Percival Puggina

16/01/2010
O que está se tornando senso comum sobre o período da nossa história que vai de 1964 a 1985 tem a profundidade de um pires. É sobre esse recipiente que alguns buscam, agora, instituir a tal Comissão Nacional da Verdade. Cuidado, porém: a principal realização de sua antecessora, a ainda hoje fervilhante Comissão de Anistia, concretizou o sonho dos alquimistas. As milionárias indenizações que concede transformaram os pesados ?Anos de Chumbo? em festejados Anos de Ouro. Não creia que toda objeção à tal Comissão da Verdade seja uma defesa da amnésia. Não há o menor perigo de que isso ocorra. A esquerda ocupou todo o material didático nacional, produziu dezenas de filmes e livros, instruiu e doutrinou quase todos os professores e jornalistas com a sua ?verdade?. Assim, tudo quanto se lê e se ouve a respeito ensina que as elites nacionais, belo dia, por pura perversidade, resolveram incumbir as Forças Armadas de perseguir, prender e martirizar os intrépidos defensores da democracia e dos oprimidos. Patacoada! Aqueles anos loucos não podem ser compreendidos se desconsiderarmos a Guerra Fria e o movimento comunista, que, digamos assim, se espraiava usando a luta armada para instituir ?ditaduras do proletariado?. Foi um jogo mundial, de vida ou morte, entre democracia e totalitarismo, cujas cartas já estavam na mesa quando Stalin, em Yalta, sentou-se ao lado de Churchill e Roosevelt compondo o trio vitorioso na guerra (1945). Nas duas décadas seguintes, o comunismo fez dezenas de milhões de vítimas. Houve a vitória de Mao na China (1949), o ataque comunista à Coreia do Sul (1950), a sangrenta transformação de diversos países europeus em ?repúblicas populares?, a invasão do Tibete (1950), a divisão do Vietnã (1954), o Pacto de Varsóvia (1954), a vitória de Fidel (1959), a construção do muro em Berlim (1961), a Guerra do Vietnã (1961), o envio de mísseis soviéticos para Cuba (1962), o fracasso da resistência húngara e da Primavera de Praga (1956 e 1968) e a revolta dos universitários franceses (1968). Chega? Não. Tem muito mais. Embora me falte espaço, ainda é imprescindível referir a exportação de guerrilhas e revoluções comunistas para dezenas de nações recém-nascidas no continente africano. E, é claro, a infiltração no nosso subcontinente, sob o patrocínio de Cuba, Rússia e China. A esquerda em armas jamais instituiu uma democracia! Nunca, em lugar algum. No Brasil, ela ridicularizava os que persistiram no jogo político. Mas foi através dele que a maioria da opinião pública mudou de lado, retirou apoio ao status quo, chegou-se à anistia e se restabeleceu o regime constitucional. Anote aí: a esquerda em armas não puxou seus gatilhos pela democracia e pela Constituição! E ninguém sacou um bodoque para restaurar o governo de Jango. As coisas não foram como lhe contam, leitor. Reprovar um lado não significa aprovar tudo que foi feito pelo outro. O contexto não justifica as duas décadas inteiras de exceção, nem o emprego da tortura. Mas anistia é perdão e pacificação. Lutando por algo muito pior do que o regime que dizia combater, a esquerda em armas praticou incontáveis assaltos e sequestros, executou mais de uma centena de militares e civis, e ?justiçou? adversários e companheiros. Tivesse vencido, ia faltar prisão e paredón no país. Perdeu. Empenhou-se pela anistia e a obteve. Foi perdoada. Mas parece não saber perdoar. Quer restaurar ódios na ausência dos quais a política lhe fica incompreensível. ZERO HORA, 17 de janeiro de 2010.

rv.cnt.br

15/01/2010
FRASE DO DIA Quando se compara o PDNH-2 (FHC) com o PNDH-3 (PT)faz muito sentido dizer que existem no mais recente coisas novas e boas, só que as novas não são boas e as boas não são novas. (Frase encontrada em rv.cnt.br)

Percival Puggina

15/01/2010
?Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos, com a presença do Ministério Público, do poder público local, órgãos públicos especializados e Polícia Militar, como medida preliminar à avaliação da concessão de medidas liminares, sem prejuízo de outros meios institucionais para solução de conflitos?. O texto acima transcreve uma das propostas contidas no tal Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3, para os íntimos). Deixemos de lado tudo que se pode presumir sobre a capacidade intelectual de quem escreve um texto desses, que poderia constar como exemplo de má redação em cursinho pré-vestibular. Deixemos de lado. O decreto é todo assim. É um calhamaço disso. É um calhamaço que o presidente afirma que não leu e eu acredito que ele não leu, ao passo que eu li e não acredito no que li. Lula jamais se deteria, mesmo, sobre aquelas 31 mil palavras, ou acolheraria todas as suas 186 mil letrinhas. Teria uma indigestão. Mas, como estava dizendo, eu li. Depois de ler, dei-me conta de não haver encontrado, em parte alguma, a palavra invasão. Usei, então, aquele dispositivo do Word que manda localizar o que se quer e constatei que, de fato, invasão não constava do texto. Aí, lembrei-me de que eles não usam, mesmo, esse vocábulo. Preferem dizer ocupação porque invasão tem esse jeito, assim, tipo ?tomar para si o que é dos outros?, que pega mal. Procurei, então, ocupação. Nada! Ué! Mas o tema aparece no decreto, adverti meus botões. Que nome deram para isso, agora? Acabei encontrando. Ali está, repetidas vezes, a palavra ?conflito?. Sempre que necessário descrever a tal situação que se reproduz centenas de vezes por ano em todo o país, não raro em ciclos prenunciados como meses vermelhos de acirramento das investidas contra as propriedades privadas, o decreto fala em conflito. Você sabe como isso funciona na prática, leitor. Sob as ordens do comandante-em-chefe Stédile, um grupo de suas milícias invade uma propriedade, destrói tudo que encontra pela frente, põe os proprietários a correr, cava trincheiras, dizima lavouras, equipamentos e rebanhos, afronta as autoridades, rasga ordens judiciais para abandonar o local, etc., etc.. E o decreto assinado pelo Influente designa o episódio como ?conflito?. Quer transformar as ações do MST em algo semelhante ao que ocorre quando se verifica uma contradição entre interesses aparentemente iguais e legítimos. ?A? quer algo e ?B? também, cada qual com seus documentos. Tem-se um conflito. Assim, com esse eufemismo, o PNDH-3 propõe um instrumento muito moderno, operacional e racional, que é a mediação em casos de divergência entre interesses privados. No entanto, leitor, não é disso que se trata. Aliás, até os procedimentos usuais, que hoje obrigam o proprietário a requerer reintegração de posse em casos de flagrante esbulho possessório, praticado sob as barbas das autoridades, já são de extrema benevolência para com os invasores. Fazer o que o novo decreto pretende, sujeitando o magistrado (e o proprietário) a uma audiência prévia de mediação é uma coisa de doido. Imagine a situação, na prática: o comandante-em-chefe Stédile mandou invadir. A turma invade e demole tudo. Estabelece-se um ?conflito?. Promove-se, então, uma ?mediação?. Entre quem? Entre os bandidos e a sua vítima! Entre os invasores e o invadido! Para negociar o quê, santo Deus? Perderam completamente a noção de limites. _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

12/01/2010
UMA EXPERIÊNCIA SOCIALISTA Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que ele nunca reprovou um só aluno antes mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira. Esta classe em particular insistia que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e justo. O professor então disse, Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Em vez de dinheiro, usaremos suas notas nos testes. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam justas. Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, portanto, ninguém repetiria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um A... Depois que a média das primeiras provas foi calculada, todos receberam B. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado. Quando o segundo teste foi aplicado, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média dos testes foi D. Ninguém gostou. Depois do terceiro teste, a média geral foi um F. As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por justiça dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram... Para sua total surpresa. O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foram seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado. Quando a recompensa é grande, ele disse, o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável.

Percival Puggina

11/01/2010
Méritos inquestionáveis a Reinaldo Azevedo, o primeiro jornalista a ler a imensa tralha de ponta a ponta. Até que ele postasse a primeira denúncia pública sobre seu verdadeiro conteúdo, a mídia nacional já escrevera bastante sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (codinome PNDH-3) sem o haver analisado. Durante quase três semanas as matérias versavam sobre a proposta de investigação dos crimes de tortura e a ?busca da verdade histórica da repressão? ? vale dizer, o que constara dos releases oficiais. Mas Reinaldo descobriu que esse específico tema era uma pequena marola no tsunami concebido para varrer o ordenamento jurídico e institucional do país, transformando-o num território subordinado à engenharia social e política petista. Fiz o mesmo, então. Li tudo. São 41 páginas em letra corpo 8 praticamente inacessível a uma pessoa com visão normal. Posto em corpo 11, letra de gente, a peça saltou para 76 páginas! Seu coordenador foi o ministro Paulo Vannuchi. Ele comanda a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, setor do governo que, há coisa de quatro anos, sob direção anterior de Nilmário Miranda, respondeu pela edição da famosa ?Cartilha do Politicamente Correto?. Para quem não lembra, esse outro documento visava a banir do vocabulário nacional o uso de inúmeras palavras tais como veado, funcionário público, comunista, homossexualismo, sapatão, negro, palhaço e até farinha do mesmo saco. Agora, Paulo Vannuchi brinda-nos com algo infinitamente mais pretensioso. Quer desfigurar a democracia representativa, o poder judiciário, o direito de propriedade, a religiosidade popular, a cultura nacional, a família e a liberdade de imprensa. Numa tacada, pretende liberar o aborto, mudar para pior o Estatuto do Índio, autorizar a adoção de filhos por casais homossexuais, valorizar a prostituição e se intrometer em temas que vão da transgenia à nanotecnologia e do financiamento público das campanhas eleitorais à taxação de grandes fortunas. Que dirão os eternos defensores do indefensável? Alegarão que Lula não sabia de nada? Que desconhecia o conteúdo do decreto assinado por todo seu governo? Impossível admitir como verdadeira tal alegação porque Lula participou do ato de lançamento do programa, fez um enorme discurso e afirmou que o PNDH-3 era ?resultado da maturação democrática da sociedade brasileira?. E a ministra Dilma (que, por dever de ofício deve ler tudo que leva para o presidente assinar) está deixando claro a que pretende vir, se lhe permitirem chegar. Ela também conhecia o conteúdo daquela maçaroca. Ambos sabiam o que estavam enaltecendo em seus emocionados discursos no dia 21 de dezembro. O PNDH-3 é uma ladainha em que direitos humanos e democracia fazem o estribilho, mas tudo vai em direção oposta por uma simples razão: seus objetivos reais, do primeiro ao último, são todos partidários. Se houvesse efetivo compromisso de nosso governo com democracia e direitos humanos, seus representantes não se posicionariam contra quaisquer decisões da ONU que reprovem a situação de países como Cuba e China. Por fim, todo o auê em torno da ?verdade? e da ?memória histórica? é uma tentativa de tomar conta de um discurso que serviu muito bem ao crescimento da esquerda: a tal luta pela democracia, com a qual o PT nada teve a ver porque sequer existia quando tudo começou e porque era insignificante quando tudo terminou (o PT saiu do pleito de 1986 com apenas 16 deputados federais). Como o discurso da ética foi para o saco há muito tempo, o partido trata, agora, de se apropriar desse. E nada melhor do que criar um conflito para dominar um dos lados do tabuleiro. * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

10/01/2010
OS VERDADEIROS RESPONSÁVEIS Será que se houvesse planejamento urbano, atuação e fiscalização efetiva das autoridades locais, teríamos tantas vítimas de enchentes e deslizamentos de encostas em nosso país? Recentemente, imagens tomadas de helicóptero em um aglomerado urbano tomado pelas águas mostraram que poucas edificações estavam fora da área de inundação! Se as municipalidades proibissem a ocupação, se não fossem concedidas ligações de água e luz, e se as conexões clandestinas fossem sumariamente cortadas, ninguém ficaria instalado em tais áreas.

Percival Puggina

10/01/2010
Méritos inquestionáveis a Reinaldo Azevedo, o primeiro jornalista a ler a imensa tralha de ponta a ponta. Até que ele postasse a primeira denúncia pública sobre seu verdadeiro conteúdo, a mídia nacional já escrevera bastante sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (codinome PNDH-3) sem o haver analisado. Durante quase três semanas as matérias versavam sobre a proposta de investigação dos crimes de tortura e a ?busca da verdade histórica da repressão? ? vale dizer, o que constara dos releases oficiais. Mas Reinaldo descobriu que esse específico tema era uma pequena marola no tsunami concebido para varrer o ordenamento jurídico e institucional do país, transformando-o num território subordinado à engenharia social e política petista. Fiz o mesmo, então. Li tudo. São 41 páginas em letra corpo 8 praticamente inacessível a uma pessoa com visão normal. Posto em corpo 11, letra de gente, a peça saltou para 76 páginas! Seu coordenador foi o ministro Paulo Vannuchi. Ele comanda a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, setor do governo que, há coisa de quatro anos, sob direção anterior de Nilmário Miranda, respondeu pela edição da famosa ?Cartilha do Politicamente Correto?. Para quem não lembra, esse outro documento visava a banir do vocabulário nacional o uso de inúmeras palavras tais como veado, funcionário público, comunista, homossexualismo, sapatão, negro, palhaço e até farinha do mesmo saco. Agora, Paulo Vannuchi brinda-nos com algo infinitamente mais pretensioso. Quer desfigurar a democracia representativa, o poder judiciário, o direito de propriedade, a religiosidade popular, a cultura nacional, a família e a liberdade de imprensa. Numa tacada, pretende liberar o aborto, mudar para pior o Estatuto do Índio, autorizar a adoção de filhos por casais homossexuais, valorizar a prostituição e se intrometer em temas que vão da transgenia à nanotecnologia e do financiamento público das campanhas eleitorais à taxação de grandes fortunas. Que dirão os eternos defensores do indefensável? Alegarão que Lula não sabia de nada? Que desconhecia o conteúdo do decreto assinado por todo seu governo? Impossível admitir como verdadeira tal alegação porque Lula participou do ato de lançamento do programa, fez um enorme discurso e afirmou que o PNDH-3 era ?resultado da maturação democrática da sociedade brasileira?. E a ministra Dilma (que, por dever de ofício deve ler tudo que leva para o presidente assinar) está deixando claro a que pretende vir, se lhe permitirem chegar. Ela também conhecia o conteúdo daquela maçaroca. Ambos sabiam o que estavam enaltecendo em seus emocionados discursos no dia 21 de dezembro. O PNDH-3 é uma ladainha em que direitos humanos e democracia fazem o estribilho, mas tudo vai em direção oposta por uma simples razão: seus objetivos reais, do primeiro ao último, são todos partidários. Se houvesse efetivo compromisso de nosso governo com democracia e direitos humanos, seus representantes não se posicionariam contra quaisquer decisões da ONU que reprovem a situação de países como Cuba e China. Por fim, todo o auê em torno da ?verdade? e da ?memória histórica? é uma tentativa de tomar conta de um discurso que serviu muito bem ao crescimento da esquerda: a tal luta pela democracia, com a qual o PT nada teve a ver porque sequer existia quando tudo começou e porque era insignificante quando tudo terminou (o PT saiu do pleito de 1986 com apenas 16 deputados federais). Como o discurso da ética foi para o saco há muito tempo, o partido trata, agora, de se apropriar desse. E nada melhor do que criar um conflito para dominar um dos lados do tabuleiro. * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

02/01/2010
O presidente Lula está na lista das personalidades mais influentes da década. Ainda bem que ele não influiu suficientemente quando se opôs: a) ao Plano Real, que chamava de estelionato eleitoral; b) à Lei de Responsabilidade Fiscal, que chamava de arrocho imposto pelo FMI; c) à abertura da economia brasileira, que chamava de globalização neoliberal; d) ao fim do protecionismo à indústria nacional, que chamava de sucateamento do nosso parque produtivo; e) às privatizações, que chamava de venda do nosso patrimônio; f) ao cumprimento de nossas obrigações com os credores internacionais, que chamava de pagar a dívida com sangue do povo; g) à geração de superávit fiscal, que chamava de guardar dinheiro para dar ao FMI; h) à primeira reforma da previdência, que ele já teve sete anos para corrigir e não corrigiu; i) ao Proer, que, segundo ele, era dar dinheiro do povo para banqueiro; j) ao fortalecimento da agricultura empresarial, que o Influente queria substituir por assentamentos do MST. Felizmente, escapamos de tais influências! Os governos anteriores suportaram a vaia petista e criaram as condições com que o país enfrentou a turbulência internacional de 2008/2009. Entre elas: responsabilidade fiscal, moeda forte, superação da imagem de país caloteiro, sistema bancário sólido e bem fiscalizado, gradual modernização do parque produtivo, duplicação da produção de grãos e a acelerada produção de divisas daí decorrente. Felizmente, também, reconheça-se, ao assumir o governo o Influente teve a sensatez de: a) qualificar como ?bravata? sua atuação como oposicionista; b) convidar o tucano Henrique Meirelles para o Banco Central; c) não atrapalhar o que ia bem. Ah! Esquecia-me de dizer que o Influente ampliou muito os programas sociais criados antes dele (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Vale Gás) que migraram para o seu Bolsa Família. Mas, vale lembrar que também aqueles programas de FHC haviam sido tenazmente combatidos pelo Influente que os qualificara como forma de ganhar o voto do pobre pela barriga (assista-o em www.youtube.com/watch?v=fK4Tqpckjo0). Vejamos, agora, onde o Influente, de fato, influenciou. Ele influenciou a decisão brasileira de não declarar as narco-guerrilheiras FARC como organizações terroristas. Ele influenciou a eleição de Evo Morales que fez campanha anunciando que agiria contra a presença da Petrobrás na Bolívia. Ele influenciou a eleição de Lugo, que fez campanha anunciando que agiria contra o acordo com o Brasil em Itaipu. Ele influenciou a OEA a favor da readmissão de Cuba na organização e, dias depois, influenciou a decisão da OEA contra a destituição do golpista Manoel Zelaya em Honduras. Ele sistematicamente protege regimes de esquerda quando são votadas, em organismos internacionais, moções de repúdio a violações de direitos humanos. Visitou e recebeu afetuosamente todos os ditadores do planeta. Ele é o Influente. Ele é o cara. Sabem por quê? Porque aquele discurso que tanto atrai o eleitor de poucas luzes nos países periféricos produz o mesmo efeito em alguns europeus. Refiro-me à ideia de que a economia funciona como um deserto, onde a areia muda de lugar conforme o vento, formando dunas e depressões, mas a quantidade de areia permanece imutável. Logo, se há acumulação é porque, em algum lugar, se formou uma depressão. É por causa desse raciocínio infantil que as esquerdas atribuem a pobreza à existência da riqueza. E o Influente, onde vai, arranca aplausos ensinando isso. Mas os ricos do Brasil nunca riram tão à toa e nunca aplaudiram tanto um presidente. ZERO HORA, 03/01/2010

Percival Puggina

02/01/2010
Sempre pensei que as sociedades econômica, social e culturalmente mais desenvolvidas fossem dotadas de uma capacidade de análise superior e, portanto, menos sujeitas à influência dos demagogos. Lula tornou evidente que isso não é assim. O reconhecimento que ele obtém na comunidade internacional mostra duas coisas: 1ª) a máquina publicitária da esquerda vem trabalhando em favor do companheiro Lula porque descobriu ser ele um ícone mais palatável do que seus dois competidores: o velho e fracassado Fidel Castro e o doido de pedra Hugo Chávez; 2ª) aquela sua retórica de botequim (pasmem!) é tão convincente nas margens do Sena quanto nas barrancas do São Francisco. Acabamos de assistir fato grave, que escapou à percepção da mídia nacional e internacional. Ou, se não escapou, foi sepultado sob a pá de cal do silêncio obsequioso ou adquirido. Em fevereiro de 2009, a brasileira Paula Oliveira, residente da Suíça, denunciou às autoridades daquele país ter sido agredida por skinheads, grupo de subcultura que, em certos locais, a Suíça é um deles, desenvolve tendências nazistas. Tão logo tomou conhecimento do relato da moça, nosso presidente subiu nas tamancas e declarou à imprensa que o governo não pode aceitar e não vai ficar calado diante de tamanha violência contra uma brasileira no exterior. E acrescentou ? conforme revista Veja, edição de 18 de fevereiro de 2009: a) que a embaixada brasileira fora acionada; b) que no Brasil nós vivemos em paz, recebemos estrangeiros desde que Cabral aqui colocou os pés e os tratamos bem; c) que nós queremos ?é que eles respeitem os brasileiros lá fora como nós os respeitamos aqui, como nós os tratamos bem aqui. Poucos dias depois dessa algaravia, ficamos sabendo que a moça se automutilara. Tudo fora uma farsa e Lula fechou a boca sobre o assunto. No último dia 16, aliás, saiu decisão suíça a respeito do caso, condenando Paula a pagar custas judiciais e periciais do processo e lhe impondo uma multa condicional (que será cobrada se ela incorrer em segundo crime). ?E daí?? perguntará o leitor. Pois é. E daí que antes de encerrar-se o ano, não uma moça, mas cerca de 80 brasileiros foram atacados no Suriname por um grupo de descendentes de quilombolas. Catorze saíram feridos, sendo dois em estado grave. Na confusão que se seguiu ao ataque, uma brasileira que estava grávida perdeu o bebê. Não me lembro, em muitas décadas, de incidente tão grave, envolvendo brasileiros no exterior. E o que fez nosso presidente ante o ocorrido com quase uma centena de conterrâneos nossos no país vizinho? Subiu nas tamancas? Botou a boca no trombone? Pediu respeito aos brasileiros? Falou sobre como nós os tratamos bem por aqui? Nada. Apenas telefonou ao secretário-geral da ONU para relatar o caso. Esses dois episódios somam-se a dezenas de outras evidências dos parcos critérios do governo Lula em questões internacionais. Sua diplomacia é conduzida mais ou menos como o partidão tocava a UNE nos anos 60. _______________________________________________________________________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.