Lula, o tabu?a, exagerou ontem — mesmo segundo os padr?t?lassos de Lula, o tabu?a, ao discursar durante o lan?ento do Fundo Setorial do Audiovisual, no Pal?o Gustavo Capanema, no Rio. O seu s?, para se referir ?dificuldades por que passa o Brasil, ? triunfo do deboche. Escrevi ontem a respeito dessa quest?em particular (reproduzo abaixo aquele post). J?isse algumas vezes que as reservas ideol?as n?est? sozinhas, no cerne da minha ojeriza aos petralhas. Insuport?l nessa gente ?amb?a sua imbat?l vulgaridade. N?porque lhes falte necessariamente educa? formal — alguns s?at?em graduados. O que lhes falta mesmo ?ecoro. E por isso os presentes aplaudiram as manifesta?s de estupidez e grosseria do chefe, num espet?lo verdadeiramente grotesco.
E, se o Apedeuta n?tinha atingido ainda os p?aros do cinismo, seus burocratas se encarregaram de faz?o depois. Embora sua fala n?pudesse ter sido mais aud?l e o s? tenha sido pronunciado de maneira inequ?ca, o site da Presid?ia, que traz a ?egra de sua glossolalia (s?e estimulada por maus esp?tos), preferiu censurar a palavra (integra aqui). No lugar do sin?o vulgar do verbo copular, a hist? oficial preferiu escrever inaud?l. Entendo: ?reciso preservar a hist? de Lula de Lula; ?reciso corrigir o Lula real para construir o Lula m?co; ?reciso ignorar o tabu?a para criar a fantasia do estadista.
Um tanto por masoquismo, li a ?egra de sua fala, uma catilin?a (pobre C?ro!) eg?ra, que faz t?la rasa da hist? e que jamais se constrange de, a contrapelo dos fatos, chamar para si m?tos que n?s?seus, transferindo a terceiros todas as responsabilidades pelos dem?tos.
Querem um exemplo rasgado, descarado, da mais odiosa mistifica?? Leiam o que ele disse: Voc?est?lembrados da d?da de 90. Da metade da d?da de 80 at?uase 2000, era um pensamento ?o, ou seja, era preciso vender todas as empresas do Estado, era preciso privatizar tudo, era preciso mandar muitos funcion?os embora, era preciso aumentar o tempo que o trabalhador tinha que trabalhar, porque ele se aposenta com pouco tempo, e da?fora. Todo mundo viveu esse debate: o Estado n?vale nada, o Estado s?sta.
Mentiras espantosas. Infelizmente, nunca ningu?pregou a venda de todas as estatais. A Petrobras e seus maus resultados est?a?por exemplo. As privatiza?s n?desempregaram ningu? Ao contr?o: geraram milhares de empregos diretos e milh?de empregos indiretos. Lula, em seu primeiro ano de governo, enviou uma proposta de reforma da Previd?ia que aumentou o tempo que o trabalhador tem que trabalhar para se aposentar.
E h?sto:
Eu acho que em ?ca de crise ?ue a gente tem que fazer os gastos necess?os. O que n?recisamos, S?io [Cabral], enquanto governador e presidente, ?omar a seguinte decis? n??vamos investir nenhum centavo em custeio enquanto tiver dificuldade, mas vamos investir todos os centavos poss?is em coisas produtivas, em coisas que possam gerar empregos, em coisas que possam gerar distribui? de renda, sal?o e poder de compra para o povo brasileiro. Por isso ?ue eu sou um cidad?otimista. Voc?e conhece h?uito tempo, Serginho. Voc?abe que eu adoro uma crise. Eu adoro ser provocado, porque eu acho que ?esse momento que voc?rova se pode crescer ou n?pode crescer, se este pa?pode dar um salto de qualidade ou n?pode dar um salto de qualidade.
Investir em custeio, leitor, ?ais ou menos como voc?nvestir no pagamento do seu condom?o... Mas adiante. Lula onerou brutalmente a folha de pagamentos dos servidores. E os fez por meio de MPs, depois que a crise j?stava dada. O mercado puniu severamente a Petrobras em raz?do aumento das despesas de... custeio!
Sim, ontem, mais uma vez, Lula, por assim dizer, privatizou os anos recentes de crescimento econ?o: obra, ele pretende, de seu governo. Outros, antes dele, fizeram tudo errado. J? crise que a?st?que colhe, agora em cheio, a economia brasileira, bem..., esta foi gerada pela especula?, pelo mercado etc. Ora, se era ele a operar o milagre, que continue, ent?a faz?o. O que o impede? Ou o homem ?ilagreiro s?m o mercado a favor?
Mas n? Lula decidiu dividir a crise com a companheirada: Voc?em o trabalhador da f?ica. Ele est?uvindo falar em crise. Ele tem at?ma reservazinha, vai receber d?mo terceiro, pegou f?as, at?oderia pensar em comprar um carro. Mas o mercado de carro usado despencou, porque ningu?quer financiar. Ele fala: Bem, eu n?vou comprar o carro porque eu posso perder meu emprego, e se eu perder meu emprego eu estou ferrado. Ou seja, ?reciso algu?dizer para ele que ele vai perder o emprego exatamente por n?comprar. Na hora em que ele n?compra, a ind?ia n?produz, o com?io n?vende e em algum lugar vai estourar. E vai estourar exatamente na produ? industrial.
Simples, n??Um ou outro idiota da objetividade poderiam indagar: U?mas esse racioc?o n?faz sentido? Faz, claro. Desde que n?sirva ?istifica?. E desde que se considere que, num per?o de crise, que est?ado (est?onge de ser uma quest?de psicologia social), n?fazer d?das ?ma quest?de prud?ia. Especialmente quando o governo foi obrigado a admitir que haver?ens?l aumento do desemprego. O conjunto dos brasileiros n?tem a ventura de contar com uma pens?vital?a, a exemplo de Lula. Ademais, seria o caso de indagar ?inistra Dilma Rousseff (ver post nessa p?na) se ela concorda com Lula: basta comprar, que o emprego est?arantido. Parece que n?
Como ele deixa claro no discurso, haviam-lhe preparado outra fala. Mas ele acredita nas virtudes da improvisa?. E produziu aquela fant?ica pe?da ret?a pol?ca e econ?a, em que nem o clich?esiste. Para se referir a supostas verdades ocultas, destruiu uma met?ra cl?ica e conseguiu fundir tr?outras num emaranhado sem sentido: As coisas que at?nt?estavam embaixo do arm?o v??ona. ?a sujeira embaixo do tapete misturada ?verdades dentro de um arm?o... submerso — ou n?teria como algo vir ?ona. A lamban?metaf?a ?mblema de sua confus?mental. ?dios que ocupam o Congresso de laptop e celular s? claro, de araque. Nosso ?io de verdade ?ula: tudo o que ele sabe vem da cultura oral: contam pra ele. E ele aprende mais ou menos. Ou como explicar a seguinte batatada, que, mesmo dita para artistas, chega a ser ofensiva de t?est?a: Vejam que absurdo. Tem ag?ias que medem o risco dos pa?s. Os Estados Unidos quebram e o risco deles continua zero e o nosso que cresce. Essas coisas absurdas de um mundo globalizado. ?mesmo! Que absurdo, n??
Artistas
A sala estava cheia de artistas. Voc?sabem: todo artista, ou certo tipo, tem de ir aonde a verba oficial est?E Lula tratou os presentes, acho, como eles merecerem ser tratados, uma vez que estavam l? ouviram a fala calados. Querem ver?
O trecho est?runcado, mas ?xatamente o que parece ser: Se n?for demais, todos voc?aqui conhecem, estou vendo artistas importantes aqui. Voc?que, de vez em quando (inaud?l), quando voc?quiserem (inaud?l), voc?batam uma palminha que eu des?para pegar aqui o meu cofre. ?isso: basta que os artistas batam uma palminha para Lula — e boa parte bate sem problema; at?oca flauta, se preciso —, e ele vai ao cofre. Ah, Reinaldo, n?tem jornalista que faz o mesmo? Sim, aos montes.
N?obstante, voc?ver?abaixo, a popularidade de Lula bate recorde: 70%, segundo o Datafolha. E nem poderia ser diferente: nada menos de 78% dos brasileiros acham que a vida ser?elhor no ano que vem. O discurso insano de ontem parece traduzir a preocupa? com essa expectativa.
O homem do S?U
Lula s?de ter voltado a abusar da ?a mineral. N?h?utra explica?. No discurso em que, na pr?ca, ficou tentando encontrar culpados para as dificuldades que a economia brasileira j?nfrenta, ele come? dizendo que ?m Dom Quixote. T?Inteligente ele ?j?firmei aqui umas 500 vezes. Mas ?e uma ignor?ia oce?ca. A ?o tra?de car?r apreci?l da personagem de Cervantes era a inoc?ia. No mais, bem..., era um desastre. E Lula n?tem a metade da inoc?ia daquele. Ademais, o que, naquele, era loucura, neste, ?uro m?do. Se ele ?esmo um Dom Quixote, o desfecho ser? pior poss?l. Adiante.
Encantado com o som da pr?a voz — um dos males que ami?o acometem —, disse que o mercado financeiro ?omo um filho adolescente rebelde, que n?quer saber do pai e da m?.. E foi adiante, vermelho, falando alto: Quando o mercado tem uma dor de barriga, e, nesse caso, foi uma diarr? braba, quem ?hamado? O Estado, que eles negaram por 20 anos. Entenderam? O Estado ? pai e a m?da sociedade. Santo Deus!
Era pouco? Era pouco! Explicando por que prega tanto otimismo, Lula a?e comparou a um m?co que estivesse atendendo a um doente. E indagou: O que voc?ala? Dos avan? da medicina ou olha pra ele e diz S?U? Sim, Lula empregou a palavra S?U num discurso oficial.
Bem: S?U, voc?devem saber, ?ma forma sincopada da vers?vulgar do verbo copular, mas numa estranha e improv?l forma reflexiva. O si vem do SE, e o FU, da primeira s?ba do sin?o de copular, mas trocando o O pelo U, entendem? E, na forma reflexiva, aquele sin?o perde toda a carga positiva. Quem s? est?strepado.
Isso ?ula, ?ormal. O seu gosto pelo tabu?o ?ot? e conhecido. Mas o mais interessante ?utra coisa. Recuperando-se o contexto da sua fala, fica claro que, para o m?co Lula, o paciente Brasil s?.
O pa? muito melhor do que seus pol?cos, vai resistir. Ainda bem! Mas, sob muitos pontos de vista, o que se v?? o fundo do po? Vamos torcer para que a economia mundial se recupere logo.