Políbio Braga

22/08/2010
ÓRGÃO FEDERAL TENTA IMPEDIR OBRAS DO CAIS MAUÁ Matéria do site de Políbio Braga sexta-feira, 20 de agosto de 2010 A Procuradoria Geral do Estado do RS entregou nesta sexta-feira à 5ª Vara da Fazenda Federal, as explicações sobre o pedido de liminar feito pela Agência Nacional de Transporte Aquaviário, dizendo basicamente que não haveria necessidade de autorização prévia da Antaq para o lançamento do edital do Cais Mauá, apenas o conhecimento prévio, o que foi dado a Antaq pela SPH. . A agência, aparelhada pelo governo Lula, tenta evitar que o governo gaúcho toque o Projeto Cais Mauá, uma espécie de Puerto Madero do RS, que levará investimentos de R$ 500 milhões. Há 20 anos o governo estadual e a prefeitura discutem o projeto, mas só agora, no momento do lançamento do edital, o governo federal resolveu embaralhar o jogo. . Desde que assumiu, Lula só recebeu a governadora uma única vez em audiência privada. Nos últimos meses, promoveu uma escalada de perseguições ao Estado. As três ocorrências mais conhecidas: 1) tentativa da Funai de impedir a criação do Distrito Industrial de Guaíba (a Funai tentou embargar a área, sob a alegação ridícula da existência de sitio arqueológico indígena no local). 2) veto ao projeto Duplica RS, que inviabilizou pesados investimentos em estradas, levando o governo estadual a devolver os pólos de pedágio ao Dnit. 3) embaraços para a concessão de aval ao empréstimo do Bird ao RS.

Percival Puggina

21/08/2010
Não nos restam mais do que vagos e deficientes indícios de democracia. Para identificá-los já se requer, inclusive, uma certa capacitação técnica. É necessário saber onde procurar. E é preciso usar, como fazem os peritos, os elementos de contraste que permitem discernir traços do que praticamente desapareceu. Ninguém recusará que: a) quanto maior a concentração de poder político, tanto menor a democracia; b) quanto maior a influência do poder econômico, tanto mais frágil a democracia; c) quanto menor a credibilidade do parlamento, tanto menor o crédito na democracia; d) quanto maior a influência do poder político sobre os meios de comunicação, tanto pior a qualidade da informação e menor a capacidade de análise sobre os fatos que influenciam a vida das pessoas. E, consequentemente, suas decisões eleitorais. Tudo isso e muito mais já ocorre no Brasil. Em proporções avassaladoras. Claro, claro, temos eleições. Mas democracia não se confunde com a realização de eleições nem é algo totalmente assimilado por elas. Em Cuba há eleições. Na Venezuela há eleições. No Irã há eleições. E só os totalitários têm coragem de dizer que esses países são democráticos. No Brasil, a concentração de poderes nas mãos do presidente da República só é menor do que a generosidade com que o Congresso Nacional os concede a ele. Como escrevi há poucos dias, o presidente chefia o Estado, o governo, a administração pública federal e as estatais. Executa um orçamento que corresponde a 22% do PIB nacional. Legisla sobre o que quer, a seu bel prazer, através de medidas provisórias de aplicabilidade imediata. Libera ou não, ao seu gosto, recursos para os estados e municípios. O que são as obras do PAC senão uma espécie de Bolsa Estado, ou Bolsa Município, distribuídas assim, como donativo, para as mãos súplices dos gestores locais? Essas práticas, cada vez mais frequentes, somam-se ao poder que o partido do governo exerce nos fundos de pensão, nos sindicatos, no FAT, nas principais corporações funcionais do país. E ainda tem o Bolsa Família. Ah, o Bolsa Família, que Lula oposicionista chamava de comprar voto do eleitor que pensa com o estômago! Lula presidente potencializou o programa e é brandindo a ameaça de que a oposição, se vencedora, vai acabar com ele, que sua candidata se prepara para colocar a faixa presidencial no peito. E não podemos esquecer o mais robusto e sedutor achado da cartola presidencial: o Bolsa Empresa. É, leitor, você leu certo: o Bolsa Empresa. Foi o Bolsa Empresa que trouxe o empresariado nacional como gatinho mimado para o colo do governo, lamber mão e pedir cafuné. Afinal, os R$ 15 bilhões destinados ao Bolsa Família ficam constrangidos de sua indigência diante dos fabulosos financiamentos concedidos pelo BNDES às empresas brasileiras. Nos últimos dois anos, foram R$ 180 bilhões emprestados pelo governo ao Banco. O governo tomou esse dinheiro no mercado a mais de 10% ao ano (elevando significativamente a dívida pública, ou seja, a nossa dívida) e emprestou às empresas por um juro que não paga a metade do custo de aquisição. Bolsa Família para os pobres e Louis Vuitton para os ricos. Poucos, muito poucos empresários brasileiros, hoje, não ficam deslumbrados, embasbacados, cada vez que Lula e Dilma abrem a boca. Ouvem-nos dizer - Nós criamos 14 milhões de empregos! - e batem palmas, mesmo sabendo que quem criou esses empregos foram eles mesmos, os empresários. Não percebem, interesseiros, cooptados como estão, que se a economia der alguns passos para trás e for necessário desempregar, o governo imediatamente vai lhes jogar nas costas a responsabilidade pelo desemprego.E a coisa fica assim: o governo cria o emprego e o empresariado cria o desemprego. É a lógica impostora que os tolos endossam. Sim, leitor amigo, as eleições que se avizinham são mero acessório de algo que se exaure. Nenhuma democracia resiste a tamanha concentração de poder e a tanta cooptação. ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

15/08/2010
Ao dar cobertura ao tal plebiscito pela limitação da propriedade da terra, a CNBB envolve em seu manto uma dessas patacoadas ideológicas que, pela teimosa repetição, acabam sendo confundidas com direitos, não raro com direitos humanos e servindo à violência. Isso me faz lembrar algo que testemunhei há coisa de um ano. Certa tarde, tocou meu telefone e alguém me perguntou se poderia atender o secretário de Segurança Pública, general Edson Goularte. Pouco havíamos falado até então, o secretário e eu. Dele só tinha a imagem de um homem sereno e firme. Surpreendeu-me com um convite: O senhor aceitaria comparecer, como meu convidado, a uma reunião que manterei amanhã com representantes do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana?. Sim, eu aceitaria, claro. Como não? No dia seguinte, de paletó e gravata, como convém, compareci ao gabinete do secretário. Dali, após rápido cafezinho, fomos para a sala onde transcorreria o encontro. Falando pelos visitantes, o presidente do dito Conselho fez breve relato de suas observações sobre o ocorrido na desocupação de uma fazenda em São Gabriel e reconheceu que as investigações a propósito do assassinato de um invasor avançavam regularmente. Em seguida, apresentou um curioso conjunto de postulações que considerava necessárias para haver mais paz no campo. Muito o gratificaria, por exemplo, que o governo gaúcho criasse uma brigada agrária, uma polícia agrária, uma corregedoria agrária (ou coisa que o valha) e sei lá mais o que agrário. Propunham, enfim, a criação de um conjunto de órgãos específicos para atuar em conflitos no meio rural (entendendo-se por conflitos aquilo que acontece quando o MST decide invadir alguma coisa, claro). As propostas foram recusadas pelo secretário. O Estado não dispunha de recursos para criar essas novas estruturas e o governo não via razão para fracionar as existentes. Ponto. Vamos adiante. Foi então que se deu o episódio a seguir, que relato em virtude de sua exemplaridade. Um dos membros do grupo visitante, em tom de espanto e sensibilidade arrepiada, disse ter chegado ao seu conhecimento que o comando da operação policial postado diante da área invadida impedira a entrega de alimentos aos invasores. Quando ele se articulava para dar sequência às expressões de sua inconformidade, o secretário interrompeu: Por ordem minha!. Entreolharam-se, incrédulos, os membros do Conselho. E o general prosseguiu: Se a Justiça determinara que eles saíssem, como haveria o Estado de lhes entregar alimentos para que ficassem?. Diante de lógica tão irretorquível, o outro optou por dramatizar ainda mais: Mas havia crianças ali, secretário!. Só não fungou uma lágrima porque ela não lhe veio. E o general, no mesmo tom sereno: A porteira estava fechada quando entraram, mas sempre esteve aberta para saírem. Responsabilize os pais pela situação que descreve. Por que estou contando isso? Porque esse diálogo serve para mostrar que movimentos revolucionários tipo MST são capazes de apresentar mistificações como teses e sofismas como argumentos, cobrando das autoridades, para aquelas e para estes, atenção e acatamento. Ademais, quando tais disparates arregimentam massas de manobra, como faz o tal plebiscito, com apoio da CNBB, a violência é bem servida. E isso é feito em nome de supostos direitos que, no fundo, são apenas descabidas reivindicações de uma ideologia de péssimo passado e sem futuro algum nos caminhos do bom senso. ZERO HORA, 15 de agosto de 2010

Percival Puggina

15/08/2010
Eu sei, é fortíssima a tentação de lutar contra fatos que nos contrariam tanto. Cede-se, facilmente, à tentação de considerar que diferentes institutos de pesquisa, concorrentes entre si, se unem num imenso complô para dar vitória a quem não se quer. Eu sei, eu entendo. A gente precisa dormir contemplando um horizonte sem tantas nuvens. Mas a realidade é esta: se não ocorrer qualquer incidente de percurso, algum fato novo (e em eleições, quando a gente começa a esperar por fato novo é porque a vaca está indo para o brejo), Dilma presidirá a república por delegação de seu chefe e com unção popular. Eu sei que doi, mas não gosto de me iludir nestas coisas. Basta olhar as tendências desenhadas pelas sucessivas pesquisas para discernir o que vem por aí. Por que escrevo estas linhas tão sentidas, traçadas entre soluços cívicos? Não seria melhor redigi-las sobre a necessidade de um movimento feminista no Irã? Acontece que, deixando a modéstia de lado, proclamo-me um dos raros, raríssimos, cronistas nacionais a indicar para onde, sempre em busca dos níveis mais baixos, nos arrastam as águas servidas desse nosso modelo institucional. Quantas vezes escrevi, ao espocarem os flashes sobre os escândalos: Tá ruim? Pois saibam que vai desandar ainda mais. Ou então: Não gostam desse parlamento? Regozijem-se com ele porque o próximo será pior. Gasto meus dedos, leitor, explicando, tintim por tintim, as causas das nossas mazelas e o quanto a regra do jogo político vai nos tornando reféns dos demagogos, privilegiando a mentira e centralizando o poder em proporções tão avassaladoras que nos tornamos um país de vassalos que se creem numa democracia. Por que tão poucos prefeitos se declaram contra Dilma? Por que, ao longo dos respectivos mandatos, são raros os governadores em oposição política ao governo da União? Por que tanta gente está sempre no governo ou com o governo? Porque esse adesismo se inclui entre as práticas mais comuns do país? Mas que diabos! Se aceitamos, ou consideramos irrelevante, o fato de que o presidente da República enfeixe tanto poder, como temos a coragem de reclamar das consequências? Nesse sentido, durmo sob nuvens negras no horizonte, mas com a consciência em paz. É muito contra minha proclamada vontade que o presidente chefia o Estado, o governo e a administração; comanda o orçamento da União (ou seja, quase 70% das receitas públicas e algo como 22% do PIB nacional); legisla vigorosamente através de medidas provisórias; libera, ao seu talante, recursos para estados, municípios e emendas parlamentares; manda e desmanda nas estatais; nomeia os membros dos tribunais superiores; controla as concessões de rádio e TV. E distribui fabulosas verbas publicitárias... É contra a minha vontade que, havendo nos tornado uma sociedade de massa, onde a opinião pública se confunde com a opinião publicada, escolhamos a pessoa que vai assumir tamanho poder pela via do voto direto que tanto facilita a vida dos demagogos e dos mentirosos. É contra a minha vontade que elegemos os membros do Congresso Nacional através de um sistema proporcional que estimula a representação política dos grupos de interesse (perfeito para conceder privilégios a uns e mandar a conta para todos). E ainda melhor para dissolver a oposição, como sal de fruta, no balcão das negociações. Mas quem dá bola para isso? Quem, ou melhor, quantos, ao escolherem, agora, nestes dias que correm, seus candidatos ao Congresso Nacional (Câmara e Senado), se interessam em saber o que eles pensam sobre reforma política e pacto federativo? Quem? Quantos? Então, leitor, repita comigo: Vai piorar!. Tão certo como é certo que dois mais dois são quatro. O Brasil foi capturado pelos vícios de seu modelo institucional. E muitos pretendem responsabilizar o povão pobre e humilde por sua intenção de voto. Era só o que faltava! Será que cabe a ele, povão, escrutinar as malícias e mazelas do modelo político nacional e apontar soluções para que a democracia não se converta nessa coisa malsã e decadente sob a qual vivemos? ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

08/08/2010
Inúmeras vezes, incontáveis vezes, tenho ouvido de amigos essa frase, proferida como suma expressão de bom gosto e de elevada sensibilidade moral e estética. É como se estivessem acrescentando: prefiro Thomas Morus, prefiro Chopin, prefiro os pintores impressionistas. Sistematicamente respondo tal observação com um comentário: E quem te pediu para gostar? Gostar ou não gostar de política é absolutamente irrelevante, como irrelevante é gostar ou não gostar de inúmeras coisas indispensáveis à vida cotidiana no mundo em que vivemos. E note-se, muitas delas são tão decisivas para nossa existência que, apreciando ou não, nos empenhamos em fazer bem feito o que nos corresponde. A política é uma dessas coisas decisivas, realidade irremovível da vida de quem se recuse a viver no mato. E é uma realidade com fortíssimo poder de determinação sobre a qualidade da vida social e econômica, sobre os valores, sobre a dignidade da pessoa humana e sua concretude, sobre o progresso e a civilização. Boa parte do que podemos relacionar como especificamente individual, e praticamente tudo o que se abriga com o agasalho social, depende da política. Portanto, repito: gostar ou não é uma questão apenas sensorial. Já o desinteressar-se é atitude moralmente irresponsável. Ninguém dirá que, por não gostar, se afasta, desdenhoso, do trabalho que faz, dos filhos cujas fraldas precisam trocar e dos pais enfermos que precisam ser cuidados. Da mesma forma, estamos irrevogavelmente condicionados por preceitos e realidades determinados pela política. A política é uma das várias dimensões naturais da pessoa humana. Entramos nela pela concepção e não saímos dela nem depois do enterro porque, é pela via política, que nossas disposições testamentárias encontram base legal e vigência. Formulo então para os leitores uma confidência: eu também não gosto da nossa política. Aliás, estou convencido de que para gostar da política nacional, com a temos hoje, se requer uma absoluta ausência de bom gosto. Quase tudo, nela, causa engulhos aos estômagos mais sensíveis. E é exatamente por isso que ela me interessa, que procuro estudar e conhecer as causas determinantes de seus incontáveis descaminhos e que me dedico a apontar novos rumos institucionais capazes de fazê-la servir como deveria ao bem comum. Cidadão que me lê. Saiba que você é cidadão porque vive numa sociedade política. Queira ou não queira. Pode fazê-lo de modo mais abrangente, inclusive como participante do jogo eleitoral na condição de dirigente partidário, candidato, detentor de mandato ou cargo político. Mas não escapa de participar, ainda que em forma de inserção menos proativa (para usar uma expressão da moda), como eleitor. No entanto, ainda que apenas como eleitor, você tem imensa responsabilidade moral em relação ao seu voto e ao interesse que aloca na formação de seu discernimento e de seus critérios de decisão. Se você, como tantos, vota em qualquer um (e qualquer um costuma ser o tipo do sujeito que faz qualquer coisa) ou vota em alguém pensando no seu próprio interesse, não se surpreenda quando aquele em quem votou passar a cuidar do interesse dele mesmo. Tal conduta estará apenas reproduzindo a sua. Ou não? * Publicado originalmente na revista Somando, edição de julho de 2010. ____________________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

07/08/2010
DILMA NO DEBATE DA BAND Quem não assistiu o debate deve assistir este video: http://www.youtube.com/watch?v=cTlkplDYaiM&feature=player_embedded

Percival Puggina

07/08/2010
Não é de meu hábito travar por falta de palavras. Mas quando tento identificar o que tenha feito Lula ungir Dilma Rousseff como sua sucessora, entro em dispnéia vocabular. Fico que nem ela perante o mais trivial dos conceitos. Não sei o que levou o presidente a tal desatino. Se lhe foi dado escolher, por que escolheu assim? Convenhamos, a candidata do presidente não consegue (ou não está conseguindo) articular uma frase inteligível sequer. Suas apresentações são incompatíveis com a imagem de mãe do PAC, dama de ferro do governo, gestora que permitiu a Lula ser o que sempre desejou ser desde seu primeiro orgasmo populista com um megafone nos idos de São Bernardo dos Campos. Quando, no debate da Band, ela teve que enfrentar uma questão sobre a falência da infraestrutura nacional depois de oito anos de governo Lula, a mãe do PAC esteve muito mais para madrasta. Dessas de histórias infantis. A verdadeira mãe do PAC, se existir, deve andar por aí, chorando em silêncio. Interrogada sobre a situação das Apaes, a candidata de Lula foi incapaz de acolherar três palavras que se relacionassem com o tema, demonstrando total desconhecimento a respeito dessas meritórias instituições. O processo sucessório em curso não visa a escolher a reitora de um convento de monjas cartuxas, onde não se deve falar. Nem de um Clube de Xadrez, onde mero Bah! arranca eloquentes sinais de reprovação. Ninguém melhor do que Lula sabe a importância da comunicação para o exercício do poder político numa sociedade de massa. No entanto, escolheu para sucedê-lo uma candidata que se dá melhor quando não fala e tem seus melhores momentos totalmente muda, sob os respingos da popularidade do chefe. Vem, então, a pergunta: teria ela sido escolhida por Lula numa atitude do tipo tudo posso e, portanto, posso até fazer uma coisa dessas? Se os delírios messiânicos o levaram a tanto, a conta lhe haverá de cair na caixa de correspondência. Esteja ele onde estiver. Dilma somente demonstrou segurança quando afirmou que nós criamos 14 milhões de empregos. E errou. Errou sob silêncio dos demais candidatos, que não lhe perguntaram: criaram como? Criaram com quê? Governos somente criam empregos no serviço público (vitalícios) e em obras e serviços (temporários) que lhe são prestados. E basta! No mais, quem gera postos de trabalho é a iniciativa privada. Mas o governo não cria condições para a atividade privada?, indagará meu leitor petista ou lulista. Respondo: nesse particular, o que existem são sistemas que favorecem a atividade empresarial, porque favorecem a estabilidade da moeda, proporcionam segurança jurídica e respeitam o direito de propriedade, o livre mercado, os contratos e assim por diante. E não me parece que estejamos mais do que engatinhando nessa direção, entre mamadas nas tetas do governo, papinha socialista servida desde as creches até o topo do mundo acadêmico, e longas sestas tiradas em berço esplêndido. Como Lula nada fez para corrigir essas realidades (ao contrário, ampliou as tetas, as papinhas e as sestas), tudo que hoje se colhe foi plantado antes dele. E contra sua esforçada militância, como se sabe. Reconheça-se que a mídia eletrônica - rádio e tv -, por força de lei, não pode expressar opinião política mais contundente durante as campanhas eleitorais. Mas é escandalosa a omissão da mídia impressa. Nossos jornais, em vez de opinar sobre o que viram e sobre o que veem, ao término de um debate como o da Band, limitam-se a registrar o que cada lado disse de si mesmo e do opositor. Isso lá é opinião? Isso é suficientemente analítico? Serve à verdade? Serve ao país? Ao fim e ao cabo, diante do que vejo, acabarei concordando com a presunção do Lula. E com os fundamentos de sua opinião sobre o eleitorado nacional. ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

01/08/2010
Tenho me lembrado muito de Peter Sellers. O inglês era perito em simular a dissimulação. Nas suas trapalhadas, tipo derrubar uma pilha de pratos ou entornar um aquário no decote de honorável e corpulenta madame, assumia um olhar de quem acaba de chegar, abduzido, sem a menor ideia sobre o que seja prato, aquário ou decote. É o que tenho observado por aqui. De repente, ninguém tem coisa alguma a ver com as FARC. Hum? FARC? Que FARC? A gente tenta explicar: as FARC são a principal fornecedora de cocaína para o crime organizado no Brasil. Uma gente finíssima, da Colômbia, que vive do tráfico de armas e drogas. Que mantém centenas de sequestrados, anos a fio, em campos de concentração. É aquele pessoal que o governo brasileiro se recusa a declarar terrorista, alegando resguardar-se para futuro papel mediador, e que certos companheiros gostam de erguer à condição de força insurgente... E dê-lhe cocaína pro Brasil. Mas nenhum sinal de reconhecimento. Olhar de Peter Sellers. Eles odeiam Álvaro Uribe, dizem que terrorista é o presidente colombiano, mas FARC, não, não. Que FARC? Um desses insurgentes foi vedete do 1º Fórum Social Mundial. Faltou lugar no Teatro do IPE para ouvi-lo sobre resistência armada. Note leitor: a Colômbia é um país democrático, com eleição cada quatro anos. Os comunistas de lá bem poderiam buscar o poder no voto. Mas aprenderam, com Cuba, que abrir passagem à bala dá poder por meio século. Olha o Fidel! Assumiu estalando de novo e quando saiu parecia maracujá de gaveta. Enfim, os colombianos iam e vinham. Davam entrevistas. Usavam codinome. Javier Cifuentes, Julián Romero, Oliverio Medina. Eram vistos em encontros do MST. De tanto circularem por aqui, os rapazes conheciam pelo nome os garçons das boates, elogiavam nossas picanhas e se queixavam do frio. Mas se perguntarmos por eles, se apontarmos os peixinhos no decote da madame, surge aquele olhar de quem simplesmente não sabe o que seja peixinho nem decote. Concluo que vinham por conta e por nada, apreciar o pôr de sol e tomar chope nas bocas da Lima e Silva. Falavam com ninguém, ultrapassavam nenhuma soleira e .... voltavam pro mato. *** Na mais recente demonstração de seu totalitarismo, o regime dos irmãos Castro anunciou que libertará meia centena de presos políticos. Ora, companheiros! Se podia soltar, por que prendeu? Se devia prender, por que soltar? E aí, peço que me expliquem: como apóiam um regime desses? O quê? Olhar de Peter Sellers. Sempre reprovamos as práticas do regime cubano! Em vão você lembrará que uma viagem a Cuba, com Lula ou sem Lula, era prêmio disputado. Que com recomendação partidária, os militantes iam estudar medicina no Caribe. Que o regime podia matar sem constrangimento quantos negritos quisesse, porque era sempre com absoluta razão que o fazia. Mercedez Soza desistiu. Até Saramago desistiu. Mas a turma continua fiel. Ainda agora, quando o mártir Orlando Zapata morreu de fome, lá estava Lula, em Havana, tirando retrato abraçado com Fidel. Coube, então, ao nosso presidente, diante daquele desastre moral, fazer olhar de Peter Sellers e explicar seu silêncio alegando que a autonomia das nações merece respeito. Donde deduzi que, para os companheiros, Honduras não é uma nação. Peter Sellers, ao menos, era muito engraçado. ZERO HORA, 01/08/2010

Percival Puggina

30/07/2010
Na CNBB, quando um bispo assume posições muito definidas, os outros não gostam de apresentar opiniões divergentes. (D. Cristiano Krapf, bispo de Jequié em seu blog). Era bem antiga a minha curiosidade sobre como os grupos radicais da CNBB conseguiam dar trânsito às suas estapafúrdias propostas e fazer com que elas venham a público sob as bênçãos da entidade, para serem acolhidas como se representassem a posição da Igreja. Essa curiosidade ressurgiu quando eu soube que a CNBB acolhera e dera curso à Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra. Como uma coisa dessas passa pelo plenário? Eu sabia que, para vários efeitos, havia uma diferença entre os documentos de capa verde da CNBB (estudos para discussão) e os de capa azul (oficializados pela instituição). Mas quantas pessoas no país são capazes de fazer essa distinção? Pois foi com esse devastador argumento, o de que a proposição do plebiscito sairá com capa verde e não com capa azul, que os bispos proponentes da campanha conseguiram a concordância dos colegas. O leitor não acredita? Vá, então, ao blog de D. Cristiano (www.domcristiano.com.br) e leia o artigo Um plebiscito para dividir fazendas?. Ali, o bispo de Jequié acende a luz do plenário e mostra (viva a Internet!) que o processo usado pela ala canhota da CNBB para fazer o que lhe dá na veneta é o mesmo dos mal-educados que chegam tarde e querem assistir o show na primeira fila. Metem uma perna por baixo, um ombro por cima e se posicionam onde querem contando com a inerte tolerância dos demais (quando um bispo assume posições muito definidas, os outros não gostam de apresentar opiniões diferentes). Quanta falta de firmeza, eminências! É assim, então, que irá às ruas, com o selo da CNBB, o dito plebiscito que visa a colher apoio popular para fixar em 35 módulos rurais a máxima extensão legal das propriedades de terra no país. A campanha em si é como frango refrigerado, não tem pé nem cabeça. Só serve para que os revolucionários se sintam fazendo revolução. Seu único produto é a aporrinhação ideológica, tão ao gosto da Teologia da Libertação, para a qual a pobreza será superada mediante a total destruição da riqueza. É uma iniciativa que segue a constrangedora tradição do anterior plebiscito pelo calote da dívida externa, prestidigitação sacada da mitra de alguns prelados, no ano 2000, como um achado de cartola de mágico. Você lembra, não é, leitor? Não se deve pagar a dívida com o sangue do povo!. Todos riam na foto que registrou o momento solene em que alguns bispos entregaram ao presidente Fernando Henrique o resultado do tal plebiscito. As grandes bobagens são assim, provocam grandes risadas. A CNBB endossava o discurso dos petistas que hoje riem, orgulhosos e faceiros por estarem pagando direitinho e antecipadamente. Há quem goste de fazer esse tipo de papel. Agora, a CNBB entra na linha do PNDH-3 e o artigo de D. Cristiano dá o serviço sobre como se passaram as coisas na reunião dos bispos em Brasília. O esclarecimento ganha relevo porque contém o relato da infrutífera resistência do autor ao trânsito da matéria pelo plenário: a proposta, assumida por pastorais, foi apresentada por uma comissão nomeada pela presidência e foi endossada pela maioria em virtude daquela tolerância que os moderados têm perante a intolerância dos imoderados. De nada valeu, bem se vê, a eloquente e firme exortação feita por Bento XVI aos bispos brasileiros do Sul III e IV em fins de dezembro do ano passado quando os advertiu para ?o perigo que comporta a assunção acrítica, feita por alguns teólogos, de teses e metodologias provenientes do marxismo, cujas sequelas mais ou menos visíveis, feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia fazem-se sentir ainda, criando, nas vossas comunidades diocesanas, grande sofrimento e grave perda de forças vivas?. Tudo indica que o discurso do Papa entrou por um ouvido e saiu pelo outro. É surpreendente essa inclinação da CNBB para a autofagia pastoral, ora se associando a iniciativas e teses tresloucadas, ora sapecando sua sigla e marca em tolices como as que povoam os Documentos-Base das últimas Campanhas da Fraternidade. É tão lamentável quanto verdadeiro: qualquer empresa privada é mais zelosa com sua imagem e com o que é feito em seu nome do que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. _____________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia. Este artigo foi publicado originalmente no Diário do Comércio/SP, em 27/07/2010