Mark Twain

23/09/2012
DO GRANDE MARK TWAIN O governo que rouba de Pedro para dar a Paulo, sempre pode contar com o apoio de Paulo.

Percival Puggina

22/09/2012
A palavra Educação é um contêiner tão abarrotado de significados e conteúdos que a gente muitas vezes se emaranha em conceitos a clamar por definições. Não vou entrar nessa. Meu objetivo é outro. Ninguém recusará que o ser humano tem várias dimensões e que a formação de todas seja conteúdo do contêiner. Ali está, por exemplo, a formação das dimensões ética, religiosa e política do ser humano. A questão que submeto à reflexão dos leitores é esta: a quem cabe primazia na formação ética, religiosa e política das crianças? Não hesito em afirmar que a imensa maioria dos adultos que me leem sustentarão, a esse respeito, não apenas a prioridade, mas a fundamental responsabilidade dos pais. Há poucos dias, postei no meu blog um artigo sobre a necessária educação sexual das crianças e as iniciativas perversoras que, volta e meia, autoridades educacionais resolvem adotar, metendo-se de pato a ganso na matéria. Tem havido experiências que vão dos pênis de borracha em sala de aula, ao kit gay, e a livros didáticos com estímulo à masturbação infantil. Sim, sim, tudo isso no Brasil, leitor. Se duvida, procure na internet. Entre os e-mails que depois recebi veio o de um amigo que mora no Canadá. Segundo ele, a coisa, por lá, vai na mesma toada. Contou-me que seus netos estão sendo educados em homeschooling, que é a palavra inglesa para o aprendizado escolar domiciliar. No colégio, as crianças eram intoxicadas por uma educação em tudo avessa à que os pais gostariam que lhes fosse proporcionada. Então, abraçaram a tarefa. No Brasil, país onde tudo está dominado, não temos nem essa saída. Segundo o ECA, é dever dos pais matricular os filhos na rede regular de ensino. Se a rede for pública, a orientação moral, religiosa e política será ditada pelo Estado, pelos livros didáticos, pelas obras recomendadas. Não vem aí uma geração que ficará sem conhecer Monteiro Lobato - aquele racista que inventou a Tia Anastácia? Nove milhões de exemplares de um livro de História tão engajado que até o governo os retirou de circulação quando seus conteúdos vieram a público, não foram adotados como bons durante dez anos pelo MEC? Não são comuns em concursos públicos perguntas cuja resposta certa é a que cai no gosto político do ente estatal que patrocina a seleção? Enfim, na escola pública não há como conseguirem os pais exercer sua fundamental responsabilidade. Quando não é o Estado é o sindicato dos professores. E quando não é o sindicato dos professores são, não raro, os próprios professores os encolhedores de cabeça a serviço de tal ou qual ideologia. Restam as escolas privadas, confessionais ou não. As primeiras, com honrosas e escassas exceções, têm um nome cristão no pórtico, mas fornecem mercadoria bem diferente aos alunos. As não confessionais, pelo seu caráter secular, se apresentam como plurais. Mas o pluralismo nunca é muito confiável e não costuma ser plural. O homeschooling é uma solução já legalizada em diversos estados norte-americanos e no Canadá. Mas é solução para poucos. Para muito poucos. E mesmo assim o núcleo político da ideologia dominante assusta-se com o surgimento de uma elite menos influenciada por ele. A proposta de emenda à Constituição (PEC 444) que trata disso está no freezer da nossa Câmara dos Deputados há quase um ano. Os fazedores de cabeça não gostarão deste artigo. Não admitem que alguém antagonize seus anseios por hegemonizar a Nação. Especial para Zero Hora 23/09/2012

Percival Puggina

22/09/2012
Lula tinha três projetos importantes para 2012. O primeiro era alcançar um crescimento robusto da Economia. Quando o ano começou, no melhor estilo lulista Dilma desfilava arrogância dando conselhos a chefes de Estado sobre como superar a crise. Mas eis que quando se aproxima o outubro amargo, depois de uma dúzia de pacotes para soprar as brasas da economia através do endividamento do povo, o PIB dá sinais de esgotamento e impotência. Parece não haver pílula azul que faça a economia adotar uma postura ascendente. O segundo projeto lulista era eleger Haddad. Entendamos nosso ex-presidente. Ele estava nem aí para uma vitória do PT em São Paulo. Ele queria eleger o Haddad. Aliás, não era bem isso. Corrijo-me. Lula estava nem aí para o Haddad. Ele queria ser o cara que conseguiu fazer prefeito de São Paulo um desconhecido incompetente como o Haddad. Acontece que Marta Suplicy não apenas era candidata. Ela ponteava as primeiras pesquisas de opinião! Em setembro de 2011, Marta tinha 29% das intenções de voto contra 18% de José Serra. Num segundo cenário, trocando Marta por Haddad, este aparecia com 2% das intenções de voto. Voilá! Lula tinha em Haddad uma versão masculina para reproduzir o prodígio que fizera com Dilma. Certo de sua onipotência, exercendo aquela autoridade absoluta, mista de cacique e pajé (que só não funcionou na época do Mensalão), exigiu que a senadora renunciasse à candidatura em favor do seu pupilo. À medida que se aproximava o amargo outubro, Lula entrou em desespero: foi beijar a mão de Maluf nos jardins da casa dele e mandou a doublé de presidente desbancar do ministério a irmã do Chico Buarque. Ato contínuo, ofereceu a poltrona da Cultura para Marta que aceitou, subiu no palanque e tirou retrato com Haddad. No momento em que escrevo este artigo parece não haver mais tempo para que o quadro político proporcione alguma alegria a Lula. O terceiro projeto lulista para 2012 era acabar com o processo do Mensalão. Tal missão foi enfaticamente assumida ao deixar a presidência. Xacomigo!, terá dito Lula. Com efeito, mesmo no mais diluído senso moral, os fatos do Mensalão enodoavam sua biografia. Ora, Lula se vê como Deon, o semideus da mitologia grega que tinha o poder de submeter os demais aos seus comandos de voz. Portanto, era só falar com um, falar com outro, dar algumas entrevistas e a maior parte dos ministros do STF, obedientes aos desígnios de quem os indicou, não se recusariam a lhe entregar a própria honra. Mas eis que quando o outubro amargo se aproxima, se evanesce a ilusão. Não há compadres em número suficiente no plenário do Supremo. Lula cruza as mãos sobre as próprias vergonhas e pede que o ano termine logo. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

16/09/2012
A imprensa registra, periodicamente, fatos exóticos ou escandalosos envolvendo iniciativas pedagógicas no campo da educação sexual. Quando isso acontece, escolas que pretendiam atuar responsavelmente nesse campo, recuam, e os pais ainda mais. O tema é delicado. Afinal, educação sexual é necessária? Sim, e muito. Os equívocos que se tem percebido nas experiências feitas decorrem de idéias erradas sobre o que seja Educação. Isso não é incomum porque raramente quem exerce o poder, ou quem exerce a hegemonia no campo da cultura, abre mão da prerrogativa de instrumentalizar a sala de aula. E a educação - educação de verdade - acaba punida com suspensão. A educação sexual deveria versar sobre responsabilidade moral. A liberalidade com que o temário é abordado nos meios de comunicação tem feito com que as crianças deste final de milênio pareçam ter vindo ao mundo perfeitamente a par dos ?fatos básicos da vida? (como se dizia antigamente), da mesma forma como parecem nascer gostando de ketchup e sabendo mexer com computador e outros instrumentos eletrônicos. Portanto, a necessária educação sexual não deve ser confundida com simples instrução sobre anatomia sexual, desenvolvimento dos órgãos sexuais e fisiologia do ato sexual. Menos ainda há de ser vista como simples oportunidade curricular para orientar a garotada com vistas à prática do chamado sexo seguro. Educação vai bem além da informação. Nos tempos de FHC já era por esses maus caminhos que as coisas andavam. Com Lula, piorou nuito. A força política dos movimentos ultraliberais dentro do governo quis levar para a sala de aula não apenas a informação, mas a divulgação das alternativas sexuais, apresentando-as aos jovens como um cardápio de degustação. Assim, sob o patrocínio liberal do senhor Haddad, tivemos o kit gay e, em 2010, a distribuição do livreto Mamãe como eu nasci? (procure por ele no Google), que levou os desenhos tipo Carlos Zéfiro para dentro da sala de aula, com direito à propaganda da masturbação. Tudo para crianças. Quanto mais forem estimuladas as brincadeiras sexuais entre crianças (é esse o nome dado por muitos peritos em sexualidade infantil que andam por aí) mais estamos preparando o terreno para a pedofilia. Por outro lado, quanto mais os jovens parecem saber sobre sexo, mais evidências dão de andar desorientados sobre os muitos aspectos que transbordam da questão anatômica e fisiológica e que envolvem o caráter incomparavelmente humano da sexualidade. Ao contrário do que a cultura contemporânea se empenha em sustentar, nenhuma ação que pratiquemos é apenas biológica ou animal. Se tudo o que fazemos é humano por natureza, que dizer-se do ato com que a própria vida tem origem? Quanto mal produz quem transmite a jovens (e a adultos) conceitos que reduzem o sexo a artigo de consumo, a pessoa ao corpo e o corpo a um parque de diversões! Toda ação humana envolve uma escolha entre agir e não agir. E tanto uma quanto a outra implica o discernimento moral e a responsabilidade pessoal ante a opção feita. Há uma passagem em Lucas (Lc 17.1-3) que merece ser citada para ressaltar a malevolência em que incorre o material pedagógico antes referido, mormente quando reiteradamente se revela política de governo: É inevitável que haja escândalos, mas ai daquele que os causar! Melhor lhe fora ser lançado ao mar com uma pedra de moinho enfiada no pescoço do que escandalizar um só desses pequeninos. Não me surpreendeu saber que o autor do tal livro, que tem um parceiro de prateleira chamado Menino brinca de boneca?, graduou-se em Cuba. Faz sentido. Faz sentido que com esse notável background pedagógico conquiste a glória e as facilidades do erário num governo petista. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

08/09/2012
Os senadores da República têm em mãos um projeto de Código Penal para o Brasil. Os leitores que já se detiveram sobre o texto terão percebido: o melhor destino dessa peça é o recipiente de lixo orgânico. Do reciclável periga retornar. Pergunto: como acolher por bom um projeto que estabelece pena de um a quatro anos para quem se omitir (art. 388) de prestar socorro a um animal - vale dizer, qualquer ser vivo, pluricelular, heterotrófico, etc, etc, etc. - e pena de um mês com máximo de seis para quem se omitir de socorrer uma criança extraviada (artigo 132)? Ou ainda, pode tramitar como coisa de serventia uma proposta de Código Penal que quer pôr na cadeia por até quatro anos quem modificar um ninho de ave (art. 388), mas transforma em elástico vencido e desbeiçado as restrições constitucionais e penais referentes ao aborto, com a inclusão da certificada incapacidade materna para cuidar do bebê (art. 128)? Tratando-se de seres humanos, não tem ninho, não tem nada: vai no útero e mata o feto. Não é à toa que o professor Miguel Reale Júnior qualifica o projeto inteiro como uma obscenidade. Alguém dirá - Bem, isso tem conserto - mas o projeto não pode ser melhorado pelos motivos que vêm sendo denunciados por eminentes juristas e criminalistas em todo o país, alarmados com as falhas técnicas, vocabulário errado, definições imprecisas e desproporcionalidades que berram dentro do projeto. Entenda-se. Precisávamos de um novo Código Penal. O velho, de tão remendado ficou irrecuperável. Era um caso perdido. Pois bem, assim como o velho não tinha solução, tampouco o anteprojeto proposto pelos notáveis de José Sarney tem compostura possível. A intenção de votar aquele calhamaço de 545 artigos até o dia 4 de outubro é uma total irresponsabilidade! E a ideia de acrescer 30 dias a esse prazo, também. Não se diga que me excedo. Não há qualquer exagero ou excesso em afirmar que esse projeto colide com valores, conceitos, senso de proporção e prioridades bastante consolidadas na sociedade brasileira. Prioridades, senso de proporção, conceitos e valores com os quais estamos habituados a lidar e fazem parte do nosso senso de justiça. No entanto, tudo isso vem sofrendo o ataque sistemático de grupos sociais, tão minoritários quanto influentes e organizados. O projeto do novo Código Penal reflete as posições desses segmentos, cada vez mais interessados em agir sobre as instituições nacionais para moldá-las segundo seus gostos e desgostos. As evidências de que há uma estratégia em curso enchem páginas de jornais e raros são os formadores de opinião dela divergentes. Como os eleitores devem ter percebido, estou falando do politicamente correto, ao qual o projeto faz ensandecidas concessões, e de uma visão de Estado que a opinião pública rejeita. É por causa de ambas que o projeto legaliza o consumo de drogas e o pequeno tráfico. É por igual motivo que o projeto envolve com o manto da exclusão de crime o ato terrorista praticado individual ou coletivamente por pessoas movidas com intuito social ou reivindicatório, desde que os objetivos e meios sejam compatíveis e adequados à finalidade (art.239). O projeto fala a voz desses pequenos grupos de enorme influência, malgrado sua dissintonia com o Brasil real, ainda não contaminado pelo relativismo e pela degradação do humano em todas as suas dimensões. Zero Hora, 08/09/2012

Percival Puggina

07/09/2012
O velho totalitarismo tornou-se mestre do disfarce. Durante alguns anos, se fez de morto. Ganhou sapato novo. E chegou ao poder no dia 1º de janeiro de 2003. Hoje, desfila de terno Armani. Se você, leitor, é daqueles que ainda imaginam o totalitarismo parado numa esquina, maltrapilho, barba por fazer, banho por tomar, distribuindo panfletos contra os patrões e seu sistema, engana-se. O totalitarismo está no poder e sua panfletagem se dá pela web. Conta com um exército de blogueiros e editores de jornais eletrônicos que fazem a mesma coisa de antes com eficiência muito maior. A velha tática da infiltração para aparelhamento, que outrora ocorria de baixo para cima, agora é feita desde cima, onde há dinheiro à vontade. Totalitarismo por quê? talvez esteja se perguntando o leitor destas linhas. Afinal, dirá, o regime é democrático, há eleições e as regras do jogo político são cumpridas. De fato, mas cuidado com os disfarces. Não espere o totalitarismo, depois dos vexames que passou mundo afora, exibindo ao público toda sua hórrida nudez. Tampouco o imagine entrincheirado numa encosta de morro, brincando de Fidel Castro e Che Guevara. Nada disso. Renovado, tornou-se sutil. Para reconhecê-lo, é necessário estar atento aos detalhes, observar suas principais afeições políticas, verificar quais são os governantes aos quais dedica seus abraços mais calorosos, o que diz nos fóruns onde solta o verbo, ler as leis que patrocina e o desapreço que manifesta ao cristianismo, à família e à economia de mercado. Poderia desfiar exemplos, contar casos acontecidos em debates de que participei ou assisti. No entanto, meu assunto aqui diz respeito a algo novo, a uma recente evidência do que estou afirmando. Todos sabemos o quanto a manipulação do vocabulário serve aos projetos totalitários. Nada era menos republicano, democrático e popular do que as repúblicas democráticas e populares nascidas no século 20. Na política, o domínio do vocabulário serve esplendidamente à construção da hegemonia e carimba o passaporte do Príncipe para o poder. Gramsci percebeu isso e, aludindo a Machiavel, disse que o novo príncipe é o partido. Pois bem, se o leitor for atento ao que se fala nos blogs e sites de relacionamento para onde convergem milhões de pessoas no país, por certo já deparou com a palavra PIG. Se não sabe o que é isso, eu traduzo. PIG, que também significa porco em inglês, é a sigla de Partido da Imprensa Golpista, expressão criada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim para designar a mídia de oposição ao governo. Ora, ora, caros leitores. Se o jogo político está sendo jogado em conformidade com as regras. Se os quartéis estão parados como água de poço tampado. Se não há um único projeto de impeachment tramitando no Congresso Nacional. Se a oposição, escangalhada, em vão procura um líder. Se nenhum movimento de massa faz aquilo que o Partido dos Trabalhadores era useiro e vezeiro nas suas campanha de Fora Sarney, Fora Collor, Fora FHC. Onde, raios, estão os sinais de golpe? A expressão PIG, criada pelo Amorim, prontamente acolhida pelo totalitarismo de terno Armani e seus exércitos, só se explica pela dificuldade de conviver com a crítica, com a oposição, com a fiscalização da imprensa livre, com um judiciário independente e, portanto, com a própria democracia. Voilá! - conforme queríamos demonstrar. Nem precisaria rejeitar tudo isso junto para ser totalitário. A palavra PIG, por fim, me remete às páginas policiais, onde, cotidianamente, se leem matérias sobre crimes passionais cometidos por pessoas que não suportam não serem amadas. Os totalitários tampouco conseguem conviver com quem não lhes presta veneração.

Percival Puggina

01/09/2012
À medida em que transcorrem os votos dos senhores ministros no julgamento do Mensalão, digo, da Ação Penal 470, dois fenômenos se vão configurando. No primeiro, evidencia-se a existência, no processo, de um sujeito oculto. Tão esperto, o sujeito, que sequer precisou de advogado. Ele é doutor. Doutor honoris causa. No segundo, vai desaparecendo o sorriso nos rostos dos advogados de defesa. Desenham-se condenações no horizonte de quase todos os réus. Se não uma sentença para ver o sol nascer quadrado (quando forem deduzidas as prescrições, tudo somado e ponderado, pode não sobrar muita coisa), ao menos uma sentença perante a opinião pública. E, para os políticos, um longo período sem foto em urna eletrônica. Entendo, perfeitamente, todos os papéis desempenhados pelos atores do julgamento. Não os vou descrever. Fixar-me-ei nos trabalhos dos defensores. Queimaram pestanas na elaboração de suas teses. Perscrutaram bibliotecas para lhes conferir suportes jurídicos de boas fontes doutrinárias. Examinaram minuciosamente provas e perícias. Contrapuseram objeções. Construíram versões. Amealharam documentos. E escreveram. Quanto escreveram! Teses de defesa e petições que se acresciam a outras teses e petições, formando pilhas e avolumando os terabytes do processo. E as fadigosas viagens a Brasília para juntada de documentos, audiências privadas e públicas? Anos a fio. Eu entendo esses advogados em sua - por enquanto, ao menos - crescente frustração. Nem sempre terão antevisto um horizonte tão nubloso para seus clientes. Há algo, contudo, que me escapa à compreensão. Os advogados dos réus são pagos e, ao que sei, muito bem pagos. Entretanto, na web, nos blogs, nas redes sociais, milhares de pessoas executam com denodo um não menos volumoso trabalho de convencimento da opinião pública. Atuam, com desassombro, na defesa dos réus e do sujeito oculto. Valem-se de toda retórica possível para contestar a denúncia e seu acolhimento, os fatos, as perícias, a razoabilidade, a enorme lista de ocorrências cujo simples enunciado escancara o caráter criminoso das condutas de seus defendidos. Não silenciaram, sequer, ante as sentenças já prolatadas: insubmissos, refutam o juízo quase unânime e demolidor dos ministros do STF. Repetem sem fadiga, que os fatos não existiram e que os réus são inocentes como donzelas quinhentistas. Note, leitor, que tais defensores exaurem-se graciosamente. Fazem tudo isso, de graça. Pro bono, como diriam os profissionais do Direito. Em nome, apenas, do companheirismo, da ideologia, da causa. São ou não são uns cidadãos extraordinários? O herói deles, o seu varão de Plutarco, chama-se Dias Toffoli. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões

Percival Puggina

26/08/2012
GATO POR LEBRE Alguém já viu, na propaganda da candidata do PCdoB em Porto Alegre, alguma vez, o símbolo da foice e do martelo? Alguma vez, em destaque, o nome do próprio partido? Eu não vi. O foco está sempre posto no nome da candidata, na letra M e no número 65. Por que será? E quando algum dos outros candidatos vai apontar para essa escandalosa ocultação que a candidata faz de sua ideologia?

Percival Puggina

26/08/2012
Pois não é que dia desses me peguei assistindo o programa Na moral? Por Deus. Estava ali, deitado, zapeando, e me deparo com Pedro Bial entrevistando convidados. Como peguei o bonde andando, presumo que a pauta fosse sobre arranjos de convívio sexual. Um terreno complicado, onde há de tudo. E havia, mesmo, um pouco de quase tudo. A personagem central da primeira entrevista que assisti era uma senhora muito dadivosa que se alternava entre dois cônjuges. Ora com um, ora com outro. Levava a vida assim, contando com o consentimento de ambos, por sinal, presentes à entrevista. Um dos homens, mesmo sem ser chamado às falas a respeito, fez seu comercialzinho aduzindo que, pessoalmente, não descartava relacionar-se, também, com outros do mesmo sexo, desde que fossem interessantes. Enquanto assistia aquilo, fiquei pensando que, muito em breve, com a multiplicação de tais casos, o Supremo Tribunal Federal será chamado a sacramentá-los. E o fará, numa sessão em que o Congresso, lá do outro lado da praça, ouvirá doutas repreensões por silenciar ante assunto de tamanha relevância e interesse social. Assim, face à omissão legislativa, em nome dos princípios da liberdade, da igualdade e da dignidade da pessoa humana, o STF tomará em suas mãos a deliberação sobre os aspectos jurídicos desses enroscos sexuais. São coisas que existem desde que o mundo é mundo. Já são tema para novela. Novidade é a colher torta do Estado se metendo no meio. Aliás, já existem advogados da tese. E em Tupã, interior do São Paulo, li outro dia, um conluio desse tipo foi formalizado em cartório. Seguiu-se uma entrevista sobre suingue (eis aí mais uma, STF!). No caso, o marido levava a esposa para assistir seu desempenho com outras mulheres em festas de casais liberais. Surpreendentemente, ele não admitia a recíproca por ser muito ciumento... Noutro bloco, com som e imagem distorcidos, o Bial ouviu mulheres e homens, casados regularmente, que mantinham relações extraconjugais clandestinas valendo-se, para tanto, de sites de relacionamento. Por fim, a produção do programa arranjou-lhe um petisco adicional, uma extravagância, coisa inaudita, beirando ao escândalo - tira as crianças da sala, meu bem!: um casal formado por homem e mulher (o esclarecimento é politicamente corretíssimo), que viviam seu matrimônio há 42 anos. Quarenta e dois anos? E nunca pularam a cerca? Nunca, segundo informaram. Do jeito que a coisa anda, tratou-se, obviamente de um programa banal, tratando tais temas como se banalidades fossem. Nada de novo em qualquer das situações focadas. Coisas melhores e piores são exibidas todos os dias. E ninguém tem nada que ver com a intimidade alheia. O completo absurdo, o motivo pelo qual escrevo, veio pouco depois, no encerramento do programa. O apresentador encarou a câmera, fez um discurso resumindo cada uma das situações que apresentara e sublinhou o surpreendente feito do casal casado, fiel, a caminho das bodas de ouro. E arrematou com uma pergunta que, apesar de dirigida aos telespectadores, fustigou a aparentemente insólita situação vivida por ambos: Que tal ser fiel ao desejo? Ao fechar o programa com essa interrogação, o apresentador proclamou sua opção contra o casamento, contra a fidelidade conjugal, e optou pela degradação do humano. Fidelidade ao desejo, conforme proposto pelo jornalista, se expressa numa vida desregrada, sobre a qual não se impõem os freios da razão e do amor. ZERO HORA, 26/08/2012