Percival Puggina

09/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Qual foi o principal problema enfrentado por Bolsonaro no exercício da presidência da República? Sobre a resposta a essa pergunta eu não tenho dúvida: o combate sem trégua a Bolsonaro se deve a ter ele sido eleito pela parcela conservadora da sociedade. Omisso e silencioso, esse eleitorado ganhou, com ele, súbita expressão política. E isso foi visto como ato de guerra pelos “progressistas” de todos os matizes (e de todos os países).

Fosse Bolsonaro um “progressista”, sua vida seria mais tranquila. Até então, a guerra cultural estava em curso e era vencida pela esquerda com facilidades análogas às encontradas pela máquina de guerra nazista ao invadir a Europa Ocidental.

Na vitória de Bolsonaro, porém, o Brasil disse ao mundo que, aqui, haveria resistência.

Você não enfrenta máquinas de guerra poderosas e vencedoras sem determinar reações em contrário. E elas foram severíssimas nos ambientes culturais propriamente ditos, no mundo acadêmico, nas poderosas e endinheiradas fundações da Nova Ordem Mundial, nos meios de comunicação, no aparelho burocrático do Estado e nos poderes de estado, notadamente nos Tribunais Superiores.

Bolsonaro poderia ser exatamente como é, mas se não tivesse despertado e mobilizado o eleitorado conservador – favas contatadas nas disputas entre duas esquerdas durante um quarto de século – o governo teria tido outro curso e enfrentado dificuldades bem menores.

Examine o leque dos candidatos presidenciais. Exceto Bolsonaro (PL) com 30%, todos os demais são esquerdistas e isso dá boa ideia sobre para onde aponta o ano eleitoral cuja folhinha já está rolando. Depois, olhe detidamente os nomes e conviva com a realidade: eles são tudo que os partidos políticos têm a apresentar após quatro anos fazendo fumaça e barulho, impedindo o governo de governar, atacando-o por tudo  e por nada, criando despesa para um orçamento já estourado, fazendo negócios, batendo à porta do STF para fazer “política”. Nada revela tão bem o quanto são inaproveitáveis nossas legendas partidárias do que os nomes que apresentam ao eleitorado!

Lula (PT), com 40%. É um candidato zumbi, que surfa pesquisa, mas não aparece em público e deve fugir de espelho. Seu pior inimigo é sua biografia.

O governador João Dória (PSDB), dito Bolsodória na campanha de 2018, passou quatro anos criando problemas ao presidente e conseguiu apenas 3% de intenções de voto na última pesquisa que li. 

Sérgio Moro (Podemos) está longe de ser um conservador, ou um liberal, como Bolsonaro descobriu tarde demais. Seu papel de hoje não é aquele com que o atraíram; é o que a história já lhe reservou: tirar votos de Bolsonaro para ajudar a eleição do ex-presidiário. Diante de apenas 11% de intenções de voto, seus próximos já o aconselham a disputar cadeira de senador para não ficar desocupado.

Ciro Gomes (PDT) contabiliza 7% e se vê em meio a uma calmaria, com o velame caído, sem receber uma lufada de ar que lhe permita esperar terra à vista em algum ponto de seu monótono horizonte.

A senadora Simone Tebet (do outrora grande MDB), picada pela mosca azul, fez o possível para se pôr em evidência, sempre infernizando a vida do presidente e descobre, agora, que conseguiu atrair a atenção de apenas um em cada cem eleitores brasileiros.

O senador Rodrigo Pacheco (PSD), o omisso “Pachecão”, fez muito mau uso de seu poder no Senado, ajoelhou-se perante o STF, virou as costas ao clamor popular, precisou fechar suas redes sociais, e ainda quer ser presidente. Com 0,6% perde até para a colega Simone Tebet. 

Não me tiram a esperança de ter meu país de volta. Aqui resistiremos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

06/01/2022

 

Percival Puggina

 

                Outro dia resolvi listar crimes inexistentes em nosso Código Penal e que, apesar disso, tiram o sono dos nossos ministros do STF. Medidas drásticas são tomadas contra quem caia na desgraça de ser enquadrado numa dessas condutas que tanto perturbam suas excelências.

Comparados à sinistra criminalidade real e à maldita corrupção, os fatos, em si, são de pouquíssima monta, nada é sério, mas enérgicas ações de contenção são adotadas. Há gente presa preventivamente por “crimes” em virtude dos quais ninguém vai para a cadeia. Muitos comunicadores tiveram suas vidas e suas empresas devassadas por caça-fantasmas. Instalou-se no país um clima de insegurança e medo, infeliz combinação que não infunde respeito. Apresento a seguir um resumo dessas condutas que excitam a imaginação de vários ministros do nosso Supremo. Observe que todos esses supostos crimes recebem denominações com efeito publicitário, sendo fartamente utilizadas nos sites e entre a militância de esquerda.

- Milícias Digitais

A palavra “milícia” remonta à campanha de 2018 e “miliciano” foi uma das etiquetas que lhe tentaram colar no candidato Bolsonaro. Posteriormente, ressurgiu num desses inquéritos aberto no STF, que a Corte faz questão de manter aberto como intimidador cadafalso erguido na praça.

- Atos Antidemocráticos

Atos antidemocráticos são manifestações propondo o fechamento do STF ou do Congresso, são os fogos de artifício sobre o prédio do Supremo. Um povo a quem os poderes de Estado voltam as costas, sem vislumbrar saída pelo curso da política, talvez expresse assim sua inconformidade. Penso que os poderes de Estado, bem antes de abrir inquéritos, deveriam ponderar as razões desse desalento. Elas não estão na população.  

- Discursos de Ódio

Discursos não são tramas de bastidores. Existem bastidores onde se instalou um ódio que raramente aparece em discurso. É convenientemente sutil a diferença entre indignação e ódio. Tratar a tudo como “discurso de ódio”, algo criminoso, tem o poder de inibir a justa e necessária manifestação de indignação, própria das democracias.

-  Desconfiança nas instituições

O sujeito que ainda hoje deposita estrita confiança nas instituições legadas pela Constituinte de 1988 pode até ser brasileiro, mas imigrou e hoje é cidadão honorário do mundo da lua.

- Negacionismo e recusa ao mandamento vacinal

O que ainda hoje não se sabe sobre a origem do vírus SARS-CoV-2, permite severas desconfianças, suspeitas e até mesmo especulações. Não é diferente em relação às vacinas. Por que seria visto como “ato criminoso” manifestar em público o que tanto se discute em ambiente privado? Afinal, não são os próprios laboratórios que mudam, eles mesmos, suas avaliações sobre eficácia e durabilidade? O que estão a ensinar-nos os navios de cruzeiro que chegam ao litoral brasileiro com doentes a bordo?

- Apostasia à Nobre Ordem dos Guardiões das Urnas

Se você ainda acha inusitada a pressão do STF/TSE sobre o Congresso para evitar a aprovação das urnas eletrônicas com votos contáveis na eleição deste ano, você entrou em conflito com a Nobre Ordem dos Guardiões das Urnas. E fez isso na mais radical versão desse confronto, aquela que não aceita as garantias juradas pelo grão-mestre da ordem.

***

Você tem razão. Nada há a ser dito sobre combate à corrupção. Está fora da pauta.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

05/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Diferentemente do que acontece com os socialismos e com o comunismo, as liberdades econômicas não tiveram um fundador, não tiveram um Marx com sinal trocado para concebê-las. Ninguém apareceu na humanidade para excitar, na mente da plebe, legítimos anseios de realização pessoal por meios próprios. Ninguém preconizou: "Monta tua empresa, cria teu negócio, põe tua criatividade em ação, persegue teus ideais!". No Rio Grande do Sul, 188 mil pessoas assim pensaram e decidiram nos primeiros nove meses do ano passado. Tais bens da civilização foram conquistas dos indivíduos, no mundo dos fatos, na ordem da natureza, e têm sido o eficiente motor do progresso econômico e social.

Autores esquerdistas querem fazer crer que a miséria de tantos no mundo de hoje é produto ou subproduto inevitável da economia de empresa. Deve-se supor, então, que os miseráveis da África e da Ásia viviam na abundância, na mesa farta e na prodigalidade dos frutos da natureza, até que o famigerado capitalismo aparecesse para desgraçar suas vidas. O fato de que nas regiões do mundo onde se perenizam as situações descritas não exista uma economia livre, não haja empresas, nem empregos, parece passar ao largo de tais certezas ideológicas. Vale o mesmo para a inoperância, nessas regiões, do braço do Estado, que o comunismo apresenta como sempre benevolente e eficiente.

São realidades esféricas, identificáveis sob qualquer ponto de observação: 1) a fome era endêmica na Europa até meados do século passado e foi a economia de mercado que criou, ali, a prosperidade; 2) sempre que os meios de produção viraram propriedade do Estado a fome grassou mesmo entre os que plantavam; 3) enquanto as experiências coletivistas conseguiram, como obra máxima, nivelar a todos na miséria, a China, com o capitalismo mais rude de que se tem notícia, em poucas décadas, resgatou da pobreza extrema mais de meio bilhão de seres humanos; 4) não é diferente a situação no Leste da Ásia, inclusive no Vietnã reunificado e comunista, no Camboja do Khmer-Vermelho, no Laos e na Tailândia; 5) quem viaja pelo Leste Europeu sabe quanto as coisas melhoraram por lá desde que as economias daqueles países, infelicitados pelo dogmatismo comunista, se libertaram do tacão soviético.

A história mostra, enfim, que o comunismo é imbatível quando se trata de gerar escassez, miséria e aviltamento da dignidade humana. A nossa Ibero-América, onde as prescrições políticas e econômicas do Foro de São Paulo ditam regras para muitos países, parece nada aprender das constatações acima. Consequentemente, as coisas andam mal e é preciso botar a culpa em qualquer um que não nos vendedores de ilusões, nas utopias que se requebram como odaliscas, nos delírios do neocomunismo, nos corruptos e nos corruptores.

Decreta-se, então, para todos os males, a responsabilidade da economia de empresa, do capitalismo e, sim, claro, dos Estados Unidos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

02/01/2022

A AUTOPROCLAMADA CORAGEM DO STF

Percival Puggina

 

Ao longo do último ano esta Suprema Corte e o Poder Judiciário como um todo também enfrentaram ameaças retóricas, que foram combatidas com a união e a coesão dos ministros; e ameaças reais, enfrentadas com posições firmes e decisões corajosas desta Corte. (Ministro Luiz Fux no encerramento do ano judiciário de 2021)

         Pus-me a pensar sobre o que faz a virtude cardeal da Coragem nesse discurso. Não existe coragem, onde não existe o medo. Entre outras características, o ato corajoso representa, necessariamente, uma vitória sobre o medo.  Segundo Aristóteles, o ato de coragem envolve a aplicação da razão, a busca do bem e a disposição de superar o perigo presente na ação.

Tão nobre virtude, faz lembrar, isto sim, a professora Heley Abreu Batista, que em 5 de outubro de 2017 morreu queimada ao salvar as crianças de uma creche em chamas no município mineiro de Janaúba. Coragem teve o sargento Sílvio Delmar Hollenbach, que em agosto de 1977 pulou para a morte ao salvar um menino que caíra no poço das ariranhas. Coragem demonstraram os jovens que correram para a própria tragédia ao entrarem na boate Kiss em chamas para resgatar amigos que lá estavam caídos, pisoteados pelos que conseguiam escapar. Coragem tiveram todos os europeus que esconderam ou deram fuga a judeus na Europa tomada pelos nazistas. Coragem teve o padre Kolbe (São Maximiliano Kolbe), que se ofereceu para morrer por um chefe de família no campo de concentração de Auschwitz. E por aí segue um livro de muitas e nobres páginas.

Não vejo onde inscrever nelas os acontecimentos de 2021 no âmbito do STF. Não vejo coragem – e menos ainda motivos para coragem autoatribuída – por parte e arte de quem libertou corruptos e os devolveu à política nacional, efetuou insólitas prisões políticas, fechou meios de comunicação, inspirou medo, impôs censura, reivindicou para si mesmo uma fé religiosa e inibiu liberdades.

Que espécie de medo terá sido superado por quem assim procedeu? Em que dobras desse tempo se ocultaram a razão e o bem?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

02/01/2022

 

Percival Puggina

 

         É comum representar-se a virada da folhinha com o desenho de um bebê que chega para suceder o ancião que se retira. Sai o ano velho e entra o ano novo. O ano velho sai trôpego e fatigado; o novo chega enrolado em fraldas.

O tempo é convenção e relatividade. Meia hora na cadeira do dentista dura bem mais do que meia hora numa roda de amigos. Na infância, é uma eternidade o tempo decorrido entre natais. Minha mãe, porém, tão logo terminava um ano, começava a se preocupar com o Natal vindouro “porque, meu filho, logo, logo é Natal outra vez”.

A vida familiar e a vida social se fazem, entre outras coisas, do cotidiano encontro da maturidade com a juventude. Imagine-se um mundo onde só haja jovens; ou onde, pelo reverso, só existam anciãos. Imagine-se, por fim, a permanente perplexidade em que viveríamos se a virada da folhinha nos trouxesse, com efeito, um tempo novo, flamante, que nos enrolasse nas fraldas da incontinência urinária, com tudo para aprender.

Felizmente não é assim, nem deve ser visto assim. O importante, em cada recomeço, é ali estarmos com a experiência que o passado legou. Aprender da própria vida, aprender da história e, principalmente, aprender da eternidade.

Quem aprende da eternidade aprende para a eternidade. Aprende lições que o tempo não desgasta nem consome, lições que não são superadas, lições para a felicidade e para o bem. Por isso, para os cristãos, a maior e melhor novidade de cada ano será sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em marcha a História da Salvação, cumprindo o plano de amor do Pai. Bem sei o quanto é contraditório com a cultura contemporânea o que estou afirmando. E reconheço o quanto as pessoas se deixam cativar pela mensagem do hedonismo “revolucionário”, supostamente coletivista e igualitário. Mas é preciso deixar claro que tal mensagem transforma o mundo num grande seio onde, a cada novo ano, se retoma a fase oral e se trocam as fraldas da imaturidade.

         A quantos lerem estas linhas desejo um 2022 de afetos vividos, saudades curadas, aconchego familiar, realizações, vitórias, saúde e paz.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

30/12/2021

 

Percival Puggina

 

         Quando era criança e troteava na praça montado num cavalo de pau, agitando reluzente espada de papelão, eu enfrentava inimigos imaginários em defesa de minha família e a serviço da justiça. Quando adolescente, a política estudantil era minha praça e, também ali, me percebia contendo adversários reais na já então acirrada disputa ideológica estudantil. Os “vermelhos” corriam os corredores do Colégio Júlio de Castilhos entoando cantos de guerra aos “reacionários”. E nós – hip, hip, hurra! – vencíamos as eleições.

De um ministro do STF espera-se mais do que de um dirigente de grêmio estudantil. No lombo de que cavalo de pau, ou em que corredor de colégio, terá saído a ideia que fez alguns membros do Supremo se verem como musculosos salva-vidas judiciais de uma democracia sob gravíssimo risco de afogamento?

Não fossem suas consequências, a pergunta acima pareceria uma curiosidade retórica. No entanto, é pelo desvario na torre da guarita de salvamento que voltamos a ter presos políticos e brasileiros refugiados. Foi ela que colocou bandeira preta no sereno balneário da liberdade. Foi ela que impôs silêncios, censuras e autocensuras.

Como determinam os protocolos dos Laboratórios de Linguística Aplicada ao Caso Brasileiro de 2018 (vocês sabem de que estou falando), criou-se um inteiro vocabulário para essas idiossincrasias: milícias digitais, atos antidemocráticos, discursos de ódio, desabono das instituições, recusa ao mandamento vacinal, negação do culto às urnas sem impressora e, claro, fake news para toda divergência. A cada uma foi atribuído caráter pré-criminal e protopenal a justificar, segundo a gabolice de seus autores, as “corajosas” medidas que se seguiram, entre eles os inquéritos sem fim neste mundo e nesta vida.

Não estou em torre alguma, ando com os pés no piso dos fatos e meus guarda-costas são os cães da vizinhança. Meu prisma, portanto é o do populacho, da plebe, da ralé, à qual nenhuma razão da Razão precisa ser servida e da qual o silêncio é sempre bem-vindo. A esse povo, outrora aplicavam-se  as palavras cidadãos, sociedade, e até – vejam só! – “nação brasileira”, com o poder, direitos e garantias assegurados pela doutrina da “soberania popular” e pela Constituição.

Mas o Brasil foi mudado pela guarita. Se o aparelho de Estado protege a criminalidade; se a corrupção é recompensada, os corruptos exaltados e a impunidade é o objetivo final; se os poderes confundem conluio com harmonia, se uma dúzia de lideres submete o Congresso inteiro e o povo não importa; se as competências são invadidas e o Executivo não consegue governar porque fantasmas alheios se agigantam contra ele; pergunto: que pode o povo, ex-titular da soberania popular, ignorado por seus representantes, cujos canais de comunicação foram silenciados, porque mal vistos desde a guarita?

A democracia agoniza, as instituições já não conseguem esconder suas enfermidades e nelas foram adiadas para 2022 as esperanças nacionais. Deus ilumine e conduza a nação no caminho até as urnas de outubro.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

29/12/2021

Percival Puggina

 

           Sim, o Brasil pode mais!

         Em sua coluna de ontem (28/12) na Gazeta do Povo, o amigo Alexandre Garcia, sempre um raio de luz no jornalismo brasileiro, rendeu justa homenagem à indústria nacional. Em tempos de sucesso do agronegócio, têm passado sem as devidas referências muitas atividades industriais em que o Brasil, com criatividade e competência, ganha destaque no mercado mundial apesar da corrida de obstáculos imposta a quem deseja empreender.

Diante dessa constatação, Alexandre faz duas perguntas:

Então, um país que tem essas indústrias e muito mais, que tem essa capacidade e tecnologia para produzir o que produz, eu fico pensando por que esse país não está entre as cinco maiores potências do mundo? É porque tem alguma coisa que prejudica o empreendedorismo do brasileiro na legislação, nos tribunais, na burocracia, nos governos inchados e nos políticos, não é isso?

De fato, o PIB brasileiro faz lembrar um farol de trânsito. Ora está no amarelo, ora no vermelho e, em poucos períodos, é favorecido pelo sinal verde da liberdade. O PIB patina, canta pneu e pouco sai do lugar.

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), estima que o PIB per capita encerre 2021 com alta de 3,8% sobre o ano passado. Esse indicador, se confirmado, é 1% inferior ao de 2019, anterior à pandemia, e fica 7,7% abaixo do pico medido em 2013. Agora, o lado pior da notícia: provavelmente só retornaremos a esse nível dentro de sete anos!

Sigamos na esteira aberta pelas duas perguntas do Alexandre. Toda riqueza do país é gerada pela iniciativa privada. Quem investe pode dar-se mal e perder dinheiro se cometer erros de naturezas diversas, mas quando quase toda a economia perde dinheiro, quando o PIB cai e não se recupera, há que buscar culpados entre a elite política e nessas muito mal concebidas instituições do Estado, que alguns ministros do STF consideram inquestionáveis sinônimos de estável plenitude democrática.

Nosso modelo institucional gera crises em sequência, em cascata; é uma usina de instabilidade e desconfiança. No seu lado pior, estimula a corrupção e, inequivocamente, resguarda a impunidade. O jogo político, por decorrência, é de muito má qualidade. Não bastasse isso, parcela expressiva de seus agentes é sadomasoquista.

Sim, isso mesmo: sadomasoquista. Observe a conduta da oposição (midiática, cultural, funcional, parlamentar e judicial). Ela se satisfaz impondo males ao governo sem se importar com o fato de que, sendo parte da sociedade, acaba fazendo mal a si mesma. 

Sim, o Brasil pode mais, mas tem muitas contas políticas pendentes das urnas em outubro próximo.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

28/12/2021

Percival Puggina

 

         Qual sua opção?

O economista Ricardo Bergamini mostra que em 2002 o gasto com pessoal consolidado (união, estados e municípios) representou 13,35% do PIB e 41,64% da carga tributária que era de 32,06%.  Em 2018 alcançou 16,38% do PIB e 49,25% da carga tributária. Em 2020 chegou a 16,68% do PIB e 50,26% da carga tributária.

De modo acelerado, a despesa com pessoal ativo e inativo crescia mais do que a economia e os impostos além do suportável pelo mercado. Aquilo não podia dar certo; havia um precipício no horizonte. Para muitos, esse momento chegou; estados e municípios quebrados, vencimentos congelados, salários atrasados, aposentadorias postergadas, contribuições compulsórias elevadas, estabilidade na mira dos especialistas. E um gasto com pessoal, em relação ao PIB, equivalente ao dos países nórdicos.

Mesmo assim, levantamento de Bergamini mostra que “pelo menos 119 concursos públicos no país estão com inscrições abertas nesta segunda-feira (27) e reúnem 222.906 vagas em cargos de todos os níveis de escolaridade. Os salários chegam a R$ 33.689,11 no Ministério Público de Contas dos Municípios do Estado do Pará”. E diz mais: “Além das vagas abertas, há concursos para formação de cadastro de reserva – ou seja, os candidatos aprovados são chamados conforme a abertura de vagas durante a validade do concurso”.

No ano passado, o Instituto Millenium divulgou trabalho mostrando que, em média, a remuneração do setor público ainda era 110% superior à do setor privado em atividades equivalentes. A estabilidade persiste como o grande charme dos concursos públicos, em geral.

Por quanto se vê, apesar das dificuldades, o setor público se preserva na esperança de muitos jovens brasileiros. A estes o alerta: quanto mais cuidarem de sua formação, quanto mais queimarem pestanas nos livros, quanto mais zelarem pelos próprios talentos, quanto mais desenvolverem sua criatividade, quanto mais cuidarem da própria imagem e do próprio caráter, quanto mais atenção dedicarem aos bons professores e menor atenção derem aos “fazedores de cabeça”, mais amplo e promissor será seu horizonte na vida. Bons negócios surgem em mentes assim; bons empregos procuram pessoas assim e as levam para patamares inimagináveis de remuneração que só a iniciativa privada tem o poder de tornar reais. 

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

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24/12/2021

 

Percival Puggina

 

         Eu já suspeitava de que o tal Papai Noel fosse uma enrolação dos adultos quando, certa noite, meus pais e tios reuniram-se e correram a porta onde, logo após, colei o ouvido de detetive para receber a má notícia: Papai Noel não existia e meu desejado carrinho de pedais não estava em cogitação.

Papai Noel é um mito fugaz da infância, um comerciário gordo e simpático, ou um parente bem disfarçado, com touca vermelha de pompom branco, sumido nas recordações infantis referentes ao 25 de dezembro. Mas o menino Jesus, não. Ignorá-lo neste dia, notadamente numa família cristã, é embarcar na canoa furada do politicamente correto para ocultar um acontecimento real. É transformar uma data marcante da Fé e da humanidade numa festa pagã e comemorar, como em tempos remotos, o solstício de inverno no hemisfério norte... Convenhamos!

Diferentemente do velhinho de vermelho, o menino da manjedoura é o Redentor referido neste pequeno texto que há 25 anos escrevi para o Correio do Povo, com o título “Uma história de Natal”.

Numa noite assim, quando os mais nobres sentimentos varrem o pó do cotidiano e rompem a carapaça com que paradoxalmente sufocamos o bem para nos proteger do mal, inspiram-se os escritores para iluminar a literatura com páginas comoventes. São as histórias de Natal. Em cada uma delas se encontram fragmentos desse insondável mistério que é o homem, habitual espantalho de si mesmo, que cresce quando se ajoelha e se humaniza quando chora.

Entretanto, leitor amigo, por mais histórias de Natal que você tenha lido, em nenhuma delas nem em todas elas existe a força do episódio ocorrido nas cercanias de Belém, a cidade de Davi, numa noite fria da Palestina. Nasceu o Menino, o Senhor da História, o Rei dos Reis. Envolveram-no em panos e o deitaram numa manjedoura.

Penso, às vezes, sobre como escreveríamos nós se nos coubesse conceber o roteiro daqueles fatos. Certamente não escolheríamos aquele local. Nunca aquela época e, nela, nunca aquele povo. Jamais personagens assim. A humanidade já produziu ambientes melhores bem como circunstâncias e elenco mais promissores. E é exatamente por isso que não havia lugar na estalagem.

Essa história de Natal, a própria história do Natal, tecida com os fios sutis com que o divino autor urdiu sua rede de amor à humanidade, vence os séculos, se torna eterna e se impõe ao coração dos homens. É tempo de repetir: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.