• Percival Puggina
  • 26/09/2009
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NOSSO CARÍSSIMO PRESIDENTE

Afinal, quem é esse cowboy que o Lula escolheu como símbolo de resistência democrática num continente dominado pelos ardilosos do Foro de São Paulo que ele e Fidel inventaram, peritos em usar os instrumentos da democracia contra ela própria? Manuel Zelaya é homem de posses e poses, herdeiro de um grande empresário hondurenho, foi deputado do Partido Liberal e se elegeu presidente em 2005 com votos do centro para a direita, como opositor ao governo do esquerdista Ricardo Maduro. Durante o exercício do mandato, malgré tout, Zelaya foi gradualmente virando bolivariano, atraído pelo petróleo do vizinho Hugo Chávez e pelas facilidades proporcionadas pela Petrocaribe, instrumento importante para a geopolítica chavista na região. A Petrocaribe é um consórcio que opera com petróleo venezuelano para fornecê-lo aos países parceiros por preços inferiores aos do mercado internacional, num modelo operacional que Chávez denomina ?petro-socialismo?. A sua Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA) já inclui, além da Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua, Dominica, as ilhas São Vicente e Granadinas, Antigua e Barbuda, e Honduras. Tem a simpatia da Argentina, do Chile, do Paraguai e do Haiti, mas o nosso Lula está convencido de ser o rei da cocada preta no continente. Resumindo a ópera, Zelaya mudou de lado. Trocou de eleitorado e de base parlamentar, ficou com ampla minoria no Congresso e sua aprovação popular caiu para 25%. Foi em parte por isso que a imprensa brasileira que se deslocou para Honduras chamando o governo de Micheletti de golpista (certa jornalista chegou deixou escapar a expressão ?junta militar?) se surpreendeu com a aversão hondurenha aos brasileiros e percebeu a repulsa do país à nossa intromissão nos seus assuntos internos. Não são apenas caras de poucos amigos. É um berreiro das ruas, perfeitamente audível: ?Brasileiros go home!?. E o nosso rei da cocada preta não percebe o papelão que faz nem o constrangimento que nos impõe. Pois bem. Ou, pois mal. Desnecessário reiterar aqui tudo que já escrevi sobre o caso de Honduras (ler no meu blog www.puggina.org). Não houve golpe nem contragolpe. Houve apenas o estrito cumprimento de determinações judiciais e dos preceitos constitucionais. Ainda que dúvida surgisse, a única instituição competente para esclarecê-la é a Suprema Corte hondurenha. E ela já o fez, em solene Comunicado Especial, ?urbi et orbi? (www.poderjudicial.gob.hn e, em seguida, procure no link ?Comunicados especiales? o ?Comunicado de 20 de Julio?). Está ali, para ONU, OEA, Lula e todos os lulistas lerem. O resto é mera opinião que não justifica tamanha interferência em assunto interno de uma nação soberana e democrática. Binômio constrangedor para nós: pequena nação e enorme intromissão brasileira. Lula não agiria do mesmo modo se o episódio se passasse na Argentina. Mas isso é ocioso repetir. O ponto, aqui, é o sistema de governo em si. Que coisa mais arcaica e pouco democrática um modelo que permite ao chefe de Estado e de governo mudar de lado, de programa, de parceria e até de eleitores, sem qualquer conseqüência! Sim, porque se Zelaya não tivesse incorrido em delito de traição à pátria, permaneceria no governo, como ficou até julho, agindo como antônimo de si mesmo. Completo absurdo. ?E o rei da cocada preta??, perguntará o eleitor. Pois é. Ele está custando muito caro ao Brasil. Por isso, ficará conhecido como nosso caríssimo presidente.