• Gilberto Simões Pires
  • 03 Agosto 2014

 

Pela forma agressiva, e muitas vezes irada, com que a presidente Dilma-Neocomunista trata todos aqueles que -ESPECULAM- sobre o escancarado e incontestável (mau) desempenho que a economia brasileira vem apresentando, antes que o termo vire sinônimo de -COISA DO DIABO- nada melhor do que conhecer o seu real e correto significado.

  Como bem escreveu Stephen Kanitz, em 2009, a palavra tem sua origem na raiz indo-germânica -SPEC-, que significa OLHAR. Especulador, portanto, é aquele que enxerga antes; aquele que enxerga aquilo que os outros não veem.

  Toda sociedade, completa Kanitz o seu raciocínio, necessita de especuladores, pessoas que enxergam na frente (antes) e mostram o caminho. Deveríamos venerar nossos especuladores, e não vilipendiá-los como fazemos costumeiramente.

  A rigor, a presidente Dilma-Neocomunista, pela maneira como reage aos ESPECULADORES que não acreditam no sucesso da Matriz Econômica-Petista, se comporta também como uma ESPECULADORA. Só que no sentido contrário.

Até agora, no entanto, pelo desempenho pífio da nossa economia, aqueles que previram o fracasso estão ganhando de goleada.

  Ora, não é necessário estudar muito a situação para entender que a visão dos -ESPECULADORES- que estão deixando Dilma Neocomunista irada e de cabelo em pé. Os indicadores que medem o desempenho da indústria, do comércio, da inflação, dos preços administrados, dos resultados colhidos pelos países que, assim como o Brasil, defendem a Matriz Econômica Bolivariana, por exemplo, falam por si.

  A rigor, como se vê, a admissão desse retumbante fracasso nem deveria ser considerada como -ESPECULAÇÃO_. Mesmo porque, tudo aquilo que, provadamente, nunca deu certo em lugar algum deste mundo, por óbvio que teria como não dar certo aqui. O fracasso, pois, já estava cantado.

  Vejam, por exemplo, somente três notícias divulgadas hoje:

1- A produção industrial recuou 6,9% em junho ante o mesmo período de 2013, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE. Foi a queda mais significativa nesses termos de comparação desde setembro de 2009, quando houve declínio de 7,4%.
2- A piora nas contas públicas registrada nos últimos dois meses torna mais -difícil- o cumprimento da meta fiscal para esse ano, segundo informa o Banco Central.
3- O setor público consolidado - governos federal, estaduais e municipais e empresas estatais- registrou pelo segundo mês seguido déficit primário. Em junho, o déficit primário chegou a R$ 2,1 bilhões. Em maio, o déficit ficou em R$ 11,046 bilhões. Essa foi a primeira vez na série histórica do Banco Central (BC) que foi registrado déficit primário no mês de junho. A série histórica tem início em dezembro de 2001. Com esses resultados, no primeiro semestre o superávit primário ficou em R$ 29,380 bilhões, contra R$ 52,158 bilhões registrados em igual período de 2013.

www.pontocritico.com
 

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  • Dagoberto Lima Godoy
  • 02 Agosto 2014

 

Os gaúchos conheceram bem o engodo do Orçamento Participativo, promovido por Tarso Genro, em Porto Alegre, com sucesso internacional de marketing. Sobre o que de fato significou o OP do PT, disse com precisão o Professor Giusti:”um mecanismo paralelo, extralegal, de manipulação e mobilização de massa”. Depois, vimos manobra semelhante quando Genro, já governador, instalou o seu “Conselhão”, destinado, segundo ele, a uma “concertação” política que visaria a “identificar os temas estruturantes de um novo contrato social e [...] buscar posições [...] hegemônicas na sociedade [...] para transitarmos [...] para uma sociedade [...] radicalmente democrática”. Não ficamos sabendo em que consistiria dito “novo contrato social”, mas as pretensões hegemônicas do PT são gritantes.
Então, os gaúchos não se terão surpreendido com o Decreto 8.243, da presidente Dilma, publicado em 26 de maio passado, que foi interpretado por expoentes da mídia como “um conjunto de barbaridades jurídicas”, ou “a instalação da ditadura petista por decreto”. Para o jurista Ives Gandra Martins,para citar um exemplo respeitável, trata-se de um decreto ditatorial, bem na linha de um governo bolivariano, que tenta "alijar o Congresso".

Não está fácil exaltar as virtudes do poder legislativo, tantos e tão graves têm sido os escândalos envolvendo deputados e senadores. Mas, vamos convir que a democracia representativa ainda é menos ruim do que o “novo contrato social”, que se delineia no decreto da presidente.Aliás, muitos identificam a imagem tão desgastada do Congresso e dos políticos como resultado, em boa parte, da estratégia de desmoralização das instituições democráticas, na linha revolucionária pregada pelo famoso filósofo comunista Antonio Gramsci.

Quem tenha dúvidas, leia (ou releia) o famigerado decreto. Verá que, na prática, ele transforma a sociedade civil num amontoado de “coletivos, movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações”, subvalorizando o cidadão; eobriga órgãos da administração direta e indireta a nada fazer sem a participação dos “mecanismos de participação social”, isto é, conselhos e comissões de políticas públicas, conferências nacionais, ouvidorias federais, mesas de diálogo, fóruns interconselhos, audiências e consultas públicas, e ambientes virtuais de participação social! É preciso mais?

* Cidadão brasileiro.
 

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  • Alfredo Marcolin Peringer
  • 01 Agosto 2014

 

Em 1991, na bem sucedida campanha eleitoral americana de Bill Clinton contra George H. W. Bush, então presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição, o seu estrategista, James Carville, apresentou três temas centrais de cunho político mercadológico para o seu pessoal trabalhar: a) mudança versus mais do mesmo; b) não se esqueça do sistema de saúde; e c) é a economia, idiota.

Na época, o prestígio do presidente Bush dentro da sociedade americana era alto. Havia ganhado a Guerra do Golfo, libertado o Kuweit e os Emirados Árabes Unidos da invasão iraquiana e feito isso num curto período de tempo (02/08/1990 a 28/02/1991) e com baixa mortalidade de soldados americanos.
Não havia maneira de a sua organização política, o Partido Republicano, deixar de indicá-lo para concorrer à presidência dos Estados Unidos, fato que ocorreu inclusive com entusiasmo, na pressuposição, é claro, de que carregaria o seu prestígio às urnas, vencendo o pleito.

Ledo engano! Tinha a uma pedra no meio do caminho. A recessão, que iniciou no terceiro trimestre de 1990, avançou no ano de 1991, início da campanha, abalando sobremaneira a confiança dos americanos, principalmente nos seus governantes. Nem poderia ser diferente: as estatísticas do Ministério do Trabalho mostravam cerca de 1,6 milhão de trabalhadores desempregados no país.

Carville, um excelente estrategista, soube aproveitar politicamente a queda da atividade produtiva americana. Deixou de lado as demais táticas mercadológicas, passando a trabalhar apenas com o bordão “it’s the economy, stupid”, forma que sintetizava muito bem a depressiva situação econômica do país. 

Embora fosse uma estratégia para o consumo interno do seu grupo de trabalho, o lema caiu no gosto da população, ganhando logo um lugar nos anais da história político-eleitoral americana, sendo usado até hoje por mercadologistas mundo afora, principalmente em países às voltas com problemas de desemprego e inflação, comum hoje em diversas partes do mundo.

* Economista
 

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  • Carlos I.S. Azambuja
  • 30 Julho 2014

O italiano Antonio Gramsci, um dos fundadores do Partido Comunista Italiano, foi o primeiro teórico marxista a compreender que a revolução na Europa Ocidental teria que se desviar muito do rumo seguido pelos bolcheviques russos. Nesse sentido, ofereceu um novo “Que Fazer” ao Ocidente desenvolvido. Aquilo que ele chamou de “sociedade civil” – rede de instituições educativas, religiosas e culturais que disseminam modos de pensar – era, na Rússia, incapaz de fornecer uma doutrinação moral e intelectual de caráter unitário, uma vez que o Estado czarista fundamentava-se na ignorância, na apatia e na repressão, e não no consentimento voluntário dos súditos. Na ausência de uma articulação complexa da “sociedade civil” em condições de absorver a insatisfação, a única defesa da velha ordem era constituída pelo aparelho do Estado, que Gramsci denomina de “sociedade política”. O conjunto difuso da “sociedade civil”, que propaga a ideologia da classe dominante, não existia na Rússia.

Segundo Gramsci, o objetivo da batalha pela mudança é conquistar, um após outro, todos os instrumentos de difusão ideológica (escolas, universidades, editoras, meios de comunicação social e sindicatos), uma vez que os principais confrontos ocorrem na esfera cultural e não nas fábricas, nas ruas ou nos quartéis.

Dessa forma, Gramsci abandonou a generalizada tese marxista de uma crise catastrófica que permitiria, como um relâmpago, uma bem sucedida intervenção de uma vanguarda revolucionária organizada. Ou seja, uma intervenção do Partido. Para ele, nem a mais severa recessão do capitalismo levaria à revolução, como não a induziria nenhuma crise econômica, a menos que, antes, tenha havido uma preparação ideológica.

Segundo a linguagem colorida de Gramsci, o proletariado precisa transformar-se em força cultural e política dirigente dentro de um sistema de alianças, antes de atrever-se a atacar o poder do Estado-burguês. E o Partido deve adaptar sua tática a esses preceitos, sem receio de parecer que não é revolucionário.

Lênin sustentava que a revolução deveria começar pela tomada do Estado para, a partir daí, transformar a sociedade. Gramsci inverteu esses termos: a revolução deveria começar pela transformação da sociedade, privando a classe dominante da direção da “sociedade civil” e, só então, atacar o poder do Estado. Sem essa prévia “revolução do espírito”, toda e qualquer vitória comunista seria efêmera.

Para tanto, Gramsci definiu a sociedade como “um complexo sistema de relações ideais e culturais” onde a batalha deveria ser travada no plano das idéias religiosas, filosóficas, científicas, artísticas, etc. Por essa razão, a caminhada ao socialismo proposta por Gramsci não passava pelos proletários de Marx e Lênin e nem pelos camponeses de Mao-Tsetung, e sim pelos intelectuais, pela classe média, pelos estudantes, pela cultura, pela educação e pelo efeito multiplicador dos meios de comunicação social, buscando, através de métodos persuasivos, sugestivos ou compulsivos, mudar a mentalidade, desvinculando-a do sistema de valores tradicionais, para implantar os valores ateus e materialistas.

O comunismo de Gramsci é a “versão ocidental” do comunismo, e ao proclamar o diálogo e aceitar o debate, próprios dos sistemas verdadeiramente democráticos, trabalha sobre todas as formas de expressão cultural, atuando sob a cobertura do pluralismo, com a contribuição de todos aqueles que por compartilhar a ideologia marxista, por snobismo, por conveniência ou por negligência, se somam voluntária ou involuntariamente a essa nova expressão do “frentismo”, chamando “fascistas” ou “retrógados” aqueles que se opõem a essa forma de pensar e atuar.

Nessa confusão de idéias, chega-se a substituir a contradição hegeliana de“burguês – proletário” (tese e antítese) pela de “fascista – antifascista”. O inimigo não é o patrão e sim o fascista. Assim surge o mito do fascismo, que nada tem a ver com o fascismo histórico, sem dúvida questionável.

Quem quer que defenda os valores tradicionais da cultural ocidental é tachado de “fascista” e considerado genericamente como “um mal”. O grande erro dos comunistas, segundo Gramsci, foi o de crer que o Estado se reduz a um simples aparato político. Na verdade, o Estado atua não apenas com a ajuda do seu aparato político, como também por meio de uma ideologia que descansa em valores admitidos, que a maioria dos membros da sociedade têm como supostos. A referida ideologia engloba a cultura, as idéias, as tradições e até o sentido comum. Em todos esses campos atua um poder no qual também se apóia o Estado: o poder cultural.

A necessidade de uma reforma intelectual e moral para lograr uma mudança de mentalidade nas sociedades ocidentais que foram constituídas por convicções, critérios, normas, crenças, pautas, segundo a concepção cristã da vida, é de suma importância para o triunfo da revolução mundial.

Porém, nesse propósito de formação de uma nova consciência proletária, o gramscismo encontra um obstáculo: a religião. De acordo com os estudos de Gramsci, a Igreja Católica, encarada como inimiga irreconciliável do comunismo, utiliza elementos fundamentais e comuns na sociedade, chegando a toda população, tanto urbana como rural. O catolicismo, segundo Gramsci, é uma doutrina geral simplificada a fim de ser entendida por todos. Analisando esse fato, Gramsci chegou à conclusão que uma das chaves da sobrevivência do catolicismo ao longo dos séculos foi o fato de que em seu seio conviveram harmonicamente humildes e elites, sentenciando que “a Igreja romana sempre foi a mais tenaz em impedir que oficialmente se formem duas religiões: a dos intelectuais e a das almas simples”.

Concluiu que é a Igreja Católica que inspira a formação desse sentido comum cristão e, por conseguinte, era preciso erradicá-lo mediante uma ação não violenta já que essa via seria repelida pelas sociedades ocidentais, onde influi e gravita o consenso e a vontade das maiorias. Gramsci afirmou que “os elementos principais do sentido comum são ministrados pelas religiões e, por isso, a relação entre o sentido comum e a religião é muito mais íntima do que a relação entre o sentido comum e os sistemas filosóficos dos intelectuais”. “Então - prossegue Gramsci – todo o movimento cultural que tenda a substituir o sentido comum e as velhas concepções do mundo deve repetir incansavelmente os próprios argumentos, variando suas ‘formas’”.

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  • Guilherme Socias Villela
  • 29 Julho 2014

“Não há nada mais terrível do que a ignorância ativa” – Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).

Há poucos anos, o talentoso e internacional fotógrafo brasileiro, Sebastião Salgado, intelectual de esquerda, observou, em entrevista, as grandes diferenças entre os desempenhos políticos das esquerdas europeias e brasileiras. Aquelas, disse, estão voltadas para questões atuais do mundo contemporâneo: direitos individuais, homossexualidade, aborto, uso de entorpecentes e meio ambiente. As esquerdas brasileiras, aduzia, estão voltadas para antigas concepções marxistas de raiz: aversão aos mais ricos, antipatia à nação norte-americana, a existência da luta de classes, e até mesmo à repulsão à classe média.

Ademais, segmentos das esquerdas brasileiras guiam-se pelas ideias do filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937) – as quais preconizam algo como: de vagar se vai ao longe. Ora, é possível dizer-se que suas obras, assim como as de Karl Marx (1818-1883) poucos leram. Os jovens que recentemente andaram protestando julgam-se anarquistas, mal sabendo que estão usando máscaras encanecidas pelo tempo – tais quais as concepções de Proudhon (1809-1865).

Ocorre que as esquerdas brasileiras vivem permanentemente uma obstinação ideológica, mesmo que tenha ocorrido a queda do mundo de Berlim e o desaparecimento do sistema comunista do Leste europeu – restando apenas dois países pobres que se dizem comunistas. Ademais, elas têm mostrado alguma disposição favorável em relação a bandidos e a malfeitores – como se a Nação brasileira tivesse renunciado arraigados princípios morais. Ademais, lástima que tenham repulsão ao livre empreendedorismo e à meritocracia. Alguns, por sua vez, tem se associado aos movimentos ambientalistas. (Aí surge uma curiosa questão relativa aos ambientalistas que, em regra, têm se mostrado esquerdistas. Ora, numa observação de lógica caricatural, deveriam defender o capitalismo porquanto, segundo eles mesmos, é nele que impera a “lei das selvas”.) 

* Economista, vereador (PP) e ex-prefeito de Porto Alegre

 


 

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  • Olavo de Carvalho
  • 29 Julho 2014

Aceita ainda no Brasil como dogma inquestionável, a visão popular da Guerra Fria como uma luta sorrateira e implacável entre duas potências que se odiavam pode hoje ser atirada à lata de lixo como um estereótipo enganoso, história da carochinha inventada para dar aos cérebros preguiçosos a ilusão de que entendiam o que se passava.

Nos últimos decênios, tantos foram os fatos trazidos à luz pela decifração dos códigos Venona (comunicações em código entre a embaixada da URSS em Washington e o governo de Moscou) e pela pletora de documentos desencavados dos arquivos soviéticos, que praticamente nada da opinião chique dominante na época permanece de pé.

Na verdade, a ocupação principal do governo e da mídia soviéticos naquele período foi mentir contra os EUA, enquanto seus equivalentes americanos se dedicavam, com igual empenho, a mentir a favor da URSS. Não só mentir: acobertar seus crimes, proteger seus agentes, favorecer seus interesses acima dos de nações amigas e, não raro, da própria nação americana.

Em lugar do equilíbrio de forças que, secundado ou não por um obsceno equivalentismo moral, ainda aparece na mídia vulgar e nas Wikipédias da vida como retrato histórico fiel, o que se vê hoje é que o conflito EUA-URSS foi aquilo que mais tarde se chamaria “guerra assimétrica”, em que um lado combate o outro e o outro combate a si mesmo.

Não que não houvesse, da parte americana, um decidido e vigoroso anticomunismo, disposto a tudo para deter o avanço soviético na Europa, na Ásia, na África e na América Latina. Tantas foram as personalidades que se destacaram nesse combate – jornalistas, escritores, artistas, políticos, militares, agentes dos serviços de inteligência --, e tão gigantescos foram os seus esforços, que daí deriva o que possa haver de legítimo na visão dos EUA como o inimigo por excelência do movimento comunista. Basta citar os nomes de George S. Patton, Douglas MacArthur, Robert Taft, Whittaker Chambers, Joseph McCarthy, Eugene Lyons, Sidney Hook, Fulton Sheen, Edgar J. Hoover, James Jesus Angleton, Robert Conquest, Barry Goldwater, para entender por que o anticomunismo se projetou como uma imagem típica da América, não só no exterior como perante os próprios americanos.

Porém, examinado caso por caso, o que se verifica é que em cada um deles a força inspiradora foi a iniciativa pessoal e não uma política de governo; e que, praticamente sem exceção, todos os que se destacaram nessa luta foram boicotados, manietados pelas autoridades de Washington (mesmo quando eles próprios faziam parte do governo) e achincalhados pela mídia, pelo sistema de ensino e peloshow business, em vida ou pelo menos postumamente. Não raro, sabotados e perseguidos pelos seus próprios pares republicanos e conservadores, temerosos de parecer mais anticomunistas do que o anti-anticomunismo vigente no mundo chique permitia.

Em suma: enquanto a sociedade americana fervilhava de anticomunismo, a política oficial, de Roosevelt em diante, e com a exceção notável da gestão Ronald Reagan, foi sistematicamente a do colaboracionismo nem sempre bem disfarçado.

O que explica isso é que os agentes soviéticos infiltrados no governo e na grande mídia não eram cinqüenta e poucos, como pensava o infeliz Joe McCarthy, o qual pagou por esse cálculo modestíssimo o preço de tornar-se o senador americano mais odiado de todos os tempos. Eram – sabe-se hoje – mais de mil, muitos deles colocados em postos elevados da hierarquia, onde às vezes fizeram muito mais do que “influenciar”: chegaram a determinar o curso da política externa americana, sempre, é claro, num sentido favorável à URSS. O exemplo mais clássico foi a deterioração das relações entre EUA e Japão, que culminou no ataque a Pearl Harbor – um plano engenhosíssimo concebido em Moscou para livrar a URSS do perigo de uma guerra em duas frentes, jogando contra os americanos a fúria nipônica mediante um jogo bem articulado entre a “Orquestra Vermelha” de Richard Sorge em Tóquio e o conselheiro presidencial Harry Hopkins em Washington.

Mas os capítulos da saga colaboracionista se acumulam numa profusão alucinante até a gestão Clinton, quando o estímulo governamental a investimentos maciços na China fez de um país falido uma potência inimiga ameaçadora.

Não creio que essa história – talvez a mais bem documentada do séc. XX -- tenha sido jamais contada no Brasil. Mesmo nos EUA ela circula apenas entre intelectuais e historiadores de ofício, enquanto o povão ainda segue a lenda oficial. É uma história demasiado vasta e complexa para que eu pretenda resumi-la aqui. O que posso fazer é sugerir alguns livros que darão ao leitor uma visão do estado das pesquisas hoje em dia:

Diana West, American Betrayal. The Secret Assault on Our Nation’s Character (St. Martin’s, 2013).

Herbert Rommerstein and Eric Breindel, The Venona Secrets. Exposing Soviet Espionage and America’s Traitors (Regnery, 2000).

John Earl Haynes and Harvey Klehr, Venona. Decoding Soviet Espionage in America (Yale University Press, 1999).

Allen Weinstein and Alexander Vassiliev, The Haunted Wood. Soviet Espionage in America. The Stalin Era (Random House, 1999).

Paul Kengor, Dupes. How America’s Adversaries Have Manipulated Progressives for a Century (ISI Books, 2010).

Arthur Hermann, Joseph McCarthy. Reexamining the Life and Legacy of America’s Most Hated Senator (Free Press, 2000).

M. Stanton Evans, Blacklisted by History. The Untold Story of Senator Joe McCarthy (Crown Forum, 2007).

Robert K. Willcox, Target: Patton. The Plot to Assassinate General George S. Patton (Regnery, 2008).
 

http://olavodecarvalho.org
 

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