Percival Puggina

08/05/2010
Este artigo reproduz carta que enviei a um jovem. Por e-mail, ele manifestara dissabor com o artigo O vampiro argentino (1). Bem educado, em texto correto e movido por evidente boa intenção, ele expressou sua contrariedade ante a referência que fiz ao fato de jovens que não sabem apontar com o nariz para que lado fica a Bolívia e que não conseguiriam escrever meia página sobre os episódios de Cuba andarem pelas ruas ostentando camisetas com a estampa do Che. O meu leitor sabia as duas coisas e se magoou. Nas correspondências que trocamos, pedi a ele que em vez de apontar para Bolívia, me indicasse suas razões para reverenciar a memória do argentino. Respondeu-me ele que seu herói renunciou às comodidades de que desfrutava como médico, buscou viver e alcançar seus ideais, lutou e deu a própria vida pelas suas convicções. E acrescentou que se havia algo que ele prezava e respeitava era a coragem e a iniciativa de uma pessoa. Imagino que esse leitor não seja o único que firma sua admiração a Che Guevara nas mesmas bases. Eis, a seguir, o que lhe respondi. Transcrevo na esperança de que sirva para outros em idêntica situação. Caro jovem: as razões que apontas estão muito mais no plano da reverência a certos sentimentos do que em fatos que os expressem de modo louvável. Valorizaste a coragem, os ideais, a renúncia aos confortos e bens materiais e à disposição de dar a vida por algo em que se crê. O problema do Che não estava obviamente aí, mas no uso que fez desses atributos de seu caráter. Tua referência à renúncia aos bens materiais, aliás, me fez lembrar o filme Diários de Motocicleta. Certamente o assististe. Nele, o diretor Walter Salles Jr. comete amazônica injustiça contra as religiosas que atendiam os índios no leprosário de San Pablo, no meio da selva, dezenas de quilômetros a jusante de Iquitos. Che é apresentado nas manipulações do filme como um anjo de bondade e as irmãs como megeras. No entanto, aquelas mulheres passaram suas vidas inteiras enfiadas em barracos de madeira, no meio do mato, cuidando de leprosos. Não uma semana. Vida inteira! E não por ódio a alguém, mas por puro amor ao próximo. Quem sabe passas a usar uma camiseta com a estampa das irmãs de San Pablo? E já que falei em cuidar de doentes, lembro outro caso. Em 1913, um talentoso jovem alemão, com doutorado em filosofia, teologia, medicina e música, exímio organista, considerado o maior intérprete de Bach em seu tempo, muito bem sucedido profissionalmente, decidiu instalar por conta própria um hospital às margens do rio Ogowe, no Gabão. Ergueu-o com as próprias mãos. Como forma de mantê-lo, voltava periodicamente à Europa a dar recitais. Fez isso não por uns dias, mas por toda a vida desde os trinta anos. Em 1953, sua contínua dedicação à tarefa que abraçou lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz. É dele esta frase que bem serviria para a reflexão do vampiro argentino que se dizia sedento de sangue, médico como ele: Tudo que é vivo deseja viver. Nenhum sofrimento pode ser imposto sobre as coisas vivas para satisfazer o desejo dos homens. Quem sabe usas uma camiseta com a estampa do pastor Dr. Albert Schweitzer? A fuga de um prisioneiro do campo de Auschwitz, em 1941, levou o comandante a sentenciar outros dez à morte por inanição. Entre os escolhidos para cumprir a condenação havia um pai de família que muito se lastimava pela orfandade que adviria aos filhos pequenos. Pois um senhor polonês, de nome Maximiliano Kolbe, que estava preso por haver dado fuga a mais de dois mil judeus, se apresentou para substituí-lo e cumpriu a sentença que recaíra sobre seu companheiro de prisão. Com tão justificado apreço pelos valores que apontas, por que não usas uma camiseta com a estampa do padre Kolbe? As pessoas que mencionei, meu jovem (e existem inúmeras assim!) superam Che Guevara em tudo e por tudo. Exercitaram virtudes supremas sem qualquer ódio. Deram quanto tinham, inclusive suas vidas inteiras a seus ideais. Che fez isso? Fez. Mas, se colocou a própria vida em risco, como de fato podia fazer em nome de seus ideais, achou-se no direito de, pelo mesmo motivo, tomar a vida dos outros. E tal direito ele não tinha. Isso é muito diferente e satanicamente pior! O resultado dos exemplos que citei foram vidas salvas. O resultado da obra de Che foram vidas tomadas, sangue derramado, e liberdades extintas. Cordial abraço, Puggina. Agora, escrevo a quem me lê aqui: mesmo diante do que acabo de expor, muitos persistirão achando Che Guevara o máximo. Mas estão forçados a admitir que é na revolução, na luta de classes, na tomada do poder pelas armas e no comunismo que repousam seus apreços. E nesse caso me permitam afirmar que camisetas do Che são tão ofensivas e ameaçadoras, quando portadas num país livre e democrático, quanto a suástica, a foice com martelo, ou a cruz flamejante da KKK. (1) www.puggina.org/newblue/pesquisa_detalhes.php?ARTIGO_ID=997). _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Martha Ferreira

05/05/2010
MENOS, LULA; MENOS (Mensagem recebida da economista Martha Ferreira) Meus amigos, achei muito estranha a notícia, publicada pelo Globo e fui conferir a lista original da revista Time. A imprensa brasileira, amestrada pelas verbas oficiais, adora aumentar as coisas a favor do Governo e desinformar: Abaixo a lista original da revista TIME, edição atual, com a votação completa: como pode ser visto, até o Presidente do Iraque - Mousavi- teve uma votação seis vezes superior ao do Presidente brasileiro, isto sem contar Bill Clinton, Elton Jones, Manmohan Singh (premier indiano) etc. Na imprensa brasileira ele aparece em primeiro lugar, na revista está perto quadragésimo lugar. Barack Obama - 7,740,557 Lady Gaga - 6,697,752 Ashton Kutcher - 6,390,600 Taylor Swift - 5,608,398 Oprah Winfrey - 2,907,504 Robert Pattinson - 2,298,274 Ben Stiller - 1,735,285 Serena Williams - 1,681,207 Conan OBrien - 1,352,195 Jet Li - 1,220,613 Damon Lindelof - 977,222 Carlton Cuse - 969,097 Sarah Palin - 884,145 Glenn Beck - 621,436 Neil Patrick Harris - 493,561 Sandra Bullock - 329,229 Marc Jacobs - 275,689 Banksy - 259,153 Sachin Tendulkar - 175,852 Simon Cowell - 171,726 Bill Clinton - 160,731 Lea Michele - 151,916 Scott Brown - 131,053 Didier Drogba - 97,611 Chetan Bhagat - 94,074 Mir-Hossein Mousavi - 77,455 James Cameron - 50,394 Kim Yu-Na - 49,493 Mike Krahulik - 41,305 Zaha Hadid - 33,242 Lee Kuan Yew - 27,859 Ricky Gervais - 27,422 Mike Mullen - 22,849 Zahra Rahnavard - 21,747 Elton John - 19,309 Nancy Pelosi - 19,123 Manmohan Singh - 17,977 Phil Mickelson - 14,922 Michael Pollan - 14,956 Sonia Sotomayor - 13,399 Jenny Beth Martin - 13,266 Annise Parker - 13,093 Luiz Inácio Lula da Silva - 12,371 Steve Jobs - 10,662 Temple Grandin - 8,898 Tim Westergren - 8,152 Christine Lagarde - 7,913 Sheik Khalifa bin Zayed al Nahyan - 6,598 Suzanne Collins - 5,960 Recep Tayyip Erdogan - 5,925 Elizabeth Warren - 5,875 Kathryn Bigelow - 5,326 Lisa Jackson - 4,746 Stanley McChrystal - 2,886 Jon Kyl - 2,696 Amartya Sen - 2,621 Yukio Hatoyama - 2,228 Malalai Joya - 1,874 Tidjane Thiam - 1,675 Jerry Holkins - 1,483 Valery Gergiev - 1,307 Graca Machel - 1,234 Atul Gawande - 1,190 Neill Blomkamp - 1,113 Deborah Gist - 1,022 Jaime Lerner - 905 Elon Musk - 780 Salam Fayyad - 574 Paul Volcker - 465 Dominique Strauss-Kahn - 431 Kathleen Merrigan - 356 Tristan Lecomte - 249 Matt Berg - 198 David Boies - 151 Nay Phone Latt - 122 Victor Pinchuk - 114 Theodore Olson - 40 Liya Kebede - 12 Kiran Mazumdar-Shaw - 3 Amy Smith - 0 Bo Xilai - 0 Chen Shu-chu - 0 David Chang - 0 Douglas Schwartzentruber - 0 P. Namperumalsamy - 0 Valentin Abe - 0 Edna Foa - 0 Han Han - 0 J.T. Wang - 0 Jaron Lanier - 0 Karls Paul-Noel - 0 Larry Kwak - 0 Mark Carney - 0 Michael Sherraden - 0 Prince - 0 Rahul Singh - 0 Reem Al Numery - 0 Robin Li - 0 Ron Bloom - 0 Sanjit Bunker Roy - 0 Tony Travis - 0 Sister Carol Keehan - 0 Tim White - 0 Will Allen - 0

Percival Puggina

01/05/2010
Perdoem-me este primeiro parágrafo, obviamente exaustivo, mas eu preciso dele para o que vem depois. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, levando a Ajuris (Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul) e outros revisionistas a tiracolo, tomou uma goleada do STF (7 x 2) contra a ideia de reinterpretar a Lei de Anistia. Bom para o país. Bom para a nação. Entre o conhecimento jurídico do Conselho Federal da OAB, que se fez representar na causa pelo mais enrustido dos petistas, o advogado Fabio Konder Comparato, e a farta maioria do STF, eu fico com esta última. Quem leu meu artigo A reinterpretação da lei da anistia, divulgado em 25 de abril, três ou quatro dias antes das sessões em que o STF deliberou sobre a matéria, terá percebido que os sete votos, quando extravasaram o necessário campo do Direito para argumentar nos espaços da Política e da História, seguiram as mesmas e óbvias trilhas que eu havia intuído no plano do bom senso: mais do que esquecimento, anistia é perdão e sua reinterpretação faria muito mal ao país. Até aí nada de mais. Coisa sabida, matéria vencida e de martelo batido. O que me interessa aqui é o voto do ex-candidato a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores, o aveludado ministro Ayres Britto, filho das musas sergipanas. E por que me interessa tanto esse voto? Por uma razão tão simples quanto grave. Pode-se tolerar erro de Direito no voto prolatado por qualquer ministro do STF. Pode-se admitir, igualmente, a má interpretação de fatos em julgamento. Mas não se pode silenciar ante a adoção de uma premissa falsa porque falsas premissas evidenciam intenção de enganar, de iludir, de embair o interlocutor induzindo-o ao erro. E menos ainda se pode usar o Pai Nosso como fundamento para tais ofícios. No entanto, o ministro versejador, depois de afirmar em seu voto que perdão coletivo é falta de memória e vergonha (veremos, mais adiante, o quanto isso também é falso), saiu-se com a afirmação de que quando Cristo fez a belíssima pregação de que devemos perdoar nossos inimigos, o fez no plano individual, no plano pessoal (...) A humanidade tem o dever de odiar seus ofensores (gostou tanto da frase que a repetiu por três vezes!). E mais adiante saiu-se com esta: O hino de todas as igrejas cristãs, que é o Pai Nosso, quando diz perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos os que nos tem ofendido o fez no plano individual, no plano pessoal. Ora, caro leitor, bem ao contrário do que pretendeu o poeta do ódio aos ofensores, o Pai Nosso é a mais coletiva das orações cristãs. Não há um único eu no Pai Nosso. Em cada um de seus versículos apenas existe o nós. O Pai é nosso; o Reino é para nós; o pão é nosso; o perdão do Pai é para nós e deve ser nosso o perdão aos nossos ofensores; a tentação a ser evitada é nossa e os males de que queremos estar livres, também. Onde ele foi buscar individualismo no Pai Nosso não é nem pode ser matéria de alta indagação. Bem ao contrário, é matéria da mais rasteira constatação: no chão do ódio ideológico e da conveniência política. Por fim, qualquer criança pode entender para onde conduziria uma política que se envergonhasse do perdão coletivo. Para tomar o exemplo mais recente, a Copa do Mundo não estaria sendo realizada na África do Sul. Haveria muito mais sangue e guerras sem quartel nem fim. Viveríamos, ao longo da história, na mais pura e inextinguível selvageria se todas as etnias, nações, povos, religiões e estadistas se mantivessem na trincheira do ódio e da incapacidade de perdoar para onde esse menestrel sergipano do infinito desamor gostaria de levar o Brasil. _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Reinaldo Azevedo

29/04/2010
TUDO EM POUCAS LINHAS Trecho final de um post de Reinaldo Azevedo sobre o fim (12 anos após iniciadas) das calúnias levantadas em relação à privatização das Teles. FHC era um reacionário: no seu governo, faziam-se negócios de acordo com as leis. Lula é um progressista: fazem-se as leis de acordo com os negócios. Os primeiros iam parar no banco dos réus. estes outros mandam os outros para o banco dos réus. Aqueles eram enforcados sem errar. Estes erram e enforcam. Mas vai passar. Vão passar!

Percival Puggina

25/04/2010
Tenho certeza de que os membros do Conselho Federal da OAB que ingressaram no STF com uma ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) visando a reinterpretar a Lei de Anistia, bem como os magistrados da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul que decidiram apoiar publicamente a ação, deverão se perguntar com que credenciais este arquiteto se mete a dizer que a anistia é irreversível. Ora, faço a afirmação assim como está posta, entre aspas, porque se trata de uma citação. A frase é título de um artigo do ministro aposentado do STF, Dr. Paulo Brossard, que, ademais, é eminente professor de Direito, ex-senador pelo Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça. É assim, também, que pensam eminentes juristas, entre eles os doutores e professores Ives Gandra da Silva Martins e Cézar Saldanha de Souza Júnior, e até o ex-militante petista, hoje ministro do STF, Dr. José Antônio Dias Toffoli. Dou por bem escorada a minha convicção. Pela direita, pelo centro e pela esquerda. O leitor talvez não saiba, mas constitui, nessa ADPF, um terceiro interessado, para dizer como os advogados. Está fora, mas ela o afeta enormemente. Não por motivos jurídicos, mas pelos mesmos que me levam a escrever este artigo, ou seja, por razões cívicas, razões de natureza política, no bom sentido dessa palavra. É importante à vida da polis que a anistia permaneça como está: irreversível, intacta e não reinterpretável. Por quê? Porque ela foi produto de um enorme esforço do país na direção da normalidade institucional e da superação dos estragos produzidos em ambos os lados que se defrontaram naqueles anos loucos. Era impossível, à época, promover um entendimento entre o regime militar e os participantes da luta armada. Havia mortos e feridos dos dois lados. Nada diferente do que hoje ocorre em relação à história do período. As opiniões se dividem e os fatos são lidos conforme el color del cristal con que se los mira. Os militares brasileiros, com apoio de parcela majoritária da opinião pública, lutavam contra o comunismo num período de enorme expansão guerrilheira na América Latina e na África, e de expansionismo imperial comunista na Europa do Leste e na Ásia. Os militantes da luta armada, sem apoio popular, com treinamento e recursos buscados em Havana, Moscou e Pequim (bem como em sequestros e assaltos), buscavam implantar, à bala, o regime de sua preferência. Estavam tão comprometidos com instaurar a democracia quanto Hitler com o fim do preconceito racial. Se vencessem, iria faltar paredón no país. Mas se não podemos nos entender sobre o passado, se jamais haverá consenso sobre a história, se não há como retificar esta nem aquele, ao menos foi possível, a partir de 1978, com a Lei de Anistia, entendermo-nos sobre o futuro, colocando uma pedra em cima do passado. Diz-se que anistia, vocábulo derivado de amnésia, implica esquecimento. O esquecimento da anistia, contudo, não significa olvido no sentido usual da expressão (lapso de memória). Não, o esquecimento da anistia representa deixar para lá, não mexer mais com isso, ou, para usar a palavra mais adequada: perdoar. Não é um perdão amplo, geral e irrestrito do qual todos participem voluntariamente. Haverá que não perdoe e atravesse a vida reabrindo cotidianamente as chagas do passado através do ódio e do desejo de vingança. O perdão da anistia é um perdão nacional, institucional, um perdão desde o qual se recompõe a ordem, o direito, a justiça e a política. Durante mais de três décadas a anistia produziu, perfeitamente, esse efeito. Agora, em nome de um direito à verdade buscado por quem jamais teve compromisso com ela e em torno da qual nunca haverá entendimento, querem reinterpretar a lei e restaurar animosidades e conflitos sem os quais foi possível o retorno à normalidade nacional. Assusto-me quando os que buscam isso dizem agir pelo Direito e pela Justiça, desconhecendo a importância da Política e o eminente valor moral, profundamente cristão, do perdão institucionalmente concedido. Há uma parcela da esquerda que foi perdoada por seus muitos crimes, mas não aprendeu a perdoar. _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

24/04/2010
Você sabe por que o Brasil não consegue solucionar o problema da miséria? Porque, de um lado, deixamos de agir sobre os fatores que lhe dão causa, e, de outro, nos empenhamos em constranger e coibir a geração de riqueza sem a qual não há como resolvê-la. As recentes mobilizações contra o agronegócio são apenas isso ? as mais novas expressões de um fenômeno tão antigo e renitente quanto descabido. O pior de tudo é que minha experiência de seis décadas e pico me adverte: são mínimas as possibilidades de emergirmos dessa histórica tragédia que afronta toda consciência bem formada. Creem os profetas de megafone, escrutinando os fatos com as lentes do marxismo, que os pobres no Brasil têm pai e mãe conhecidos: a natural perversidade dos ricos e a ganância essencial dos empresários. Em outras palavras, a pobreza nacional seria causada justamente por aqueles que criam riqueza e postos de trabalho em atividades desenvolvidas sob as regras do mercado. Estranho, muito estranho. Eu sempre pensei que as causas da pobreza fossem essencialmente juspolíticas, determinadas por um modelo institucional todo errado (o 93º pior do planeta em 2009, segundo o WEF). Pelo jeito, enganava-me de novo quando incluía entre as causas da pobreza uma Educação que prepara semianalfabetos e nos coloca em 88º lugar no Índice de Desenvolvimento Educacional da Unesco. Sempre pensei que havia relação entre pobreza e atraso tecnológico e que nosso país não iria longe enquanto ocupasse o 68º lugar nesse ranking. Na minha santa ignorância, acreditava que a pobreza que vemos fosse causada, também, por décadas de desequilíbrio fiscal, gastos públicos descontrolados e tomados pela própria máquina, inflação e excessivo crescimento demográfico, notadamente na segunda metade do século passado. Cheguei a atribuir responsabilidades pela existência de tantos miseráveis à concentração de 40% do PIB nas perdulárias mãos do setor público (veja só as tolices que me ocorrem!). E acrescento aqui, se não entre parêntesis, ao menos à boca pequena, que via grandes culpas, também, nessas prestidigitações que colocam nosso país em 75º lugar no ranking da corrupção. Contemplando, com a minha incorrigível cegueira, os miseráveis aglomerados humanos deslizantes nas encostas dos morros, imputava tais tragédias à negligência política. Não via como obrigatório o abandono sanitário e habitacional dos ambientes urbanos mais pobres. Aliás, ocupamos a 61ª posição no ranking mundial do acesso a saneamento básico. Pelo viés oposto, quando vou a Brasília, vejo, nos palácios ali construídos com dinheiro do orçamento da União, luxos e esplendores de desfile de escola de samba. O mais recente é o do TSE. São 115 mil metros quadrados de puro requinte, orçado em R$ 328 milhões (com essa grana se constroem 15 mil casas populares!). E só o escritório do comunista Oscar Niemayer abocanha R$ 5 milhões, graças ao monopólio de projetos que estabeleceu sobre a Capital Federal. Mas os profetas megafone juram que estou errado. A culpa pela pobreza, garantem, tampouco é do patrimonialismo, do populismo, dos corporativismos, do desrespeito aos aposentados, do culto ao estatismo, dos múltiplos desestímulos ao emprego formal. Não é sequer de um país que, ocupando a 167ª posição no ranking da desigualdade, vai gastar, sob aplausos nacionais, algo entre R$ 50 bilhões e R$ 100 bilhões no somatório da Copa de 2014 com os Jogos de 2016. Existem pobres, asseguram-nos, por causa da economia de empresa e dos empreendedores. Especial para Zero Hora

Percival Puggina

18/04/2010
Imagine se os traficantes de droga, como forma de ampliar o número de usuários, criassem um mês de promoções, tipo ?Seu pó a preço de farinha!?, ou ?Compre uma pedra e leve duas!?. E suponha que esses fatos fossem abordados com naturalidade pela mídia e pelos poderes de Estado. Ou, então, imagine que os ladrões de carro programassem ações em âmbito nacional, como, por exemplo: ?Curta a primavera andando a pé?, e realizassem um grande tour de force para aumentar o furto de veículos. E as autoridades não esboçassem reação alguma. Escândalo? Pois é isso que acontece em nosso país, há mais de uma década, no mês de abril. O MST, nestes dias que correm, rememora os episódios de Eldorado dos Carajás com um Abril Vermelho, desencadeando operações agressivas que incluem invasões de propriedades privadas e de prédios públicos e bloqueio de ruas e estradas. Até o último fim de semana, o mês em curso já contabilizava 42 ações praticadas em 16 estados. E tudo é considerado muito normal, porque, afinal de contas, trata-se de um movimento social cuja conduta criminosa não pode ser criminalizada sem grave ofensa a... A que mesmo? Ao direito de invadir? Ao direito de prejudicar o trânsito? Ao direito de destruir os bens alheios? Ao direito de cometer crimes e permanecer incógnito? Note-se que não estamos perante uma gama de atividades lúdicas do tipo ?Passe um dia no campo com o MST?, ou de celebrações cívicas, a exemplo das que são promovidas em lembrança às vítimas da Intentona Comunista de 1935. Não, não é isso. Em abril, o MST eleva o tom daquilo a que se dedica durante o ano inteiro: a ação destrutiva imposta pelo DNA dos movimentos revolucionários. Trata-se de destruir o direito à propriedade privada, os bens alheios e as instituições do Estado Democrático de Direito ? entre elas o conjunto dos poderes de Estado. E de fazê-lo com a leniência deles, verdadeiros bobos da corte do movimento. Distraídos, como quase sempre, os Três Poderes (qualquer semelhança com Moe, Larry e Curly, os Três Patetas, corre por conta do leitor), vão da tolerância à inação, da perda de vigor à flacidez extrema. Sabem por quê? Porque eles supõem, no Olimpo onde vivem, que o movimento se volte apenas contra os ?poderosos latifundiários do agronegócio?. No entanto, de modo muito especial, é para cada um deles, mais do que para proprietários e propriedades, que o MST e organizações conexas apontam as línguas de sogra de seu deboche. Eis porque o tema, há muito tempo, deixou de ser coisa de um grupo social para se tornar pauta necessária das escassas reservas de inteligência do país, ainda capazes de compreender como operam os movimentos revolucionários e de bem avaliar seu poder de destruição. Porque saiba, leitor, aquilo que os desnorteados bispos da Comissão Pastoral da Terra, surdos à voz dos pontífices, fingem não saber: a primeira tarefa dos movimentos revolucionários é a destruição; o que vem depois fica para depois (inclusive acabar com o clero, como sempre fizeram ao longo da história). Eles já estão na fase de, sem receio algum, apontar a língua de sogra para os poderes de Estado. _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

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18/04/2010
LULA NEGOCIARÁ COM O VATICANO O FIM DO PECADO ORIGINAL? Depois da bem sucedida missão ao Oriente Médio, onde conseguiu estabelecer uma paz duradoura entre judeus e palestinos, Lula declarou que intercederá junto a Deus Pai para que Ele nos perdoe de uma vez por todas pelo pecado original. A caminho de Barcelona, onde pretende resolver a questão basca, Lula disse que é preciso chamar o Misericordioso para o diálogo. ?Chega de tratar o Supremo Arquiteto como um ente distante e poderoso, disse Lula, enquanto negociava um acordo entre os armênios e os turcos. Segundo os termos da proposta, em troca do perdão o Verbo Encarnado receberá três bolsas-família pelo resto da eternidade. ?Não faz sentido a gente discutir se é verdade ou não essa história da Santíssima Trindade. Perdoou, recebeu por três?, explicou o presidente. Lula deixou claro que não negociará com o Arcanjo Gabriel nem com São Pedro, como sugeriram algumas agências de notícia. ?Só falo com o Bem Absoluto. É uma questão de protocolo.? Para o presidente, o Arcanjo Gabriel não passa de um sub do sub, e São Pedro, apesar de simpático, no fundo seria apenas um porteiro qualificado. ?Não tenho tempo a perder?, explicou Lula, que até o fim da tarde pretende anunciar um armistício entre Suzana Vieira e todos os seus ex-maridos. Aproveitando a ocasião, a ministra Dilma Rousseff confirmou que proporá a criação de uma estatal para explorar o mel e o maná que emanam do céu. Rousseff acrescentou que não procedem as notícias de que José Dirceu fará a indicação do diretor responsável pelo fundo de pensão da nova empresa. Em notícia paralela, após longas conversas com a serpente, o assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia concluiu que o réptil não passa de uma vítima da imprensa burguesa. (Recebi este ótimo texto, sem indicação do autor, dando como fonte o site www.revistapaiui.com.br onde não o localizei. Em todo caso, aí está essa pequena pérola)

Percival Puggina

15/04/2010
O PREÇO DAS LÁGRIMAS O governador Sérgio Cabral chorou lágrimas de esguicho como diria Nelson Rodrigues, quando a Câmara dos Deputados aprovou a emenda Ibsen sobre os royalties do petróleo. Alguém o viu chorando os mortos dos desabamentos no seu amado Rio de Janeiro?