Percival Puggina

21/11/2009
No ano de 2004, os jornalistas Alberto Carrera Tyszka e Cristina Marcano publicaram, com o título ?Hugo Chávez sin uniforme?, uma detalhada biografia do presidente venezuelano. O último capítulo da obra foi reservado para abordar seu desejo, nutrido no caráter revolucionário e missionário que se atribui, de esticar ao máximo o tempo de sua permanência no poder. Chávez, desde criança, sonhou com morar no Palácio Miraflores. Passada a adolescência, nunca teve outra aspiração. Na madrugada do dia 16 de agosto de 2004, quando venceu o referendum revocatório, apareceu no balcão do palácio rodeado de familiares vestindo camisetas com o dístico ?Até 2021?. E ele mesmo, em inúmeras ocasiões, proclamou que não sairia antes disso ? ?es mejor que vayan acostumbrandose?, arrematava. Nedo Paniz, que integra a vasta lista dos ex-amigos de Chávez a quem ele rotula traidores, conta ter ouvido dele, ainda no início dos anos 90: ?Se yo llego a Miraflores, nadie nos vá a quitar el poder?. O relato está sendo confirmado pelos fatos. No entanto, a biografia e o conhecimento das manifestações do presidente venezuelano a respeito de suas pretensões apenas corroboram algo perfeitamente possível de intuir quando se sabe como opera a mentalidade revolucionária. Ninguém faz revolução para durar 24 horas, 24 dias ou 24 meses. Revolucionários se creem merecedores de todos os meios necessários para cumprir sua tarefa. Se pegam em armas, vão pavimentando o caminho sobre as vítimas de sua ambição. Quando conquistam o poder pelo voto sabem que seus fins são incompatíveis com a manutenção de princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito. E os derrubam. O tempo não é fim; o tempo é meio. Chávez está fazendo aquilo que diz. Está fazendo revolução. A parcela da esquerda ibero-americana, que tantas vezes tentou chegar ao poder pela via das armas, aprendeu que era muito mais fácil obtê-lo através das regras desse desprezível fetiche burguês chamado democracia. Assim, enquanto os companheiros do Foro de São de Paulo governam uma dúzia de países do continente, apenas na Colômbia (e mais recentemente no Paraguai) persiste acesa a chama da guerrilha comunista. Quem se debruçar sobre os quatro anos do governo de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul perceberá que os gaúchos estiveram naquele período sob um governo acometido de idêntica síndrome. Venceu uma eleição, mas assumiu convencido de que o êxito eleitoral era o equivalente político de um sucesso revolucionário. Os gaúchos perceberam e disseram não. ?Qual é o problema de permanecer longo tempo no poder através da vitória em sucessivas eleições??, perguntam os defensores de Hugo Chávez. Em países que adotem o sistema parlamentar de governo, no qual fica instituída uma separação perfeita entre os poderes e funções do Estado, não há problema. Com efeito, quando as instituições estão organizadas desse modo, é possível que o primeiro-ministro comande o gabinete em nome de uma maioria parlamentar que se mantenha por longo período. Em tais casos, no entanto, há um poder moderador, um judiciário independente e uma administração autônoma. Não é isso é o que ocorre na Venezuela, onde o presidente é simultaneamente chefe do Estado, do governo, da administração, domina inteiramente o parlamento, exerce supremacia sobre o sistema judiciário do país, controla a imprensa e implantou o culto da própria personalidade. A situação brasileira é quase a mesma, embora o Poder Judiciário desfrute de maior autonomia e a maioria do Congresso Nacional se venda aos poucos (e não por inteiro) aos favores do Erário. Ainda assim, assistindo tantos partidários de Lula defenderem sucessivas reeleições para Chávez, Morales, Correa, Ortega e Zelaya, eu me preocupo com o que possa acontecer no Brasil quando a senhora mãe do PAC e do Apagão correr na pista sem velocidade suficiente para decolar. Vão entregar toda a rapadura assim no mais?

Percival Puggina

20/11/2009
PRESO POR DIZER QUE ESTAVA COM FOME http://notalatina.blogspot.com É possível imaginar que alguém possa ser condenado a dois anos de prisão, por dizer frente às câmeras de televisão que em seu país se passa fome? Pois foi o que aconteceu com Juan Carlos González Marcos, conhecido como ?Pánfilo?, um cubano de 48 anos de idade como milhares de outros que não fazem parte da Nomenklatura e que passam todo tipo de privações, inclusive e sobretudo, fome. No começo de agosto a televisão cubana fazia uma entrevista na rua sobre música quando Pánfilo, que passava por perto, postou-se frente à câmera e gritou completamente bêbado: ?O que nos faz falta é um pouco de comida! Faz falta comida, pois há uma tremenda fome!?. Este vídeo logo começou a circular pelo YouTube e em questão de dias alcançou o expressivo número de 460.000 visitas. A repercussão deixou o regime apavorado e no dia 12 de agosto Pánfilo foi sentenciado, num julgamento sumaríssimo, a dois anos de prisão pelo ?delito? de ?periculosidade social pré-delitiva?.

Percival Puggina

13/11/2009
Gosto de ler o que Frei Betto escreve. Nem tanto porque ele sabe fazer isso, mas, principalmente, porque é o autor popular que melhor representa o pensamento utópico da esquerda no Brasil. Aliás, quem quiser conhecer a papinha servida aos bebês da utopia comunista deve procurar na cozinha do dominicano. Há jovens esquerdistas que nada têm de idealistas. Esses estão no PT, no PCdoB e na UNE e se servem direto das tetas públicas. Mas há jovens esquerdistas idealistas. E o que frei Betto escreve cai no gosto desses bem intencionados, seduzindo-os para o lado errado da pauta filosófica e política. O próprio dominicano o confessa lisamente. Em artigo de setembro de 2007, ele afirma: ?Muito cedo gravou-se em mim o sentimento do mundo. Meus olhos, dilatados pela fé, polidos pelo pós-hegelianismo de Marx, enxergaram a pirâmide social invertida. Consumiu-se minha juventude na embriaguez da utopia. (...) Lutávamos atentos aos clamores da Revolução de Outubro, à Longa Marcha de Mao ao cruzar as pontes de nossos corações, aos barbudos de Sierra Maestra que arrancavam baforadas de nosso alento juvenil, à vitória vietnamita selando-nos a certeza de que arrebataríamos o futuro. A lua seria o nosso troféu. Haveríamos de escalar suas montanhas e, lá em cima, desfraldar as bandeiras da socialização compulsória?. A essas e outras catástrofes sociais e políticas, a respeito de cada um desses genocídios monstruosos, ele reservou odes e hosanas. O Leste Europeu, para ele, era imagem viva das virtudes em que foi concebido. Obra dos mais elevados ideais humanos. Com Muro e tudo. São palavras suas: ?Os condenados da Terra arranchavam-se sob o caravansará de nossos ideais e, em breve, saberíamos conduzi-los aos mananciais onde correm leite e mel...?. Em nome desse ?em breve?, a famigerada Stasi da República Democrática da Alemanha chegou a ter 80 mil agentes. Somando-lhes os delatores não-oficiais havia um dedo-duro para cada seis alemães orientais. Em nome desse ?em breve?, os cubanos já carregam no lombo meio século de totalitarismo. Em nome desse ?em breve?, o frei, agorinha mesmo, no dia 25 do mês passado, se tocou para Havana, a visitar Fidel, seu ?amigo íntimo?, com quem trocou impressões sobre o progresso dos movimentos sociais no Brasil. E o Brasil, frei? E o Brasil? Prossegue ele, então, descrevendo o aviãozinho que levou colheradas de sua papinha aos bebês do comunismo verde-amarelo: ?Na oficina dos sonhos, forjamos ferramentas apropriadas ao parto do novo Brasil. A luta sindical consubstanciou-se em projeto partidário, a crença pastoral multiplicou-se em células comunitárias, os movimentos sociais emergiram como atores no palco dominado pelas sinistras máscaras dos que jamais conjugaram o verbo partilhar. Cuba, Nicarágua, El Salvador... o olhar impávido do Che... a irredutível teimosia de Gandhi... a sede de justiça dessedentada nas fontes límpidas da ética. Jamais seríamos como eles?. Não é uma figura, esse Frei Betto? Reúne Ghandi e Fidel Castro numa única frase e tudo parece caber na mesma confraria. E ele, sempre do lado errado, levando outros para o lado errado, mas flanando nas asas da maldita utopia que nem por acaso consegue cravar um prego no lugar certo. É o que ele torna a reconhecer em relação ao encontro de seu desvario com a cena política nacional: ?Por que não se aventurar pelas mesmas sendas trilhadas pelo inimigo, já que ele se perpetua com tanta força? Qual o segredo dos cabelos de Sansão? Os pobres caíram no olvido, a sedução do poder fez a lua arder em chamas. Ícaros impenitentes, não se deram conta de que as asas eram de barro?. Digam-me os leitores se ele não é um sedutor! Lutou a vida inteira com caneta, pistola e água benta em favor das instituições políticas mais sórdidas, desalmadas e perversas que a humanidade conheceu. Assumiu como seus e reservou palavras de louvação para regimes que escolhiam como principais inimigos os portadores da cruz que ele leva pendurada no pescoço. E depois, ao contemplar os estragos, reserva-se fugazes encontros com o mundo dos fatos. Como se lê aqui: ?A sofreguidão esvaziou projetos, a gula cobiçosa devorou quimeras. O pragmatismo acelerou a epifania dos avatares do poder. O conluio enlaçou históricos oponentes, adversários coligaram-se, e aliados foram defenestrados nessa massa informe que, destemperada de ética, alicerça o Leviatã?. São palavras de quem, depois de se internar nos porões, tratou de se erguer, como fumaça, sobre os telhados desse mesmo poder, travestido de juiz do estrago que fez. E agora? Agora, depois de ter vendido como coisa boa, ou envasilhado com a rolha do silêncio obsequioso, o Muro de Berlim, o paredón de La Cabaña, a Revolução de Outubro, os massacres que acabaram com o Levante da Hungria e a Primavera de Praga, a Grande Marcha de Mao, a ?vitória? do Vietnã e por aí vai, ele conclui seu ato de contrição com uma nova pirueta em direção ao mundo da lua: ?Dói em mim tanto desacerto. Os sonhos de uma geração trocados por um prato de lentilha. Aguardo, agora, a lua nova?. O dominicano é, portanto, um tipo simbólico. Uma espécie de Muro de Berlim, vivo. Um irredutível habitante da utopia. E um semeador de desastres que, graças ao muro que o separa da realidade, não perde nunca. Qualquer adolescente com ideais nobres e pés no chão dos fatos é capaz de prever o lamentável destino para onde levam suas pegadas. Mas ele sobrevoa o precipício onde os seus seguidores fazem tombar multidões e volta a se revestir com a túnica da razão. Tipos assim são os mais perigosos e merecem ser lidos exatamente por isso. Constroem muros e se instalam, sempre, do lado errado. Há quem creia estar informado sobre política lendo, nos jornais, o que os políticos dizem uns sobre os outros. Coisa vã, sem serventia. A mais instrutiva leitura política é a que se ocupa em conhecer o que escrevem os intelectuais, os condutores dos construtores. E entre estes, em particular, os condutores dos construtores de muros. Eles continuam ativos. Nota do autor: Este artigo foi escrito em 08/11/2009, tomando como eixo o artigo ?As fases da lua?, da autoria de frei Betto, publicado no site www.adital.com.br, em 12/09/2007.

Percival Puggina

13/11/2009
GOVERNO IRRESPONSÁVEL Nada há que justifique ou abrande o grau de irresponsabilidade com que as mais altas autoridades do governo se conduziram no episódio do apagão. Nada! Dezoito Estados brasileiros ficam sem luz e o governo só se preocupou com a repercussão política do fato. Culparam os raios, os ventos e as chuvas, quando nem chuvas, nem raios nem ventos poderiam ter dado causa ao que aconteceu. Do presidente da República ao ministro de Minas e Energia, passando pela ministra-chefe da Casa Civil, todos foram unânimes em dar o assunto por explicado e encerrado, quando ele não estava encerrado nem explicado. Mais grave do que o apagão em si é a decisão de atribuir o episódio a fenômenos incontroláveis, o que nos coloca sob a eminência de novos fenômenos e decorrentes descontroles. Mentiram para si mesmos, para os microfones, para os telefones e para as câmaras de tevê. Mentiram para a sociedade. Num país sério, tamanho acúmulo de mentiras, mesmo em tema de gravidade muito menor, derrubaria um governo. No Brasil, tudo pode e é pouco provável que a grande mídia se ocupe de denunciar o comportamento matreiro de suas excelências.

Percival Puggina

13/11/2009
O PIOR NÃO FOI O APAGÃO Pior é o presidente, primeiro, dizer isto: Nós não controlamos as intempéries, diz Lula sobre apagão Impaciente, presidente afirmou que questão do clima é delicada, porque o mundo é redondo Eu já disse várias vezes, seguiu ele: Freud dizia que tem algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma delas eram as intempéries ? declarou ele, acrescentando que dá um terremoto, o Japão faz casa de borracha, faz casa de papel, aqui no Brasil faz piscinão, piscininha. E completou: ? A gente não sabe o tamanho do vento, o tamanho da chuva. Sabe que, quando vem, tudo que a gente bolou, escafedeu-se. Então, essa questão do clima é delicada, porque o mundo é redondo. Se o mundo fosse quadrado ou retangular e a gente soubesse que o nosso território está 14 mil quilômetros de distância dos centros mais poluidores, torce pra ficar só lá. Mas o mundo gira e a gente também passa lá em baixo onde está mais poluído. A responsabilidade é de todos. E pior ainda é o governo, durante todo tempo, haver mentido descaradamente sobre o fato, atribuindo-o a raios de baixa intensidade que caíram a 20 km das linhas de transmissão.
11/11/2009
A carta a seguir transcrita foi enviada, por email, a um leitor. Penso que ela proporciona reflexões úteis ao visitante deste blog. Estou omitindo o nome do jovem a quem foi enviada para protegê-lo do vexame a que se expôs e deixo de transcrever a mensagem que ele me remeteu por ser desnecessário. Apenas ocuparia espaço da coluna. O texto abaixo é suficiente para intuir o que ele me manifestou a propósito do artigo ?O vampiro argentino?, sobre Che Guevara. Prezado jovem, Se eu não recebesse uma carta com a sua ficaria decepcionado. Afinal, você é o protótipo do personagem que descrevi em meu artigo. Seu fascínio por Che Guevara não precisa de razões. Aliás, você se recusa a fornecer razões. Ele para você é fetiche. É como tatuagem no traseiro. Não precisa explicar. Para sua informação: conheço Cuba muito bem. Estive lá duas vezes. A última em 2002. Estando lá fui vigiado, filmado pela polícia, conversei com pessoas perseguidas, que depois foram presas e passaram anos na cadeia apenas por divergirem do regime. Morei no apartamento de uma família cubana. Sei como eles vivem. Escrevi um livro inteiro (não meia página) sobre Cuba. Diferentemente de você, rapaz, a mim me interessou saber por que Che lutou e quais foram seus ideais. Por outro lado, o uso da palavra mentecapto foi seu e não meu. Mas você acaba justificando, em relação a si mesmo, o termo que emprega ao dizer que não lhe interessam razões, que, como se sabe, são decorrências da Razão, da cabeça e não do coração, nem da emoção, nem do palpite. Mente (intelecto, cabeça) capto (privado de) sacou? A expressão ?cidadãos de segunda categoria?, meu jovem, é de uso corrente entre os cubanos para referirem a condição em que se encontram no seu próprio país, onde os estrangeiros têm inúmeros direitos que a eles são proibidos. Mas você não quer nem saber, não é mesmo? É o que diziam os teólogos julgadores de Galileu quando ele queria lhes mostrar o universo com seu telescópio: ?Noi non vogliamo guardare!? Nós não queremos olhar! Mentalmente são seus contemporâneos. ?Ciudadanos de segunda!?, assim os cubanos designam a si mesmos em seu país, porque não podem ter acesso à internet, hospedar-se nos bons hotéis, mudar de cidade sem licença e, nem mesmo, freqüentar a bela praia de Varadero! Ciudadanos de segunda, que não podem comprar automóvel, moto ou ferro elétrico. Ciudadanos de segunda porque não podem sair do próprio país. Porque não podem dizer o que pensam. Mas nada disso interessa a você porque o que lhe vale é a emoção e a dedicação a um ideal... Ora, rapaz! Os bandidos também têm paixões. Amaram, sofreram e, sem vantagem pessoal, também se empenharam por seus ideais os terroristas chechenos que mataram duas centenas de pessoas, na maioria crianças, em um teatro de Moscou. Quantos oficiais da Gestapo se enquadrariam nesse mesmo perfil? Quantos líderes e membros da Ku Klux Klan também amaram suas esposas, seus filhos, seu país e agiram com a convicção de estarem, sob risco pessoal, fazendo a coisa certa? Não eram humanos e não levaram suas convicções ao martírio os terroristas que se arremessaram contra as Torres Gêmeas? Você sabia que os homens-bomba também morrem por seus ideais? Que os terroristas das FARC matam, seqüestram e morrem por seus ideais? Que os radicais islâmicos são todos idealistas? Movidos a paixão? Então comece a se preocupar com saber por que lutam os que lutam, o que motivam seus modelos (caso contrário eles viram fetiche), porque uma coisa é dar a vida pelos próprios ideais, e outra bem diferente é, em nome deles, sair a matar outros e a querer o sangue de todos aqueles de quem a gente diverge para, sobre esses cadáveres, implantar um inferno na Terra. Sonho e paixão adquirem sentido quando estão postos no bem. Aquele jovem que cuidou dos leprosos, segundo o relato dos Diários de Motocicleta, se você prestou atenção ao filme, passou a viagem lendo livros marxistas. Com o decorrer dos anos, os livros e suas ideias transformaram o jovem idealista Ernesto num homicida frio, que se definia como alguém com ódio no coração, como uma ?máquina de matar?, com sede de sangue. Vampiro, então. Ele não esperou que eu dissesse isso dele. Ele proclamou estas coisas sobre si mesmo. Sim, as ideias e as razões têm muita importância. Mas considero pouco provável que você perca cinco minutos pensando no que estou lhe escrevendo. Aliás, não escrevi aquele artigo para ser lido por jovens como você, cabeça feita por professores falsários, que contam meias verdades e devem considerar como troféu a cabeça de um aluno que não se interessa por razões nem pela Razão. Escrevi para aqueles cuja mente ainda não foi dominada. Escrevi para os que, se escrevem para um articulista fazendo objeções ao que ele expôs, se ocupam com tecer argumentos. Escrevi para os que têm interesse na Verdade, no Bem. Escrevi para os que amam a democracia, a liberdade e a justiça. Escrevi para os que sentem náuseas diante de um paredón. Escrevi para os que ficariam constrangidos ante a falta de liberdade do povo cubano. Não escrevi para você. De você eu queria apenas receber uma carta bem assim como a que me mandou. Você é a minha prova viva. Seu texto vai me servir para outro artigo. E você, repito, é um troféu na prateleira de quem sonha com uma juventude fetichista, que se abraça a líderes sem sequer perguntar o que os move nem qual a relação que mantêm com o bem, com a verdade, com a democracia e com a liberdade dos demais. Você xinga, mas não argumenta porque não pode nem saberia. Nunca lhe ensinaram! Passe bem você também. Percival Puggina

Percival Puggina

11/11/2009
APARELHAMENTO DO ESTADO Das dez questões de conhecimentos gerais comuns às 27 carreiras avaliadas pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), domingo, quatro fazem elogios a ações do governo federal (www.touorolouco.com.br). Uma delas, a número 5, menciona o impacto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sobre o meio ambiente. Na prova de Comunicação Social, aplicada a universitários de seis carreiras, entre elas jornalismo, a questão 19 cita diretamente o presidente Lula. A questão foi criticada por professores universitários e pelo presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo de Andrade. O enunciado diz que Lula foi criticado pela mídia ao afirmar que a crise financeira mundial seria uma marolinha no Brasil. Mas, continua, agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula. Está mais para relações públicas e propaganda do que para uma prova com o objetivo de verificar o conhecimento dos estudantes. A pergunta confirma a opinião do presidente, o que acho discutível. Não é um consenso que a crise tenha sido superada. Para quem perdeu o emprego, foi uma baita de uma crise - disse Andrade. O professor de políticas públicas da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas condenou a questão 19. Ele disse não ver problemas na menção a ações federais nas outras quatro perguntas, já que Lula está há quase sete anos no poder. - Parece mais um discurso de autodefesa do Lula, quase ufanístico: o presidente tinha razão, mas somos uma democracia e temos que tolerar as críticas. É tendenciosa. O professor de jornalismo e ética na comunicação da UnB Luiz Martins da Silva afirmou que não existe fórmula para evitar a politização de questões. Mas, para ele, é elementar que se evitem perguntas que deem margem a suspeitas de alinhamento político.

Percival Puggina

07/11/2009
É de espantar que ainda hoje Che Guevara seja idolatrado como se houvesse sido um benfeitor da humanidade. Os jovens que o cultuam são incapazes de apontar com o nariz para que lado fica a Bolívia e não conseguiriam escrever meia página sobre os acontecimentos de 1959. Mas adoram o Che. Foram iludidos por professores que ensinam História como se estivessem tentando passar adiante uma nota de três dólares, os falsários. Quando caiu Fulgêncio Batista, houve um regozijo mundial. O fato foi festejado na OTAN e no Pacto de Varsóvia, em Washington e em Moscou. E até em Santana do Livramento, lá em casa, onde ninguém era comunista. O mundo ganhara bem sucedido exemplo do clássico direito de resistência à tirania, ensinado por Aristóteles, Tomás de Aquino e Francisco de Vitória. No entanto, meses depois, o apoio do Ocidente aos revolucionários provinha apenas de grupos esquerdistas e de certos intelectuais engajados. Os principais comandantes da Revolução vitoriosa eram os irmãos Fidel e Raúl Castro, Huber Matos, Camilo Cienfuegos e Che Guevara. Reconhecidos como comunistas, apenas Che e Raúl. Fidel negava-o jurando em cruz, pela vida da mãe. Huber Matos e Camilo eram democratas que pegaram em armas na forma do direito clássico (resistência à tirania, na justa medida, em nome de um bem superior, etc.). Quando Huber Matos percebeu que havia, conforme suas próprias palavras, uma ?segunda agenda?, secreta, comunista, enviou carta ao amigo Fidel apontando os desvios. E foi parar diante de um tribunal revolucionário. Em dezembro de 1959 condenaram-no a 20 anos de prisão, que cumpriu integralmente. Camilo Cienfuegos, outro liberal da equipe, ao retornar desse julgamento para Havana, evaporou-se no ar. Resumindo: dos cinco comandantes, dois eram democratas (Huber e Camilo), dois tinham um projeto de poder (Fidel e Raúl), e o outro só curtia guerrilha mesmo (Che). Os Castro implantaram o comunismo em Cuba, leitor, porque nada concentra mais o poder almejado por ambos quanto um totalitarismo desse tipo. Não por acaso, aliás, Cuba e Coréia do Norte se tornaram monarquias com sucessão por consaguinidade. Comunismo com absolutismo monárquico. É o orgasmo do poder! Pergunte ao seu professor, meu jovem. Não. Pensando melhor, pergunte nada, não. Apenas responda: quantos cubanos teriam apoiado a revolução se soubessem que iriam acabar como cidadãos de segunda classe, destituídos até do direito de resistência à tirania que os oprime? E lá estão eles, presos numa ilha de onde só se sai passando pela segurança do Estado no aeroporto, ou jogando-se ao mar, ou para a vida eterna. O que muitas vezes dá no mesmo. E o Che? Che queria outra coisa. Queria o sangue de proprietários, burgueses, capitalistas, como ele mesmo confessou à mulher em carta de 28 de janeiro de 1957: ?Querida vieja: aquí en la manígua cubana, vivo y sediento de sangre, escribo estas ardientes líneas inspiradas en Martí?. E apesar de ter bebido hectolitros de puro plasma cubano, africano e boliviano, morreu com sede, o vampiro argentino. Não o socorrem as lições dos clássicos sobre resistência à tirania. Elas só se aplicam em favor de causas nobres e a situações extremas, sob severíssimas imposições de ordem moral. Jamais ? jamais! ? podem servir para justificar a obra sanguinária de quem lutou para impor um totalitarismo infinitamente pior do que aquilo contra o que dizia lutar. E depois, insaciável, saiu pelo mundo a fazer a mesma coisa. ZERO HORA, 08/11/2009

Percival Puggina

07/11/2009
Tenho em mãos um pequeno folheto referente à Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010 (para quem não sabe, de quatro anos para cá, a tradicional Campanha da Fraternidade da CNBB recebeu a adesão de outras igrejas cristãs e se tornou ecumênica). A peça em questão foi preparada especificamente para o público jovem (tem o subtítulo ?Jovens na CFE?) e visa a orientar reuniões de grupo para estudo e debates sobre ?Economia e vida? ? tema da campanha. Na pag. 27 há um texto com o título ?Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra, em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar?. Ali é defendida a tese de que todas as propriedades rurais com extensão superior a 35 módulos fiscais devem ser automaticamente incorporadas ao patrimônio público, sem indenização e destinadas à reforma agrária. A título de informação: a área do módulo fiscal é variável por município e aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, oscila entre um mínimo de 7 ha e um máximo de 40 ha. Assim, calculada pela média de 20 ha, a maior propriedade admitida seria de 700 ha. E a CNBB se abraçou nessa idiotice? Sim. Com braços e pernas. Aliás, gostou tanto do que leu, considerou tão valioso o material que assumiu sua edição e distribuição. Novidade nenhuma nesse comportamento. Há décadas as coisas, por lá, andam assim. O material da CFE de 2010, disponível no site da CNBB, vai na mesma trilha. Depois de expressar justa e piedosa preocupação com as situações de miséria e pobreza existentes no país, estende o dedo indicador para as causas de tais males: o lucro e o mercado. E, por fim, identifica a solução: um sistema econômico que priorize a partilha e a solidariedade. Pronto! Tudo resolvido. Como é que ninguém pensou nisso antes? Traduzindo em miúdos o sentido da coisa, é como se a CNBB estivesse dizendo aos investidores e empresários: ?Ei! Vocês aí do sistema produtivo nacional! Cambada de gananciosos! Querem acabar com a pobreza e safar-se do Inferno? Adotem um modelo no qual os bens sejam repartidos e onde o lucro e as preocupações com o mercado sejam exorcizados das vossas organizações. Vereis, então, o maná precipitar-se dos céus sobre o deserto das carências humanas!?. É a mesma genialidade que, anos atrás, não queria que o Brasil pagasse suas dívidas. É o mesmo fundamentalismo travestido de piedoso da sua Comissão Pastoral da Terra. É a mesma matriz ideológica da Campanha da Fraternidade do ano passado que resumia o tema da violência à luta de classes: pelos respectivos crimes, o rico era individualmente culpado e o pobre socialmente absolvido. Perdoem-me os mais benevolentes que eu. Mas ano após ano, servindo-nos sempre um pouco mais do mesmo lero-lero beato-marxista e um pouco menos da palavra de Deus, a CNBB já foi bem além da minha capacidade de tolerância. Ao longo dos anos, foi perfeitamente possível encontrar impressões digitais e carimbos das suas pastorais sociais em documentos que deixavam claro que o Reino de Deus tinha partido político na Terra. Ou não? Parece que de tanto darem ouvidos às demagogias da esquerda nacional, nossos bispos se deixaram contaminar! Que sistema e quais organizações econômicas são essas que propõem na futura Campanha da Fraternidade? Silêncio. São detalhes que não a interessam como instituição, nem aos senhores bispos (quem cala consente!), provavelmente convencidos de que a Economia funciona como caixinha de paróquia, na qual as coisas vão bem quando todos põem bastante dinheiro na sacola da coleta. Ou, mais grave ainda: continuam confundindo a Boa Nova com as velhas e fracassadas promessas da economia planificada, centralizada, comunista, que em longas e tristes experiências só gerou opressão e miséria.