Percival Puggina
01/06/2018
Nos dias 25 e 26 deste mês percorri 600 km de rodovias no Rio Grande do Sul. Cruzei por dezenas de barreiras montadas pelos caminhoneiros. Nunca tive problema para seguir em frente. Então, pergunto: a quem estavam destinadas as chicanes pelas quais passei livremente? Pois é. Aos milhares, elas foram montadas em todas as estradas do país com o intuito de impedir a passagem dos veículos de carga. Ponto.
Esta simples constatação mostra que o colossal movimento dos caminhoneiros, que botou o Brasil no acostamento, não era expressão de uma homogênea e plenipotente vontade, como foi entendido pela população. Quantos caminhoneiros teriam aderido à greve se lhes fosse dado o direito de ir e vir? Quantos estacionaram com receio de possíveis represálias aos veículos, às suas cargas e a si mesmos? Em quase tudo na vida há o que se vê e o que não se vê.
A imensa maioria da sociedade, longe do acostamento, viu homogeneidade e obstinação da categoria numa situação em que a intimidação de uns convivia com a prudência de outros. Os caminhões que agora trafegam com combustível são acompanhados de escolta militar para dar segurança a um transporte que, sem proteção, não ocorreria ou ocorreria sob inaceitável risco.
As demandas dos caminhoneiros são compatíveis com uma situação plena de equívocos. A frota cresceu excessivamente; a prolongada sequência de recessão e lento crescimento da atividade econômica reduziu a demanda por frete, os custos com diesel subiram demais e o rendimento de seu trabalho secou. Merecem, hoje e sempre, nosso inteiro respeito esses bons brasileiros. São empreendedores. Com coragem, sacrifícios e dívidas adquiriram seu veículo e ganham a vida na insegurança das estradas, trabalhando árdua e honestamente.
É impossível deixar de ver, no entanto, os três sequestros que aconteceram nestes dias, alguns dos quais ainda em curso. Refiro-me ao sequestro inicial das cargas que estavam sendo transportadas. Refiro-me ao sequestro do direito de ir e vir das pessoas e, com isso, para milhões de brasileiros, o sequestro da possibilidade de trabalhar, produzir e se sustentar. Como derradeiro sequestrado, incluo o próprio movimento dos caminhoneiros, dominado por correntes políticas contraditórias, interessadas em gerar uma situação de anomia e caos.
Como conservador, creio na mudança, na reforma, na prudência. Descreio das revoluções, das rupturas, e de que se encontre no agravamento do caos a saída para o caos.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
30/05/2018
As fotos são inacreditáveis. Quando estes dias forem uma triste lembrança e amarga lição, as imagens da greve dos caminhoneiros em 2018 ilustrarão momentos em que o Brasil, levado à beira do abismo, soube pisar no freio. Soube? É o que ainda espero, ao escrever estas linhas.
Enquanto o Brasil estertora no acostamento, uma parte da sociedade parece delirar. O país vai quebrar? Deixa quebrar. Quem tem trabalho não está conseguindo trabalhar e quem está produzindo não consegue produzir? Deixar estar. Quem tem o que vender, não encontra quem venha comprar? Faz parte. O PIB está levando um tombo muitas vezes bilionário? Não importa. Mas afinal, o que importa? Pois é, li que na pauta dos caminhoneiros existem itens que me agradam, como a queda do preço da gasolina, e o fim das urnas eletrônicas. Ah!
No cardápio das postulações há para todos os gostos. O que importa é capturar apoio popular para a mobilização dos “heróis” que, com insuperável eficiência, conseguiram mostrar a Temer o quanto todos, inclusive eu, o desprezamos. E sim, claro, isso é muito mais importante do que o Brasil.
Assisti, há alguns minutos, vídeo em que um caminhoneiro aos gritos, perguntando à longa fila de espera diante de um posto de combustível se os cidadãos que ali estavam pretendiam comer gasolina, porque, quisessem ou não, iria faltar alimento. O militante estava convencido de que a população devia subordinar-se às determinações do multiforme politburo grevista e ficar hibernando em casa enquanto eles cuidam de deteriorar a situação de todos. Fica proibido trabalhar. Ficam proibidas todas as atividades que envolvam direito de ir e vir. “Estátua!”, brincavam antigamente as crianças, obrigando os demais a permanecerem como estivessem. E assim comandam, hoje, os novos senhores de nosso cotidiano.
É quase inacreditável que tanta gente se deixe iludir pelas artimanhas de um movimento que foi infiltrado pelo que há de pior na política brasileira. A infiltração os fez afinar-se com os mesmos petroleiros que se tapavam de alaranjado com Lula e Dilma em reiterados comícios enquanto a Petrobras era saqueada e vampirizada a ponto de se tornar escárnio mundial e miniatura de si mesma. A infiltração passou a acolher terroristas, black blocs, a escória de 2013 e representantes dos hospedeiros da carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Os que se deixaram seduzir pelo movimento dos caminhoneiros parecem não perceber que se tornam reféns, meros objetos, favas contadas, na chantagem que eles impõem ao Estado.
Basta ouvi-los quando disseminam áudios e vídeos em falsa surdina ou tons ameaçadores para reconhecer o vocabulário. Qualquer pessoa com experiência em linguagem política sabe o que está na cabeça de quem assim se expressa. Buscam o caos com intuito revolucionários.
Não é mediante um cardápio de propostas difusas e confusas que se avança com seriedade pela via democrática, mas com a legitimação eleitoral de propostas consistentes. Cinco boas medidas de combate aos inimigos do Brasil, para pautar a eleição de outubro seriam: 1) não reeleger corruptos, coniventes e incompetentes; 2) agravar a lei penal e combater a impunidade; 3) diminuir em 10% a carga tributária, com redução compatível do custo do setor público mediante alterações constitucionais que o permitam; 4) extinção dos privilégios adquiridos; 5) fim do foro privilegiado.
Quem, tendo uma eleição ali adiante, opta pelo caos para fazer revolução, quer o caos e não a democracia. O caos é o tempo dos piores, dos oportunistas, dos bandidos, dos sem escrúpulos. Não é o tempo dos democratas nem dos estadistas. Perguntem a cubanos e venezuelanos.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
27/05/2018Engana-se quem pensa que essa greve traz à população algo que não seja caos. Ela é pelo Diesel e não reduzirá nem o frete.
Essa frase, que postei dia 26/05 nas minhas páginas do Facebook, suscitou inúmeros comentários. A maioria expressando desagrado. Era previsível porque pesquisa feita pelo Instituto Methodus informava, na véspera, que 86% da população apoiava a greve. No entanto, não tenho o hábito de auscultar a opinião pública para decidir o que devo escrever ou falar. Se fosse fazê-lo, não teria escrito ou dito coisa alguma quando poucos, muito poucos, combatíamos as ideias de esquerda e o petismo na segunda metade dos anos 80.
Estou convencido, pela simples aplicação da razão aos fatos, de que é preciso distinguir as motivações. Uma coisa é a greve dos caminhoneiros, com apoio dos transportadores e produtores rurais interessados em reduzir o preço do diesel. Atendida essa reivindicação e isentos do pagamento de pedágio quando vazios, não fica um caminhão no acostamento. Ou alguém acredita que seus condutores continuarão parados até que o país tome jeito, que o Estado encolha, que os impostos diminuam, que a segurança aumente, que as estradas melhorem?
Outra coisa, então, são as pautas nacionais, sobre as quais muito tenho escrito e das quais poucos se têm ocupado. Quanto mais terrível for a situação no dia 7 de outubro, quanto maior o caos, mais receptiva estará a massa de eleitores a quem lhe oferecer, em 7 de outubro, o conhecido prato feito de mentira, populismo, corporativismo, estatismo e, claro, subsídios públicos. Não vislumbro a menor chance de que em tal situação a maioria do eleitorado decida optar por uma política econômica liberal. Ao contrário, ela se inclinará para o lado de quem lhe oferecer doses mais robustas do mesmo veneno através da mão falsamente dadivosa do Estado. Sou contra o plantio do caos.
Comece a falar em privatização e fim do monopólio e veja o que acontece. Quais as demandas da greve da Federação Única dos Petroleiros (FUP) programada para quarta feira? Demissão do presidente da Petrobras, retirada das Forças Armadas das refinarias onde garantem o abastecimento dos caminhões, manutenção dos empregos, “não às privatizações” e ao “desmonte da Petrobras”. Ah! Enquanto a empresa era vampirizada pelo governo petista que a transformou em objeto de escândalo e escárnio mundial, a turma da FUP, agora grevista, posava para fotos ao lado de Lula e Dilma. Agora, faz greve e se une aos caminhoneiros... “para o bem do Brasil”. Deve haver apoiador do caos aplaudindo a greve desses hipócritas porque, afinal, ela ajuda o caos, certo?
A pluralidade de expectativas em relação aos caminhoneiros é uma evidência de que ela está sendo vista como uma espécie de Bombril com usos contraditórios. Ora é uma porta aberta para a “intervenção militar constitucional”, ora uma oportunidade para o "Fora Temer", ora uma chance de criar clima para a volta da esquerda ao poder, ora uma oportunidade de acabar com os males do estatismo e ora uma oportunidade de buscar soluções junto ao Estado, ora servirá para acabar com o monopólio do petróleo e ora servirá para preservar definitivamente o monopólio. Entendam-se, porque eu não entendo.
Ponderação final: se você está convencido que a greve é boa para o país, que o “Fora Temer” petista que vi em caminhões, vindo ontem de Santa Maria, é uma boa pauta, que o agravamento do caos institucional fará o que até agora não foi feito, responda para você mesmo, a quatro meses de eleições gerais, qual o grupo político que colherá maior vantagem dele com vista aos próximos quatro anos de poder no país?
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
25/05/2018De onde a vejo, como cidadão e consumidor, a Petrobras é apenas uma empresa pública monopolista que, em perspectiva recente, adquiriu péssima reputação. Embora responda por 99% do petróleo refinado no Brasil e detenha o invulgar privilégio de fixar o preço de seu produto concorrente – o etanol –, permitiu que o governo anterior lhe criasse gravíssimos problemas financeiros e de imagem pública. Se eu tiver que escolher uma empresa para admirar e proteger, certamente ela não será monopolista, nem pública, nem vampirizada por corrupção ou corporativismo. Portanto, como cidadão brasileiro, o valor de suas ações me afeta muito menos do que a falta de combustível no posto da esquina.
E os caminhoneiros, grevistas da vez? Estão tapados de razão. Sintonizo com eles quanto aos preços dos combustíveis. Considero uma irracionalidade estarem submetidos a uma empresa monopolista que se concede o direito de alterar os preços de seus produtos dezenas de vezes por mês! Imagine uma indústria que adote a mesma prática em tempos de pequena ou nenhuma inflação. Imagine uma loja trocando diariamente, e mais de uma vez por dia, as etiquetas de preço na vitrina. Imagine isso num supermercado em tempos de preços estáveis. Loucura!
Como podem as atividades econômicas altamente dependentes dos combustíveis controlar seus próprios custos se um item tão importante oscila diariamente segundo a cotação do barril de petróleo, segundo a cotação do dólar, segundo as necessidades da Petrobras e segundo os interesses fiscais da União e das unidades da Federação? Tenho idade suficiente para afirmar que coisa igual nunca se viu. Não faltam razões, portanto, para a atitude dos caminhoneiros. Mesmo assim, sou contra o que estão fazendo. Não é a justiça da reivindicação que legitima a conduta dos manifestantes. Se aceitar que se tranquem rodovias, que se aterrorize a população com o pânico da escassez, que se leve caos à sociedade, devo admitir que as práticas delinquentes do MST se habilitem ao escrutínio da mesma lupa moral. E isso, por motivos óbvios, não posso fazer.
Uma soma algébrica de erros não produz um acerto. Agindo sobre erros antigos, não está certa a direção da Petrobras ao ver a empresa na perspectiva quase claustrofóbica em que a vê. Pedro Parente é um grande gestor, mas existe vida fora da Petrobras. Quando motoristas e transportadores usam a população e a escassez como forma de pressão, não estão a agir diferentemente de certos movimentos sociais que colocam mulheres e crianças na linha de frente de suas ações criminosas. O governo, ao tratar a Petrobras como se fosse uma prateleira de cristais, está deixando claro, para mim, que esses cristais não deveriam estar nessa prateleira.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
22/05/2018
Telefonou-me antiga secretária. Contou-me que, aposentada, voltou aos bancos escolares e cursa os últimos meses de uma titulação acadêmica na área de Ciências Humanas. “Marxismo de tudo que é jeito, em doses maciças, Puggina!”, exclamou-se ela. No início, contestava os professores, mas, lá pelas tantas, cansada dos repetitivos confrontos, impôs silêncio a si mesma para não se prejudicar. Contou que nos primeiros meses, sempre que apontava os sucessivos fracassos das experiências comunistas, os professores tiravam da manga o velho clichê: “Interpretaram mal o Marx”.
Quem ainda não ouviu isso em aula ou roda de amigos? Pois é. Marx é o indivíduo mais mal interpretado da história humana. Só a militância de esquerda, titular do quadro negro, proprietária do toco de giz, exercendo de modo monopolista o direito de atribuir nota a seus alunos é capaz de interpretá-lo corretamente. E assim, dentro da sala de aula, no estranho mundo de palavras onde a esquerda habita, as 43 experiências políticas do comunismo, com seus 100 milhões de mortos (aos quais se acrescenta agora o genocídio venezuelano) se tornam um problema de interpretação. Basta ler Marx adequadamente para o comunismo emergir purificado e se tornar um sucesso no mundo das palavras.
Embalados por professores aos quais foi dado o privilégio de interpretar Marx perfeitamente, políticos de esquerda, mundo afora, desenvolveram, como afirmou alguém, extraordinária capacidade de dizer e propor coisas terríveis de modo absolutamente cativante. Espalham ódio, acabam com as liberdades públicas, produzem fome e violência, mas o fazem sorrindo, em nome da fartura, da igualdade, da solidariedade e dos mais elevados valores que se possa conceber. E que se danem os fatos mesmo quando a realidade se mostra desengonçada do discurso. É o caso da Venezuela e do entusiasmado apoio da esquerda brasileira aos ditadores Hugo Chávez e Nicolás Maduro, e à autodenominada revolução bolivariana, com a população em fase de perda doentia de peso, a caminho de seu holodomor.
Talvez não tenha repercutido como deveria, fora do Rio Grande do Sul, a reação da delegação do Grêmio quando foi à Venezuela disputar, dia 15 de maio, contra o Monagas uma partida pela Libertadores da América. A fome da população, exibida em sua face mais dramática, chocou os jogadores, que coletaram dinheiro e deixaram por lá tudo que podiam. O atleta Cícero, assim se expressou, falando por todos: “Nós somos seres humanos. Eu vim de classe média-baixa e sei o que passei lá atrás. Eu cheguei e vi uma situação até arrepiante. Ser humano pegando prato de comida como se fosse o último dia de vida dele. A gente juntou uma coisa boa para eles. Essas coisas não tem preço na vida. Poder ajudar as pessoas”. E foi seguido pelo treinador Renato: “Chega a machucar o coração. Tivemos essa experiência já no ano passado. Recebemos pedidos para trazermos coisas como remédio, água, papel higiênico. Trouxemos bastante coisa. O mundo precisa olhar um pouquinho mais para a Venezuela. O que nós vimos e sentimos aqui nos últimos três dias choca. Fizemos a nossa parte, mas não é suficiente. Ajudamos algumas pessoas, mas a coisa aqui está muito feia”.
No mundo de palavras geradas na mente esquerdista, contudo, a Venezuela – “brilhante democracia popular” – tem um futuro revolucionário promissor. E assim será dito, até que os professores, em sala de aula, comecem a ensinar que Marx foi mal interpretado por Chávez e Maduro.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
18/05/2018
Desculpem a expressão pouco polida e, ainda menos, criativa. No entanto, é a exclamação que me ocorre diante do que se cristalizou como cenário das próximas eleições parlamentares.
Promover uma grande renovação nas duas casas do Congresso Nacional era a principal aspiração da sociedade brasileira para a futura eleição parlamentar em 7 de outubro. Tratava-se de pura racionalidade: afastar os corruptos, os coniventes com a corrupção e os incompetentes, preservando os melhores. A conduta dos eleitores, aliás, deveria ser sempre essa, mas os eventos dos últimos anos – em especial os achados da Lava-Jato e operações análogas – tornaram tal conduta uma imposição dos fatos a todo eleitor consciente, a todo cidadão preocupado com o presente e o futuro do país.
Foi no contexto desse clima político-eleitoral que começaram as pressões para extinguir o financiamento empresarial aos candidatos e partidos. Seria esse financiamento (e não o irracional modelo político) “a” causa fundamental da corrupção, por gerar conluio de interesses escusos entre financiadores e financiados. Tão indigno sistema – assim se dizia - deveria ser substituído por uma fonte pública, imune a quaisquer compromissos.
Chamada a opinar, a sociedade não aderiu à tese. Nem mesmo a poderosa organização formada por mais de uma centena de entidades e associações que se integraram na famosa “Coalizão por Reforma Política e Eleições Limpas”, sob a liderança da OAB e da CNBB, conseguiu sensibilizá-la. Empenharam-se os patrocinadores da tese em campanha que se estendeu por mais de um ano, entre 2014 e 2015, tentando, inutilmente, coletar 1,5 milhão de adesões a um projeto de iniciativa popular. O financiamento público encabeçava as propostas. Alegavam expressar o desejo social e pediam assinaturas durante missas em todo o país, mas nem assim conseguiram os patrocinadores coletar a metade disso! O povo jamais considerou ser de seu dever custear campanhas eleitorais, através de recursos públicos pelos quais cada cidadão estaria, inclusive, financiando candidatos contrários às próprias convicções.
A falsa lógica do beatificado fundo eleitoral público, porém, já havia contaminado os “legisladores” do STF. Em setembro de 2015, por oito a três, atropelando, inclusive, um projeto em sentido oposto que procurava disciplinar o financiamento por pessoas jurídicas, o Pleno decidiu que ele era “inconstitucional”.
Resultado: em 2017, o Congresso aprovou a formação de um fundo público para a eleição de 2018. Esse recurso, no montante de R$1,7 bilhão, será destinado aos partidos e neles manejados por seus líderes. E quem são estes? Como regra quase geral, nas executivas nacionais e nas secções estaduais, são deputados federais e senadores. Ou seja, os recursos “públicos” serão privatizados por aqueles que, em grande proporção, a sociedade não deseja ver reeleitos, frustrando-se a efetivação do cristalino anseio nacional pela renovação. OAB, CNBB e STF estão devendo explicações para esse terrível malfeito que realiza o sonho de todos os corruptos cuja reeleição estava em risco! Amarraram cachorro com linguiça, entregando-lhes – logo a eles! – o privilégio de se financiarem com meios que a nação sangrou para produzir e arrecadou na forma de tributos federais. Quem quiser furar esse esquema que trate de correr o chapéu juntando trocados de pessoas físicas, na base da “vaquinha”, ou do me dá um dinheiro aí.
Apesar desse desastroso papelão, persiste o desejo de renovação. Não se omita, não vote em corruptos, preserve os bons e renove. Sobretudo, dedique tempo à escolha que fará, e renove!
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
17/05/2018
Esclarecendo um pouco mais a expressão acima, utilizada anteontem no artigo que pode ser lido aqui: ninguém neste país, tanto quanto o Grupo Pensar+ e, especialmente, o amigo pensador Gilberto Simões Pires em seu pontocritico.com, advertiu para o que iria acontecer com a economia brasileira se a reforma da Previdência não fosse aprovada.
Não foi por falta de evidências nem de reiterados avisos que o Congresso Nacional cometeu, por maioria, a imprudência de deixar como está para ver como fica aquilo que não pode ficar como está e já se vê como está ficando. A teimosa e insistente advertência do amigo Gilberto induz a uma nova aplicação das muitas paráfrases suscitadas pela famosa gravação de Michel Temer: não dá para manter isso aí, viu? Um país pobre, uma economia estagnada, instituições levadas às barras dos tribunais, não pode manter, para sua previdência social, padrões que sequer as economias ricas suportam.
Esse modelo institucional está, ele mesmo, exigindo uma reforma que também não acontece. Já não falo nas patacoadas do STF. Refiro-me ao fato de que o Congresso Nacional iniciou o biênio do governo Temer apoiando iniciativas apontadas pelo presidente e as deixou ao léu quando a imagem moral do mandatário, como num mecanismo de vasos comunicantes, nivelou-se com o padrão do legislativo. Nesse momento, a base foi se afastando de Temer para não "macular" sua própria imagem...
Dá-me forças para viver! O roto se constrange com a companhia do descosido e a nação que se dane. Displicentemente, empurram-se as reformas para o ano que vem, onde passarão a depender da composição do Congresso e de quem tenha sido eleito para ocupar a presidência. Diga-me o leitor: qual outro empreendimento humano se deixa conduzir mediante rituais tão desengonçados e desestabilizadores?
Quando tantos consideram que a reforma da Previdência é uma perversidade; que a reforma trabalhista é uma supressão de direitos; que a responsabilidade fiscal é uma submissão aos padrões neoliberais; que a queda inflação, dos juros e o fim da recessão nada significam, somos obrigados a deduzir que bom, mesmo, deve ser a economia parada, os 13 milhões de desempregados, e o horizonte de incertezas em que nos deixou o governo petista. No fim do voo da galinha, aliás, pode faltar dinheiro para todo mundo.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
16/05/2018
Até quando os poderes de Estado continuarão vivendo às nossas custas sem fazerem o que devem? Até quando deixarão de lado o interesse nacional para curtirem seus “baratos” ideológicos, platitudes filosóficas e nebulosas teorias? Indignar-nos ante a violência e a insegurança é tudo que podemos e, até a isso, se permitem execrar classificando como “sanha punitivista”. Padece e não reclama!
Irmãos nossos estão sendo mortos, bens estão sendo tomados e há uma violenta guerra assimétrica declarada pelo crime contra a indefesa sociedade. Como chegamos a isso? Com governantes que deveriam construir presídios e não o fizeram e com legisladores e magistrados que, detendo o monopólio da reação, da elaboração das leis, da condenação e da execução penal, distribuindo benefícios aos criminosos na magnanimidade de quem leva presente de Natal ao asilo. Ora, por favor!
Na cena de ontem, um delegado da polícia federal foi morto dentro de casa por dois bandidos, um dos quais beneficiado por generosa “saidinha” do Dia das Mães. Na cena de anteontem, o criminoso da vez investiu, arma na mão, contra mães e crianças diante de uma escola (!), com o intuito de assaltar uma ou todas. Felizmente, o caso acabou bem, com o bandido morto graças à ação expedita e correta de uma militar. É pouco provável que se tratasse de iniciante na vida criminosa.
Graças à impunidade oficializada, sacramentada por magistrados e legisladores ideologizados e avoados, que olham para essas cenas e se penalizam dos bandidos, convivemos com condenados soltos, a praticar crimes, e há mais criminosos nas ruas do que nas prisões. A contragosto, centenas de milhares de brasileiros estão deixando o país para levar suas vidas em lugares mais seguros.
Nas próximas eleições temos que exigir daqueles em quem votarmos compromisso com a construção de presídios, apoio à atividade policial e avigoramento da legislação penal.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
15/05/2018
Quando a bancada do ainda minúsculo PT da Assembleia Nacional Constituinte eleita em 1986 se recusou a assinar a Constituição, não estava antevendo os problemas que forçosamente dela adviriam. Era por motivos errados que o partido rejeitava a Carta. Reprovava-a por não ser suficientemente socialista, estatista, coletivista, corporativista e sindicalista, nem suficientemente avessa à propriedade privada, ao cristianismo e à civilização ocidental. Tudo que ela tinha de ruim, o PT queria ainda pior. Para quase todas as teses derrotadas ou não tão vitoriosas quanto desejava, o partido tinha apoio da ala esquerda do PMDB, que nos últimos meses do processo constituinte rompeu com o governo Sarney e fundou o PSDB. É bom não esquecer: o PSDB nasceu mais próximo do PT que do PMDB e muito distante do DEM (então PFL), com o qual viria a andar por bom tempo.
A plataforma e as posições políticas que o PT sustentara na constituinte serviram para atazanar todos os governos subsequentes. O partido foi contra o Plano Real, o pagamento da dívida externa, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o superávit fiscal, as privatizações, a abertura ao mercado externo, o agronegócio, bem como a toda e qualquer proposta que significasse redução do tamanho e do peso do Estado. Na oposição, o PT fez muito mal ao Brasil. O partido pode ser representado por uma figura de costas para o século XXI, empacada com um pé na primeira metade do século XX, outro na segunda metade do século XIX. Não apenas impediu, ou dificultou, de modo sistemático, a aprovação de medidas modernizantes, mas emperrou, na mesma sintonia, a mentalidade de parcela significativa da população brasileira, seduzida pelo discurso partidário. O único, por sinal, que fez e faz política em tempo integral, tendo, por isso, elevado poder de convencimento.
O tempo veio mostrar o quanto era hipócrita o duro combate à corrupção que embalava a oratória do PT oposicionista. Esse vício moral não surgiu com o PT. Não nasceu em 2003. Bem antes, já engatinhava pelos corredores do poder, preparando-se para os “malfeitos” do porvir. Na longa continuidade do governo petista, ganhou tempo para alcançar maturidade e se profissionalizar. Brasília se tornou uma espécie de Vale do Silício da corrupção, terra dos negócios bilionários, das “sacadas” geniais, pluripartidárias, conferindo notáveis fortunas a indivíduos dos quais ninguém, antes, sequer ouvira falar.
Os treze anos de governos petistas criaram o caos. Derrubaram a economia, reintroduziram a inflação, exponencializaram o déficit público, jogaram milhões de brasileiros no desemprego, não promoveram quaisquer das reformas estruturais e institucionais que a realidade nacional exigia e naufragaram em irresponsabilidade fiscal e corrupção. O país afundou.
Com o impeachment de Dilma, o partido voltou à oposição e ao mesmo padrão de conduta que o levara ao poder. Passou a opor-se às mais indispensáveis e inadiáveis reformas, que por não terem sido feitas no tempo devido, tornaram-se urgentíssimas. Em vão. O PT e seus anexos cuidam apenas de impedir que o governo governe. A irresponsabilidade, na política brasileira, é uma coisa doentia, que o PT também não inventou, mas à qual conferiu estatura épica. Passou da hora de os partidos políticos brasileiros assumirem suas responsabilidades e colocarem o bem do país em primeiro lugar. Parafraseando Temer pelo avesso: não dá para manter isso aí, viu?
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.