Percival Puggina

26/06/2014
Não sei se vocês repararam na beleza que está sendo a Copa, sua organização, a qualidade da algumas equipes, a lotação dos belos estádios, o comportamento civilizado dos torcedores visitantes, cujo colorido e bulício enfeita as ruas das cidades-sede com riqueza de tons e sons. Isso é fato e fatos não se contestam. A Copa, como tal, vai bem, obrigado. 
 
É verdade que a sociedade esteve dividida, nos últimos meses, em relação a esse evento. De um lado, aqueles que reprovavam o padrão elevado e oneroso imposto pelas rigorosas exigências da FIFA, a atenção dada ao conforto dos visitantes, o ínfimo padrão dos serviços prestados pelo Estado brasileiro aos cidadãos nativos, o atraso das obras, especialmente daquelas ligadas à mobilidade urbana, que restariam como benefício permanente às cidades onde se disputam os jogos. Tudo isso formou um quadro de repulsa que evoluiu até se tornar francamente majoritário na sociedade. De outro lado, situavam-se os defensores do evento, que focavam, prioritariamente, os ganhos decorrentes da promoção do país, as receitas proporcionadas pelos turistas e os investimentos em infraestrutura relacionados à sua realização.
 
Agora a bola está rolando nos estádios e, no debate político, a seguinte questão é insistentemente colocada: quem tinha razão afinal? Os que eram ou se tornaram contra, ou os que sempre foram e se mantiveram a favor?
 
Suponhamos, para bem entender e nos posicionarmos corretamente perante essa contradição, que um chefe de família, de recursos limitados, sem consulta alguma, resolva envolver a família toda na organização de um grande banquete que ofereceria à numerosa vizinhança do bairro. Tudo preparado com esmero. Os melhores cozinheiros e garçons, o melhor bufê, excelentes vinhos e espumantes, exuberante decoração, boa música ao vivo, seguranças e motoristas especialmente contratados, e tudo confiado aos zelos da melhor promotora de eventos. Gente padrão FIFA. Concluída a festa, é claro, ninguém tinha de que reclamar. Não havia um defeito a apontar. Nenhuma flor murcha, nenhuma louça trincada. Sucesso absoluto! A família, é claro, gastou o que não tinha numa muito bem sucedida festa proporcionada aos outros. A ela, à economia familiar, restaram as contas a pagar, o prolongado aperto nos gastos para compensar o esbanjamento feito em algo absolutamente supérfluo, dispensável, e que correspondia a nenhuma conveniência ou urgência do grupo familiar.
 
É muito parecido com essa parábola o assunto de que estamos tratando. Bilhões foram gastos nos luxos de um festival futebolístico que não estava nos planos nem nas urgências da família brasileira. Aqui, como na parábola acima, o mínimo que se deve dizer de quem decidiu realizar a festa, por conta própria e risco alheio, é que suas prioridades entraram em conflito com os anseios dos cidadãos do país. É por isso que Lula está assistindo os jogos da Copa instalado no sofá da sala.
 
 
* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
 
 
 

Percival Puggina

26/06/2014
 
No Evangelho de São Lucas, Jesus narra uma história que se tornou, provavelmente, a mais conhecida dentre todas as suas parábolas. Ela descreve a experiência de um filho que pede ao pai rico a antecipação de sua herança. Com a grana na mão, ele viaja para um país distante, cai na vida, afunda nos vícios, gasta tudo que tem e experimenta o sabor da mais irrecorrível miséria (vem daí o adjetivo pródigo, ou seja, esbanjador, gastador, associado a esse personagem). Gradualmente, porém, ele se arrepende, decide retificar sua conduta e retorna à casa do pai, a quem pede e de quem recebe efusivo perdão. 
 
Tem muita razão o jornalista Eugênio Bucci, em artigo publicado no Estadão no dia 12 deste mês. Segundo ele, embora a presidente Dilma e os governistas acusem a oposição de explorar politicamente o evento da FIFA, foram os governos petistas que confundiram futebol com política e eleição desde que se dispuseram a oferecer o país para a realização da Copa de 2014.
 
É bom recordar. Logo no início, Lula faturou os abraços e as lacrimosas efusões de alegria perante a - assim proclamada - conquista. Depois, explorou as escolhas das sedes da Copa, aumentando em cinquenta por cento, sem necessidade alguma, os teatros em que ela se desenrolaria. Bastavam oito sedes, mas Lula quis 12 para faturar em mais quatro Estados os dividendos eleitorais que disso adviriam. Depois, junto com Dilma, aproveitou politicamente, anúncio por anúncio, as "obras da Copa" voltadas para mobilidade urbana, aeroportos e infraestrutura. 
 
Custou a cair a ficha. Passaram-se seis anos inteiros, ao longo dos quais o governo petista reinou com a convicção de que poderia fazer o que bem entendesse no país. O PT se tornou o novo Príncipe de Machiavel, com a vantagem de estar com os cofres cheios de dinheiro para usos e abusos. O partido do governo se fundiu e confundiu com o Estado, com o governo, com a administração pública federal e com as empresas estatais. Como é fácil, na política, a vida dos endinheirados inescrupulosos! 
 
Foi em junho do ano passado, quando entramos na contagem regressiva para os jogos da Copa, que a ficha começou a cair e a nação passou a compreender o quanto haviam sido absurdos e abusivos os custos, os gastos, as exigências e as concessões feitas pelo governo petista. O escandaloso contraste entre o "padrão FIFA" e a realidade social do país, a tenebrosa situação do sistema de saúde e a péssima qualidade do ensino público, levou o povo às ruas nos protestos de junho de 2013. E produziu a impressionante reação popular ante a presença da presidente Dilma no jogo inaugural da Copa.
 
No entanto, vale o alerta: no poder, o governo petista conta com o dinheiro de todos nós e nada - absolutamente nada! - sugere que vá  arrepender-se, ou mudar de conduta. Para o PT, cair em si significa fazer mais do mesmo. E vem aí a outra "conquista" desse filho pródigo da ingenuidade nacional - os Jogos Olímpicos de 2016. O PT é um filho pródigo incorrigível, que precisa ser mantido a quilômetros de distância dos recursos públicos. 
 
* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
 

Percival Puggina

26/06/2014
 
Demorou, mas saiu. A criação de conselhos populares, para tudo e mais um pouco, já estava prevista no famigerado PNDH-3, aquele decreto de 21 de dezembro de 2009 que pretendeu virar pelo avesso o ordenamento social e jurídico do país. Era tão ruim, mas tão ruim o PNDH-3, que foi recebido com clarinadas pelos que, à sombra do poder, querem ainda mais sombra. Passados quatro anos, o novo decreto vem à luz com a cara da família e cria, em toda a administração federal, uma Política Nacional de Participação Social (vulgo PNPS), envolvendo comissões de políticas públicas, conferências nacionais, ouvidorias e audiências públicas, mesas de diálogo, fóruns entre conselhos e ambientes virtuais de participação social (leia-se patrulha). 
 
Não há prêmio para quem adivinhar quem comanda essa nova e gigantesca estrutura de conselhos e representações. É fácil demais. Uma parte de cada um desses sovietes surge por indicação da sociedade civil (leia-se movimentos sociais) e a outra, paritária, é designada pelo governo. Tem-se, então, o seguinte: metade da turma o governo nomeia e metade o governo já controla por muitos modos (são os coletivos, sindicatos, movimentos, etc). Como o governo exerce esse controle? O ministro Gilberto Carvalho sabe como. Não precisa que ninguém lhe ensine. E se é o governo que controla, resulta óbvio, também, que o governo está criando, na imensa administração pública federal - que deveria ser apartidária e técnica -, um vastíssimo aparelho político, composto ao seu gosto. Desnecessário provar: se o PNPS não servisse ao governo o governo não o criaria. Certo?
 
Ademais, é essencialmente antidemocrático. O governo e seu partido (que não se deveriam confundir com o Estado, nem com a Administração) criam uma estrutura que terá sua cor e suas estrelas. Haverá milhares de companheiros conselheiros e duas centenas de milhões de cidadãos não conselheiros. Com essa versão moderna dos sovietes, agrava-se a irrelevância do Congresso Nacional, instituindo-se, por via marginal, um poder paralelo no país. E que poder! Toda a administração federal deverá considerar, para formulação, execução, monitoramento e avaliação de seus programas, as instâncias de participação previstas no decreto. 
 
Eis no que dá entregar-se Estado, governo e administração a uma mesma pessoa e seu partido. Além de nunca dar certo, independentemente de quem assuma o posto, constitui uma convocação ao abuso. A separação de funções, conforme sugiro, também é um conselho. Bom e grátis. Os do decreto nem uma coisa, nem outra.
 
Especial para 
ZERO HORA
8 de junho de 2014
 

Percival Puggina

26/06/2014
Vários jornalistas e opinadores da mídia descobriram, após exaustivas investigações, que as vaias e os insultos dirigidos à presidente durante o jogo de estreia do Brasil na Copa provieram de uma elite com "caixa" suficiente para adquirir os custosos ingressos que davam acesso às cadeiras do Itaquerão. Ali não estava o "povo". E, menos ainda, o povão. É claro que se Dilma tivesse sido aplaudida (como era aplaudido o presidente Médici quando entrava no Maracanã), jamais recusariam à efluente plateia o direito de ser identificada como imagem viva do "povo".
 
A contradição nos coloca diante de mais um problema gerado pelo petismo. Para entender o que acontece é preciso saber como funcionam essas coisas na cabeça dos que foram doutrinados pelo Partido dos Trabalhadores. Eles são o povo quando vaiam e jamais são vaiados pelo povo porque isso significaria vaiar a si mesmos. E é assim que pensam, por mais que a presidente Dilma, nos últimos meses, recolha apupos onde quer que vá. 
 
Todos os grandes teóricos da esquerda são unânimes em afirmar a importância do partido e de sua disciplina interna, na qual repousa indispensável elemento de coesão e mobilização. Com efeito, nenhum grupo social se reúne tanto quanto esses denodados  militantes para os quais nada se sobrepõe à convocação partidária. Os demais cidadãos, mesmo quando politicamente alinhados, têm outros compromissos e se ocupam, também, com atividades que vão dos joguinhos de futebol aos aniversários dos parentes, do fim de semana na praia aos prazeres da carne, das responsabilidades profissionais às irresponsabilidades de um filmezinho na televisão. “Coisas do mundo, retratos da vida”. A capacidade de juntar gente acaba produzindo presunçosa conseqüência: os companheiros se reúnem sob a sólida certeza de que são o próprio povo, seja numa assembléia do OP, numa passeata do Fórum Social, numa reunião de seu "coletivo", numa assembleia de professores, seja, ainda, para ocupar uma rua, bloquear uma estrada, invadir uma fazenda, assassinar reputações, ou insultar aqueles a quem se opõem. 
 
Agora mesmo, a presidente acaba de assinar um decreto, o tal Decreto nº 8243, que institui os sovietes no Brasil através de um certo Programa Nacional de Participação Social. Esse ato normativo, que atropela a Constituição e o Congresso Nacional, pretende trazer o povo para a definição dos projetos e das políticas públicas. E quem é o povo para o governo petista? O povo é formado pelos movimentos sociais, coletivos, sindicatos e outros entes, "institucionalizados ou não", que o PT sabidamente constitui, domina e instrumentaliza.
 
Nada na vida social é mais heterogêneo do que o povo. Ele não tem coisa alguma a ver com certas pinturas ideologizadas que o representam com as individualidades indiscerníveis e os punhos simiescamente erguidos ao alto. É em virtude da pluralidade inerente à composição social que a democracia, institucionalizada como regime, só pode ser representativa. E é em virtude dessa pluralidade que as formas de democracia direta, na Constituição Federal, estão restritas a plebiscitos, referendos e iniciativa popular na apresentação de propostas legislativas. E é bom que seja assim, acima e muito além das pretensões hegemônicas do PT, porque só assim se preservam as maiores riquezas de uma sociedade, que são os indivíduos que a compõem.
 
* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
 

Percival Puggina

11/06/2014
Estamos em Roma, minha mulher e eu, curtindo as belezas da cidade até o final desta semana. Quem visita o Rio de Janeiro se deslumbra com as maravilhas que Deus oferece aos homens. Roma nos deslumbra com as maravilhas que os homens, através dos séculos, ofereceram a Deus mediante o melhor de sua arte e inspiração.
 
Hoje, após muito andar, entramos na basílica patriarcal de Santa Maria Maggiore, cujas primeiras obras remontam ao séc. V. Chamou-nos a atenção uma aglomeração de pessoas ao longo da parte lateral direita da nave. Alinhavam-se como se estivessem em fila, esperando que se abrisse alguma porta. Aproximamo-nos, curiosos. No local onde nos acomodamos havia um numeroso grupo de meninas adolescentes. Subitamente, uma delas começou a cantar a Ave Maria, em latim, no que foi seguida pelas demais. Enquanto aquele coro de anjos acrescentava inesperada beleza ao momento, abriu-se a porta de uma capela lateral, bem onde estávamos, e o papa Francisco apareceu àquele privilegiado grupo enquanto aplausos irromperam de toda parte. Certamente, para muitos que ali se alinhavam, a presença do Papa era conhecida e aguardada. Para nós, foi uma emocionante graça, uma surpresa e um doce momento que nos travou a voz na garganta trazendo lágrima aos nossos olhos. Foi uma experiência tão epidérmica quanto espiritual da universalidade da Igreja e da comunhão dos fieis.

Percival Puggina

10/05/2014
Doutor Honoris Causa significa doutor por causa da honra. Nosso ex-presidente Lula abiscoitou, em Salamanca, o 27º desses diplomas. Todos por causa da honra. De Salamanca foi a Lisboa, comemorou os 40 anos da Revolução dos Cravos e concedeu uma entrevista à RTP - Rádio e Televisão de Portugal que deve ter escandalizado seus companheiros na Papuda. Vão-se os amigos, mas se conservam os dedos, ora pois. Em trecho da matéria (basta procurar no YouTube por entrevista de Lula à RTP), a repórter o indaga sobre o fato de pessoas de sua confiança terem sido presas. E Lula buscou salvar a própria pele: Não se trata de gente de minha confiança. Acrescentou à fala um gesto como que afastando de si os condenados e tentou arredondar: Tem companheiros do PT presos. Ele estava falando de Dirceu, Genoino, Delúbio! E por aí foi desandando o grande ídolo do petismo nacional, acusando o STF de haver produzido um julgamento 80% político e concluindo com uma frase bem ao gosto do seu auditório caseiro: Essa história ainda vai ser recontada, para saber o que aconteceu na verdade. Pelo jeito vem aí outra comissão da verdade... No entanto, a melhor frase em toda a entrevista foi: O que eu acho é que não houve mensalão. Pronto! Com essa sacada no repertório das esquivas afastou de si a sombra do maior escândalo da história da República. Ele estava afirmando que não pode ser atingido por algo que acha que não houve. Entretanto, vejamos como ficam as coisas se o mensalão não aconteceu. Os muitos milhões que circularam por agências de publicidade e bancos durante quase dois anos não teriam chegado aos líderes de bancada que atualmente estão presos. Se o dinheiro não chegou a eles e, por meio deles, a parlamentares dos respectivos partidos, então o ervanário se desfez no ar porque, materialmente, existiu. Existiu, foi lavado, foram assinados cheques e recibos, foram transportados valores, e há banqueiros e empresários condenados a penas ainda maiores do que as que atribuídas aos réus políticos. Mais, se há no STF um ministro cuja lealdade ao governo ninguém põe em dúvida é o Dias Toffoli. Pois mesmo ele, com a parceria de Ricardo Lewandowski, ao apreciar o crime de corrupção passiva imputado a nove réus do mensalão, condenou sete dos acusados! E assim foram os dois ministros, em relação aos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, peculato e evasão de divisas. Sempre condenaram a vários no processo do Mensalão. Por um crime que não aconteceu, doutor Lula? ZERO HORA, 11 de maio de 2014

Percival Puggina

07/05/2014
Tenho certeza de que você conhece alguém assim. Pessoa idealista. Cheia de boas intenções. Levava a maior fé no PT oposicionista do século passado. Empolgava-se com a severa vigilância moral que o partido exercia sobre os governos e governantes aos quais se opunha. Enfim, o partido de seus amores não roubava e não deixava roubar. Percebia maracutaias a quilômetros de distância. Essa pessoa votou no Lula, em vão, durante três eleições. Persistiu até que, finalmente, em 2002 - Aleluia! Lula se elegeu. A partir daí PT poderia investigar tudo e nada permaneceria oculto nas gavetas e nos armários. Com a posse de Lula em 1º de janeiro de 2003 passavam às diligentes e virtuosas mãos do partido todos os meios necessários para acabar com a colorida tucanagem. Até um novo procurador-geral o PT nomeou em junho de 2003 e ele recebeu as chaves das silenciosas e supostamente cúmplices gavetas de seu antecessor. Mas o novo procurador - surpresa! - nada desengavetou, que se saiba. Nem ele, nem a PF, nem o CADE, nem a Receita Federal, nem a ABIN, nem o BC, nem a CGU. Silêncios sepulcrais! Na miríade de ministérios, repartições federais e empresas estatais, nada apareceu, nem que fosse para comprovar minimamente o muito que antes se denunciava. Nem um grampeador sumido. E olha que depois de tanto estardalhaço, de tanta reputação assassinada, havia um quase dever moral de apontar pelo menos duas ou três falcatruas. Afinal, todos os contratos, concorrências, convênios que vinham dos nebulosos tempos pretéritos, estavam ali, para serem vasculhados, escrutinados. Mas nada foi feito e nada foi dito. O assunto se dispersou como uma nuvem que passa sem chover. Um ano e meio depois, o PT virou alvo do maior escândalo político da história republicana! E nem para se defender o partido decidiu fuxicar no governo tucano. Já os escândalos petistas e de seus associados, esses não mais pararam, numa sequência infindável. Não satisfeito, o PT se uniu aos maiores patifes da política nacional. Trouxe ao braço e abraço todos aqueles a quem combatera. Santo Deus! Sarney virou homem forte no Congresso. Renan Calheiros, Jader Barbalho, Fernando Collor (até ele!) prosperaram como fungos à sombra do novo governo. Maluf virou aliado, merecedor de afagos, com fotos para a mídia benevolente em meio às ninfas e tritões de seus jardins. Por mau caráter ninguém deixou de ser recrutado para a corte petista. E o outrora sensível faro do partido não percebe mais a sujeira nem na sola do próprio sapato. O infeliz eleitor sobre cujas agruras iniciei falando, ainda defensor ferrenho do petismo, ainda movido pela afinidade ideológica, tem que ir catar nos tenebrosos armários e gavetas dos governos anteriores (aqueles que o PT dizia conter assombrações) motivos para exalar, em derradeiro suspiro, alegações de que os outros eram ainda piores. Não é de causar compaixão? Deve doer como um nó de tripa na consciência. Logo ele, um cidadão do bem, um varão de Plutarco, precisa argumentar como aquele sujeito que defendia a namorada com alegações de que as outras eram ainda mais vadias. É um caso de mansidão submissa. Mas o amor é lindo. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

01/05/2014
Ouvi pelo rádio o pronunciamento da presidente. Sem dúvida, ela percebe a República como artigo de consumo e a nação como um bando de idiotas. Valendo-se da oportunidade proporcionada pelo Dia do Trabalho, os marqueteiros que servem à candidata procuraram afastar as inquietações da sociedade com relação ao futuro próximo e dissipar, com esquivos circunlóquios, as pesadas acusações que pairam sobre a patroa e sobre seu governo. O tom do discurso se torna indesculpável porque foi inteiramente concebido, parágrafo por parágrafo, à luz da queda de prestígio da candidata do continuísmo. A pesquisa eleitoral divulgada na véspera apontava um tombo espetacular nos índices da presidente. Reduzira-se em 10 pontos a distância que a separa do segundo colocado. Subira para 43% seu índice de rejeição, que é a mais importante informação quando a campanha sequer iniciou, superando as intenções de voto, que desceram aos 37%. Para quem sonhava com vitória no primeiro turno, haver mais eleitores dizendo que não votariam nela em hipótese alguma do que votantes dispostos a fazê-lo gera uma situação alarmante. É exatamente esse o fundo de cena em que se deve apreciar a lamentável fala presidencial do dia 30 de abril. Tomemos, por exemplo, o caso dos bilionários escândalos envolvendo a Petrobras. Como se resume o que disse a presidente em relação ao tema? Que tudo será rigorosamente investigado (embora ela tenha procurado impedir e, depois, tentado bagunçar a CPI proposta para essa investigação). Afirmou, também, que não admitia o uso político do assunto para depreciar e prejudicar a empresa. Pura retórica de militante petista. Quem vem fazendo, há 11 anos, uso político da Petrobras são os governos petistas, que dela se servem para arregimentar apoio parlamentar, fatiando-a entre as siglas da base e malbaratando os incertos recursos do pré-sal como se fossem um ativo político do PT e não uma futura riqueza do país. Como consequência, derrubaram a Petrobras do 12º lugar entre as grandes empresas mundiais para a 120ª posição. Prejudicar a empresa é o que o governo vem fazendo e não quem cumpre o incontornável dever de defendê-la de maus tratos e malfeitos. O discurso presidencial estaria perfeito num comício de campanha. Usou à exaustão expressões que apontam para um horizonte posterior: continuar na luta, continuar fazendo, continuar as mudanças, seguir adiante, mudar mais rápido, recomeçar mais fortes, continuar a política de valorização, meu governo será sempre, coroando com um happy end: Quem está do lado do povo pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória. Assistiu-se a um conjunto de piruetas retóricas, habilmente construídas por marqueteiros. Houve uso do horário nobre de televisão para falar sem contraditório a 80% dos brasileiros, posto que as oposições não dispõem de igual recurso. Alguém pode achar que foi simples deselegância, falta de fair play, ou algo assim. Mas não é. Tem todo o jeito de crime eleitoral. Alguns partidos, aliás, já anunciaram que vão recorrer à Justiça denunciando o fato como um formidável abuso de poder contra o princípio de isonomia que deve reger uma correta disputa política. Age contra a democracia e contra os mais comezinhos princípios quem se vale do poder em benefício próprio e usa recursos que são de todos para obter votos para si. A presidente, ao ensejo do dia 1º de Maio, valendo-se das comemorações do Dia do Trabalho, promoveu consistente e inequívoca demonstração daquilo que pretendeu negar: os negligentes padrões morais que caracterizam seu governo e seus associados. Com a palavra o TSE. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

29/04/2014
DESCONSTRUTIVISMO DA ESPERANÇA Percival Puggina A triste notícia política do dia: a direção do Cpers-Sindicato, o órgão de classe que congrega os professores estaduais do RS, está sendo disputada por chapas de três diferentes correntes internas do PT. Nos últimos pleitos da categoria ainda havia candidatura não alinhada com a esquerda. Perdia sempre. Mas subsistia. Agora, acabou. Chegou-se a hegemonia no formato do totalitarismo stalinista. Só se discute quem vai fazer. O que fazer e o como fazer não está mais na pauta. É coisa sabida. Os professores gaúchos devem estar satisfeitos com os resultados de décadas sucessivas de comandos petistas. Devem estar felizes da vida com seus salários. Devem considerar satisfatórios os resultados obtidos na Educação de nossa juventude. E devem achar Paulo Freire o máximo. Essa segurança ideológica, partidária - e por que não pedagógica? - do sindicato deve corresponder fielmente aos mais elevados anseios dos nossos educadores da rede pública estadual. Parabéns pelo desconstrutivismo da nossa esperança.