Percival Puggina

15/06/2013
Durante a maior parte do século 20 as organizações comunistas sequer cogitavam tomar o poder por outro modo que não a luta armada. A dúvida era sobre onde começá-la. No campo ou na cidade? Marx, com aquela segurança de quem julga conhecer tanto o futuro que o descreve como déjà vu, previra o protagonismo do operariado. Os fatos, também nisso, o desmentiram. Era no campo que as coisas aconteciam numa época em que aqueles movimentos não apostavam no carteado do jogo democrático. Aliás, abominavam-no. A ditadura do proletariado exigia virar a mesa e sair no braço. Por isso, desde os anos 20, planejavam e ensaiavam levantes armados. A sirene de alarme disparou mais intensamente, no Brasil, nos anos 60, quando Fidel passou a exportar revolução. Desde então, a Guerra Fria ferveu em todos os países da região. Respirava-se revolução. Março de 1964 teve tudo a ver com isso. Na Europa e nos Estados Unidos, a Guerra Fria se travava entre dois lados. EUA versus URSS. Pacto de Varsóvia versus OTAN. Na América Latina era pior. Era ebulição interna, fervente, no âmbito de cada país. Dê uma pesquisada na rede, leitor, e encontrará o que vários historiadores comunistas escreveram sobre aquele ânimo revolucionário. Afirmar que a esquerda foi às armas como reação à repressão inverte as relações de causa e efeito. Os crimes cometidos pelas partes - violência, tortura, justiçamentos, terrorismo, seqüestros, abusos de poder e o empenho em preservá-lo por duas décadas, constrangem e revoltam. É história triste. Passado que não se pode mudar. Cabe aos pesquisadores, historiadores, jornalistas, com irrestrito acesso aos documentos, escrever essa história conforme cada um a sentir, compreender e interpretar. Mas é certo: tivessem os comunistas vencido, as 356 mortes de militantes e as 120 por eles causadas seriam multiplicadas por milhares. A ideia de instituir uma Comissão da Verdade para efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional é disparate. Primeiro: porque a verdade não é coisa que se prometa entregar pronta e encadernada. É algo que se busca. A garantia de encontrar, portanto, é charlatanice. Segundo: porque conceder a uma só pessoa, a presidente Dilma, o poder de escolher, a ponta de dedo e caneta, seus sete auditores da História, empregando-os a soldo na Casa Civil, é - isto sim! - medo da verdade. Terceiro: porque aceitar tão unilateral encargo, assumindo-se como caminho, verdade e vida para os anais da História vale por confissão de falta de princípios. É emprestar o nome para uma farsa, em troca de dois vinténs de fama e contracheque. Quarto: por fim, o que menos interessa à Comissão é reconciliação. Reconciliação quem fez foi a festejada Anistia. Ampla, geral e irrestrita. Nossos governantes não incluem a verdade na lista de seus amores. A evidência dispensa prova. Preferem encomendar versões. Nada sabem sequer do que fazem. Ignoram a verdade sobre o tempo presente e tratam de transfigurá-la no próprio passado. Com História não se brinca! Menos ainda se põe sob o braço e se sai andando com ela por aí, como se fosse coisa da gente. Não é. É História. Ponto. A nenhum partido político, a nenhum comissariado ou comissão é dado oficializá-la ao gosto ou usá-la como serventia. Ela não se presta, saibam, para transformar bandidos em heróis nem doutrinas totalitárias em faróis da democracia e do humanismo. ZERO HORA, 16 de junho de 2013

Percival Puggina

15/06/2013
A mulher vestia um niqab preto, do tipo utilizado em países da Península Arábica. Niqab (máscara) é aquela vestimenta feminina muçulmana que deixa apenas uma fresta para os olhos. Embora tenha sido concebida em tempos anteriores a Maomé como uma das mais recatadas roupas com que uma mulher se pudesse vestir, a figura diante de mim se destacava em meio à colorida multidão de turistas das mais variadas origens. De repente, num gesto rápido, que pretendia ser discreto, ela fez surgir do meio dos panos uma câmera digital. Levou-a aos olhos e, com apenas a mão esquerda (também coberta por luva negra), capturou a imagem perante a qual se comprimiam vários grupos de visitantes. A mesma que me levava, uma vez mais, até a praça Kronmarkt da encantadora cidade de Heidelberg. Há ali pequena fonte sobre a qual se eleva uma escultura de Nossa Senhora. É a Madonna da Kronmarkt. Traz ao colo o Menino Jesus e tem sob os pés o mundo, representado por uma esfera dourada. O Menino segura longa haste encimada por uma cruz e com a outra extremidade fere uma serpente. Era diante dessa imagem que, como acontece a cada dia, todos os dias do ano, se encontravam os turistas em meio aos quais a mulher de niqab. Poucos haveriam de saber que aquela Madonna é apenas cópia da obra original, preservada no museu de arte e arqueologia da cidade. Foi esculpida por Peter van der Branden, em 1718, a ordem do príncipe local empenhado em difundir o catolicismo. À época, outras Madonnas também foram inseridas na paisagem de Heidelberg e muitos protestantes, como consequência, abandonaram a cidade. Passados três séculos, esses acirramentos político-religiosos perderam sentido. As imagens, no entanto, continuam suscitando interesse e são motivo de encantamento aos milhões de visitantes dos mais variados credos que fazem turismo no Velho Continente. Esplêndidas obras com inspiração cristã estão em toda parte - nas fachadas dos prédios particulares, no centro das praças, nos afrescos, telas, tapeçarias e imagens que decoram prédios públicos. Estão nos museus (repletos de tais obras), e são, junto com catedrais, mosteiros e grandes palácios o carro-chefe do imenso negócio turístico da Europa. Pois bem, observando a mulher de niqab e seu interesse em capturar a imagem da Madonna da Kronmarkt, percebi que, apesar da diversidade de credos provavelmente adotados por turistas de varias etnias, oriundos de diferentes recantos do planeta, ninguém ali estava de nariz torcido, sentindo-se afrontado ou ultrajado em sua sensibilidade com a imagem de Maria Santíssima. Nem com qualquer símbolo ou representação artística, de qualquer religião, em parte alguma do mundo. Bem ao contrário, a atitude civilizada, nesses casos, é de respeito e encantamento perante expressões da tradição religiosa e cultural de cada local. Portanto, incivilizada é a atitude de pequenas minorias que, no Brasil, se declaram ultrajadas com a presença desses símbolos e obras em espaços públicos. Aliás, duvido de que, distantes da base, desfrutando de umas férias na Europa, não posem para fotografias aos pés da Coluna Mariana na Marienplatz de Munique, da Pestsäule (coluna em reverência à Santíssima Trindade) em Viena, ou ao lado de qualquer dos 30 santos que adornam a belíssima Ponte Carlos em Praga. Aqui, porém, são inimigos de um crucifixo na parede.

Percival Puggina

01/06/2013
E a ideologia em tudo. Afirmação reiterada, persistente, contra a lógica polida e esférica dos fatos é indício de mentira cabeluda. Veja a Medicina cubana, por exemplo. Relatam-se sucessos mágicos. Coisa de botar no chinelo o orgulhoso Hospital Albert Einstein. Essa fábula faz parte da alma do negócio ideológico e financeiro da Castro&Castro, aquela empresa que a partir de 1959 assumiu toda a atividade produtiva de Cuba. Como é possível alguém crer que uma ilha onde viver é catalogar carências possa produzir esplendores da Ciência? É possível, sim. Até o Chávez caiu nessa. Veja o caso dos brasileiros que vão cursar Medicina em Cuba. São alunos que, ante o purgatório do vestibular, preferem botar fé no paraíso cubano. Batalham indicação de partidos e movimentos sociais afinados com a Castro&Castro. Ao retornarem, são reprovados em exames de revalidação, mesmo tendo freqüentado o que há de bom ? assim dizem - em Medicina e Saúde Pública no mundo. Sim, sim, sei. Eu e o Chávez. O fato de médicos cubanos se apresentarem às portas dos hotéis de Havana oferecendo-se como guias de turismo deve ser boa confirmação dessa excelência toda. Já a proposta de importar de Castro&Castro milhares de profissionais, a troco de ouro para os cofres da exportadora e de tostões para os médicos, ofende os direitos humanos das comunidades pobres e isoladas, escolhidas para recebê-los. A solução que proponho é, socialmente, muito mais justa. Destaquem esses profissionais para cuidar dos membros do governo federal e seus agentes, bem como de todos os que, no meio social, político e partidário, acharam a iniciativa o maior barato. Vergonha! Preferem pagar bem o governo cubano a remunerar bem os médicos brasileiros. *** Também ofende a dignidade humana a ideia de que índios devam permanecer, séculos afora, lascando pedra para fazer lança e servindo, seja como zoológico humano para deleite de antropólogos estrangeiros, seja para as matreiras intenções da Fundação Nacional do Índio e do Conselho Indigenista Missionário. Esses organismos estão ideologicamente seqüestrados por interesses não nacionais. As sucessivas invasões de áreas de lavoura evidenciam que transformaram os índios em militantes de causas que não são suas. A produção de alimentos ocupa menos de 30% do território nacional. O resto é mato. Portanto, se os índios querem viver segundo sua tradição tribal, não será em áreas de lavoura plantada que o farão. Têm os outros 70% à disposição. Os que querem se integrar à Civilização, não o farão como sem-terras que pintam o rosto com tinta de urucum e tocam tambores de guerra. Reservas indígenas vão entrar para o agronegócio? E daí, presidente Dilma? Veja a encrenca em que sua gente meteu o país. Assim como o MST recrutava sem-terras no meio urbano, agora a Funai recruta índios para seus objetivos ideológicos e corporativos. A Funai não anda a fim de mato. Virou MST dos índios. E o CIMI nunca esteve a fim de evangelizar. Proclamam em seu site: ?Impulsionados por nossa fé no Evangelho da vida, justiça e solidariedade e frente às agressões do modelo neoliberal, decidimos intensificar a presença e apoio junto às comunidades, povos e organizações indígenas e intervir na sociedade brasileira como aliados dos povos indígenas, fortalecendo o processo de autonomia desses povos na construção de um projeto alternativo, pluriétnico, popular e democrático?. Conheço bem essa toada. De letra e de música. ZERO HORA, 02 de junho de 2012

Percival Puggina

23/05/2013
Eventuais comentários que eu queira fazer serão postados no Facebook. Também será difícil responder e-mails. Grato pela atenção e até a volta.

Percival Puggina

22/05/2013
UMA SUGESTÃO BEM RAZOÁVEL Recebamos os médicos cubanos de braços abertos, atribuindo-lhes a competência exclusiva de atender à Presidência da República e os membros do Governo Federal, do primeiro ao último escalão, bem como a todos os companheiros que estão defendendo a vinda deles. Quando não tiverem mais a quem atender, damos por concluído o contrato.

Percival Puggina

19/05/2013
Em dezembro, a ministra Maria do Rosário, como presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, editou uma Resolução cuja principal finalidade era coibir o uso de arma de fogo pelos policiais. Você sabe como é. Policiais são aquelas pessoas treinadas para enfrentar, em encrencas mais ou menos grossas, até mesmo indivíduos apetrechados com armas de guerra e explosivos. A Resolução da ministra informava aos bravos profissionais, escassos, mal pagos e em desvantagem no equipamento, que, se puxassem o gatilho no exercício de sua atividade - ai deles! Sairiam da encrenca com o crime para um rolo com os inquéritos e com a Justiça. A criminalidade - tenho como coisa óbvia - venceu a guerra que empreendeu contra nós. Hoje, em todo o país, o crime controla a sociedade e impõe regras. Nós as acolhemos por medo e os governos por motivos ideológicos. Como assim?, indagará o leitor. Ora, ora, nossos governantes acreditam em luta de classes. Para eles, a ação dos criminosos contra os cidadãos é uma expressão inevitável dessa luta. Ao fim e ao cabo, os bandidos realizam tarefa política compatível com o que, dominantemente, pensam as autoridades. Não esqueça que muitos dos nossos atuais governantes legitimavam, com esse mesmo entendimento, os crimes que cometiam ao tempo da luta armada, nos anos 70 e 80 do século passado. Assaltavam bancos, supermercados, roubavam automóveis e sequestravam aviões para abastecerem de recursos sua belicosa atividade. Agora, a identificação com os métodos e objetivos de então levou à complacência e à solidariedade que se derrama da Resolução nº 8 do tal Conselho. O agente policial que porta arma continua sendo visto, pelos nossos governantes, como inimigo de classe. Não se requer muitas luzes para perceber isso. Ou você já os viu expressando preocupação, manifestando condolência ou prestando apoio às vítimas da bandidagem? Quem não gostar vá chorar deitado. É mais confortável. A realidade que descrevi só vai mudar com uma política que se expresse em outra forma de lidar com o problema, coisa que tão cedo não acontecerá. Segundo todas as pesquisas de opinião, a sociedade está muito satisfeita com o grupo que hegemoniza a política nacional. Crê, sob fé cega, que sua insegurança é causada pelos bandidos e não pela omissão/conivência dos governos que fazem absolutamente nada - mas nada mesmo! - do que deveriam fazer, na proporção exigida, para reverter a situação. Ou seja: novas e mais rigorosas leis penais; maiores contingentes policiais mais bem apetrechados de recursos materiais e financeiros; aumento significativo das vagas em estabelecimentos prisionais; respeito aos direitos humanos dos cidadãos e das vítimas da criminalidade. Quando a polícia do Rio de Janeiro empreendeu caçada a um dos maiores traficantes do país e o matou durante tiroteio, ouriçaram-se as autoridades contra a violência da ação. Encrenca prá cima dos responsáveis pela operação. Pior para nós, os derrotados, os desarmados, os desassistidos, os expropriados. Enquanto isso, nos Estados Unidos, poucas horas depois do atentado praticado durante a maratona de Boston, um dos terroristas estava morto e o outro preso. Sim e daí? Daí que em vez de recriminar o FBI pela violência da operação, o presidente Obama foi para a tevê registrar o sucesso da ação e afirmar que o mundo testemunhou uma segura e firme verdade: os EUA se recusam a ser aterrorizados. Nós afirmamos o oposto. Zero Hora, 19 de maio de 2013.

Percival Puggina

18/05/2013
Muitas vezes me perguntam como desconstituir as falácias que a esquerda militante difunde em relação aos fatos e à história do país. Minha resposta é esta: não há como. O trabalho de manipulação é feito com insuperável determinação. A sempre acesa fogueira das mentiras queimou o sentido de certas palavras e forjou outras com persistência e eficácia que tornam inútil qualquer tentativa de lhes recuperar o significado. Há meia dúzia de anos, por exemplo, a palavra auto-anistia começou a ingressar no vocabulário político nacional para designar o disposto pela Lei de Anistia. Quantas vezes, leitor, você leu ou ouviu algum desmentido a esse respeito? A simples palavra - auto-anistia - usada em substituição a Anistia, basta para sugerir que os congressistas de 1979 e de 1985 empenharam-se em aprovar preceitos que livrassem do acerto com a Justiça os agentes do regime que vigeu no país entre 1964 e 1985. A substituição de uma palavra pela outra tem o poder de substituir uma história por outra, bem diferente, ao gosto de quem consegue tirá-la da cartola e introduzi-la na cachola do distinto público. Feito isso, está pronto o serviço. A Anistia deixa de ser um instrumento jurídico de reconciliação nacional para se transformar em gesto canalha de quem, valendo-se do poder que detinha, legislou em causa própria para livrar a cara. Como são poucos os que conhecem história, a explicação do vocábulo se contenta com afirmar seu significado: a Anistia foi uma auto-anistia dos militares. Feito! Não há a menor necessidade de apresentar provas, ou indícios consistentes ou depoimentos testemunhais que convalidem aquilo que é afirmado. Quem conhece a história, no entanto, sabe que não foi assim que as coisas andaram. A partir de 1966 surgiram os primeiros movimentos em favor da Anistia. Quem participava dessa mobilização? Entre outros, Associação Brasileira de Imprensa, Ordem dos Advogados do Brasil, sindicatos, entidades estudantis, advogados de presos políticos, familiares de brasileiros no exílio e o MDB, partido político oposicionista. Como se pode perceber, ninguém pró-anistia falava pelas Forças Armadas. Seria um completo disparate imaginar isso. A campanha era conduzida pelos que estavam do outro lado. Passaram-se muitos anos até que em 1979 fosse votada a Lei de Anistia em tumultuada sessão do Congresso Nacional. O projeto do governo Figueiredo não anistiava quem tivesse participado de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal. Para estes, as duras penas da lei. Mas havia uma emenda do deputado Djalma Marinho que anistiava a todos, ampla, geral e irrestritamente. Essa emenda, levada a votação, foi rejeitada por 206 votos a 201. Derrotada a emenda, o projeto do governo foi aprovado pelos votos das lideranças do governo e da oposição. Essa primeira Anistia, parcial, permitiu a volta ao Brasil da maior parte dos exilados, entre eles Leonel Brizola e Miguel Arraes. A campanha pela Anistia ampla, geral e irrestrita continuou, então, por mais seis anos. Empenharam-se nela as mesmas instituições e grupos políticos de antes, insatisfeitos com o fato de que os praticantes de crimes ditos de sangue tivessem ficado fora da lei de 1979. Foi apenas através da Emenda Constitucional Nº 26, que convocou a Constituinte, em 27/11/1985, que o Congresso Nacional, eleito em plena legitimidade democrática, inseriu o preceito que conferiu à Anistia o caráter amplo, geral e irrestrito pelo qual clamavam as oposições. Não há, ao longo dessa longa história que se estende por 19 anos, o menor traço ou gesto que possa ser lido como um anseio dos governos militares por se protegerem. A Anistia que tivemos foi aquela pela qual clamavam os opositores do regime. Ninguém se mobilizou por uma anistia ampla, geral e irrestrita, menos ampla, menos geral e menos irrestrita, que excluísse os agentes do Estado. Portanto, essa história de que houve uma auto-anistia é mais uma das tantas mentiras sacadas da cartola para ser inserida nas cacholas menos esclarecidas. Ou seja, para enganar quase todos. A Anistia foi concedida pelo Parlamento, portanto, não pode ser auto coisa alguma. Apesar de as coisas terem transcorrido desse modo, a mentira muito repetida, insiste, agora, em que a desejada e pleiteada Anistia, além de autoconcedida, foi uma injustiça. Também acho injusto que terroristas, guerrilheiros, assassinos e assaltantes, responsáveis por mais de uma centena de mortes, andem soltos e recebendo gordas indenizações. Digo outro tanto de quem abusou do poder, torturou e seviciou. Tais impunidades não são justas! Mas a Anistia não foi concebida para servir à Justiça. Ela serviu ao perdão, ao esquecimento, à pacificação nacional e à boa Política. Infelizmente há quem só saiba operar politicamente num ambiente crispado por ódios e ressentimentos. _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

18/05/2013
CONTA A VERDADE, DILMA Do ClicRBS de terça-feira, 14/05: Dilma e líder alemão se reúnem em São Paulo Dilma Rousseff se reuniu ontem com o presidente da Alemanha, Joachim Gauck, durante o 31 Encontro Econômico Brasil-Alemanha. Na oportunidade, a presidente pediu a colaboração do governo alemão para os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que apura violações aos direitos humanos no Brasil durante a ditadura militar. **** Sobre a notícia acima, recebi do historiador Carlos I.S. Azambuja, a seguinte informação: Recordo que duas organizações terroristas praticaram dois crimes contra cidadãos alemães no Brasil: em 1968, o Comando de Libertação Nacional assassinou um major do Exército da Alemanha, aluno da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Foram 3 terroristas, sob o comando de João Lucas Alves, ex-Sgt da Aer, que segundo a própria presidenta viveu em sua casa, em BH, por algum tempo, e em 1970 a Vanguarda Popular Revolucionária sequestrou o embaixador da Alemanha no Brasil. Na época desses crimes, a presidenta integrava essas duas organizações. Não há, portanto, necessidade de pedir a colaboração do governo alemão para a Comissão da Verdade. Ela, a presidenta, é a mais indicada para depor sobre esses dois crimes. Carlos I. S. Azambuja

Percival Puggina

11/05/2013
Mas não é que o brasileiro, embaixador Roberto Azevêdo, foi eleito para dirigir a Organização Mundial do Comércio (OMC)? Que tal? É nós na fita, como se poderia dizer, apropriando o título do espetáculo encenado por Marcius Melhem e Leandro Assun. Como foi acontecer uma coisa dessas? Pois é. Um pouco mais do mesmo. Os outros plantam, o PT atrapalha quanto pode e, depois, colhe. Durante anos ouvi os petistas dizerem que abertura ao comércio internacional era coisa maldita, neoliberal, invencionice da nefasta globalização. A bem da verdade, essa ideia, de um viés nacionalista equivocado, que transformou o Brasil numa das economias mais fechadas do mundo, era anterior ao PT. Mas ganhou militância com o petismo. Nas últimas décadas do século passado, o Brasil convivia com inúmeras maldições, entre elas estas três: atraso tecnológico, precaríssimo acesso a muitos bens de consumo e preços escorchantes por mercadorias do Primeiro Mundo. Ah, o Primeiro Mundo! O Primeiro Mundo promovia integrações e mercados comuns. Fazia tudo errado .... e ia muito bem. Bem demais, aliás, a ponto de esquecer a primeiríssima das lições, aquela que todas as donas de casa sabem: quem gasta mais do ganha se endivida e, um dia, a conta chega. Mas essa é outra história. Nós, brasileiros, nos habituamos a ouvir discursos em defesa dos protecionismos a setores tecnologicamente atrasados, avessos à abertura a importações, contra privatizações, contra o pagamento da dívida externa - chave mestra para todas as dificuldades do país. Moratória já! Ianques go home! Abaixo o receituário do FMI! O Brasil, não precisaria tanto para se tornar carta fora do baralho nas relações internacionais. Deus talvez não seja brasileiro. Se for, não é lá muito bairrista. Mas, felizmente, nos propiciou reação a essa didática do atraso. E o Brasil, aos poucos, foi rompendo com aquele nacionalismo fajuto, irresponsável e caloteiro. À medida que isso acontecia, revertia-se o quadro e o país granjeava credibilidade e respeito no mercado internacional. Desde o final do século 20, tornamo-nos um país que paga contas, cumpre contratos e se integra comercialmente. Sob vaias, é verdade. Quanto mais o Brasil dava certo nas relações externas, mais essa política econômica era combatida, escarrada e pisoteada. A metralhadora giratória do PT e seus consectários tinha nela seu alvo preferido. Loucura ideológica não rasga dinheiro. Quando o PT chegou ao poder, sem pedir desculpas a ninguém pelas bobagens que antes defendia e pelos impropérios que proferia, tratou de preservar o que estava dando certo. Descobriu, por exemplo, que o agronegócio paga as contas da balança comercial. Mas era tudo herança antes desdenhada. Por mais que o petismo delirante pretenda atribuir esses êxitos às suas próprias investidas em novos mercados africanos, o certo é que estes representam apenas 4% dos negócios do Brasil e não têm como passar disso em médio prazo. São economias muito pequenas. Portanto, a eleição de um diplomata brasileiro para presidir a OMC é expressão de um sucesso que avançou à conta dos empreendedores brasileiros e de políticas às quais o PT se opunha com humores e furores vulcânicos.