• Percival Puggina
  • 10/05/2014
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MAIS UMA DO DOUTOR

Doutor Honoris Causa significa doutor por causa da honra. Nosso ex-presidente Lula abiscoitou, em Salamanca, o 27º desses diplomas. Todos por causa da honra. De Salamanca foi a Lisboa, comemorou os 40 anos da Revolução dos Cravos e concedeu uma entrevista à RTP - Rádio e Televisão de Portugal que deve ter escandalizado seus companheiros na Papuda. Vão-se os amigos, mas se conservam os dedos, ora pois. Em trecho da matéria (basta procurar no YouTube por entrevista de Lula à RTP), a repórter o indaga sobre o fato de pessoas de sua confiança terem sido presas. E Lula buscou salvar a própria pele: Não se trata de gente de minha confiança. Acrescentou à fala um gesto como que afastando de si os condenados e tentou arredondar: Tem companheiros do PT presos. Ele estava falando de Dirceu, Genoino, Delúbio! E por aí foi desandando o grande ídolo do petismo nacional, acusando o STF de haver produzido um julgamento 80% político e concluindo com uma frase bem ao gosto do seu auditório caseiro: Essa história ainda vai ser recontada, para saber o que aconteceu na verdade. Pelo jeito vem aí outra comissão da verdade... No entanto, a melhor frase em toda a entrevista foi: O que eu acho é que não houve mensalão. Pronto! Com essa sacada no repertório das esquivas afastou de si a sombra do maior escândalo da história da República. Ele estava afirmando que não pode ser atingido por algo que acha que não houve. Entretanto, vejamos como ficam as coisas se o mensalão não aconteceu. Os muitos milhões que circularam por agências de publicidade e bancos durante quase dois anos não teriam chegado aos líderes de bancada que atualmente estão presos. Se o dinheiro não chegou a eles e, por meio deles, a parlamentares dos respectivos partidos, então o ervanário se desfez no ar porque, materialmente, existiu. Existiu, foi lavado, foram assinados cheques e recibos, foram transportados valores, e há banqueiros e empresários condenados a penas ainda maiores do que as que atribuídas aos réus políticos. Mais, se há no STF um ministro cuja lealdade ao governo ninguém põe em dúvida é o Dias Toffoli. Pois mesmo ele, com a parceria de Ricardo Lewandowski, ao apreciar o crime de corrupção passiva imputado a nove réus do mensalão, condenou sete dos acusados! E assim foram os dois ministros, em relação aos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, peculato e evasão de divisas. Sempre condenaram a vários no processo do Mensalão. Por um crime que não aconteceu, doutor Lula? ZERO HORA, 11 de maio de 2014