• Percival Puggina
  • 18/08/2022
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A coroação de Sua Alteza Eleitoral

Percival Puggina

 

          Havia algo errado ali, uma demasia, um excesso. O ato de posse do novo presidente do TSE fez pensar numa cerimônia de coroação. Nunca antes se viu tamanha concentração de autoridades da República em evento do Poder Judiciário. Assistiam à coroação de Sua Alteza Eleitoral, D. Alexandre.

As ruidosas manifestações de apoio deixaram à mostra a velha fenda existente entre a elite brasileira e a sociedade. Entre os “donos de poder” e seus súditos.  Era muita unanimidade em torno de quem está longe dela. Que a posse restitua ao ungido o equilíbrio e o bom senso que tanto lhe tem faltado.

Os aplausos concedidos à locução “Estado de Direito e Democracia” trazem lágrimas ao coração de quem, como eu, tanto se tem empenhado pela reforma de tudo que há de torto em nosso estado de direito e de vicioso em nossa democracia. Terei assistido ali o velório de minhas esperanças, sob os auspícios dos donos do poder? Sou conservador, não quero revolução! Quero reforma, mediante aplicação da inteligência aos fatos sob nossos olhos, à luz forte da história vivida.

Nosso modelo institucional e nosso sistema eleitoral são feitos sob medida para perpetuação de quanto há neles de perverso. As mudanças ocorridas ao longo do tempo apenas pioraram o pacote inteiro porque nossos congressistas são beneficiados pelo modelo vigente e fazem a regra do jogo conforme lhes convém. Resultados: mais dinheiro público para campanhas caríssimas, maior representação dos grupos de interesse, número crescente de partidos e candidatos, maiores dificuldades para renovação dos parlamentos. Sendo ínfima a percentagem de eleitores que consegue eleger a pessoa em quem votou, poucos podem ser cobrados legitimamente por ações e omissões.

Por fim, repilo, com veemência o adjetivo golpista aplicado contra quem clamou por transparência no sistema eleitoral. É desonesto e ardiloso usá-lo para alavancar aplausos.

A diferença entre um sistema blindado e um transparente não é sutil; é, digamos assim, transparente. A diferença entre golpismo e clamar às instituições, ao longo de anos, por essa transparência, é a mesma que existe entre uma verdade com carimbo da história e o oportunismo de uma falácia de ocasião. A comprovação do que afirmo é dada pela recorrência com que esse assunto retoma o cenário institucional por iniciativa da sociedade ou do Congresso.

Escrevo em defesa de mim mesmo exatamente por ser democrata e por haver subido em dezenas de carros de som nos últimos anos para chamar a atenção das instituições da República sobre seus abusos e omissões. Muitas vezes, pedia-se por transparência no sistema eleitoral.

O assunto morreu? Não. Voltaremos a ele em 2023. Essa não é, porém, a pergunta certa. A pergunta certa é: fez sentido esticar a corda, criar um grande estresse político nacional, pressionar abertamente a Câmara dos Deputados, desgostar dezenas de milhões de eleitores em relação a um pleito tão importante e arrastar essa pauta indefinidamente alegando defender a democracia e o Estado de Direito?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Dirceu Guerra -   23/08/2022 20:45:52

Pois é Percival, vez ou outra paira a desesperança quando alguns fatos estranhos acontecem. Esse que mereceu seu comentário é um deles. Pompa, coisa de mediocres, valorar quem não tem valor algum. Não assisti para não ter problemas digestivos. O Temer é o responsável pelo salafrário que indicou e o senado foi avalista. Isso mostra a qualidade do indicador e do avaliador. Ambos são lixo.

Fabio -   23/08/2022 13:21:52

Quando vi aquela "elite" perfilada, tive certeza, nao há reforma possivel numa república corrompida como esta, estamos a ver a criação de um narcoestado na nossa cara e não faremos nada? Eles estão com as tropas em campo de batalha, o bandido de ontem agora debate como melhorar a economia, e posa de bom moço como se nada tivesse acontecido...troféu óleo de peroba para este rapaz, é muita cara de pau...e segue o desgoverno dos sem nenhum caráter, dos sem honra!

Ivaldo de Holanda Cunha -   22/08/2022 12:12:21

A culpa é do povo que elege políticos sem analisar quais são as ideias defendidas pelos mesmos. O povo necessita de mais educação nos assuntos da política. Mais critérios e análise dos conceitos defendidos pelos políticos que se candidatam.

carlos edison domingues -   22/08/2022 11:57:53

TENHO VERGONHA DA "ZELITE " JURÍDICA. Carlos Edison Domingues O.A.B. RS Nº 3.626

Andre -   22/08/2022 07:53:07

Sou descrente do país, e o sistema em vigor me enoja profundamente.

Menelau Santos -   21/08/2022 22:19:19

Perfeito, Professor! Parece que a esquerda é a melhor que define a si mesma. Tomo emprestado os versos do Cazuza pra definir o nosso atual STF/TSE: "tua piscina tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos".

Haremhab -   19/08/2022 11:46:22

Quando vi a imagem, perfilados, Dilma, Sarney, Lula, Temer, saudando os integrantes do TSE(sequer deveria existir, desperdício de bilhões todo ano), como se monarcas absolutistas fossem, jamais senti tanto asco na minha vida, não esquecendo do séquito de puxa-sacos, meu 1o.raciocínio:o pior que existe na sociedade brasileira, na sua elite, quiçá na humanidade!Somente na banânia, país sério fosse, sequer testemunhariamos tal ocasião!Festança para 2.000 convidados, degustação do bom e do melhor, as custas do contribuinte!Brasília é uma realidade paralela, verdadeira distopia!

Deise Esteves -   18/08/2022 22:46:25

Quando se fala tanto em democracia é porque ela não existe.

Linda Lopo. -   18/08/2022 22:40:15

"ASSISTI A CERIMONIA DA COROACAO DO TERCEIRO IMPERADOR DO BRASIL , DOM MORAES EM 2022."!!!!!!!!!!.

João Jesuino Demilio -   18/08/2022 18:15:56

O Brasil só muda se mudarmos as leis....mas só se muda as leis se mudarmos os políticos...mas só se muda os políticos se antes mudarmos as leis....E a democracia? Um dia....Quem sabe....Talvez...

Joel Robinson -   18/08/2022 17:37:46

O único erradão era o Bolsonaro coma mão no peito na hora do Hino Nacional...Ridículo

Alexandre -   18/08/2022 17:23:20

"A pergunta certa é: fez sentido esticar a corda, criar um grande estresse político nacional, pressionar abertamente a Câmara dos Deputados, desgostar dezenas de milhões de eleitores em relação a um pleito tão importante e arrastar essa pauta indefinidamente alegando defender a democracia e o Estado de Direito?" Aí está a narrativa para justificar o golpe eleitoral que se avizinha.

Alexandre -   18/08/2022 17:21:25

Coroação de D Alexandre, O Glande.

Francisco kieling lumertz -   18/08/2022 14:29:16

Parabéns Puggia, o diálogo também é local de dissenso, mas os limites devem ser acordados, se não a discussão não termina e todos perdem... alguns bem mais que os outros seja em dinheiro ou quantidade de pessoas... Oremos para que o bom senso prevaleça.