EM SEIS ANOS, ROMBO QUASE QUADRUPLICA

Geralda Doca, em O Globo


Os governadores que serão eleitos em outubro encontrarão, no ano que vem, uma verdadeira bomba-relógio: o crescimento acelerado do rombo dos regimes próprios de previdência dos estados. Em 2017, o déficit com o pagamento de aposentadorias e pensões nos estados superou R$ 93 bilhões, segundo dados preliminares da Secretaria de Previdência obtidos pelo GLOBO. Em 2011, essa diferença entre as contribuições dos servidores e os pagamentos era de R$ 24,6 bilhões. Ou seja, o buraco do sistema quase quadruplicou em seis anos ejá supera a soma dos gastos dos governos estaduais tanto com saúde (R$ 90,3 bilhões) como com segurança (R$ 73,4 bilhões) em 2017. O montante se aproxima de quase todo o investimento feito pelos estados em educação no ano passado: cerca de R$ 108 bilhões. Essa foi a primeira vez que o rombo superou as despesas estaduais com saúde.

Em seis anos, a despesa total dos estados com aposentadorias e pensões subiu 143%, de R$ 67,2 bilhões para R$ 163,6 bilhões. No período, a inflação foi de 53,8%.

Já a receita com as contribuições previdenciárias dos servidores e a parte patronal (do estado) cresceu menos, 64%, ampliando a defasagem. Passou de R$ 42,6 bilhões em 2011 para R$ 70 bilhões no ano passado.

Sem conseguir fechar a conta, os governadores são obrigados a completar o que falta para pagar os benefícios. Mas, com dificuldades financeiras, agravadas pela crise na economia, muitos passaram a atrasar o pagamento de servidores ativos, aposentados e pensionistas.

A situação é mais grave em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

O economista Fábio Giambiagi alerta que os novos governadores não escaparão de dificuldades financeiras, porque as despesas com previdência estão comprometendo parcelas crescentes dos orçamentos, reduzindo o espaço para o investimento em obras e serviços públicos:
—A situação é grave de modo geral. Em quase todos os casos, as despesas são maiores que as contribuições, o orçamento é contaminado pelas necessidades crescentes da previdência, e a perspectiva é que o fluxo de aposentadoria continue crescendo.

PAGAMENTOS PARCELADOS
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o rombo do regime de previdência em 2017, de R$ 10,5 bilhões, é três vezes maior que o gasto do estado com saúde e quase o dobro da despesa com segurança pública. O cenário de falta dedinhe ir oparam anterosp agamentos já chegou ao estado. Os 320 mil servidores ativos e inativos do estado estão recebendo salários e benefícios de forma parcelada desde 2016. Realidade parecida com a de Minas Gerais e do Rio, que deixou parte de seus aposentados sem receber por três meses seguidos em 2017.

No Rio Grande do Norte, onde o quadro também é grave, ativos e inativos não receberam o 13º salário de 2017 até hoje. Os pagamentos mensais são parcelados desde o ano passado, disse o presidente do fundo de previdência, José Marlúcio Paiva. O rombo do sistema potiguar em 2017 foi de cerca de R$ 1,5 bilhão. Em Goiás, esse déficit supera R$ 2 bilhões, o que equivale a quase duas vezes as receitas mensais do estado. O pagamento da folha também é escalonado.

O secretário de Previdência do governo federal, Marcelo Caetano, explica que o crescimento dos gastos dos estados com aposentadorias é acelerado porque há grande contingente de servidores nas áreas de educação e segurança. Professores e policiais contam com aposentadorias especiais e podem requerer os benefícios mais cedo. Pesam ainda nessa conta as altas aposentadorias de servidores do Judiciário estadual, como juízes e membros do Ministério Público.
 

  • 13 Agosto 2018

OS  REIS DO CAMAROTE
Percival Puggina

 

Em sua página do Facebook, o amigo Dr. Leonardo Faccioni escreve sobre a invasão de competência do STF quando se propõe a deliberar sobre a constitucionalidade dos dispositivos do Código Penal que se referem ao crime de aborto. 

Diz ele:

"Esse truque retórico - "o Congresso não decide, então nós, ministros plenipotenciários [e nós, jornalistas que os pautamos] temos de decidir" - realmente me encanta.

Observem como ele não deixa alternativas aos representantes populares: o fato de haver uma lei vigente, e de o Parlamento sustentar sua vigência dia após dia, é tratado como cenário de indecisão, que clama por intervenção.

A intervenção não se pauta, porém, por uma investigação daquilo que o Parlamento deliberaria, mas de pressupostos que se afirmarão racionalmente inescapáveis e universalmente oponíveis.

Logo, se o Parlamento colocasse em pauta um tal projeto a respeito, estaria obrigado a decidir tal como decidirá o interventor.

A rigor, portanto, o Parlamento não só não é soberano, como se apresenta inteiramente supérfluo: a competência requerida está, inteira e desde o princípio, nas mãos do interventor.

Forçoso concluir que, ao legislar, é o Parlamento quem usurpa funções da Suprema Corte [e da sala de redação] ao - que ousadia! - não perguntar aos ministros [e, por tabela, aos jornalistas] o que, quando e como deve votar.

Você, eleitor dos membros do Parlamento, não esqueça de perguntar à representante local das Organizações Globo sobre a melhor nominata de candidatos, antes de dirigir-se às urnas em outubro. Quem não a acompanhar terá o voto declarado nulo, e um aspone votará em seu lugar.

Quem mandou você não decidir?"

 

COMENTO

 

Acabaram de disparar o gatilho que vai jorrar em cascata mais 16% nos próprios contracheques, nos de dezenas de milhares de membros das carreiras jurídicas do país e nos de todos os servidores públicos cuja remuneração esteja contida por esse teto. Gastos bilionários para nossa conta.

É fácil entender que se sintam como reis do camarote, sem dar bola para a chinelagem periférica, aí incluídas as Casas do outro lado da praça. Reinar no camarote implica um estado de espírito.

   

  • 09 Agosto 2018

RENOVAÇÃO POLÍTICA COM FINANCIAMENTO PÚBLICO?


Percival Puggina

 

Em artigo publicado em Zero Hora de hoje (08/08), o presidente regional da OAB, Ricardo Breier, faz um justificado apelo ao senso de responsabilidade dos eleitores. O autor do texto está preocupado com a necessidade de qualificar o futuro Congresso Nacional e expressa justificada convicção de que será baixíssimo o índice de renovação das duas Casas. Muitos delinquentes da política preservarão os mandatos em cujo desempenho fizeram tanto bem a si mesmos e tanto mal ao país.


Tem razão o digno presidente da OAB/RS. Em eleições anteriores, a renovação nas legislaturas andou na casa dos 40%, ainda que boa parte dela se fizesse preservando a homogeneidade dentro dos mesmos quadros políticos formados por familiares, antecessores ou sucessores naturais. Para a eleição de outubro vindouro está prevista uma renovação efetiva não superior a 20%.


Ficou esquecido no artigo do presidente da Ordem, contudo, o fato gerador dessa baixa renovação: a ADI 4650, proposta pela própria OAB, que levou ao fim do financiamento de pessoas jurídicas às campanhas eleitorais e a consequente adoção do financiamento público. Essa iniciativa, anunciando a simpática intenção de impedir a influência dos interesses empresariais na eleição, acabou por concentrar os recursos públicos das campanhas eleitorais nas mãos de dirigentes partidários que, em muitos casos, são líderes de organizações criminosas e cuidaram de reter entre os atuais congressistas a maior parte desse dinheiro.  Com isso, o dinheiro do povo estará sendo usado para que a vontade desse mesmo povo não se cumpra. Com isso, também, deixou-se ao relento dos recursos os candidatos novos, aqueles que, chamados pelo desejo de substituição das lideranças políticas, são, pela primeira vez, postulantes de um mandato parlamentar.


O mais grave disso está no fato de que em nosso país, os males institucionais vêm para ficar. Toda mudança da regra do jogo exige a aprovação de quem dela se beneficiou. E a mobilização pelo financiamento público das campanhas presenteou as lideranças corruptas do Congresso Nacional com o uso prioritário do nosso dinheiro para custeio de suas reeleições. Pelo resto da vida.
  

  • 08 Agosto 2018

SABATINA DE CIRO GOMES NA GLOBONEWS


Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico

Assisti, ontem à noite, na Globonews, o programa -Central das Eleições 2018-, que teve como sabatinado da vez o presidenciável Ciro Gomes, do PDT.


BOM TEMPO PARA DAR O RECADO
Como o programa tem duração de duas horas, o tempo é mais do que suficiente para que o candidato dê o seu recado, na tentativa de mostrar aos eleitores que tem um bom plano de governabilidade, do tipo que consiga tirar o nosso empobrecido Brasil da encrenca em que está metido.


ARROGÂNCIA
Pois, sem a mínima surpresa, Ciro Gomes demonstrou, de A a Z, que tem -bala na agulha- suficiente para colocar o Brasil numa situação ainda mais desesperadora. Além de dotado de uma incomparável ARROGÂNCIA, Ciro é do tipo que acredita que basta repetir os ERROS para que tudo se resolva. Pode?


A MAIOR DESPESA NÃO ESTÁ NA FOLHA
Num determinado ponto da sabatina, Ciro disse que a maior DESPESA PÚBLICA não está na FOLHA DE PAGAMENTO (que reúne ATIVOS e, principalmente, INATIVOS (aposentados pelo INSS, ou brasileiros de SEGUNDA CLASSE, e funcionários públicos aposentados, ou privilegiados brasileiros de PRIMERA CLASSE)). Que tal?


JUROS
Sem pestanejar e sem ser minimamente contestado por nenhum dos nove profissionais da emissora que o sabatinaram, CIRO SABE-TUDO afirmou, alto e bom tom que a maior DESPESA PÚBLICA DO PAÍS está nos JUROS DA DÍVIDA PÚBLICA.


CARA PERIGOSO

Como se vê, Ciro usou da esperteza para confundir, e calar, seus entrevistadores, que mal conseguem distinguir o que é CAUSA e o que, efetivamente, é CONSEQUÊNCIA. Ora, quem já foi ministro da Fazenda, como o tipo gosta de repetir, deveria saber que o crescimento do ENDIVIDAMENTO PÚBLICO se deu, e se dá, principalmente, para poder atender às crescentes e nojentas DESPESAS DE PESSOAL. O cara é perigoso!

 

  • 03 Agosto 2018

 

ABORTO NA ARGENTINA E FAKE ANALYSIS NO BRASIL
 

Percival Puggina

 

Ainda agora (hoje é segunda-feira, 30 de julho) tive nova evidência de fake analysis na Globo News. O programa Estúdio I tratava da decisão sobre aborto a ser tomada pelo Senado argentino. No breve fragmento a que assisti, o jornalista Marcelo Lins soltou esta pérola: “A rigor, ninguém é a favor do aborto; o que as pessoas são é contra a criminalização”.


Perceberam o gambito analítico? Num único lance, armado para distrair idiotas, o jornalista fez desaparecer abortistas nem aborteiros, não há mais meu corpo minhas regras, não há mais “direitos” da mulher. E principalmente não há mais bilhões de dólares distribuídos mundo afora, inclusive no Brasil, para programas de “saúde reprodutiva”. Não são criativos?


Por que nunca – mas nunca mesmo! – entram em pauta essas gigantescas fontes de financiamento internacional para clínicas de aborto, medicação abortiva e produção do equipamento Manual Vacum Aspiration? Quer dizer que a Fundação Rockfeller não gasta, no Brasil, US$ 25 milhões por ano em estudos demográficos que outra coisa não são que a moldura do quadro para adoção do aborto em larga escala? E quer dizer que Goerge Soros gasta um pouco mais do que isso não por ser a favor do aborto, mas para que ele seja descriminalizado? Me poupem!
  

  • 30 Julho 2018

CÁRMEN LÚCIA, VÍTIMA DE UMA CORTESIA


Percival Puggina

 

 É comum que, ao se afastar provisoriamente do cargo, o governante deixe algumas atribuições rotineiras para serem executadas pelo substituto. Trata-se de uma gentileza, para que o fulano ou fulana sinta-se útil e não passe seu tempo “in office” olhando para o teto e tomando cafezinho. Penso que assim deva ser compreendida a absurda assinatura da ministra presidente do STF, Cármen Lúcia, substituindo Temer, ao decreto que obriga empresas a serviço da administração pública a admitirem presos e ex-presidiários para execução dos serviços contratados.

 Ao burocrata que preparou a pilha de atos a serem assinados por ela deve ter parecido adequado que um decreto tratando de trabalho para presos fosse oficializado com o autógrafo de uma autoridade oriunda do Poder Judiciário. Pode ser mera suposição, mas suspeito que a ministra tenha sido vítima de uma cortesia. Você sabe a força do tudo pelo social, certo?

 No entanto, que decreto mais equivocado e típico da conduta do Estado brasileiro em relação à sociedade! É claro que presos devem trabalhar. É óbvio que esse trabalho deveria ser facultado nos estabelecimentos penais e não ser facultativo, para que o preso contribua com seu custeio e o encarceramento não constitua um agravo adicional à sociedade que já foi vítima do crime que ele praticou. Mas não, nossos estabelecimentos penais não dispõem de oficinas. As parcerias público-privadas (PPPs) que poderiam viabilizar a multiplicação dos estabelecimentos penais, acabar com o ócio criminoso dos presídios e com o empilhamento de encarcerados, sofrem severa resistência dos defensores de direitos humanos. É como se um presídio moderno, transformado em local de trabalho e estudo, fosse tornar pior o que hoje estamos proporcionando aos presos brasileiros.

Então, a burocracia – Eureca! – recorre à solução clássica: empurra o problema para a iniciativa privada. O poder público não faz presídios, não proporciona locais de trabalho, não firma PPPs. Que a empresa abrace, pois, a tarefa, de modo coercitivo, e assuma riscos adicionais que não existiriam se a atividade laboral fosse prestada dentro da prisão. Vejam o disparate: os presos trabalham se quiserem, mas as empresas contratadas pelo setor público são obrigadas a lhes disponibilizar vagas que faltam aos mais honestos chefes de família! Não acredito que dona Cármen Lúcia fosse conceber uma besteira dessas.

Enfim, esse é apenas mais um sintoma do mal comum: o Brasil se tornou um país onde a sociedade – até para isso! – serve ao establishment, ou à parceria político-burocrática, sem possibilidade de reversão, ou mesmo de algum vice-versa.

 

  • 26 Julho 2018