• Percival Puggina
  • 22/10/2022
  • Compartilhe:

A censura não começou agora e a Constituição morreu antes

 

Percival Puggina

         Tomo emprestada, reverentemente, a primeira estrofe de “De frente pro crime”, de nosso grande João Bosco.

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto, uma foto de um gol
Em vez de reza, uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém

É o que me vem à mente quando penso nos desastrosos resultados da política capturada, como num sorvedouro, pelo topo do poder judiciário com bênçãos do Senado da República e da velha mídia. O que sobra para vermos e lermos são restos do banquete do leão: restos mesmo e ossos.         

De onde terá vindo a ideia de que a abominável censura foi instalada anteontem? Depois dos cães farejadores do espaço digital? Dos cancelamentos de canais e páginas? Das desmonetizações? Das verdades apagadas por ordem judicial? Da sujeição e vassalagem das plataformas? Das restrições aos compartilhamentos? Da especulação normativa sobre o que podem ou não concluir os cidadãos ao serem informados sobre um elenco de verdades judicialmente reconhecidas como tais? Ou seja, sobre os perigos da operação das mentes ... livres?

Por outro lado, de onde terá vindo a ideia de que a Constituição, esse corpo que está lá, estendido no chão, só anteontem foi atingida em sua essência? Depois de sucessivas interpretações antagônicas do texto constitucional? Depois das “maiorias de circunstância” (nas palavras de Joaquim Barbosa) expressarem mais desejo do que convicção? Depois de todas as invasões às competências do Poder Legislativo e do Poder Executivo? Depois de serem tais invasões fundadas em brechas interpretativas abertas a marteladas na Carta de 1988 e maculadas pela estratégia de tomar conta do pedaço para remover obstáculos ao querer da corte? Depois de se verem os ministros como “editores de um país” e “poder moderador da República”? Depois de “tirania do judiciário” se tornar locução corrente no vocabulário nacional?

Para fins político-eleitorais, a biografia de Lula foi refeita ou higienizada dentro do TSE.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


MARIA THOMPSON ALVAREZ DE CARVALHO -   24/10/2022 22:03:31

Perfeito! Estamos vendo o desmoronamento do nosso país. E parece que as pessoas estão " amortecidas", idiotizadas...não sei. É um conjunto de absurdos tão grande! Não consigo ver uma luz no fim desse túnel...

Adalgisa Cecília Polari -   24/10/2022 17:49:19

Estamos todos de tornozeleiras nas pernas, de mãos amarradas e uma larga fita colante sobra a boca. Estou me sentindo como a personagem da propaganda, velha propaganda do Xarope são João da Barra: LARGA-ME, DEIXA-ME GRITAR!

Edna Perez -   24/10/2022 17:07:55

O que era ruim tornou-se pior. A CF cidadã tornou-se marginal e também invisível, bem como o povo que acreditou na existência de parâmetros. Parabéns pelo texto, professor!

Gisele Rodrigues -   24/10/2022 12:22:36

As plataformas são mais que sujeitas e vassalas, são cúmplices, e o pior, ocultas.

Danubio Edon Franco -   24/10/2022 12:01:12

Como sempre, excelente?

Carlos Vicente -   24/10/2022 09:55:06

Maravilhoso texto, Puggina !!! Mas não é o momento de noticiar também o falecimento da ABI ? Tenham todos um bom dia !

Auro Ferreira Koch -   24/10/2022 08:41:02

Caro senhor Puggina Vamos reeleger Bolsonaro para acabar com estas indecências

Alfredo Furtado -   24/10/2022 08:02:14

Concordo!

Armando Andrade -   23/10/2022 11:25:58

Ah! Triste e nauseabunda preclara estirpe dos soldados do nada a buscar novo senhorio das almas. Onde está o juridiquês? Náufrago em peléas, mares bravios e entulhados ao fundos dos mares, em sustenidos bemóis de exaustão! O Brasil não merece mais jogos venham de onde vierem. Castelo, a obra ficou incompleta! E vamos que vamos no ocaso da vida testemunhar o anverso histórico do bem viver. Cofres recheados despertam a cobiça. Vejo ao longe ou "miopia" o retumbar das passadas "direita-esquerda" e o sempre novel a escrutinar "ganha mais não leva". Horrivel o status-quo. Alea jacta esta!

Afonso Pires Faria -   23/10/2022 10:54:51

Que baita tirada! Copiar o que ou outro disse, pode parecer falta de criatividade, mas fazer a ligação ao fato, requer muita inteligência. Parabéns. O corpo, de fato, está estendido no chão, e no

Menelau Santos -   22/10/2022 23:10:05

Professor, se me permite: Retrato [Cecília Meireles] Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro,nem estes olhos tão vazios, nem o lábio tão amargo. Eu não tinha estas mãos tão sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: – Em que espelho ficou retida a minha face? Professor, cadê a face da nossa Constituição?

RUBENS SILVIO DE ALMEIDA -   22/10/2022 21:05:32

Senhor professor, com todo o respeito, quem, sem respeito, liberou o marginal condenado nas instâncias aprovadas pelo STF, foi o próprio STF. Infeliz o povo que não confia em suas instituições e é punido por isso!!!!

João Jesuino Demilio -   22/10/2022 20:45:56

Este país só toma jeito o dia que determinarem que as leis só podem ser interpretas no ESTREITO LIMITE DO IDIOMA!!!...ou seja: VALE O QUE ESTÁ ESCRITO!!!