cartão corporativo, com o detalhamento solicitado, constitui violação ilegal do direito líquido e certo da empresa e do jornalista de terem acesso à informação de interesse coletivo, assegurado pela Constituição e regulamentado pela Lei 12.527/11 (Lei de Acesso à Informação).

“Inexiste justificativa para manter em sigilo as informações solicitadas, pois não se evidencia que a publicidade de tais questões atente contra a segurança do presidente e vice-presidente da República ou de suas famílias, e nem isso ficou evidenciado nas informações da Secretaria de Comunicação”, afirmou em seu parecer.
“A divulgação dessas informações seguramente contribui para evitar episódios lesivos e prejudicantes; também nessa matéria tem aplicação a parêmia consagrada pela secular sabedoria do povo, segundo a qual é melhor prevenir do que remediar”, concluiu o ministro, que vai mandar cumprir a sentença do STJ.

O PT VAI ÀS COMPRAS
Segundo o jornalista Cláudio Humberto, do site Diário do Poder, nos governos petistas de Lula e Dilma, de 2003 a 2015, os gastos com cartões corporativos já somaram R$ 615 milhões, o que significa mais de R$ 51 milhões por ano, enquanto em 2002, último ano do governo FHC, a conta dos cartões foi de R$ 3 milhões.

Cerca de 95% dessas despesas são “secretas”, por decisão do então presidente Lula, que alegou “segurança do Estado”, após o escândalo de ministros usando essa forma de pagamento em gastos extravagantes, como pagar tapiocas, resorts de luxo, jantares, cabelereira, aluguel de carro, etc.

Humberto diz que a anarquia chegou ao ponto de um alto funcionário do Ministério das Comunicações quitar duas mesas de sinuca usando o cartão, enquanto em São Bernardo, seguranças da família do então presidente Lula pagavam equipamentos de musculação com cartão corporativo e compraram R$ 55 mil em material de construção para a filha dele, Lurian.

Quando o sigilo for quebrado, esta nação vai estremecer. Será divertido, podem esperar.
 

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  • Antônio Augusto Mayer dos Santos
  • 31 Julho 2015


Nove governos autoritários. Três períodos ditatoriais. Seis dissoluções do Congresso Nacional. Vinte rebeliões militares. Doze estados de sítio. Sete Constituições. Três renúncias. Um impeachment. Dezenas de cassações, desaparecimentos e exílios. Aniquilamento de direitos, universidades e partidos políticos. Três presidentes impedidos de tomar posse e cinco depostos. Nos últimos 85 anos, entre os civis eleitos diretamente, apenas três concluíram os seus mandatos.

Eis algumas aberrações do presidencialismo absolutista brasileiro. O saldo do sistema que jamais proporcionou uma estabilidade institucional prolongada ao país é vergonhoso. Evidentemente que não é possível atribuir-lhe todos os tropeços. Nem aos propagandistas republicanos. Antes pelo contrário. O Manifesto de 1870 calcou a sua argumentação no governo de gabinete. O positivismo de Comte é que veio na garupa do golpe que baniu a monarquia e desvirtuou a proposta. Deu nisso que tem dado.

Não se diga que nos países parlamentaristas não ocorrem crises ou que não haja corrupção, desmandos e inflação.

Há sim. A diferença é que neles a legitimidade e credibilidade para o exercício do poder são mais bem preservadas. Funciona assim porque primeiros-ministros lideram governos executando diretrizes amplamente respaldadas e presidentes ou monarcas representam Estados sem teias partidárias. A autonomia nas funções, além de impedir a concentração de domínios que caracteriza o presidencialismo, valoriza a atividade fiscalizatória do Legislativo. Enquanto nos governos de gabinete os equívocos são defenestrados pela moção de desconfiança, nos presidencialistas o país tem que aturar a desidratação do mandato de quem venceu a eleição até que a próxima se realize.

Na essência, o modelo presidencial instiga a rivalidade entre poderes e o parlamentarista promove integração. Aquele depende de alianças vacilantes, o outro se assenta em maiorias estáveis. Contudo, a vantagem mais eloquente do parlamentarismo é possibilitar que os governos considerados bons durem o tempo necessário e os duvidosos terminem antes do prazo. Melhor para o povo. Parlamentarismo para o Brasil.


*Advogado
 

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  • Estadão - editorial
  • 28 Julho 2015

É preciso acabar de uma vez por todas com a lenda segundo a qual a presidente Dilma Rousseff enfrenta imensas dificuldades políticas porque não é afeita ao varejo das negociações com o Congresso e porque ela tampouco se anima a se expor aos eleitores em busca de popularidade. O desastre de sua presidência não resulta dessas características, e sim de sua incontestável incapacidade de diagnosticar os problemas do País e de ministrar-lhes os remédios adequados. A esta altura, a maioria absoluta dos brasileiros, de todas as classes sociais, já se deu conta de que o problema de Dilma não é sua reclusão ou sua ojeriza aos políticos, mas simplesmente sua incompetência. Prometeram-lhes uma “gerentona” e lhes entregaram uma estagiária.

Portanto, tende a ser inútil a mais nova ofensiva de comunicação planejada pela assessoria da presidente com o objetivo de reverter o mau humor do País em relação ao governo petista. Inútil porque, enquanto se tenta mostrar uma Dilma mais “humana”, que é o que pretendem os marqueteiros do Planalto, conforme revelado em recente reportagem do Estado, os problemas concretos que resultam de sua má gestão continuarão a assombrar os brasileiros na vida real, especialmente o desemprego, a queda da renda e a inflação.

A mudança na comunicação de Dilma é tratada como questão de urgência urgentíssima, pois a pressão sobre a presidente é intensa. Estão programadas para o dia 16 de agosto manifestações que, a julgar pela pronunciada queda de popularidade da presidente, devem ter grande afluência e visibilidade. Além disso, crescem as suspeitas de que as falcatruas constatadas pela Operação Lava Jato podem ter ajudado a irrigar as campanhas eleitorais petistas, inclusive a de Dilma. E há também a percepção de que a irresponsabilidade fiscal da presidente ao longo de seu primeiro mandato, maquiada por truques contábeis, pode resultar em um processo que comprometa de vez o seu mandato. Tudo isso se dá em meio à certeza de que sua base no Congresso é apenas nominal, não representando nenhuma garantia de sustentação, especialmente em meio ao azedume da opinião pública nacional com o espantoso escândalo de corrupção na Petrobrás e com o desastre na economia.

Anuncia-se que o novo arsenal de comunicação de Dilma incluirá a participação da presidente em programas populares de TV e também a criação de um site chamado Dialoga Brasil, em que ministros responderão a dúvidas, sugestões e críticas dos internautas sobre programas do governo. Além disso, Dilma pretende fazer um giro por cidades do Nordeste com a difícil missão de tentar demonstrar que ainda tem popularidade – ela teve expressiva votação na região na eleição de 2014, mas mesmo lá, segundo as últimas pesquisas, a desaprovação a seu governo disparou.

As recentes tentativas de Dilma para melhorar sua imagem foram feitas a partir de iniciativas pessoais, com resultados embaraçosos – ela chegou a saudar a mandioca e a elogiar a “mulher sapiens” em um discurso. Além disso, ao dizer que defenderia seu mandato “com unhas e dentes”, Dilma trouxe o tema do impeachment definitivamente para a pauta política. Até os áulicos da presidente consideraram essas manifestações desastrosas.

Agora, porém, a mobilização do Planalto parece se dar de acordo com as diretrizes de seu padrinho, o ex-presidente Lula, que várias vezes cobrou de Dilma que viajasse mais pelo País e encostasse “a cabeça no ombro do povo” para ouvir suas queixas. Lula também pretende viajar pelo Nordeste e convencer os movimentos sociais a se mobilizar na defesa de sua afilhada. A estratégia para “vender” um governo ativo, com uma “agenda positiva”, foi combinada por Lula com Dilma em um encontro no Alvorada na semana passada, segundo o jornal O Globo.

Dilma, Lula e os petistas agarram-se assim à crença de que basta melhorar a comunicação com os eleitores para que esse combalido governo comece a respirar e a dar a volta por cima. De fato, a atividade política é baseada em imagem, marketing e slogans, mas, como mostram as agruras de Dilma, só isso não é suficiente: se a embalagem do produto vendido estiver vazia, o consumidor se sentirá enganado e não tornará a comprá-lo. eu não votei nela pois não conseguiu nem continuar com uma loja de 199,0 como vai governar o brasil e acaba tirando direitos do povo brasileiro tem que diminuir 12 ministerios ou mais ai economizara muito e tambem cancelar cartoes corporativos
 

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  • Rodrigo Constantino, em Veja
  • 28 Julho 2015

Caro ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,

Fico sabendo, pela Folha, que antes Lula e agora Dilma estariam dispostos a “conversar” com o senhor sobre o impeachment, ou seja, traduzindo para os leigos: eles teriam interesse em algum tipo de “acordão” para evitar um eventual processo de impedimento da presidente. O senhor já aproveitou seu espaço nos jornais para transmitir a mensagem de que considera o impeachment um último recurso muito traumático para a democracia, e que não enxerga, ainda, motivos para seguir nessa linha. Suas colocações atiçaram as esperanças dos líderes petistas de um pacto com o PSDB.

“Em todos os países democráticos é natural que ex-presidentes conversem e, muitas vezes, que sejam chamados pelos presidentes em exercício. Essa é uma prática comum nos Estados Unidos, por exemplo”, afirmou o ministro Edinho Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto. “Vejo com bons olhos a possibilidade de diálogo entre Fernando Henrique e Lula, como vejo com naturalidade que o mesmo aconteça com a presidenta”, concluiu. Mas nós, brasileiros indignados, aqueles quase 70% que rejeitam o governo Dilma, não vemos com bons olhos essa aproximação.

Serei franco na largada, caro FH: tenho sentimentos ambíguos em relação à sua pessoa. Do seu passado mais distante, como intelectual, nem preciso dizer que tenho aversão. Mas acho que até você já andou reconhecendo que deveríamos esquecer muito do que escrevera naqueles tempos, não é mesmo? Teoria da Dependência? Quanta baboseira terceiromundista! Coisa de um Marco Aurélio Garcia da vida. Depois o senhor evoluiu, virou um social-democrata mais esclarecido, mas ainda estava lá o ranço de socialista fabiano, que nunca o abandonou por completo.

Já como ex-presidente tenho coisas boas e ruins a falar. Menos por convicção ideológica e mais por necessidade, o fato é que importantes reformas foram feitas durante o seu governo. Privatizações importantes ocorreram, a Lei de Responsabilidade Fiscal passou, o Plano Real venceu a hiperinflação e o Banco Central teve autonomia para perseguir a meta de inflação. O câmbio passou a flutuar, após nossas reservas se esvaírem quase completamente. Ou seja, o senhor teve algum mérito na criação do “tripé macroeconômico”.

Por outro lado, e por conta daquele ranço socialista, várias medidas “sociais” tiveram começo no seu governo. Cotas raciais, por exemplo, um absurdo que segrega a população brasileira com base na cor. As bolsas-esmolas, que o PT unificou e transformou no maior esquema de compra de votos já visto na República. O MST, que continuou recebendo verbas públicas para desrespeitar as leis com suas invasões inaceitáveis. Enfim, o senhor foi um legítimo presidente de esquerda, apesar de ser “acusado” de “neoliberal” pela esquerda mais jurássica e pérfida.

E essa esquerda é justamente o PT. Como o PT o demonizou, presidente! Fez sua caveira perante a opinião pública, com o conluio dos “jornalistas” da esquerda radical. Devido ao fato de os tucanos serem um tanto pusilânimes e também não terem convicção liberal alguma, não souberam defender o seu legado. Teve que vir um liberal como eu para escrever Privatize Já, livro em que mostro como as suas privatizações fizeram bem ao país. Os tucanos ficavam na defensiva, tentando se desvencilhar da pecha de “privatistas” ou “neoliberais”. Veja só que coisa, presidente!

Sua postura, tomo a liberdade de dizer, fez muito mal ao país, em termos pedagógicos. Os leigos não compreenderam a relevância das reformas de cunho liberal feitas em sua gestão, e ainda ficaram com a nítida impressão de que direita significa PSDB, o que eu e você sabemos ser ridículo. O senhor se identifica mais com Thatcher ou Tony Blair? Com Reagan ou Clinton? Nós sabemos a resposta, mas muitos, influenciados pelo PT, não. E eis que direita, no Brasil, passou a ser associada aos tucanos de esquerda.

Mas como “oposição” a uma outra esquerda, bem mais radical e que não joga nas regras do jogo, o senhor tem uma responsabilidade, um dever moral para com o Brasil. Muitos já atribuem ao seu esforço a tática tucana de não pressionar pelo impeachment de Lula durante o mensalão. Não sei até que ponto isso é verdade, mas veja, presidente, o mal que isso fez ao Brasil. Imagine se Lula tivesse sido exposto naquele ano de 2005: como as coisas estariam melhores hoje! Mas o PSDB optou pela estratégia de “deixar o homem sangrar”. Bem, como Jason, do Sexta-Freira 13, o populista-mor ressuscitou e ainda emplacou depois sua criatura por duas vezes, contra os seus companheiros tucanos.

Deixe-me lhe dizer uma coisa, presidente: traumático para a nossa democracia não é o impeachament, mas a manutenção do PT no poder! Entenda isso de uma vez por todas. Sei que, apesar de tudo que o PT já fez com o senhor, você ainda tem, lá no fundo, uma admiração pela trajetória do metalúrgico, do sindicalista oportunista. O senhor enxerga com bons olhos essa trajetória, pois tem alma de esquerdista, e ainda valoriza mais a classe do que o mérito individual. Lula veio de baixo, é verdade, mas como chegou no topo? De forma honesta, legítima? Ou como um populista safado?

Não vem mais ao caso. O fato é que milhões de brasileiros já sabem que Lula é um oportunista, um populista autoritário, e que seu PT precisa ser colocado para fora do governo o mais rápido possível, se desejamos preservar nossa democracia. Os brasileiros estão revoltados, presidente. Cansados demais. Inclusive da postura acovardada de muitos tucanos. Por que o senhor acha que Jair Bolsonaro teve 5% de intenções de voto para presidente na recente pesquisa da CNT, que mostrou apoio de somente 7,7% à Dilma? Por que o senhor acha que Aécio Neves só teve chances mesmo quando começou a subir o tom, a enfrentar o PT com mais determinação, a apontar para seu relacionamento obscuro com Cuba?

Sei que seu partido está rachado, que há uma ala mais jovem que quer partir para o enfrentamento, para a briga, e que uma ala mais velha pretende manter a “cautela”, o “diálogo”. Mas presidente, dá para dialogar com o PT? É possível “conversar” com gente do Foro de São Paulo, que apóia o Maduro na Venezuela? Dá para trocar ideias com quem apela para os golpes mais baixos nas campanhas? O PT cospe diariamente nos tucanos, e os tucanos vão se curvar diante dos petistas agora, justo quando a população está de saco cheio do partido, inclusive do ex-presidente Lula?

Seria uma decisão mortal para o PSDB, presidente. Seria o atestado de óbito do partido, que nunca soube bem como ser oposição ao PT. Se o PSDB afrouxar agora, se os tucanos permitirem uma aproximação com Lula e Dilma em prol da “governabilidade” até 2018, tirando o impeachment do caminho, ninguém mais levará o PSDB a sério. Se é para ser essa esquerda podre, já tem o PT. E se é para ser oposição a essa esquerda podre, agindo assim, o PSDB não terá utilidade, e Bolsonaro ou Ronaldo Caiado vão absorver sozinhos toda a revolta popular.

O Brasil precisa, urgentemente, de um partido realmente liberal e outro realmente conservador, de direita. Claro que o PSDB não tem nada com isso, pois é, como já disse, de esquerda, social-democrata. Mas numa democracia madura, há um espaço legítimo para tal esquerda. Que o PSDB ocupe tal espaço, e não os golpistas do PT, é o que as pessoas decentes e esclarecidas esperam. Mas, para tanto, o PSDB terá de agir com firmeza contra a outra esquerda, a carnívora, a jurássica, representada pelo PT e seus auxiliares, como o PSOL.

Recusar de forma peremptória qualquer aproximação ou acordo nesse momento com os golpistas do PT é condição sine qua non para preservar o PSDB no papel de ícone da esquerda democrática brasileira. Se os tucanos não compreenderem o momento em que o Brasil vive e acenarem com um acordo para impedir o impedimento de Dilma, então terá o mesmo destino do próprio PT: a extinção. E terei prazer, se isso acontecer, em ser um dos que jogarão a pá de cal. Mas tenho esperanças de que isso não será necessário. Conto com sua sabedoria, presidente!

Rodrigo Constantino

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  • David Coimbra
  • 27 Julho 2015

(ZH, 27 de julho de 2015)

Lula acha que os governos do PT são criticados e que a popularidade de Dilma é de apenas 7% porque graças a ele, Lula, os pobres agora viajam de avião e comem em restaurantes.

Sério, ele pensa isso.

Sua frase, durante um discurso para 200 pessoas no ABC paulista, no fim de semana, foi a seguinte:

"Eu ando de saco cheio. Tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa neste país".

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É estranho. Jurava que a elite amava Lula. Afinal, vejamos:

1. Nunca na história deste país, os banqueiros obtiveram tantos lucros como nos governos do PT;

2. A elite política, representada por Maluf, Sarney, Calheiros, Temer, entre outros, sempre esteve fechada com Lula. Um de seus aliados, Fernando Collor, inclusive, pôde montar uma linda coleção de carros de playboy durante as administrações petistas;

3. Empresários emergentes, como Eike Batista, emergiram de vez graças a generosos empréstimos do BNDES, mesmo que depois tenham submergido;

4. Há vários amigos próximos de Lula morando atualmente no Paraná, todos com sobrenomes famosos, como Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Um deles até o apelidou, carinhosamente, de "Brahma".

Esses é que são a elite do Brasil. A elite do Brasil mora em tríplex, como Lula. Roda em Maseratis, como Collor. Tem contas na Suíça, como Odebrecht. Assalariados, como eu e a maioria dos meus amigos, não pertencemos à elite. Mas Lula quer dizer que sim. Quer dizer que eu, filho de professora primária e neto de sapateiro, que sustento minha família com meu salário, amigo de aposentados que ganham mil reais por mês, de funcionários públicos que pagam aluguel, de jornalistas que andam de ônibus, Lula quer dizer que eu e toda essa gente que sofre com o desconto do Imposto de Renda, com a falta de água e de luz a cada chuva, com as ruas esburacadas, com os assaltos, com a educação deficiente, com os hospitais lotados e com o preço do tomate, Lula quer dizer que nós somos da elite?

Não somos, Lula. E tampouco nos importamos, eu e todas, absolutamente todas as pessoas que conheço, com pobres que frequentem restaurantes ou aeroportos. Nos importamos é com um país em que os assalariados pagam imposto para ter segurança, saúde e educação públicas e, ao mesmo tempo, pagam por segurança, saúde e educação privadas. Nos importamos é com um país que coloca presos em masmorras medievais, um país em que 60 mil pessoas são assassinadas e outras 50 mil morrem em acidentes de trânsito a cada ano, um país em que são gastos bilhões para construção de estádios em lugares onde praticamente não existe futebol, um país que tem sua principal estatal sangrada em bilhões de dólares pela navalha da corrupção. É com isso que nos importamos, nós, que você chama de elite perversa. Nós, elite perversa? Não. Elite perversa são seus amigos magnatas que o levam para passear de jato fretado, são seus intelectuais apaniguados, seus jornalistas financiados, seus donos de blogs comprados, seus parlamentares cooptados. Você, Lula, e os parasitas dos trabalhadores do Brasil, vocês são a elite perversa.

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