GILMAR MENDES, O CACHORRO E O RABO

Percival Puggina

 

 No último dia 19, ao saber que a Procuradoria Geral da República pretendia pedir sua suspeição e impedimento para atuar no caso do "rei do ônibus", o ministro Gilmar Mendes reagiu: "Se isso acontecer, o rabo abana o cachorro". Pretendia o ministro, na forma de seu habitual e zombeteiro mau humor, dizer o óbvio, ou seja, que na hierarquia das instituições, o Supremo é o órgão superior.


Sim, claro, e daí? Essa precedência determina a quem corresponde a palavra final, mas está longe de finalizar o que está aberto e em discussão, inclusive porque, no Regimento Interno do poder, o juízo coletivo, obviamente, "abana" o juízo individual de seus membros.


A PGR, instigada pelos promotores da Lava Jato do Rio de Janeiro, não enfiou o rabo no meio das pernas e rosnou, ontem (21/08), de modo vigoroso, em duas petições que alinham vistosas razões para invocar, ante a presidente Cármen Lúcia, a falta de isenção do ministro nas decisões que tem adotado nesse caso.


O jornal Valor Econômico, ao noticiar o fato, observou que o pedido de soltura havia sido direcionado à ministra Rosa Weber, mas os advogados de defesa solicitaram a redistribuição a Gilmar Mendes, alegando prevenção, ou seja, a prévia atuação desse ministro no mesmo caso.


A gente sabe como é. Advogados têm lá suas preferências. Os procuradores, por sua vez, alegam haver entre os réus e o ministro "vínculos pessoais que impedem o magistrado de exercer com a mínima isenção suas funções no processo". Em 2013, Gilmar foi padrinho de casamento da filha de Barata (o noivo é sobrinho da mulher do ministro). O cunhado de Gilmar é sócio de Barata. A mulher de Gilmar é sócia de Sérgio Bermudes no escritório que atua na defesa dos empresários Jacob Barata Filho e Lélis Marcos Teixeira, que Gilmar insiste em soltar. Diante de tudo isso, numa petição de 22 páginas, Rodrigo Janot pede providências à presidente Cármen Lúcia, a quem corresponde a prerrogativa de lhes dar curso ou não.


Numa sociedade democrática, as instituições cumprem papel pedagógico. Mais relevante ainda se torna essa função quando a sociedade, sob orientação firme e constante do relativismo moral, vive o colapso de seus próprios padrões de conduta e convive com os maus exemplos proporcionados pela elite política.  Não se pode, seja por teimosia, orgulho ou algo pior, pôr tão facilmente em jogo a credibilidade do Poder Judiciário.

 

  • 22 Agosto 2017

ASSINAR PONTO ÀS SEIS HORAS DA MANHÃ?


O jornalista Claudio Humberto, em seu Diário do Poder, informou na última sexta-feira mais uma singularidade de nossa Câmara dos Deputados. Na véspera, quinta-feira, dia útil em qualquer lugar do mundo, exceto no parlamento brasileiro, o painel eletrônico foi aberto às 6 horas da manha. Dia cheio? Muito trabalho ainda por realizar? Não.


Tal procedimento atende à conveniente necessidade de os parlamentares registrarem presença para não perderem a remuneração correspondente e iniciarem a saudosa revoada na direção dos respectivos torrões natais.


É claro, sempre se poderá dizer que é melhor assim do que reunidos fazendo tolices ou conspirando contra o interesse público. Mas o fato é que semana de dois dias - terças e quartas-feiras - com direito a auxílio-moradia para permanência contínua na capital federal é falta de respeito dos representantes aos representados.


Parlamentar é membro de poder. Não é um trabalhador comum e está sujeito a outras regras. Mas existem regras não escritas que têm existência na consciência moral das pessoas. E algumas delas são afrontadas na situação descrita. Às 11 horas da manhã desta última quinta-feira 436 deputados haviam registrado presença. Apenas 30 no plenário.
 

Por Percival Puggina

  • 19 Agosto 2017

FELIZ DIA DOS PAIS

 

 Assisti, há poucos dias, o filme Words and Pictures, com os excelentes Clive Owen e Juliette Binoche. Ambos são professores de uma escola de ensino médio; ele (Jack Marcus), ensina literatura, e ela (Dina Delsanto), artes plásticas. As duas exuberantes personalidades acabam travando uma disputa pela primazia: o que comunica melhor - as palavras ou as imagens?


Enquanto a contenda avança e a enfermidade de Dina (esclerose lateral amiotrófica) a consome, os dois se envolvem emocionalmente. Estão aí os elementos de uma história sensível, contada, entre risos e lágrimas, mediante diálogos e imagens inteligentes.


Pois enquanto eu procurava algo para ilustrar a mensagem que queria deixar a meus leitores e amigos neste Dia dos Pais, deparei-me com esta tela de Expedito Lima e me deixei tomar pela riqueza de seu conteúdo e pelo vigor de sua expressão, a dispensarem totalmente qualquer palavra. Lembrei-me do filme. E acho que só me resta desejar a todos um muito feliz Dia dos Pais. Que Deus abençoe a todos!


Percival Puggina


PS - A tela se chama "Não tenho uma Harley". Expedito Lima é um premiado pintor cearense.
 

  • 13 Agosto 2017

SEM “SENHORES” OU “SENHORAS”: AMSTERDÃ RECOMENDA A UTILIZAÇÃO DE TRATAMENTOS NEUTROS

Matéria de Breitart Brasil

O politicamente correto está dando as caras na famosa cidade holandesa de Amsterdã.

Para melhor acomodar os cidadãos transgêneros que visitam a cidade ou já moram lá, uma recomendação foi feita aos funcionários públicos que trabalham no município: não utilizar pronomes tradicionais que se referem ao sexo masculino ou feminino.

A revista francesa Valeurs Actuelles disse que “o município holandês recomenda a seus funcionários uma linguagem mais neutra. ‘Caros concidadãos’ agora é preferível a ‘Senhoras e senhores’”. E acrescentou: “a cidade também lhes enviou no final de julho um guia de linguagem. O documento, que não impõe nenhuma obrigação, mas apenas recomendações, encoraja a não começar discursos com ‘senhoras e senhores’, ou as cartas com ‘senhora, senhor’, em um esforço para incluir mais pessoas transexuais na sociedade.”

O porta-voz de Amsterdã ainda declarou que termos como “queridos convidados”, “queridos residentes” estão entre os tratamentos que devem ser colocados em prática em vez dos tradicionais pronomes que denunciam o sexo feminino ou masculino. “Escrever e falar de uma forma respeitosa para as identidades sexuais e de gênero”, disse ele.

Os documentos oficiais em que constam as palavras “homem” ou “mulher” serão acrescidos da expressão “de nascença”.

Foto: Dicas de Amsterdã

Breitbart Brasil 

 

COMENTO

Vê-se, em exemplos como o que se descreve acima, os instrumentos através dos quais uma ideologia pode capturar o senso comum e impor como produto de construção social, aquilo que é dado pela natureza. Denunciar a sandice implícita a esses atos não significa recusar os direitos sexuais alheios, mas afirmar a ideia de que o homem é homem e a mulher é mulher porque assim são e não por terem sido "construídos" socialmente como tal. 

  • 12 Agosto 2017

 

DISTRITÃO É O PULO DOS GATOS


Percival Puggina

 

 A decisão de realizar a eleição de deputados, no ano que vem, no modelo denominado "distritão" constitui o legítimo pulo dos gatos para salvarem a própria pele.

No sistema proporcional atual, que não é bom, o número de cadeiras correspondentes a cada partido é proporcional aos votos feitos por todos os candidatos da mesma legenda (ou coligação, quando for o caso). No distritão, elas são providas aos mais votados, sem levar em conta os demais votos da legenda. Aparentemente é razoável - elegem-se os mas votados.

Trata-se, porém, de uma razoabilidade enganosa porque, de modo não razoável, o distritão elimina o vínculo do parlamentar ao respectivo partido, fazendo com que todo deputado seja "dono da própria cadeira". A campanha resulta numa guerra de todos contra todos, com as suplências sendo preenchidas segundo a ordem total de votação e não segundo o ordenamento das votações dentro de cada legenda. Interessa, então, diminuir de modo drástico o número de concorrentes, para que os votos se concentrem numa pequena relação de nomes, dificultando a renovação e, por óbvio, concedendo enorme vantagem a quem já tem mandato.

Em resumo, de modo não razoável, salvam-se quase todos, fazendo mais votos do que habitualmente fariam. Inclusive os gatos que arquitetaram esse salto.

 

  • 11 Agosto 2017

 

PROCURADORA VENEZUELANA ABORRECEU-SE COM O MONSTRO QUE AJUDOU A CRIAR?

Percival Puggina

 

 Interessante o caso de Luisa Ortega, procuradora-geral da Venezuela. Chavista de carteirinha, "bolivariana" dos quatro costados, vale dizer, revolucionária e marxista, apoiou o desastre em curso no seu país e, certamente, respingou lágrimas no caixão de Hugo Chávez.


Sob seus olhos foram caindo as liberdades democráticas; da janela de seu gabinete contemplou a inevitável degradação social causada pela estatização da economia; a seus ouvidos chegavam as notícias sobre a doutrinação nas salas de aula. Em toda parte de sua Caracas se estabeleceu o culto da personalidade, os louvores à "Revolución", as bravatas histriônicas de Hugo Chávez e a mitificação típica dos regimes totalitários. Para ela, estava tudo muito bem.


A tudo viu e serviu. Agora, dá uma de Mercedes Sosa. Lembram dela, ao romper com Fidel Castro após a execução "de los três negritos" em 2003? Com aquela voz maravilhosa, por mais de 40 anos, Mercedes cantou a revolução enquanto o pau comia solto nas ruas de Havana, as cadeias se enchiam de presos políticos e o paredón de La Cabaña se descascava a balazos. De repente, aborreceu-se... Assim, também, Luisa Ortega.


Ontem, 5 de julho, enquanto a revolução dava mais um passo na instalação da farsa constituinte de Maduro, a sede de sua procuradoria-geral foi cercada pelas tropas da Guarda Nacional e ela apelou ... para o Twitter, exibindo imagens do abuso. Quando os venezuelanos enchiam as redes sociais exibindo a degradação política, social e econômica de seu país, onde andavam ela e sua Constituição Bolivariana de bolso?


A procuradora-geral faz lembrar a frase final da formiga para a cigarra: "Então, cantavas? Dança, agora."
 

  • 06 Agosto 2017