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12/11/2010
PAQUISTÃO: MULHER CRISTÃ É CONDENADA À MORTE POR BLASFÊMIA http:www.zenit..org///article-26508?l=portuguese ISLAMABAD, quinta-feira, 11 de novembro de 2010 (ZENIT.org) - Asia Bibi, operária agrícola de 37 anos e mãe de duas crianças, é a primeira mulher condenada à morte no Paquistão sob a acusação de blasfêmia. A mulher foi acusada de ter ofendido o islã durante uma discussão no trabalho, na qual algumas mulheres haviam tentado convertê-la, segundo informou a agência AsiaNews. A sentença, emitida por um tribunal de Punjab no último domingo, refere-se a uma discussão que ocorreu em 2009, na localidade de Ittanwali. No transcurso da discussão, frente à insistência das colegas a que renunciasse ao cristianismo, Asia Bibi falou como Jesus morreu na cruz pelos pecados da humanidade e perguntou às demais mulheres o que Maomé havia feito por elas. A norma do código penal paquistanês castiga com a prisão quem ofende o Alcorão e com a morte a quem insulta o profeta Maomé. As colegas muçulmanas bateram em Asia Bibi e a trancaram em um quarto. Segundo explica a organização caritativa Release International, uma multidão se reuniu no local dos fatos e começou a insultar, tanto ela como seus filhos. O diretor de Release International, Andy Dipper, afirmou que, ao condenar uma mulher à morte por blasfêmia, o Paquistão passou dos limites. A Asia Bibi também foi imposta uma multa equiparável a dois anos e meio do seu salário.Com relação a esta sentença, o secretário executivo da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Conferência Episcopal do Paquistão, Peter Jacob, declarou à agência Fides que os cristãos estão sob ataque pelo uso instrumental da lei antiblasfêmia. Os casos de falsas acusações são vários e estamos muito preocupados: já foram pelo menos 5 nos dois últimos meses, explicou. Infelizmente, não há mudanças à vista: o governo não considera em absoluto uma revisão ou uma abolição da lei - lamentou. E isso é muito grave. A condenação de Asia Bibi é um autêntico ultraje à dignidade humana e à verdade - denunciou. Faremos todo o possível para que o veredicto seja desmentido e revocado em apelação. As normas sobre a blasfêmia, segundo recorda o LOsservatore Romano em sua edição de hoje, foram introduzidas entre 1980 e 1986 para garantir o respeito à religião muçulmana. Com base nesta normativa, também foram censurados alguns sites da internet. Segundo dados publicados pela Comissão Nacional Justiça e Paz, de 1986 a 2009, 964 pessoas foram presas por terem profanado o Alcorão ou Maomé. A lei sobre a blasfêmia é utilizada em geral como pretexto pelos fundamentalistas para atacar as minorias religiosas, que no Paquistão constituem 4% da população. O Pakistan Christian Congress (PCC), que promoveu várias conferências, tanto no âmbito nacional como internacional, para pedir a derrogação das normas sobre a blasfêmia, expressou sua preocupação pela sentença de condenação à morte de Asia Bibi e lançou um apelo ao presidente do Paquistão para garantir justiça para a mulher.

Percival Puggina

06/11/2010
Domingo passado, o Dr. Sérgio da Costa Franco postou aqui mais um de seus importantes artigos - Pelo mau exemplo - reprovando o presidente Lula por haver abandonado a estatura do cargo e se convertido em cabo eleitoral de subúrbio. Na mosca. Dia seguinte, participando de programa em emissora da Capital, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF e do TSE, que falou por telefone, fez críticas severíssimas à conduta adotada pelo chefe de Estado brasileiro durante a campanha deste ano. Apontou-a como o fato mais deplorável da eleição. De fato, nunca antes neste país, um presidente foi tão longe no uso do cargo para favorecer estratégias eleitorais. Ao longo dos últimos meses, impudente e imprudentemente, em tempo integral, Lula só não fez para favorecer sua candidata a presidente e seus candidatos nos Estados o que não lhe ocorreu porque, objetivamente, fez e falou quanto lhe veio à cabeça. E ele pode quase tudo. Como diz meu filho, nos últimos três degraus da escada do poder alinham-se, em ordem ascendente os juízes de futebol, Lula e Deus. Mas Lula vem buzinando e dando sinal de luz. Às ilustres opiniões do Dr. Sérgio e do ministro Marco Aurélio, somam-se incontáveis outras, que me dispenso de alinhar porque todo mundo viu o que aconteceu. Lula transitou pelo país sentado num trono de nuvens, apartando os bons e os maus, anunciando o paraíso em caso de vitória dos seus, o inferno em hipótese oposta e distribuindo favores. Que um candidato faça isso já é exagero. Que um chefe de Estado assim proceda é coisa inominável. Todas essas críticas, contudo, parecem presumir um presidente magistrado, chefe de Estado, espécie de poder moderador, alinhado transitoriamente entre os símbolos da pátria. Todavia, o modelo institucional brasileiro, não é assim, como sabemos. No sujeito com a faixa presidencial fundem-se três funções de mando. Ele é chefe de Estado, do governo e da administração. Dessa mistura convergem para si as possibilidades operacionais da administração, do governo e de boa parte do Estado, das quais Lula usou e abusou para favorecer seu projeto sucessório. Em resumo: Lula fez o que fez porque as instituições brasileiras permitem! A Constituição lhe provê os meios! Essa é a razão pela qual só infringiu a lei quando atuou antecipando-se a prazos legais. Iniciada oficialmente a campanha, todas as cartas do poder foram manipuladas por ele, que as embaralhava, distribuía e jogava de mão. O sistema que favoreceu a conduta imprópria de Lula é ainda mais reprovável do que o que ele fez! No nosso sistema, o presidente não exerce um poder moderador. Bem ao contrário, é titular de um poder imoderado! É titular de um poder excessivo que está na origem de nossas disfunções institucionais. O presidente encontrou a porta aberta e foi com tudo influenciar a eleição. Bem antes, essa porta, pela qual ele interveio na eleição, já depreciara nossos partidos, o Congresso Nacional, o Poder Judiciário, já aviltara a política, e só faz crescer a população de mariposas em torno das luzes (digamos assim) desse imoderado poder central. É ele que desfigura a democracia brasileira e transforma as práticas políticas nacionais num catálogo de condutas repulsivas. Zero Hora, 07/11/2010

Érico Valduga

06/11/2010
RECEITA CRESCEU 2 CPMFs MAS VERBA NÃO FOI PARA A SAÚDE Érico Valduga Governo Lula usou ganhos para ampliar Bolsa Família e pagar aposentadorias; gastos na saúde apenas oscilaram na mesma média ao longo da década A receita do governo federal cresceu, ao longo do governo Lula, o equivalente a duas vezes a arrecadação da CPMF, mesmo com a derrubada, pelo Congresso, da contribuição sobre movimentação financeira. Praticamente nada desse ganho, porém, significou aumento do gasto em saúde, que, ao longo desta década, apenas oscilou em torno de uma mesma média. Não houve alta antes nem queda depois da extinção do tributo, hoje novamente cogitado como solução para o financiamento do setor. Segundo levantamento da Folha, o Tesouro Nacional absorvia em 2003, primeiro ano de Lula, 21% da renda nacional, por meio de impostos, taxas, contribuições e outras fontes. Em 2011, com Dilma Rousseff, a proporção deverá se aproximar de 24%. Não fosse uma escalada de despesas públicas (sobretudo as vinculadas ao salário mínimo) em ritmo intenso, a expansão das demais receitas teria compensado com folga a extinção do antigo imposto do cheque, que rendia algo como 1,4% do Produto Interno Bruto ao ano. A primeira gestão petista trabalhou para elevar as contribuições sociais, cujos recursos são destinados à previdência, à assistência social, ao seguro-desemprego e à saúde. Criou-se a contribuição previdenciária dos servidores inativos e elevaram-se alíquotas da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). Os programas de transferência de renda absorveram a maior parte dos recursos adicionais devido ao lançamento do Bolsa Família e, principalmente, aos reajustes do salário mínimo, piso de aposentadorias, pensões, auxílios e benefícios deficientes e desempregados. Já as verbas da saúde seguiram a regra, instituída em 2000, que fixa aumento correspondente ao crescimento da economia: com isso os recursos ficaram estáveis, com pequenas variações para cima ou para baixo, em torno de 1,7% do PIB. No início do segundo mandato de Lula, durante as negociações para prorrogar a CPMF, o governo prometeu elevar o orçamento da saúde - que, com a contribuição de Estados e municípios, fica em 3,6% do PIB, metade do padrão do Primeiro Mundo. Com a derrota no Congresso, os planos foram abandonados, embora a arrecadação tenha continuado em alta. Elevaram-se o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), mas os maiores ganhos vieram da expansão da renda, da formalização de empregos e empresas. Para o ano que vem, o Congresso chega a estimar uma receita na casa dos 25% do PIB, ou R$ 985 bilhões. O comportamento da arrecadação neste ano, entretanto, aponta para algo mais próximo dos 24%. (Por Gustavo Patu, na Folha de S.Paulo, 6-11-2010)

Percival Puggina

06/11/2010
O poderoso Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu emitir uma notificação de censura ao livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, que seria distribuído à rede de ensino do país. A conselheira Nilma Lino Gomes leu a obra e viu nela preconceitos contra a África e racismo. Exigem, então, os conselheiros, que o texto venha precedido de uma reprovação de seus desalinhos ideológicos com a nova realidade nacional. Tenho certeza de que não faltará quem se habilite a produzir esse importante prefácio corretivo. Seja qual for a estupidez, sempre há quem se considere capaz. Dei uma investigada no Sítio do Pica Pau Amarelo, uma lida no livro e venho em socorro do Conselho: Caçadas de Pedrinho é politicamente incorreto de capa a capa! O sítio inteiro, aliás, está a exigir cuidadosa inspeção do Ministério Público Federal. Em primeiro lugar porque, há muito tempo, era para estar desapropriado (atenção, Incra!). Que negócio é esse? Uma propriedade rural com utilidade apenas ... literária? Péssimo exemplo para estar sendo apresentado à uma juventude que se quer cidadã e comprometida com as causas sociais. Tem mais, conselheira Nilma. Cadê a certidão de propriedade do sítio? Alguém já a viu? E não me venha o branquela do seu Monteiro Lobato com uma simples trintenária julgando que seja suficiente. Não no Brasil moderno! Quem pode assegurar que Tia Anastácia não fosse quilombola? Detentora dos direitos culturais históricos protegidos pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal? Ou dos muito prováveis direitos de posse mencionados no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Hum? É admissível que uma republicação de Caçadas de Pedrinho, em tempos de Lula e Dilma, deixe de mencionar tais avanços da sociedade brasileira? Na pesquisa que fiz, encontrei uma foto da negra Anastácia, datada de 1913 (está disponível na wikipedia). Era magra, de meia idade. Na imagem, aparece tendo ao colo o menino Guilherme, filho de Monteiro Lobato. O autor, reiteradas vezes, admitiu publicamente, que essa Anastácia, essa pobre e infeliz Anastácia, havia inspirado a criação da personagem Tia Anastácia! Basta fazer as contas para perceber que a desventurada senhora foi, ela mesma, escrava. Fugida ou liberta, não importa. E acabou, mais uma vez, sendo explorada pelo patrão branco que promoveu o uso gratuito de seus evidentes direitos de imagem. Pode o Conselho Nacional de Educação silenciar sobre tal iniquidade? Referendar obra que escarnece valores tão significativos? Anota essa outra aí, conselheira Nilma. Quer mais, o CNE? Debruce-se sobre o personagem Visconde de Sabugosa. Pondere, leitor. O visconde é um personagem da nobreza. Encarna saber e coragem física. Tantas vezes morresse, tantas vezes era ressuscitado com a simples troca do sabugo que compunha seu corpo. É ou não uma exaltação simbólica da elite nacional e de sua perpetuação através dos tempos? Pode haver algo mais antidemocrático e elitista do que um imortal representante da nobreza, além de tudo apresentado como encarnação da sabedoria e do destemor? Eu, hein! E para finalizar: cadê a autorização do Ibama para a Caçada do Pedrinho? ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

01/11/2010
Nos últimos meses circulou muito na internet a parábola da tartaruga que apareceu em cima de um poste. Ninguém entende como ela chegou lá. Todo mundo sabe que não subiu sozinha, que ali não é o lugar dela e que aquilo não vai terminar bem. Pois neste melancólico final de tarde do dia 31 de outubro de 2010, a tartaruga está no poste. Ou melhor, posta no poste. Teoricamente, na eleição finda, o eleitor brasileiro tinha que escolher entre governo e oposição. Teoricamente. Na prática a coisa era um pouco diferente. Governo queria dizer Lula em qualquer versão que ele ungisse para o substituir e oposição queria dizer José Serra - uma das menores vocações oposicionistas que a política brasileira já produziu. Serra tem sido bom no governo, mas é um péssimo líder oposicionista. E a tartaruga acabou em cima do poste. Não se espante, leitor. E admita: o candidato de Lula poderia ter sido o próprio poste. Ganharia também. Por quê? Porque estavam dadas as condições para que isso acontecesse, a saber: uma oposição sem liderança visível e totalmente desorganizada; uma decadência da capacidade de análise política; a cooptação pelo oficialismo de praticamente todas as estruturas e instituições da sociedade; a gastança dos recursos públicos com fins eleitorais que dá luz verde para qualquer candidatura, mas já acende luz amarela em todos os indicadores da economia brasileira. E por aí vai. Acrescente suas próprias observações. Elas, por certo, serão pertinentes. A tartaruga está em cima do poste e muitos analistas da grande mídia se interrogavam, hoje à tarde, num assomo de discernimento, num surto de curiosidade que se manteve ausente durante a campanha eleitoral, se o futuro governo seria de Dilma, de Lula, de José Dirceu, do PT ou do PMDB. Interrogações póstumas, como se percebe, perante as quais não há resposta boa nem menos pior. Precisamos de um milagre. Ou melhor, de dois. O primeiro para que o futuro governo contrarie as expectativas pessimistas da minoria que o rejeitou nas urnas. E o segundo para que surja no país, em curto prazo, uma liderança oposicionista competente e confiável. Por isso, daqui para frente, muita oração pelo bem do Brasil. Santa Rita (das causas impossíveis) e Santo Expedito (das causas justas e urgentes) são bons intercessores para a atualidade nacional. ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

31/10/2010
Não foi dito por acaso. Tampouco como mera observação feita à margem dos fatos, desconectada da realidade do encontro e de seus participantes. A fala de Bento XVI aos bispos brasileiros que estiveram com ele no dia 28 de outubro tem tudo a ver com o que estava em curso nas nossas dioceses, na grande mídia e nas comunicações da internet em função do pleito do dia 31. Os presentes ? e até mesmo os ausentes ? sabiam a respeito do que o Papa estava falando. A imprensa sabia, os candidatos sabiam, seus partidos sabiam. Foram palavras severas, de apoio aos poucos, aos raros, aos escassos bispos que resolveram cumprir sua função pastoral e dizer com clareza a seus fiéis o quanto é contraditório à fé e à moral católica o voto que confere poder a correntes políticas comprometidas com: a) a liberação do aborto; b) a abolição de símbolos religiosos; c) a absorção de toda e qualquer relação afetiva no conceito constitucional de família; e d) uma visão de estado laico cujo viés totalitário pretende expurgar dos debates civis os cristãos, seus princípios e seus valores. Foi bem claro, o Papa, a esse respeito: Quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas. Venho escrevendo sobre isso há anos, como leigo, e nunca sequer me ocorreu que fosse necessário perguntar a Bento XVI, ou, antes dele, a João Paulo II, se estavam de acordo. Eu simplesmente sabia, assim como sei haver oxigênio no ar que respiro, que, tais afirmações eram harmônicas com a orientação pontifícia. Ponto. Surpreendem-me os que, leigos ou religiosos, se surpreenderam! Vá que seja. Eu talvez tenha estudado um pouco mais essas coisas do alguns deles, por gosto e boa orientação de amigos padres e bispos que influenciaram minha formação. Nunca precisei, portanto, como leigo, que alguém me dissesse o quanto o PNDH-3 (decretado em 21/12/2009), seus criadores e propugnadores confrontam valores essenciais da fé e da moral cristã. Aliás, era algo tão berrante, tão escandalosamente perceptível que até a CNBB se obrigou a objetar! Sim, leitor, até a CNBB veio às falas (declaração formal de 15/01/2010), posicionar-se contra certos elementos daquela infeliz agenda. Mas a agenda era tão partidária, tão inerente ao partido do governo, que o partido do governo, em congresso nacional (18-20/02/2010), voltou a aprová-la. Não por escassa maioria. Não por larga margem de votos. Por decisão sem discrepância conhecida. Observem as datas e me digam se seria preciso mais do que isso para estabelecer um insuperável divisor de águas. Não estamos diante de mera divergência de opinião, ainda que sobre tema relevante. Estamos diante de um confronto entre convicções antagônicas e legítimas. Um lado, legitimamente, tratou de deixar bem claro a que veio e a quem serve. E o outro lado, aquele da CNBB, aquele da imensa maioria dos bispos, sufocou-se em ilegítimo silêncio sobre a que veio e a quem serve. Foi essa a necessária retificação que Bento XVI fez em sua fala do dia 28. O Papa disse a quem serve. Orientou os bispos, pastores de suas dioceses. Mas os lobos, bem, os lobos não são propriamente os melhores zeladores de qualquer rebanho. E eles continuam comandando a CNBB. Tolerando os absurdos redigidos por algumas de suas assessorias. Descuidando do que é publicado e divulgado com a chancela da entidade (qualquer empresa séria cuida melhor de sua marca e de sua imagem do que a CNBB). Metendo-se onde não deve (como no ridículo plebiscito da dívida externa e, agora, no não menos ridículo plebiscito da extensão das propriedades rurais). E, assim, envolvendo a Igreja, por motivos ideológicos, com seus piores e mais destapados inimigos. Corrijo-me: seus piores inimigos não são aqueles que claramente dizem a que vêm e a quem servem, mas aqueles que não servem a quem deveriam, que se lixam para o sucessor de Pedro. E preferem ir à dança com os lobos. ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

24/10/2010
DIZEM POR AÍ Que um jornalista resolveu perguntar à Dilma sobre seus hábitos de oração (pergunta cretina, que fique bem claro minha opinião). E ela respondeu que não tinha o hábito de rezar. O reporter insistiu: A senhora nunca reza? (nova pergunta cretina, que fique bem clara minha opinião). Ao que Dilma respondeu (resposta cretina, que fique bem clara minha opinião): Não preciso, eu falo direto com o Lula. PS - após essa piadinha viajo em férias e retorno para votar contra a Dilma e o PT (consequentemente no Serra), dia 31.

Percival Puggina

23/10/2010
De repente, nós cristãos, que vínhamos sendo empurrados à condição de párias da democracia brasileira, sub-cidadãos portadores de opiniões impertinentes, passamos a ser paparicados pelas mesmas forças políticas que nos enfiavam uma rolha na boca. Um dos chavões mais batidos no Brasil era o de que este é um país laico e vocês cristãos vivem dando pitaco onde não devem. Nada que pudesse ser encontrado nos Evangelhos ou em documento católico podia ser repetido em público, inserido num artigo ou usado como argumento. Só as posições da Teologia da Libertação eram bem recebidas, exatamente porque, sendo heréticas, não eram católicas... Ou não? Se entrasse em debate algum tema a respeito do qual a moral dominante na sociedade tivesse o que dizer, a opinião dos cristãos era imediatamente objeto de censura. Que fôssemos falar dentro de casa ou da Igreja! Jamais nos parlamentos. Jamais na mídia. Nunca em público. Ainda que majoritários. Convicção moral com fundamento religioso de qualquer natureza, mas especialmente se cristão, era para ser guardada numa gaveta do dormitório, tão imprópria para uso em público quanto um pijama de bolinhas. Ou não? Em vão eu levantava o dedo para protestar, para dizer que a água do batismo não enferrujava nossa cidadania, que uma carta constitucional é, em primeiríssimo lugar, uma tábua de valores e que os grandes valores da constituição brasileira apenas refletiam o brilho de uma tradição cristã que lhe era anterior e superior. Qual o quê! Entrava por um ouvido e saía pelo outro. Essas correntes políticas só tinham orelhas para si mesmas e para as convicções fornecidas pelo silêncio permissivo da matéria. Deus expulsara Adão e Eva do paraíso e aqui dava-se o troco, expulsando Deus deste paraíso da publicidade oficial chamado Brasil. Ou não? Isso até o dia 3 de outubro. Agora só falta baterem à porta da casa do vigário ou do pastor para perguntar se estão precisando de alguma coisa, tipo gente para ajudar na liturgia. Para dizer que Zé Dirceu canta o Tantum Ergo que dá gosto e que a companheira Dilma, assim que terminar a campanha, fará curso para ministra da Eucaristia. Até aquela cláusula pétrea, duríssima, quartzosa, dos programas e congressos partidários, que, unanimemente, proclamava (ou não?) o direito das companheiras mulheres sobre o próprio corpo (leia-se, absoluta liberdade para jogar fetos na lata de lixo), esfarelou. Virou brita miúda, coisa sem significado. E qualquer menção a ela é denunciada como baixaria até por religiosos (digamos assim) que andam lamentando a inclusão do aborto nas pautas da campanha eleitoral. O partido nunca foi pró-aborto, a companheira nunca disse o que disse e só falta proclamarem que, sobre esse assunto, quem fala pelo partido é Bento XVI. Há no Evangelho advertências severas para quem se mete a julgar a religiosidade alheia. Portanto, não entro nessa. Nem a pau. Mas lembro que existem palavras ainda mais duras - Sois semelhantes a sepulcros caiados - para quem se veste de falsa religiosidade quando ela convém à imagem pessoal. Admito, admito: são costumes correntes em política. Há candidatos que, na busca de votos, metem o pé valentemente em poça dágua, pegam criancinhas no colo, atravessam pinguela, visitam doentes e rezam como freiras de clausura. Mas como é triste essa pantomima! Ou não? ZERO HORA, 24/10/2010

Percival Puggina

22/10/2010
Dia atrás, durante uma entrevista sobre meu novo livro Pombas e Gaviões, perguntaram-me se eu era contra o pluralismo, o multiculturalismo e a tolerância. A resposta foi um triplo não. Não, não e não. Cada qual com o seu devido mas. O pluralismo é um dado da realidade. Ser contra o pluralismo é negar a liberdade humana e recusar o fato de que as pessoas veem a realidade desde diferentes pontos de vista e a escrutinam segundo critérios distintos. Mas... isso não significa adotar uma atitude passiva no contexto do pluralismo, como se todas as ideias fossem igualmente corretas. Não são. O pluralismo adquire valor na exata proporção em que as várias correntes de opinião reconhecem seus próprios fundamentos e as marcas deixadas pelas respectivas experiências ao longo do processo histórico. Ou seja, caro leitor: pluralismo é coisa séria e não se confunde com somatório de palpites, pressupõe honestidade intelectual, firmeza de convicções, sentido de história e possibilidade de confronto retórico e político. O que no Brasil chamamos de pluralismo é uma coisa volátil como fumaça - os achismos de cada dia - soprados por meia dúzia de plantonistas da tal opinião pública. Coloque-se um microfone na boca do transeunte para ouvir o que ele pensa e pronto: dificilmente se recolhe uma sequência congruente de ideias. Sabem-no muito bem os pesquisadores. Não se introduza num questionário perguntas em que qualquer resposta deva guardar coerência com a precedente. O trabalho resultará perdido por inconsistência das informações obtidas. Isso acontece por deficiência educacional e cultural, é claro, mas sob o ponto de vista político, também ocorre porque o sistema adotado pelo país serve para qualquer coisa, menos para formar e organizar correntes de opinião. Os partidos e suas condutas erráticas em torno das lamparinas do poder são a imagem mais visível desse pluralismo anarquizado que caracteriza o pensamento nacional (se é que existe algo que mereça esse nome). O multiculturalismo é outro dado da realidade, transversal à história humana. Mas ... reconhecer que convivemos com diversidades culturais, não equivale a afirmar que todas as culturas têm o mesmo valor e a mesma dignidade. Não! Existem culturais desrespeitosas à dignidade da pessoa humana, que agridem valores fundamentais, e talvez nada retrate melhor esse fato do que os relatos de Ayaan Irsi Ali em A infiel. Essa somali, após passar por todas as violências e mutilações a que são submetidas as mulheres naquela região da África, fugiu para a Europa quando pretenderam casá-la contra sua vontade. Foi parar na Holanda, onde se destacou no grupo dos refugiados. Convivendo com eles, na condição de tradutora, percebeu que as mulheres continuavam submetidas às práticas brutais e indignas de suas clãs originais e que as autoridades holandesas, em respeito ao multiculturalismo, toleravam a situação. Ayaan reagiu contra isso, mobilizou a opinião pública e acabou tornando evidente ser intolerável que seres humanos de qualquer grupo cultural fossem, em território holandês, submetidos a violências condenadas pela legislação daquele país. Foi tão bem sucedida em sua mobilização que acabou deputada. Bastaria esse exemplo, e eles se contam aos milhões, para mostrar que existem práticas culturais deploráveis, que diferentes culturas não costumam ser moralmente equivalentes e que algumas, inclusive, precisariam ser retificadas pelo muito que afrontam a vida e a dignidade da pessoa humana. Só uma percepção miserável dessa dignidade, associada a uma completa cegueira moral pode obstruir a percepção dos terríveis dramas associados a determinadas práticas culturais. Como disse um amigo meu, professor universitário para a aluna que o procurou afirmando não haver relações de superioridade ou inferioridade entre diferentes culturas: É, minha filha, gilete no clitóris das outras é refresco. A tolerância, por fim, é um importante valor social. O convívio fraterno e solidário entre os diferentes é sua principal consequência e a igual dignidade de todos, seu maior fundamento. Mas... a tolerância não se confunde com a permissividade que costuma andar associada à sua atual concepção entre nós. A tolerância com o intolerável, a tolerância para com quem se vale dela com vistas ao seu próprio agir intolerante, deixa de ser uma virtude social para se tornar um comportamento socialmente repreensível e irresponsável. É muito comum que, em nome da tolerância, a sociedade contemple de modo passivo a violência que pisa no jardim do vizinho, que invade sua casa, que o prende e o leva. Ou, no viés político, a tolerância para com dos partidos que pregam e estimulam a violência, valendo-se da democracia para agir contra a democracia. Pombas e gaviões (pombasegavioes@puggina.org), o livro que debatíamos naquele programa a que me referi inicialmente, é uma obra que se dedica a promover tais advertências, prestando um serviço ao verdadeiro pluralismo (o pluralismo consciente e esclarecido), ao verdadeiro multiculturalismo (que recusa toda agressão à dignidade natural da pessoa humana ainda que fundada em tradições de base cultural) e à verdadeira tolerância (que sabe discernir o que pode e o que não pode ser tolerado). ______________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.