Percival Puggina

29/07/2013
Como pode ser tão imenso o bem que não se vê? O mal me cansara os olhos e turbara meus ouvidos. A sociedade brasileira, pastoreada por lobos, emitia sinais de completa perdição. Quantas vezes, nas últimas décadas, obriguei-me a escrever - totalmente em vão, pensava - contra as muralhas que se erguiam para apartar os brasileiros da fonte de todo o bem. Eram muralhas erguidas com as pedras de uma certa mídia dotada de princípios e virtudes incertos, com as pedras de ideologias malsãs, com as pedras do deboche e da avacalhação. Eram tão ferozes e tão continuados os ataques à Igreja (por dentro e por fora), andava tão desprotegida a vítima, que o coração dos fieis temia pelo futuro. Mas havia também, absconditus, um imenso bem que eu não via. Por isso, a visita do Papa Francisco foi, de modo muito especial para mim, uma bênção e um bálsamo. Sua figura acolhedora e suas palavras ternas, plenas de verdade, conquistaram o povo brasileiro que, às dezenas de milhões, o acompanhou nos eventos do Rio, ao vivo ou pela tevê, cativado por seus exemplos e suas mensagens. O modo como os brasileiros o recepcionaram embasbacou os meios de comunicação. A audiência era tanta que se impôs uma cobertura quase permanente. Há alguns anos, em viagem pela Espanha com minha mulher, decidimos num fim de tarde entrar na cidade de Saragoza. O trânsito estava tão lento e pesado que estacionei o carro no primeiro hotel que vi. Registrei-nos e saímos para uma caminhada até o centro da cidade. De repente, as pessoas surgiram de todos os lados e, em instantes, nos vimos no meio de uma multidão formada por centenas de milhares de devotos de Nossa Senhora del Pilar, padroeira da Espanha, cuja festa anual ocorre principalmente em Saragoza e exatamente naquele dia. Lembro até hoje da sensação de haver iniciado a caminhada como indivíduo e ir me transformando, aos poucos, em parte da humanidade. Senti a mesma coisa diante das imagens das grandes concentrações ocorridas em Copacabana, a princesinha do mar e esplêndido umbigo da frivolidade nacional. Não, não estamos sós. Nem tudo está perdido. O povo brasileiro ainda conserva a capacidade de emocionar-se, de amar a Deus e ao próximo, de flexionar os joelhos diante do altar do Senhor. Não houve qualquer dessas coisas frívolas que cremos serem as únicas capazes de tirar as pessoas de casa. Houve lágrimas rolando pelas faces e pelos corações. Houve risos da mais pura alegria. Houve um imenso testemunho coletivo de fé proporcionado por um público majoritariamente jovem, do mundo inteiro e do mundo moderno. Quanto isso deve ter embasbacado os inimigos da Igreja, os militantes do ateísmo e os sumo sacerdotes do materialismo! Como soaram patéticas e bisonhas as investidas da marcha das vadias e da militância ateísta contra a Igreja e contra a vinda do Papa Francisco! Ali, nas areias da Praia de Copacabana, milhões de brasileiros mostraram haver, na fonte de todo o Bem, verdades que libertam, belezas que encantam e forças restauradoras que salvam. _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

28/07/2013
Quanto é oportuna a vinda ao Brasil do Papa Francisco! O país que ele visitou durante a Jornada Mundial da Juventude se convulsiona num misto de repugnância e angústia. Repugnância diante da realidade política e da despudorada conduta das classes dirigentes; angústia porque não vislumbra alternativas viáveis para reverter essa situação. Precisávamos muito de que alguém, com elevadíssima autoridade moral, falasse aos corações dos brasileiros num momento em que ocorreu o inimaginável - a nação saiu de sua letárgica paciência e tolerância. Nestas últimas semanas, milhões saíram às ruas. E não foi para pular e dançar, mas para explicitar indignação perante os males que tomam conta do nosso corpo institucional. Por outro lado, a febricitante acolhida que o Papa recebeu foi um duro golpe naqueles que, intimamente, cantavam vitória ante o que avaliavam como definhamento do Cristianismo na alma do povo brasileiro. Em nome da laicidade do Estado exigiam que cada brasileiro exonerasse e sepultasse os mais elevados valores de origem cristã plasmados na sua consciência individual. Dedicavam-se a esse trabalho infame como quem engorda rebanho para abate. Mas vimos, por onde o Papa passou, o quanto é vão esse delírio! Jesus Cristo e sua Igreja movem e comovem parcela imensa da nossa gente. Como movem e comovem populações no mundo inteiro. A fé enraizada na alma do povo resistirá, também aos muitos - e tão influentes! - que cortejam os vícios e debocham das virtudes. Resistirá àqueles que não se cansam de distribuir maus conselhos aos jovens, de atacar por todos os flancos a instituição familiar e de usar os estabelecimentos de ensino para cauterizar e extirpar da alma do povo os sinais de sua fé. Paulo VI, na encíclica Populorum Progressio, referiu-se à Igreja como mãe e mestra, perita em humanidade. Junto com outras igrejas cristãs, ela é guardiã de um tesouro de ensino moral que envolve apreço a tudo que seus adversários precisam destruir no coração humano. Falo do amor a Deus, ao próximo, a si mesmo e da vivência da política como elevadíssima expressão do amor ao próximo. Falo da solidariedade como virtude social. Do respeito à vida humana desde a concepção. Da eminente dignidade da pessoa humana, imagem e semelhança de Deus. Da liberdade como irmã gêmea univitelina da verdade, porque, desconectada da verdade, a liberdade se converte em desorientação. Falo do apreço ao bem e da rejeição ao mal. Do amor à à justiça e, além da justiça, à misericórdia. Falo da família como instituição essencial às sociedades humanas. E falo, também, da prudência, da fidelidade, da probidade e da modéstia. Precisamos de tudo isso em altas doses. E nada do que precisamos nos será entregue pelo pós-modernismo, pelo relativismo moral, ou pelos inimigos de Jesus Cristo. Os líderes sem caráter já fizeram todo o estrago possível. A imensa maioria dos bons brasileiros que saíram às ruas nas últimas semanas era formada por jovens. Notável! Eles são, como disse o Papa, a janela por onde chega o futuro. Exatamente por isso foram os primeiros que se mobilizaram para dizer basta!. Meditemos sobre tudo que Papa nos falou. É hora de amar o Bem e de fazer o bem. E de assumir, com todas as energias da vontade, aquelas virtudes individuais e sociais sem as quais não se constrói a nação com que todos temos o direito de sonhar. ZERO HORA, 28 de julho de 2013

Percival Puggina

23/07/2013
DOIS DISCURSOS Percival Puggina O discurso com que a presidente Dilma saudou o Papa Francisco foi uma caprichosa demonstração de falta de senso de oportunidade. Quis apresentar os governos petistas como fiéis seguidores dos ensinamentos evangélicos. Cruz, credo! Não dedicou mais do que uma frase ao visitante e à Igreja. E assim mesmo para dizer, nessa frase, que conta com a Igreja para disseminar universalmente o combate à pobreza. O Papa, em contrapartida, encheu o ambiente com palavras amorosas, humildes, cheias de conteúdo espiritual e fez uma convocação aos jovens para que assumam em suas vidas os mais elevados valores morais. Algo que deve ter ardido nos ouvidos de muitos dos presentes.

Percival Puggina

18/07/2013
No dia 10 deste mês, um grupo de rapazes e moças resolveu descer das galerias e invadir a Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Ali permaneceram por oito dias, impedindo o trabalho no local, controlando entradas e saídas, promovendo reuniões, concedendo entrevistas coletivas e, em eventos às portas fechadas, fazendo sabe-se lá o quê. Qual o motivo da desabrida selvageria? Simples como isto: eles querem passe livre no transporte coletivo da cidade. Ou, mais claramente, desejam entrar e sair dos ônibus sem pagar, transferindo para os demais cidadãos os ônus desse privilégio. O leitor destas linhas que tenha acompanhado tais episódios em Porto Alegre deve estar se perguntando onde quero chegar chovendo no molhado de fatos bem conhecidos e atuais. Acontece que, no meu modo de ver, mais grave do que a conduta violenta e abusiva dos vândalos que se instalaram na sede do legislativo municipal foi a inadequada conduta das autoridades. Foi ver que meia dúzia de vereadores se mantiveram ativos, presentes e coniventes com os invasores. Foi ver alguns dos nossos edis, atendendo condição imposta pelos intrusos para lhes concederem uma reunião de negociações: sentaram-se no chão, os vereadores, para ouvi-los. Quanto achincalhe! Quanta falta de amor próprio! Não bastasse tudo isso, o esquema de autoridade e poder de que se arrogaram os desordeiros acabou acatado pelas autoridades legítimas que estiveram envolvidas no episódio. Assim, a magistrada que atuou no caso, em vez de determinar a reintegração de posse, usou a ideia da reunião de mediação, contida no famigerado PNDH-3 (que a Câmara dos Deputados está rejeitando no projeto do novo Código Civil). Como se fosse possível mediar ou conciliar o invadido com seus invasores! Com isso, legitimou a autoridade e a representatividade dos invasores em tragicômica audiência pública de conciliação. Duvido e faço pouco de que fosse igual o procedimento se o poder invadido, em vez do Legislativo, fosse o Judiciário. Duvido e faço muito pouco. Em Porto Alegre, nestes dias de julho de 2013, ficou decidido que quem invade ganha muito mais do que a confortável tolerância das instituições. Tem apoio político. Conquista autoridade. Impõe as condições e os limites que lhe convêm. Reveste-se de poder. E é tratado como tal. Sinuoso e sombrio, enquanto esses desmandos acontecem, infiltra-se e se arregimenta, de modo serpentino, o ideal totalitário. E todos sabemos o quanto a ideologia da violência é intolerante. Bibliotecas do mundo inteiro alinham quilômetros de estantes com a descrição pormenorizada de suas estratégias e de seus horrores. Antes que me esqueça. 1º) A conta dos estragos feitos será paga pelos contribuintes do município. 2º) Ontem à noite, no dormitório de desocupados em que foi convertida a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, rapazes e moças dançavam nus, mostrando a exiguidade de seus argumentos e zombando das instituições que humilharam para além de todos os limites que se possa conceber. Por estupradas que já estejam. _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

13/07/2013
O Brasil está à beira da anomia. Em relação aos poderes de Estado, o povo perdeu a fé, a esperança, e a caridade. Isso é anomia, ou seja, desintegração das normas que regem as condutas e garantem a ordem social. O povo chegou ao ponto de saturação e simplesmente não suporta mais tanta improbidade, corrupção, indignidade e incoerência. Já o Estado, diante do que vê nas ruas, dá mostras de completa desorientação. Seria tão simples - não é mesmo? - reger com probidade, dignidade e coerência! Não haveria mensalão, nem mensalinho, nem emendas parlamentares como moedas de troca no balcão do poder, nem jatinhos, nem jatões para assistir missa em Roma, nem Renan presidiria o Senado (quanta desfaçatez!), nem tantos ministérios, nem companheiros nos tribunais, nem tanto abuso de direitos, nem tamanha distância entre o modo de vida dos frequentadores do salões do poder e o modo de vida do povo, nem tanta incoerência entre o piso que se prometeu ao magistério e os vencimentos que a ele se paga. Asseguro-lhes, sob condições singelas, o povo não estaria nas ruas. O governo Dilma é um morto-vivo que respira por aparelhos. Aparelhos políticos, tutelados pelo poder. E por uma enxurrada de anúncios bilionários proclamados, para auditórios nervosos, em aparições ectoplasmáticas. Aparições que soam fúnebres, do tipo - reúne a família que a hora está próxima. São eventos cujas imagens me trazem à lembrança a famosa foto de Tancredo Neves entre seus médicos no Hospital de Base de Brasília. O dinheiro não compra tudo, presidente. Não se vislumbram saídas. A desatenção às leis da Economia está cobrando sua conta, que, como de hábito, chega mais rápido a quem pode menos. O maldito modelo institucional brasileiro, mal costurado, ficha-suja, nos deixa sem opção por essa via. Quantas vezes votamos, em vão, no mal menor? De fato, o pêndulo que, nos países com boa organização, oscila, periodicamente, segundo as leis da Física e da Política, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, desaprumou no Brasil. E balança, bisonho e sem tino, entre a esquerda e mais à esquerda. *** Mudando de assunto, sem mudar. A bruma dos séculos envolve fatos e lendas a respeito de Santo Antônio. Conta-se, por exemplo, que certa vez, quando seu pai estava sendo julgado em Portugal, acusado de um assassinato, padre Antônio celebrava missa em Pádua, na Itália. De repente, o santo teria se quedado imóvel perante os fieis e aparecido em Lisboa, onde, não bastasse o prodígio da bilocação, ainda teria ressuscitado o morto para que testemunhasse a inocência do acusado. Extraordinário, não? Pois eu conheço um sujeito nada santo que realiza portento bem maior. Ele, com frequência, consegue não estar em lugar algum. Desaparece. Some aos olhos humanos. Falo de Lula. Sempre tão presente nas horas boas, toma chá de sumiço quando a coisa encrenca. Evanesce. E não me digam que é lenda. Não. É milagre mesmo. Milagre sem interferência divina. Coisas que ele faz por conta de não sei quem. Ou melhor, sei. Mas não digo. O homem que dá as cartas e joga de mão na política brasileira, há dez anos, sumiu de novo, como se nada tivesse a ver com o que está acontecendo no país. ZERO HORA, 14 de julho de 2013

Percival Puggina

12/07/2013
Agora que a noite caiu sobre a greve, depois de o jornalismo nacional haver colhido e exibido em todo país, repetidas vezes, cenas do dia 11, faço uma leitura do que aconteceu. O título acima reproduz conhecido refrão dos movimentos grevistas para apresentar suas reivindicações. Neste caso, a pergunta do refrão deve ser dirigida, mesmo, às centrais sindicais. Por que vocês resolveram parar o país? Qual a urgência que determinou essa desmobilização nacional, esse singular feriado ou feriadão de julho? São perguntas que todos nos fazemos nesta manhã do dia 12. Afinal, o que aconteceu, ontem, no Brasil? Por que paramos? Paramos por quê? A greve teve intensidade abaixo da média em relação ao que se podia esperar de um evento dessa magnitude. Em muitas das grandes cidades a vida transcorreu normalmente. Noutras o comércio fechou porque os empresários foram advertidos de que poderia haver depredações caso os estabelecimentos abrissem as portas. Onde o transporte coletivo aderiu, as consequências foram mais visíveis no panorama urbano. As ruas ficaram com jeito de feriado. Mas ninguém sabia exatamente porque aquilo estava acontecendo. As centrais sindicais, é verdade, elencaram um pot-pourri de reivindicações para justificar a absurda paralisação. Mas o real motivo de quem precisa elencar muitos para justificar o que faz nunca está entre os motivos apresentados. As principais centrais sindicais são braços de partidos da base do governo. E a base do governo, acuada pelas mobilizações dos últimos dias, pensou que se o povo estava saindo para a rua com tamanha determinação, o governo deveria colocar na pista seu próprio bloco. Ou seja, gente, muita gente, portando pautas genéricas, mas sem esconjurar o governo e, principalmente, sem os Fora Dilma! que tão fortemente latejam nos ouvidos oficiais. E por que as centrais sindicais toparam prestar-se a essa pantomima? Porque já lhes era perguntado, não sem razão, o porquê de sua silenciosa omissão diante dos protestos em curso no país. O resultado, tudo visto e contabilizado, foi pífio. Sabiamente, o povo não compareceu. Em inúmeras cidades, os grevistas precisaram interromper o trânsito em avenidas e rodovias como forma de dar aparente vulto ao que faziam (fosse lá o que fosse aquilo que faziam). O grande visual era proporcionado pelos milhares de veículos obrigados a parar enquanto meia dúzia de dirigentes sindicais, de modo delinquente, queimavam pneus na pista por horas a fio. Governo e sindicalismo pelego deram ao país um prejuízo de bilhões de reais com a interrupção de inúmeras atividades produtivas. O dia 11 de julho de 2013 vai entrar para a memória nacional como alarmante evidência de que esse governo conduz suas estratégias políticas e suas ações de gestão de modo igualmente incoerente e irresponsável.

Percival Puggina

07/07/2013
NO HAY MEDICOS, NI RECURSOS, NI SÁBANAS. Resposta que recebi de uma correspondente em Havana a quem escrevi perguntando sobre a situação da saúde pública em Cuba e sobre os tais médicos cubanos que viriam para o Brasil. (Omito o nome para preservá-la) Percival, un saludo y gracias por la confianza al preguntarme. Aquí los hospitales son un desastre, no hay ni médicos, ni recursos, ni sábanas, la mayoría de las Salas de Urgencias son atendidas por estudiantes latinoamericanos que son prácticamente indios con levitas, porque los traen a estudiar con un nivel muy bajo académico y aún así los matriculan en medicina. Si algunos aquí sabemos que le prometieron 6 000 médicos por el intercambio por el puerto del Mariel que construye Brasil, pero todo el que lo sabe dice - Dejen que lleguen allá. Lo siento por ustedes, aquí todo esto es una gran mentira, como fue una mentira la mal llamada Revolución. Saludos

Percival Puggina

03/07/2013
GUARDA-SÓIS DE PENEIRA Esse governo acumula realizações que vão entrar para a história. Uma delas ocorreu hoje, quando milhares de médicos saíram à rua, em diversas cidades do país, para protestar ante o caos da Saúde Pública. Eu os vi em Porto Alegre, diante do Palácio Piratini, com carro de som e veementes pronunciamentos. Entre os manifestantes, muitos dos mais conhecidos e reconhecidos profissionais dessa área no Estado, solidários com os clamores de repúdio ao descaso para com o setor. Foi uma visão inesquecível. Em coro, os médicos entoavam um robusto Fora Dilma! Fora Padilha!. Coisa interessante de ver, de ouvir e de saber. Os petistas, até bem pouco, julgavam-se senhores do Brasil. Faziam malabarismos retóricos sobre a corda-bamba dos fatos. Lula era aplaudido quando dizia A e quando dizia o contrário de A. Por mais que Dilma exibisse, sem recato, seu despreparo para a função, a nação ia no embalo petista como quem segue trio elétrico no carnaval. No entanto, assim como o Muro de Berlim caiu no grito, o petismo está sendo destronado pelo clamor popular. O povo percebeu, de estalo, o quanto vinha sendo enganado pelo brilho de miçangas publicitárias, de promessas que nunca se cumprem e de imensos guarda-sóis de peneira que pretenderam ocultar a péssima realidade ética, fiscal e gerencial do governo. O governo não tem plano, não tem projeto, não tem diretriz. Não tem, nem mesmo, uma visão razoável do país. O petismo só tem projeto de poder.

Percival Puggina

30/06/2013
POR QUE DILMA NÃO VAI AO JOGO? Quando Dilma levou a inesquecível vaia de dois minutos na abertura da Copa das Confederações, Joseph Blatter, ao seu lado, falou ao microfone: Onde está a educação?, ou coisa que o valha. Posteriormente, a imprensa mundial registrou o fato nessa mesma linha. O que o suíço Blatter e a imprensa europeia desconhecem é que a surpreendente vaia dirigida à presidente tem causa institucional. De fato, na maioria dos países civilizados, as funções de chefia de Estado e de chefia de Governo são ocupadas por pessoas distintas. Por quê? Porque são funções distintas, mesmo, e a fusão de ambas numa só autoridade política gera as instabilidades que se observam periodicamente na vida nacional há mais de um século. Aliás, as vaias proporcionadas nos estádios, embora muito audíveis e visíveis, são as menos significativas dentre elas. Dilma estava lá como chefe de Estado. Como representante da Nação. Como símbolo da nacionalidade. Representava-a num nível especialíssimo, como a Bandeira, o Hino e o Escudo. Por ser assim, os povos dos países que separam a chefia de Estado da chefia de governo jamais vaiam o chefe de Estado, seja rei ou presidente. Quando há motivos para entoá-las, as vaias são dirigidas ao chefe do governo. É ele que vai para o xingamento, para a vaia, e para os objetos lançados pelos mais exaltados. E jamais se mete a abrir um jogo de futebol. Quem faz isso é o presidente da República ou, nas monarquias, o rei. É da natureza do governante, com as ações que adota, causar agrados e desagrados. O chefe de Estado, diferentemente, exerce função essencial, moderadora e de última instância, atuando acima das vicissitudes do cotidiano. Infelizmente, quando pensamos nos problemas nacionais, como agora, com as propostas que surgem para a reforma política, essa fundamental distinção jamais entra na pauta. É porque não compreendemos a natureza desse vício institucional brasileiro que as muitas microrreformas já realizadas se revelaram ineficientes em relação aos fins almejados.