• Percival Puggina
  • 02/09/2013
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HISTÓRIAS DE VIDA NÃO SE PRESCREVEM

Recebi de um leitor estranha mensagem. Ele é militante pró-aborto. E em e-mail fala sobre uma jovem de 14 anos que, tendo engravidado, fica sem saber se aborta ou não. Partindo dessa raiz, escreve as possíveis consequências de um aborto mal feito de um aborto bem feito. Em seguida, monta duas histórias paralelas para a mesma pessoa, uma optando pela manutenção da gravidez e outra optando pelo aborto. A primeira é uma barra pesada e a segunda uma viagem de cruzeiro em mar calmo. *** Eis a resposta que enviei ao missivista. Prezado senhor ... Li com atenção as 2400 palavras que utilizou para propor suas histórias e extrair as conclusões que buscava. Percebi, ao ler, que o senhor, em contrapartida, dedicou apenas 59 palavras para abordar a questão central, aquela perante a qual a lógica e a verdade científica derrubam todas as demais reflexões e hipóteses que levanta. Refiro-me ao trecho em que resolve considerar o aborto como ato análogo ao chute que se dá em uma casca seca de laranja caída no chão. Diz o senhor: Para mim, o direito à vida de um ser em formação, que não existe como um ser humano completo, que ainda não tem um cérebro formado, e por isso ainda não pode ser considerado clinicamente vivo, está muito abaixo do direito à Vida e a liberdade de decidir sobre a própria Vida que as mulheres e famílias deveriam ter. O senhor afirma isso assim, na base do para mim e pretende que o seu para mim, seja lei com vigência universal. As leis, senhor ..., não são redigidas para valer apenas em relação aos que concordam com elas. Pedófilos, assassinos, corruptos e corruptores, motoristas irresponsáveis, alcoólatras, drogaditos, também discordam das leis que vedam e penalizam seus hábitos e suas práticas. Por outro lado, aquilo que o senhor prescreve como sabedoria máxima, que deveria ser reconhecida como inquestionável evidência, é cientificamente falso: o feto não é um nada, um coisa alguma, um ser humano em potencial, da mesma forma que um idoso não se define como um descartável defunto em potencial. Do óvulo feminino fecundado não nascerá um galo garnizé. Trata-se do mesmo ser humano em diferentes fases da vida, assim como nenhum ser humano, quando bebê, tem aspecto exterior identificável com a pessoa que será na vida adulta. As razões que o senhor alinha enquanto elabora suas hipotéticas histórias desviam-se de importantes princípios que as sociedades civilizadas deveriam preservar. O senhor fala no direito da Vida da mulher grávida (assim com maiúscula), em contraposição à vida do feto (assim com minúscula). Ora, ora, é tudo ao contrário, senhor... Vida não é a mesma coisa que história de vida. Não faz sentido opor o direito à Vida do feto com a melhor história possível de vida da mãe. Oposição dessa natureza justificaria inúmeros outros crimes como solução possível para construção de melhores histórias de vida. Aliás, chega a ser um exercício de audácia prescrever histórias de vida. Essas são histórias que se escrevem mas não se prescrevem. Enfim, desculpe-me, mas sua militância pró-aborto caminha sobre pernas bambas. Não resiste a uma boa análise. E na próxima, por favor, não inclua no texto tolices como a de uma organização terrorista adversária do aborto. Podíamos passar sem essa. Cordialmente Percival Puggina