Percival Puggina

23/03/2013
SÓ NO BRASIL, MESMO Convivemos no Brasil com uma extraordinária e inconcebível contradição. No mundo inteiro, a esquerda sempre teve alergia, palpitações e dispneia ao ouvir falar em democracia, liberdade de expressão e direitos humanos. Que essa aversão persiste é algo que fica evidente quando: 1º) observamos onde recaem os grandes afetos do governo petista em suas relações externas; e 2º) no fato de que jamais vemos nem veremos o PT ou o PCdoB e assemelhados tecerem louvores a uma democracia liberal. No entanto, aqui no Brasil, a esquerda, que pegou em armas para impor uma ditadura do proletariado, com seus ferrolhos e paredones, faz poses de defensora da democracia, da liberdade de expressão e dos direitos humanos. E de tanto afirmarem essa fraude, as pessoas acabaram acreditando.

Percival Puggina

21/03/2013
Henrique IV, que reinou sobre a França na virada para o século 17, enfrentou diversas vicissitudes até conseguir ser aceito como soberano em Paris. Henrique era protestante e, por isso, sofria rejeição da maioria católica parisiense. Por fim, para superar as dificuldades que lhe estavam sendo postas, resolveu tornar-se católico. Conta-se que o rei, que veio a ser muito reverenciado como excelente monarca, ao decidir converter-se, teria dito: Paris vale bem uma missa. Essa frase atravessa três séculos como metáfora para justificar certas concessões cobradas pela política aos que a ela se dedicam. Em Roma, no dia 18 deste mês, a presidente Dilma, perguntada pelos repórteres sobre o que iria tratar com o papa Francisco, respondeu que o assunto seria pobreza e fome. A frase soou bonito porque, segundo se tem lido, expressa uma pauta bem ao gosto de Sua Santidade. Fome e pobreza. A exemplo de outros chefes de Estado, a presidente foi à capital do mundo católico com o objetivo de assistir à missa inaugural do novo pontificado. Absolutamente justificável, a viagem, tendo em vista o fato de ser, o Brasil, a maior nação católica do mundo. Dilma representava, portanto, um bocado de gente, mas não tenho certeza de que representasse a si mesma, ou que atribuísse maior importância ao ato. Afinal, ela não parece ser muito dada a genuflexões e crendospadres (o substantivo consta no dicionário Houaiss). Dilma achou legal viajar com toda a corte. Para acolher os devotos desembarcados do avião presidencial, foi necessário reservar 52 apartamentos em hotel com luxo compatível (procure na internet pelo Westin Excelsior e veja fotos de suas dependências), alugar sete automóveis com motorista, um carro blindado de luxo, quatro vans, um microônibus para a chinelagem e uma viatura para os agentes de segurança. Fico imaginando os convidados e sua resistente aquiescência. Putz, missa! Mas, afinal, terão dito, Roma vale bem uma missa. Surge, agora, a questão da pobreza, já que de fome, na Itália, sequer se pode falar em voz alta. Com que autoridade a presidente falou sobre pobreza após mandar aos contribuintes brasileiros, via Tesouro Nacional, a conta de um roteiro turístico milionário? Tais contradições e abusos são evidências da ausência de limites que costuma cercar o exercício do Poder. Disso temos nossa quota diária de notícias, para constrangimento nacional. Informam os repórteres presentes que Dilma foi à missa e não comungou. Fez bem, porque essa viagem foi um grave pecado contra a virtude da temperança. _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

16/03/2013
Não sei se já contei isto. Acho que já contei, sim, mas conto de novo porque a situação perdura. Eu havia estacionado em um posto de gasolina e quando me dirigia para o inevitável cafezinho, um rapaz, maltrapilho e maltratado como diria o Chico, se aproximou de mim, declarando-se com fome, e me pediu um cachorro-quente. A frase - Estou com fome - não admite qualquer contestação. Claro que sim, vem comigo. Suponhamos que eu parasse naquele posto diariamente e que, também diariamente, o rapaz estivesse ali, reiterando-me seu apelo. Ao cabo de um mês eu teria despendido uma boa quantia com ele sem elevá-lo um centímetro na escala social. Ao contrário, eu o teria degradado à condição de dependente. Agora, ampliemos a cena. No meu lugar, coloque o governo federal, substitua o rapaz com fome por 22 milhões de famílias e o lanche por uma ajuda de custo para completar, em cada núcleo familiar, por pessoa, uma receita mínima de R$ 70 (o governo chama isso de renda...). O leitor pode estar pensando - Será que o Percival Puggina prefere que as pessoas passem fome?. Não, claro que não. Eu não sou contra o Bolsa- Família. O Lula é que era contra o Bolsa-Escola, no tempo do FHC. Escrevo motivado pela recentíssima divulgação pela ONU dos novos Índices de Desenvolvimento Humano. Eles situam o Brasil na 85ª posição do ranking mundial, com uma visível estagnação nos últimos anos. Como é possível? Com 22 milhões de famílias recebendo do governo um complemento de renda mensal? Pois essa é a consequência do problema que muitos, entre os quais eu mesmo, já cansaram de advertir. O Bolsa-Família é um programa necessário, sim. FHC, aliás, já o havia instituído com o nome de Bolsa-Escola, sob severas críticas de Lula e do PT. É um programa que cria dependência em proporções que tornam desnecessário prová-la. Mas, isoladamente, nada faz que se possa denominar promoção social ou desenvolvimento humano. Em nada contribui para que as famílias em situação de miséria disponham, um dia, das condições necessárias para cuidar bem de si mesmas. Esse cuidar bem de si mesmos é o que fazem as pessoas nos países situados no topo da tabela da ONU. Na maior parte desses casos, não é o Estado que cuida bem das pessoas, mas as pessoas que têm habilitações que lhes permitem uma renda suficiente para fazê-lo. A pergunta que dirijo ao PT, ao seu parceiro PMDB, e aos demais membros dessa organização societária estabelecida no Brasil, é esta: - Quando é que vocês vão levar a sério o problema da Educação? Os indicadores sociais já mostram que estamos praticamente estagnados! Menos gente passa fome no Brasil e isso é muito bom. Mas cai nos ombros dos senhores, após uma década no poder, o peso dos anos perdidos e o desastre social que os números estão a apontar. Reconheço que o PT descobriu o Brasil em 2003. Reconheço que, assim como Cabral cravou uma cruz nas areias de Porto Seguro, Lula plantou uma estrela vermelha nos jardins do Palácio da Alvorada. Reconheço, também, que o PT realizou isso após haver inventado a roda, a roldana, o avião e a suíte presidencial a bordo do avião. Mas o fato é que nos setores fundamentais do bem estar social - Educação, Saúde e Segurança as coisas vão de mal a pior. A síndrome da dependência em que se afundou parcela significativa da população brasileira tornou-se elemento fundamental da organização societária que (vou usar um neologismo que a esquerda adora) se empoderou no Brasil.

Percival Puggina

15/03/2013
OBSERVEM QUEM ATACA O PAPA Depois pense sobre por que fazem isso. Passei o dia lendo críticas ao papa Francisco. Se puder, faça o mesmo. Observe de onde vêm esses ataques. O inacreditável nisso tudo está no fato de que muita gente, apesar de todas as evidências, ainda não entendeu que a Igreja Católica é o maior obstáculo à tomada e manutenção do poder, através do propagação do marxismo cultural, pelos comunistas e assemelhados. Atacam a Igreja sem se darem conta de que contribuem com as duas mãos para a consolidação de um projeto que chutariam com ambos os pés se pudessem.

Percival Puggina

10/03/2013
Conheço muitos ateus. Gente da melhor qualidade e gente não tão boa assim, como em qualquer conjunto de indivíduos. Só recentemente, porém, passei a encontrar ateus militantes, engajados na tarefa de menosprezar e investir contra as crenças alheias. Ora, toda militância pressupõe o desejo de concretizar algum objetivo. O que pretende a militância ateia? 1º) Dar sumiço à ideia de Deus. Provocar e proclamar a falência total dos órgãos divinos, como fez o ensandecido Nietzsche. 2º) Eliminar as religiões para produzir uma humanidade nova, sob o senhorio do barro de que somos feitos. *** Outro dia, nosso talentoso Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica cujo eixo expositivo firmava-se na ideia de que Deus é uma hipótese. Fiquei a pensar. Se Deus é hipótese, mera conjetura, um olhar em volta de nós mesmos revelará, então, a indispensável existência de um nada (quase escrevo esse nada com n maiúsculo) criador de quanto vejo. E seremos levados a atribuir a esse insignificante nada um verdadeiro frenesi criador. Surgirá, então, quem afirme que esse nada deu origem a tudo em seis dias e que no sétimo descansou sobre uma almofada de nuvens. Outros, mais em conformidade com o cientificismo do século 21, sustentarão que esse poderosíssimo nada, no exato milissegundo do Big Bang, de um até então inexistente tempo, fez explodir pequena bolinha de coisa nenhuma e... pronto! - estava criado o Universo. Onde? Onde? No imenso e absoluto vazio no qual o nada preexistia. Bum! É interessante constatar, portanto, que ambos, tanto os crentes em Deus quanto os ateus não prescindem, para suas convicções, de algum ato de fé. Ou em Deus, ou no nada. Os primeiros partem dessa fé para as respectivas opções religiosas. Elas levam à oração, ao encontro do sentido da vida, ao consolo dos aflitos, ao repouso da alma. No caso dos cristãos, ao conhecimento do amor de Deus, à encarnação de Jesus, ao Divino que irrompe docemente no humano e na História, aos sacramentos, à meditação, ao perdão, à misericórdia. Levam, também, aos tesouros guardados onde não os corroem as traças. E, ainda, ao amor ao próximo e ao inimigo, ao luminoso exemplo dos grandes santos, a um precioso conjunto de verdades, princípios e valores que, entre outras coisas, compõe o cerne do moderno constitucionalismo. O leitor acha que é muita coisa? Pois isso tudo é apenas uma palhinha. Há mais livros escritos sobre essa pauta do que a respeito de qualquer outro assunto de interesse humano. A adesão vital ao hipotético nada, por sua vez, leva a coisa alguma. Ou por outra, leva o ser humano a deixar-se conduzir por um vórtice que se esgota em si mesmo. Organizado em militância, como vejo acontecer, compõe uma nova igreja, a igreja do non credo a que já me referi. Tal religião religa seus crentes a um hipotético nada onde não há perdão nem salvação. A fé no nada não mobiliza sequer um fio de cabelo. A esperança no nada é o próprio desespero. E tudo acaba sob sete palmos de terra. Se houver algum resíduo perceptível de espírito, algo assim como um ainda latejante fragmento de consciência, que disponham dele os vira-latas. Como é grande o prejuízo nessa escolha! ZERO HORA, 10 de março de 2013

Percival Puggina

09/03/2013
Tão grande é a importância das instituições na vida dos povos que muito já escrevi sobre os cuidados que elas requerem. Mas sempre abordei o tema pensando em política. Claro que, sendo católico, não me era desconhecido o fato de que a Igreja é uma instituição, aliás, a mais antiga e benéfica na história. Tampouco me é estranho o conceito, presente na doutrina católica, de que essa instituição é um organismo que sofre com o pecado de cada um. Até entre os 12 escolhidos a dedo por Jesus havia um Judas. Os últimos dias, desde que Bento XVI anunciou sua renúncia, colocaram a Igreja no centro do interesse midiático. Tal interesse vasculhou, como é dever da imprensa, desvios de conduta e crimes de que são acusados membros de sua hierarquia. Não fosse a Igreja uma instituição, estaríamos falando, por exemplo, de pedofilia na Austrália, na Escócia, na Irlanda; de negociata em Roma; ou da fértil vida sexual de um presidente paraguaio. Sendo instituição, tais condutas são debitadas a ela e fazem padecer todo corpo eclesial. Como leigo, sinto desconforto e sou tomado de justa indignação. Por isso, espero que o conclave escolha um pontífice dotado de determinação e energia para capinar seu quintal, apartando e entregando à justiça dos homens as ervas daninhas que nele se infiltraram. *** A barca de Pedro navega na História. Mas não entrega o leme aos poderes terrenos, nem abre velas para os ventos da opinião pública. A Igreja sente e compreende o tempo presente, mas não necessariamente atende os clamores que dele procedem. Ela é progressista em tudo que pode mudar sem renunciar ao patrimônio doutrinário que recebeu. A este ela deve conservadora fidelidade. Ninguém é constrangido a atender o que a Igreja prescreve. Ao contrário do que ocorre nos regimes que a consideram ópio do povo, nos quais é discriminada ou criminalizada toda expressão de fé, a nave de Pedro é um venerável espaço de liberdade. É um grande paradoxo o fato de que os mais insistentes palpites e sugestões sobre mudanças na Igreja vêm, principalmente, de não crentes, de ateus militantes, e de adversários ideológicos da moral cristã. Embora tantos creiam ou opinem no sentido de que o próximo conclave será marcado pela necessidade de um aggiornamento progressista, mundano, a escolha do novo pontífice refletirá a tensão entre os que pretendem manter o controle sobre a burocracia vaticana (onde o Vatileaks sugere haver cobras e lagartos) e os que vão ao conclave dóceis à influência do Espírito Santo sobre sua Igreja. Não é difícil prever de que lado virá a fumaça branca. Especial para a REVISTA VOTO, edição de março de 2013

Percival Puggina

02/03/2013
Foi assim. Saíramos para jantar, minha mulher e eu. Íamos, no carro dela, para um restaurante localizado em rua calma de Porto Alegre. Procurando onde estacionar, subimos a via até encontrar vaga. Dali, caminhamos no sentido inverso, rumo ao restaurante. Minha mulher seguia alguns passos adiante. Subitamente, um rapaz com o rosto semi-encoberto materializou-se ao meu lado. Surpreso com a aparição, esbocei um sorriso que pretendia significar - Brincadeira sem graça, moço!. Creio que ele interpretou minha atitude como desrespeitosa e, por isso, retrucou ao meu sorriso com cara de poucos amigos. Cenho cerrado, baixou os olhos na direção da arma que apontava. Só nesse momento, acompanhando o olhar dele, vi a pistola e entendi o que estava acontecendo. Pediu-me a chave do carro, no que foi prontamente atendido, e a carteira, que acabei negociando pelo dinheiro que levava no bolso. Alguns metros adiante, um parceiro pedira para minha mulher que retornasse ao ponto onde eu estava sendo depenado. Em poucos segundos concretizou-se a operação. *** Muito já escrevi a respeito da ideologia que, escarrapachada nas fofas e seguras instâncias do Estado e do governo, dá causa à proliferação da criminalidade em nosso país. Tenho mostrado a tolerância das leis penais, clamado pela construção de mais e mais presídios, e reprovado as misericordiosas progressões de regime que desembocam num prematuro e fervilhante semiaberto. Tudo absolutamente em vão, claro. Emitia esses clamores motivado pelo relato de experiências alheias, muitas das quais bem mais aterrorizantes do que a minha. Aliás, a bem da verdade, o assalto que sofremos foi sem resistência nem insistência. Vapt-vupt. Eles queriam o carro e nós que sumissem dali tão depressa quanto possível. Com o ocorrido, entrei para as estatísticas. Tive meu choque de realidade. Sou recente vítima de uma ideologia que estimula a criminalidade, de uma legislação que protege o bandido e deixa a vítima ao desabrigo, e de uma política de direitos humanos politicamente correta, perante a qual eu sou o malfeitor e o bandido é o justiceiro revolucionário. Aliás, essa é a tese do líder do PCC, o bandido Marcos Willians Herbas Camacho, mais conhecido como Marcola, que se for objeto de dissertação em muitos cursos de Direito do país garante título de mestrado com louvor. Escrita com palavras santimoniosas, a mesma tese já inspirou pelo menos uma Campanha da Fraternidade. Aqui no Rio Grande do Sul, durante o governo do petista Olívio Dutra, o Secretário de Justiça, desembargador aposentado João Paulo Bisol, diante de clamores sociais ante o vertiginoso crescimento da bandidagem, observou que também ele, secretário, se estivesse sem dinheiro, com filho doente precisando de remédios, não hesitaria em assaltar uma farmácia. Passaram-se mais de dez anos e até hoje só vi farmácias assaltadas pelo dinheiro do caixa. Nenhuma por comprimidos de antibiótico. Assim, passando a mão por cima, com plena vigência do desconcertante binômio a polícia prende com razões para prender e a justiça solta com razões para soltar, tornamo-nos um país onde o crime é rentável, compensa e os bandidos passeiam em liberdade. Horas após o fato descrito acima, relatei-o sucintamente no facebook. Em pouco tempo, mais de uma centena de mensagens se seguiram, descrevendo experiências semelhantes ou piores. Um bom número dessas vítimas, dispersas pelo Brasil, contavam terem sido assaltadas várias vezes (o recordista menciona 18 ocorrências). Pois bem, o silencioso ataque a um casal, a caminho do restaurante, numa rua tranquila de Porto Alegre, tem a ver com todos esses relatos e estes tem a ver com o surto de violência em Santa Catarina. Quando o Congresso decide fazer alguma coisa a esse respeito, como, por exemplo, retirando o direito a progressão de regime para quem comete crime hediondo, o STF declara a lei inconstitucional. Esgota-se a paciência dos brasileiros. Infames linchamentos, que vez por outra ocorrem em regiões diferentes do país, decorrem, em boa parte, da descrença social nas instituições do aparelho estatal voltadas para a proteção dos cidadãos. O crime, organizado ou desorganizado, declarou guerra à sociedade e é inequívoco: as instituições titubeiam! ______________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

28/02/2013
VALE TUDO, VALE QUALQUER COISA, NA DEMOCRACIA PETISTA Já não basta a desordenada e deformadora distribuição de dinheiro promovida por esse governo que jamais se atreveu a dizer quantas famílias retirou da miséria humana em que vivem. Já não basta o mal inerente ao fato de estar instituindo uma geração de mendicantes. Já não basta a indecente omissão sobre as causas da miséria. Já não basta tudo isso. Agora cria o Vale Cultura. Informe-se sobre essa outra libertinagem com o dinheiro do contribuinte. Busque informação na internet.

Percival Puggina

23/02/2013
Reinaldo Azevedo mostrou muito bem, em um de seus textos mais recentes, o erro crasso cometido pelos jornalistas que avaliaram quase como se fosse um Fla-Flu a mobilização de grupos antagônicos em torno da visita de Yoani Sanchez ao Brasil. De fato, é um absurdo tratar as milícias fascistas montadas para impedir uma pessoa de falar e os cidadãos que a isso se opõem querendo ouvi-la como se fossem forças opostas com iguais méritos e deméritos. Não são. Só para lembrar. Volta e meia, o PT e seus parceiros promovem fóruns de esquerda. Com tudo custeado mediante recursos públicos, trazem ao Brasil gente da pior espécie. Verdadeiros gângsteres da filosofia e da política. Se fosse consultada, a sociedade que paga impostos jamais concordaria em patrocinar esses gastos. Mesmo assim, não tenho notícias de que forças políticas oponentes organizem milícias para impedir que os participantes desses eventos profiram suas tolices e difundam seus maus ensinamentos. Por outro lado, é indispensável escrever e sublinhar que os agressores da blogueira estavam - vejam só! - declaradamente a serviço de dois governos e de um projeto geopolítico. A serviço do governo cubano, a serviço do governo brasileiro e a serviço do Foro de São Paulo. Isso não é tarefa que se atribua a meninos arrogantes. A presença de um membro do gabinete do ministro Gilberto Carvalho na reunião preparatória dessas estripulias fascistas, ocorrida na embaixada de Cuba, torna tudo muito evidente. A reunião era para combinar as ações de repúdio à senhora cubana. A articulação se faria pelas redes sociais. Para facilitar o trabalho, foi distribuído um CD com as informações necessárias. E o funcionário do governo brasileiro presente à reunião era, casualmente, o assessor do Palácio do Planalto para redes sociais (um bom exemplo do que eu chamo de aparelhamento partidário da estrutura do Estado). Em São Paulo, na esquina do Conjunto Nacional onde Yoani autografava seu livro, um grupo gritava: Sai fora, blogueira imperialista. A América Latina será toda comunista. Ora, esse é o projeto do Foro de São Paulo. Tenho certeza de que muitas pessoas, ao lerem este pequeno texto - quase um desabafo para que não se diga que eu não entendi o que esteve em curso - dirão que estou ampliando as dimensões de um fato menor. Pois esses são os piores cegos. Lula, Dilma e os seus amam de paixão quem pensa assim. Os gângsteres da política, da filosofia e da educação não querem outros opositores. O projeto proclamado alta voz na esquina da Rua Augusta com Avenida Paulista, vai bem adiantado na Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai, Argentina, Peru, Uruguai, Brasil e - historicamente - em Cuba. Os resultados são péssimos, mas isso não tem qualquer significado diante da importância da causa. Para tudo contam com o generoso beneplácito dos que não querem ver. Nada mais adequado a estes do que um líder que nada sabe, nada vê e nada ouve. ______________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia e Pombas e Gaviões.