• Luis Milman
  • 22 Julho 2015

Todos os que defendem a manutenção da maioridade penal em 18 anos são forçados a admitir que o Estatuto da Criança e do Adolescente, que agora comemora 25 anos, é, no melhor dos casos, uma bela peça sociojurídica. Mas é uma peça de ficção, como outras tantas produzidas em gabinetes e que não passaram no teste da realidade. A defesa da sua manutenção, tal como está, consagra um pensamento vicioso, porque é forçado a reconhecer que o estado fracassou na administração do sistema penitenciário, que é um desastre na condução do ensino público, que inexiste na produção de condições mais dignas para quem vive nas periferias das cidades e que não tem soluções para enfrentar os alarmantes níveis de criminalidade. Afinal, todas estas constatações foram e são feitas por aqueles mesmos que tentam impedir, a qualquer custo, que seja votada a PEC da redução da maioridade penal no Congresso. Mais significativo ainda é o fato de que o reconhecimento dessa sucessão de fracassos sustente o argumento dos governistas que desejam manter o status quo e que há quase 13 anos administram o país. Os seus porta-vozes permanecem apegados a escapismos e a fantasias sobre a personalidade abstrata de pessoas com menos de 18 anos que cometem crimes graves. O assunto permanece na pauta do Congresso, mas ao histrionismo vitimista, contra todas as evidências, continua a mostrar como as esquerdas no Brasil, em estado cognitivo-dissociativo, são capazes de violentar o bom senso.

Por despreparo e má fé, os esquerdistas manipulam abstrações enquanto ignoram a realidade. A abstração sempre foi inimiga do realismo e da prudência. Ela não é a generalização a partir dos dados da experiência, nem a formulação de hipóteses sobre regularidades constatáveis estatisticamente. Abstrações são sistemas fechados de ideias, alguns meramente esquemáticos, outros aparentemente mais elaborados, mais ideológicos, que são impostos ao real e que, em muitos casos, conflitam com ele. Como sempre há discrepância entre o ideal abstrato e os dados empíricos, o abstracionista tende ou a abrir mão dos dados, ou a ignorá-los ou mesmo a falsificá-los, para preservar a coerência interna do sistema abstrato no qual acredita. Cito dois exemplos de abstracionismo clássicos: o primeiro, no qual Marx falsificou os dados dos cadernos azuis de Gladstone, sobre a condição de renda dos trabalhadores ingleses para provar que a rende média dos operários ingleses, ao contrário do que os dados permitiam afirmar, crecia na Inglaterra. O segundo é sobre o paleontólogo inglês Charles D. Walcot, diretor do Smithsonian Institut, a maior organização de museus e curadores de sua época, no início do século XX. Walcot descobriu , no platô de Burgess Pass, Canadá, cerca de 60 mil fósseis do período Cambriano (550 a 450 milhões de anos). A descoberta desafiava o estado da arte darwiniano e também a mente de Walcot e, por isso os fósseis coletados foram mantidos em segredo, nos porões do Smithsonian Museum por oito anos, porque Walcot via nos fósseis das rochosas de Burgess Pass a negação da teoria randômica da evolução de Darwin. Por isso, a coerência, tomada isoladamente, ou seja, desconectada da realidade, é sinal de uma patologia nada incomum, a dissonância cognitiva, ou seja, o desejo humano inerente de ignorar fatos desagradáveis para preservar ideias já consolidadas na mente. Disso resulta, na atividade racional, uma violência cometida sobre os fatos, imposta por uma racionalidade deformada que, no campo da ciência e da política, pode terminar em desastre.

Neste tema da maioridade penal, é evidente que, para qualquer padrão sensato de avaliação, menores de 18 anos que cometem crimes possuem capacidade de discernimento moral. Eles fazem escolhas conscientes e sabem o que é legalmente permitido. Essa é a regra no plano psicológico. Nesta faixa etária, todos sabemos o que fazemos e os criminosos não são levados para fora da lei por algum tipo de heteronomia social ou econômica, por uma condição de classe, raça ou de cor, como apregoa o esquerdismo abstracionista. A imensa maioria das pessoas de qualquer idade, de todas as classes sociais, enfrenta as dificuldades da vida dentro de parâmetros estritos de normatividade, quer praticando-os estritamente, quer observado-os como limites de possibilidade de convivência na sociedade. Esta realidade, como não pode ser negada pelo abstracionista, é interpretada de modo distorcida, como prova de que as pessoas em geral não se rebelam como deveriam contra as injustiças sociais, que elas são mantidas em estado de domesticação pela hegemonia exercida pela classe dominante. Muitos abstracionistas escreveram sobre isto nestes termos. Muitos também sustentaram que a revolução e a rebeldia são expressões de uma revolta contra condições permanentes de opressão. E que o crime, ao fim e ao cabo, é uma forma de resistência do oprimido.

Uma vitória do esquerdismo abstracionista no campo dos argumentos para a manutenção da maioridade penal em 18 anos representa uma derrota da razão reta na compreensão das condições que levam um indivíduo a praticar crimes violentos, independentemente da sua idade, em situações psicológicas, morais, culturais ou sociais dadas. O esquerdismo reduz estas situações ao determinismo vitimista: a culpa jamais é do autor do crime, ainda mais se se tratar de um jovem; ela - a culpa- é distribuída pela sociedade, está determinada pela sociedade que o produziu e que deve, esta sim, ser reformada, mesmo que no plano idealizado.

Para o abstracionista, diga-se, esta sociedade, até mesmo já existe conceitualmente, mas não pode ser realizada porque as forças da reação, os conservadores, os exploradores do trabalho e da psicologia das massas defendem seus interesses por meio de instituições opressoras, como a lei que pune vítimas sociais que optam pela marginalidade. Abstracionistas sequer são capazes de fazer uma discussão equilibrada sobre as razões da existência dos alarmantes índices do crime no Brasil e sobre a disfuncionalidade abjeta das penas na nossa sociedade, do sistema de progressão de regime prisional, do crime sistêmico que enlaça tráfico de drogas e roubo e dos fatores que levam à reincidência. Quando falam sobre o assunto, recaem na ladainha das desigualdades e injustiça sociais. Põem-se a teorizar sobre direitos vagos à ressocialização não-punitiva, sem, ao menos, exigir do estado que faça os necessários investimentos em prisões e na sua administração, que hoje existem como antros dominados por grupos criminosos organizados. Parecem ignorar que o Brasil, depois de áreas de conflito e guerras civis, é o país onde mais se mata no mundo, com uma marca de 60 mil assassinatos por ano.

O esquerdismo mostra, também neste assunto, que é a infantilização dissonante da razão. Mas a Câmara dos deputados parece não estar se intimidando com o ataque colérico dos abstracionistas. A vontade esmagadora em favor da mudança na Constituição, que permitirá a nova norma, ao que tudo indica, tem todas as chances de prosperar no Congresso. Caminhamos, com isto, para resolver, não por óbvio, todos os problemas da criminalidade endêmica no Brasil, mas uma situação de anomalia de impunidade que existe na relação entre o estado e aqueles que praticam crimes repulsivos em quaisquer faixas etárias.


Nem sempre, é claro, o abstracionismo da esquerda determina as decisões políticas no Brasil e, mais ainda, termina vencedor em disputas parlamentares. A vitória da primeira votação da PEC que instituiu a idade penal para maiores de 16 anos (falta mais um turno na Câmara e dois no Senado), em caso de crimes graves que atentam contra a vida (PEC mitigada com relação a primeira, que foi rejeitada) nos força a reconhecer que o bom senso e o componente realista estão pautando as decisões da maior parte dos deputados federais. E isto em que pese o desproporcional empenho do governo e das esquerdas em derrotar a emenda que altera a constituição. Viu-se – e ainda se vê- nesta queda de braço entre os realistas, que contam com o apoio de mais de 85 por cento da população brasileira, segundo as pesquisas, e os abstracionistas, que contam com eles mesmos e com uma legião de ONGs sustentadas pelo estado para atuarem nas áreas de assistência a jovens criminosos, que a força dos argumentos tem sido, pelo menos até aqui, mais efetiva que a força da delinquência política orientada pela dissonância cognitiva dos esquerdistas.


O governo investiu pesadamente na tentativa de desmoralizar os defensores da PEC – a começar pela campanha de difamação contra o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara – que diminuiu, em votação de primeiro turno, a idade penal. Uma reflexão sobre o empenho governista, ainda mais em se tratando do Partido dos Trabalhadores e da esquerda que é satelizada por ele, revela que não está em jogo, nesta disputa entre os que querem diminuir a idade para a responsabilização de crimes e os que querem mantê-la tal como é hoje, apenas questões fáticas ou doutrinárias específicas. As esquerdas defendem, com suas posições, um status quo sistêmico, regado a bilhões de reais que saem dos cofres públicos para abastecer ONGs e uma burocracia de assistência aos menores de idade infratores que, com a aprovação definitiva da PEC, simplesmente deixaria de ter razão de existir.


É desnecessário ser exaustivo neste ponto, mas um ou dois comentários devem ser feitos. O Estatuto da Criança e do Adolescente, que, tal como é hoje, será remetido para a lixeira da história, caso a PEC votada em primeiro turno venha a ser confirmada mais uma vez na Câmara e, depois, no Senado. O ECA vem sustentando a existência de uma rede assistencialista e ineficaz para menores criminosos, onde operam desde promotores de justiça, assistentes sociais e psicólogos a ONGs financiadas por dinheiro público. Este aparato é, como sabemos, caro e injustificável, porque a criminalidade entre os jovens só faz aumentar. Pelas estatísticas disponíveis ao Ministério Público de São Paulo, entre 15 e 30 por cento dos crimes violentos naquele estado são cometidos por jovens na faixa de 15 a 18 anos. O ponto, aqui, é que não há estatísticas mais precisas para todo o país, o que, por si só, já demonstra a inconsequência com que o assunto é tratado pelas autoridades de segurança em nível nacional. Com base nos dados de que dispomos, se contarmos apenas os homicídios, e considerarmos que 10 por cento dos crimes contra a vida são praticados por menores, isto significa que das 55 mil vítimas anuais destes crimes no Brasil, no mínimo 5,5 mil deles são cometidos por menores de 18 anos.


O número é alarmante e, só por ele, já estaria justificada a redução da responsabilização criminal. Já vi, por ouro lado, defensores da manutenção da maioridade penal em 18 anos governistas e nefelibatas afirmarem que apenas 1 (um) por cento dos homicídios cometidos no Brasil são de autoria de menores de 16 anos, sem apresentarem qualquer fonte para estes dados. Bem, a afirmativa é ridícula, por dois motivos: primeiro, porque apenas 8 (oito) por cento dos homicídios praticados no país são esclarecidos, segundo dados do próprio Ministério da Justiça. Assim, como podemos saber se dos 92 por cento restantes, apenas 1 (um) por cento é praticado por menores? E, segundo, ainda que fosse apenas 1 (um) por cento o número de homicidas juvenis, porque não se aplicar a estes as penas comuns?


Os bandidos juvenis fazem parte daqueles grupos sociais mais marginalizados da população, é verdade. Mas o número de homicidas e ladrões violentos entre eles demonstra que vivemos numa sociedade em que a carga dissuasória para o cometimento de crimes é baixa, ou seja, que o caráter preventivo da pena é ineficaz e que é urgente elaborarmos, no plano da repressão (a mudança da lei) e do ensino formal -os dois eixos de estruturação de uma política de combate à violência – uma estratégia capaz de ser efetiva com relação ao combate à crescente criminalidade juvenil. Outro detalhe importante: em sua grande maioria, são os menores mais pobres que cometem crimes graves, mas, também, é a população mais pobre que é sua vítima.


A questão, assim, se resume ao que fazer com os menores delinquentes. O número devastador de criminosos juvenis, sempre encoberto por estatísticas inexatas e pela retórica abstracionista, afasta, na realidade, qualquer interpretação leniente do problema da criminalidade no país. O que a realidade nos mostra, aquilo que todos sabemos, tanto pelas informações contínuas, embora desconectadas, que recebemos, como pela certeza de insegurança constante em que vivemos, é que a criminalidade, nos níveis atuais, é assustadora. Para os abstracionistas, como já escrevi, estes assassinos juvenis devem ser tratados como incapazes e submeterem-se apenas a uma tutela socioeducativa do estado, que, depois de, no máximo três anos, se esgota e os libera para a vida social, independentemente da gravidade do crime que cometeram. Isto não é pena, é terapia e das piores, porque grande parte dos criminosos que são submetidos a ela, volta a praticar crimes depois dos 18 anos. Já para os realistas, que apoiam a redução da maioridade penal, estes criminosos devem sofrer as sanções da mesma lei válida para adultos, como forma de punição. Não nos esqueçamos que a punição retributiva é uma função central da aplicação da lei criminal. E mais, que somente no curso do cumprimento da pena, os criminosos juvenis possam, como os demais apenados, tentar se reinserir na sociedade. A prisão, mesmo nos países mais avançados no mundo, não é, certamente, a melhor das escolas. Mas, se administrada com controles rígidos e eficazes, pode, sim, ajudar na ressocialização, dependendo da disposição do apenado, ainda mais se levarmos em conta que, no Brasil, o mais abjeto assassino ou estuprador tem direito, depois de condenado, a regimes progressivos de pena, de fachado à semi-aberto, de semi-aberto à aberto. Ou seja, ninguém, excetuando-se, os sociopatas reincidentes, cumpre a totalidade de sua pena em reclusão.


Pode-se argumentar, mais uma vez ao estilo abstracionista, que as prisões brasileiras são precárias, que jovens criminosos serão simplesmente misturados a adultos criminosos em cadeias superlotadas, controladas por facções criminosas. Mas isto é desenvolver um argumento falacioso: a mudança de assunto. Mudamos de assunto quando dizemos que os governos que se sucedem, em nível estadual e federal, são incompetentes e insensíveis para tratar com a questão prisional, uma vez que não é disso que se trata quando propomos uma análise sobre a questão penal. A discussão da penalização pelo crime é moral, psicológica e sociológica. A implementação da pena é administrativa. Se o estado fracassa no âmbito administrativo, isto não pode servir de argumento para precarizar a aplicação da lei penal, porque, desta forma, estaríamos simplesmente, comprometendo a forma lúcida de compreender o problema, a saber: é a correta e exigida aplicação da pena que demanda (a) mais prisões, (b) mais prisões controladas pelo estado (ou terceirizadas) e não pela criminalidade (c) mais prisões controladas nas quais, à pena de privação de liberdade, não seja agregada outra, a de humilhação compulsória.

Quanto aos jovens criminosos, que se providencie dependências prisionais adaptadas e separadas, a exemplo do que ocorre em vários outros países do mundo. O que não dá mais para tolerar é a impunidade de pessoas que mataram ou estupraram, e que pelo fato de não terem completado 18 anos ainda, sejam eximidas de responsabilidades e tratadas, pelo estado, como meras crianças disfuncionais que, depois de uma precária atenção assistencialista, podem voltar as ruas como se jamais tivessem praticado crimes graves. Elas não são crianças em nenhum sentido do termo. São jovens adultos que fizeram escolhas pelo crime. E na civilização, a punição corresponde ao crime praticado, para que seja preservada a ordem social em um de seus fundamentos: a garantia da aplicação da justiça.

Que se continue a aplicar o ECA, não o atual, mas outro, a delitos de baixo potencial ofensivo praticados por menores. Ninguém tem nada contra isso. Que se façam investimentos em educação formal em casas de ressocialização para menores que furtaram, envolveram-se com drogas e não provocaram danos irreversíveis às suas vítimas. Apenas uma mentalidade paranoide pode querer equiparar estes tipos de crimes aos crimes graves, que terminam em morte ou violência insana, como o homicídio, o latrocínio ou o estupro, que um número elevado de menores tem praticado impunemente no Brasil. Até mesmo porque grande parte de nossa juventude está entregue às drogas e uma das primeiras consequências desta realidade é a ruptura com os freios morais. Por isso, não se pode mais distorcer ideologicamente a realidade para adaptá-la a uma abstração delirante sobre as causas da criminalidade, cujo pressuposto é que os criminosos, sejam de que idade forem, são compelidos a condutas desviantes pelo, digamos assim, mundo desigual em que vivem. Este tipo de falsa racionalidade é uma abstração dissonante da realidade, mas continua sendo defendida por intelectuais da esquerda brasileira e pela mídia militante que os apoia e que faz ecoar o efeito nefasto de suas ideologias de poltrona . A realidade é que as maiores vítimas da delinquência juvenil são jovens e adultos de periferia. A verdade é que as abstrações desta natureza demonstram o quanto ainda estamos distantes de pensarmos em soluções efetivas para os nossos problemas mais urgentes.

 

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  • Rodrigo Constantino
  • 22 Julho 2015

O Globo - 21/07/2015


Uma das formas de se analisar uma sociedade é ver quem são seus heróis. Os americanos, por exemplo, têm nos “pais fundadores” grandes ícones, gente como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, John Adams e George Washington. Já o Brasil encontrou em Paulo Freire uma grande inspiração, a ponto de transformá-lo no “patrono” de nossa educação. Cada povo tem o herói que merece.

Pergunto ao leitor: já leu algum livro de Freire? É um exercício e tanto de paciência. Seu linguajar é enfadonho, diz algumas coisas um tanto óbvias de forma aparentemente profunda, que revela apenas uma mente confusa, e usa a “pedagogia” para, no fundo, pregar o marxismo radical. Foi seu grande “mérito”: levar Marx para dentro das salas de aula.
Seu ponto de vista é o dos “excluídos”, diz ele, monopolizando as virtudes e os fins nobres. Somente quem endossa seu viés “progressista” quer o bem dos mais pobres. O restante, os “neoliberais”, esses querem apenas manter o status quo, preservar um sistema opressor. São pessoas ruins. E contra eles, os “oprimidos” devem se rebelar, lutar pela utopia igualitária.

Era dada a justificativa para que professores se transformassem em militantes ideológicos, usando as salas de aula não mais para ensinar conteúdo de forma minimamente objetiva, mas para “transformar a sociedade”, para “formar novos cidadãos”, naturalmente marxistas empenhados na causa utópica, como o próprio Freire. A doutrinação ideológica ganhava ares de justiça, graças ao pedagogo marxista.

Contra o “fatalismo pragmático” dos “neoliberais”, Freire oferecia a “conscientização”, ou seja, os professores deveriam mostrar as “injustiças” do sistema capitalista, da globalização, conscientizando os alunos da necessidade de luta, de revolta contra os ricos, já que, para ele, a riqueza era fruto da exploração da pobreza, era uma “agressão” contra os desvalidos.

Postura minimamente neutra do professor, que oferece ao aluno diferentes pontos de vista, dá espaço ao contraditório, deixa o próprio jovem desenvolver um pensamento crítico e tirar suas conclusões por conta própria? Isso é uma ilusão que atende somente às elites opressoras. A prática educativa, diz Freire, é política por definição, não pode ser neutra, e por isso o professor “progressista” pode, deve levar todo seu viés para dentro de sala de aula.

Era a desculpa perfeita para militantes medíocres se tornarem “professores” e encherem a cabeça de nossa juventude com porcaria revolucionária. Hoje, os sindicatos dos professores, ligados aos partidos de extrema-esquerda, dominam o ensino público, todos inspirados em Freire. Nas aulas, o assassino Che Guevara é tratado como herói idealista, os invasores do MST como instrumentos de “justiça social”, e o lucro capitalista como exploração injusta.

“Nunca me foi possível separar em dois momentos o ensino dos conteúdos da formação ética dos educandos”, escreve ele em “Pedagogia da autonomia” (tem ainda a do oprimido, a da solidariedade, a da esperança...). O pequeno “detalhe” é o que ele entendia como “formação ética”, claro. No caso, era “formar” novos seres “conscientes” de sua situação de oprimidos, para que reagissem contra as “injustiças do sistema”. Ou seja, criar soldados comunistas!

Caso alguém ainda tenha dúvidas acerca de seus objetivos, ou pense que exagero na interpretação, deixemos o próprio explicar melhor: “Quando falo em educação como intervenção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente pretende imobilizar e manter a ordem injusta”.

Ou seja, de um lado temos os “progressistas” como ele, que querem salvar a humanidade das garras capitalistas e levar prosperidade aos mais pobres; do outro temos os “reacionários” e “neoliberais”, que pretendem apenas manter o quadro de exploração da miséria alheia. E esse “educador” virou o patrono da educação brasileira!

Deixo o comentário final com Dom Lourenço de Almeida Prado, esse sim um grande educador que o país teve, reitor por anos do prestigiado Colégio São Bento: “É uma lástima que o meio católico se tenha deixado contagiar por esse mestre equívoco da pedagogia que é Paulo Freire e por essa falsa elaboração que chama educação libertadora. Na verdade, ela nada tem de libertadora, como nada tem de pedagogia. É uma campanha política, de fundo marxista, isto é, fundada no dogma da luta de classes e na divisão da humanidade entre opressores e oprimidos”.
Rodrigo Constantino é economista

* Economista


 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 21 Julho 2015


MAROLINHA
Os leitores do Ponto Critico devem estar lembrados quando o ex-presidente Lula, em 4/10/2008, no alto de sua sabedoria, fez a seguinte apreciação sobre a crise financeira mundial: - Lá (nos EUA), a crise é um TSUNAMI ; aqui, se ela chegar, vai chegar uma MAROLINHA que não dá nem para esquiar.

DECLARAÇÃO SÁBIA
Por óbvio, e também por ter sido muito sábia, a declaração do Enlameado Lula da Silva foi muito comemorada: em forma de aplausos intermináveis, os entusiasmados puxa-sacos de plantão, que acreditam piamente em tudo que os petistas dizem foram à loucura.CRISEZINHA

Pois, ontem, como que querendo também entrar para a história das imbecilidades, foi a vez do atual vice-presidente Michel Temer se pronunciar. Diante da decisão tomada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de se tornar oposição ao governo da presidente Dilma, o vice também foi ímpar: - Na oposição ao governo Dilma, Cunha provoca apenas uma CRISEZINHA. Que tal?VÁRIAS FORÇAS

Hoje, como estamos assistindo, o Brasil vive um interminável TSUNAMI iniciado no governo Lula e aprofundado, de forma impressionante, no governo Dilma. Só que a devastação que atinge o nosso pobre país é movida por várias forças, todas com a mesma intensidade: CORRUPÇÃO, INCOMPETÊNCIA E MUITO PRAZER.

TAXA DE RETORNO
Pelos tamanho da safra que começa a ser colhida já é possível atestar que a nossa CRISE é, simplesmente, -hors concours-. Coisa assim só pode existir desde que projetada por arquitetos muito capacitados e construída por engenheiros -experts- em CAOS. Não há a menor dúvida de que a nossa CRISE é o investimento que conferiu a melhor taxa de retorno para o PT.

INVEJA DA GRÉCIA
Confesso que já estou com uma ponta de inveja da Grécia. Enquanto o parlamento grego dá demonstrações de vontade e algum interesse em tomar medidas que produzam efeitos para tornar aquele país mais viável economicamente, o Brasil, sob o comando do PT, faz o contrário: aposta tudo no crescimento da CRISE.
Assim, definitivamente, vamos entrar para história como CAMPEÃO MUNDIAL DE CONVIVÊNCIA EM CRISES PROFUNDAS. Que tal?

 www.pontocritico.com

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 20 Julho 2015



Enquanto no País escândalos, prisões, delações, embates de Poderes sacodem a vida nacional e concentram atenções e notícias, a vida no planeta continua girando e produzir alterações no modo de viver e pensar da humanidade. De algum modo essas mudanças nos atingem e, por isso, é bom prestar atenção nelas.
Saindo um pouco do Brasil veremos que fatos mundiais relevantes estão em curso e citemos apenas alguns poucos para não alongar demais o artigo:

1º - Os problemas econômicos da China, à qual nos atrelamos preferencialmente por obra e graça de Lula da Silva. 2º - O acordo nuclear do presidente Obama, apoiado por potências mundiais, com o Irã, algo perigosíssimo que pode futuramente destruir primeiro Israel, depois os Estados Unidos e, finalmente, não sobrara nada. 3º - A visita do Papa Francisco a países latino-americanos. Em todos esses fatos prepondera o fator político.

Como tenho formação católica vou me deter no Papa e seus discursos. E que tenho me perguntado: por que foi eleito pela primeira vez um Papa jesuíta e latino-americano? Comecei agora a decifrar o enigma que merecia um texto de pelo menos cinquenta páginas, mas que vou resumir ao máximo. Essa breve análise nada tem a ver com fé, mas sim com o poder temporal da Igreja Católica.

O fundador da Companhia de Jesus foi o temperamental fidalgo espanhol basco Inácio de Loyola. A Companhia foi moldada pelo padrão militar. A disciplina era férrea. Toda individualidade era suprimida e de cada um e de todos exigia-se uma obediência de soldado ao general.

As atividades dos jesuítas foram como ainda são variadíssimas. Eles trabalharam sem trégua na Inquisição, espalharam-se pelos quatro cantos do planeta, estiveram em todos os centros de decisões, fizeram da educação sua atividade mais importante, funcionaram desde o início como uma multinacional da fé. Georges Bernanos disse que “o velho sonho dos jesuítas era o de organizar a cristandade segundo o método da ditadura totalitária e da razão de Estado”. Será que eles mudaram?

Ainda no âmbito da história recordemos que foi no Novo Mundo americano que a Igreja alcançou seu maior sucesso numa época em que o Velho Mundo europeu enfrentava a Reforma. Portanto, há tempos a Igreja considera a América Latina como sua filha preferida. Nesse sentido tem toda razão Carlos Rangel quando apontou em sua obra, Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário, que “A Igreja Católica é mais responsável do que qualquer outro fator pelo que é e o que não é a América Latina”.

Quanto às nossas origens coloniais pode-se dizer usando uma expressão de Ortega y Gasset, que tivemos uma “embriogenia defeituosa”, por sua vez geradora de sociedades desiguais. Nestas, até hoje não foi, conforme Rangel, o marxismo, mas sim a teoria leninista do imperialismo e da dependência que falsamente propôs uma resposta consoladora e esquerdizante ao complexo de inferioridade crônico que a América Latina sofre em relação aos Estados Unidos. Paradoxalmente, continua grande a imigração de latino-americanos para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor.

 No momento, segundo o Instituto Pew Researh, com sede nos Estados Unidos e citado pelo The Economist, “o Paraguai (onde 89% da população é católica), o Equador (79%) e a Bolívia (77%) continuam sendo os bastiões da fé, juntamente com Colômbia e México”.

Note-se que a recente visita do Papa se deu justamente no Paraguai, no Equador e na Bolívia, sendo que neste último o Papa recebeu de Evo Morales uma cruz formada pela foice e o martelo, símbolo do comunismo, com um cristo pregado. Esdrúxula adaptação do materialismo de Marx com a espiritualidade de Cristo.

Nesta viagem, onde ficou claramente definida a política do papado, o Papa fez sua mais veemente condenação ao capitalismo. Em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, o Pontífice foi saudado por João Pedro Stédile, mentor dos sem-terra que tem visitado o Vaticano juntamente com líderes dos chamados movimentos sociais e da Teologia da Libertação. Disse Stédile diante de centenas de militantes de movimentos sociais: “Assim como o capitalismo tem Obama, nós temos o Papa Francisco”.

Mas será que essa ecclesia pauperum ou igreja dos pobres que o Papa Francisco prega, mesmo que seja em nome de um pós-marxismo, não manterá os pobres da América Latina, sempre pobres? Afinal, o socialismo, aonde quer que fosse implantado levou ao cerceamento da liberdade, à violência contra a população, à escravização completa do indivíduo, ao nivelamento por baixo na miséria enquanto a classe dirigente gozava das delícias da riqueza. Enfim, o paraíso prometido na terra tornou-se o inferno. Talvez, uma pregação mais espiritual e menos política enseje um proselitismo mais exitoso da Igreja na América Latina.

* Socióloga.

 

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  • Guilherme Fiuza
  • 19 Julho 2015

(Publicado originalmente n revista Época) 


Do alto de seus 9% de aprovação, Dilma Rousseff abriu as janelas do palácio e bradou ao povo: “Eu não vou cair”. A presidente afirmou que a Operação Lava Jato nunca vai provar que ela roubou. E que “todo mundo neste país sabe” que ela não roubou. É um pouco constrangedor quando a argumentação chega a esse ponto. Lembra aquele político de Brasília que, apanhado fraudando o painel de votação do Senado, reagiu: “Eu não matei! Eu não roubei!”. Acabou preso.

Se Dilma chega ao ponto de declarar que não é ladra, o brejo está mesmo se aproximando da vaca. Até aqui, a presidente tem contado com a formidável blindagem do STF, coalhado de companheiros que chegaram lá graças a décadas de bajulação ao PT. A dobradinha com o procurador-geral da República, de fazer inveja à dupla Messi-Neymar, impediu até agora que Dilma fosse sequer investigada. E, se não for investigada, realmente jamais será provado que ela roubou.

Vamos economizar trabalho aos investigadores: Dilma não roubou. É apenas a representante legal de um grupo político que depenou o país. Que, entre outras façanhas, estuprou a maior empresa nacional – naquele que foi possivelmente o maior roubo da história, chegando pelas últimas estimativas à casa dos R$ 20 bilhões. Com um currículo desses, que inclui o assalto cinematográfico do mensalão, muitos petistas não se sentem ladrões. E estão sendo sinceros. Eles acham que expropriar recursos do Estado em benefício do partido governante é uma espécie de mal necessário – um meio não muito nobre que justifica o mais nobre dos fins: manter a esquerda no poder, em nome do povo.

Ninguém jamais localizará essa procuração dada pelo povo aos iluminados do PT, autorizando-os a sugar a economia popular para montar uma casta governante com estrelinha no peito e figurino revolucionário. Há quem diga que o falsário mais perigoso é o que acredita na própria falsidade. A impostura involuntária é contagiosa. Basta ver quantas personalidades respeitáveis mantêm o apoio ao governo delinquente, de peito estufado e latejante orgulho cidadão. Um país está em maus lençóis quando perde a capacidade de distinguir os inocentes úteis dos parasitas convictos.

A crise na Grécia veio mostrar que a demagogia do oprimido está longe de ser desmascarada. Na apoteose da mistificação populista, boa parte do mundo culto resolveu se convencer de que os gregos são vítimas da austeridade – o palavrão da moda. Como disse Mario Vargas Llosa: a Grécia deve € 26 milhões à Espanha, e a culpa é dos espanhóis. A receita é genial: você gasta mais do que tem, pede emprestado para cobrir o rombo, faz um plebiscito para oficializar o calote e, quando lhe cobram a dívida, você alega desrespeito à soberania.

E eis a bancada do PT querendo enquadrar a Polícia Federal. A Lava Jato é realmente um flagrante desrespeito da soberania petista, ferindo seu direito de ir e vir entre os cofres públicos e o caixa do partido. A PF tem de se submeter a quem tem voto, argumentou um deputado do PT. É uma espécie de tráfico de democracia – o criminoso com voto vira vítima.

E aí, embebido da inocência aguda que o eleitor lhe concedeu, o Partido dos Trabalhadores decide atacar a política de juros altos praticada pelo governo do Partido dos Trabalhadores. Basta de austeridade, vociferam os mandatários oprimidos. Tudo sob as bênçãos de Caloteus, o deus grego do almoço grátis. A sobremesa de demagogia caramelada é por fora – tratar com o tesoureiro.

O problema é que o tesoureiro está preso. Entre outras acusações, responde pela suspeita de roubar a Petrobras para financiar a eleição da presidente – que jura não ter roubado um tostão. Mandato roubado não tem problema. O PT montou uma casta de nababos, nadando em verbas piratas, propinas oficiais, altos cargos e altíssimos subsídios partidários, mas ninguém roubou um tostão. É tudo dinheiro da revolução – a tal procuração popular para essa gente sofrida desfalcar o contribuinte e padecer no paraíso.

O site Sensacionalista revelou por que Dilma disse que não vai cair: “As pedaladas foram dadas com rodinhas”. E acrescentou que ela não sabia quem estava pedalando sua bicicleta. É isso aí. O jeito é continuar falando grego, língua oficial dos caloteiros do bem.
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 19 Julho 2015

Nas discussões públicas, com milhões de assuntos entrecruzados e novos fatos sucedendo-se a cada instante, o número de indivíduos com capacidade e tempo para averiguar pessoalmente a veracidade ou falsidade últimas do que se diz é ínfimo ou nulo. Para a massa dos observadores, a noção de “verdade” está indissoluvelmente fundida com a de “confiabilidade”, portanto com a de “autoridade”: o argumentum auctoritatis – o mais fraco dos argumentos, segundo Sto. Tomás de Aquino – acaba sendo não apenas o mais usado, mas o único pelo qual a população se deixa guiar.

Portanto, para saber quais idéias serão aceitas pela população, basta averiguar o que dizem as “autoridades”. Em geral, as fontes de autoridade são duas e apenas duas:
(1)O Estado.
(2)O beautiful people: As pessoas famosas e a mídia que lhes dá a fama. Inclui-se aí a classe acadêmica.

Uma certa margem para a discussão objetiva só aparece quando essas duas fontes entram em conflito. Quando elas estão de acordo, a opinião divergente, por mais fundamentada que seja, desaparece no oceano da indiferença ou é francamente estigmatizada como sintoma de doença mental.

No Brasil, onde a mídia e a classe acadêmica dependem quase que inteiramente do Estado, este se torna a fonte única da autoridade, sua palavra o fundamento inabalável de todas as crenças. Quando a opinião pública se volta contra o governo existente, é porque este, por inabilidade ou por qualquer outra razão, relaxou o controle sobre a fonte secundária. Isso aconteceu no regime militar, na gestão Collor de Mello e agora neste final melancólico do império comunopetista.
Mesmo na vigência do conflito, no entanto, a mídia, o show business e a classe acadêmica sabem que, a longo prazo, continuam dependentes do Estado. Por isso, quando se opõem a um governo, lutam apenas por mudanças superficiais que preservam intactas as estruturas fundamentais do poder. A classe governante absorve todos os impactos e sempre encontra um modo de revertê-los em seu benefício.

Por isso é que, mesmo não sendo tão grande em termos absolutos – imaginem, somente, uma comparação com a burocracia chinesa ou cubana --, o Estado brasileiro tem um poder avassalador face à sociedade civil inerme, incapaz de organizar-se, a qual, mesmo sabendo-se roubada, ludibriada e humilhada só consegue mobilizar-se quando chamada a isso pelo beautiful people, que invariavelmente tira vantagem da situação e acaba recompondo suas boas relações com o Estado na primeira oportunidade.

Com toda a evidência, o problema do Brasil não é o tamanho do Estado, mas a fraqueza da sociedade civil, isto é, da massa que trabalha e produz. Querem maior prova disso do que o fenômeno escandaloso de um partido governante que, rejeitado e abominado por noventa e dois por cento da população, continua inabalável no seu posto e ainda se permite falar em tom ameaçador e arrogante?

É uma triste ironia que, nessa hora, mesmo os que odeiam esse partido com todas as suas forças tomem a precaução de não combatê-lo senão “pelas vias institucionais e normais”, como se as instituições, uma vez consagradas no papel, tivessem o direito de revogar a vontade popular que um dia as criou e legitimou e agora se vê esmagada sob a máquina infernal da cleptoburocracia.

O cúmulo da demência aparece quando o grito de “respeitar as instituições” vem das mesmas bocas que acabam de dizer: “As instituições estão todas aparelhadas”. É um lindo raciocínio: As instituições não são confiáveis, portanto confiemos nelas.

Fortalecer e organizar a sociedade, apelar à desobediência civil, incentivar a iniciativa extra-oficial, “ignorar o Estado” como recomendava Herbert Spencer, são ideias ante as quais essas pessoas recuam horrorizadas, preferindo antes suportar o descalabro petista por mais não sei quantas décadas do que admitir que a autoridade legítima não está em Brasília, e sim nas ruas e nas praças de todo o país.

O sistema comunolarápio não ruirá enquanto o beautiful people – no qual nós, jornalistas, nos incluímos -- não aceitar que, acima dele e acima do Estado, existe uma terceira e mais legítima fonte de autoridade: a opinião de todos, a vox populi.

Enquanto isso não acontece, o povo continua sendo sacrificado no altar do oficialismo, onde sacerdotes da infâmia repetem dia e noite o mantra sinistro: “Viva a normalidade institucional! Abaixo o povo brasileiro!” 

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