• Percival Puggina
  • 13/09/2024
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Bomba-relógio com caneta e chefe de gabinete

 

Percival Puggina

         No Brasil, quando se diz que alguém é dotado de espírito público, o que se está afirmando, comumente, é que essa pessoa tem sensibilidade para os reclamos da opinião pública. No exercício do poder, fará o que o povo quer. Eis aí o nascedouro de problemas que podem transformar tão sensitivo cidadão num perigo à solta, numa bomba-relógio com caneta e chefe de gabinete. Os motivos são vários, mas destaco dois.

O primeiro diz respeito à enorme diversidade contida no conceito de “povo”. Embora seja designado por uma palavra no singular, o povo é absolutamente plural em tudo, inclusive em aspirações e carências. Portanto, sendo sensível aos reclamos do povo, o tal cidadão, se dotado de espírito público à moda da terra, pode estar ouvindo e atendendo demandas excessivas e quase sempre contraditórias entre si e com o interesse público. É uma realidade pela qual já passamos inúmeras vezes na história. Além de arrasar o país sob o ponto de vista financeiro, ainda deforma a nação sob o ponto de vista da cultura política.

O segundo ponto, diz respeito às consequências. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) nasceu no ano 2000 para conter os malefícios desse tipo de “espírito público”, que outra coisa não é que gestão irresponsável dos recursos alheios, muito frequente nas esferas de Estado ou onde o dinheiro não é de quem gasta. Se dinheiro na mão é vendaval, dinheiro sem dono é furacão. O PT se opôs à LRF, mandou-a às favas quando chegou ao poder (2003) e encontrou admiradores em número suficiente para lhe garantir três reeleições sucessivas. Até que a inevitável consequência explodiu na vida de todos. A gastança gera uma conta amarga, a ser paga no curto, no médio e no longo prazo.

No curto prazo, os impostos sobem, no médio prazo a inflação se eleva e, no longo prazo o endividamento compromete as gerações futuras. Foi assim que Lula começou a quebrar o Brasil e que Dilma achou possível continuar governando. Lembre-se de que quando não tinha mais de onde tirar dinheiro, ela começou a distribuir, em concorridas solenidades, até o que ainda não existia – os royalties do pré-sal. Tudo seria canalizado para a Educação e para a Saúde. As duas áreas vivem as carências que se conhece e sequer cabe alegar boas intenções.

Sob o ponto de vista da cultura política, esse conceito de “espírito público” estabelece, na sociedade, de modo extensivo, uma dependência em relação ao Estado, convertido no mais cobiçado empregador e no almoxarifado provedor compulsório de todas as necessidades. Pelo viés oposto, o verdadeiro espírito público, onde o bem está disponível entre as possibilidades, sabe escolher o bem maior; onde o bem não estiver disponível, escolherá o mal menor.

O verdadeiro espírito público é animado por um senso real de justiça e por um sentido de história. Distingue direito de privilégio. Sabe elencar prioridades. Pessoas assim são estadistas e não demagogos vulgares, rastaqueras, como é grande parte de nossos políticos animados por esse falso “espírito público”, tão ao gosto dos formadores de opinião e do eleitorado brasileiro.

De volta ao poder, o Lula investiu novamente contra a LRF, criou o tal “Arcabouço fiscal” para repetir a dose, gastar mais do que pode e desencadear as forças destrutivas dessas bombas de efeito retardado.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 


marisa van de putte -   13/09/2024 12:31:35

Gosto muito de seus artigos, e quando os leio posso entender melhor o que tem acontecido aqui nos Estados Unidos. Imagino que estejam acompanhando os absurdos com a campanha presidencial. Resumindo, anoitecemos com um "presidente presidenciavel" dando sinais de incapacidade mental e amanhecemos com uma presidenciavel, sem experiencia , feita a machado. Como dizem sempre: This is America." Os democratas debocham, a midia e Holywood aplaudem. A falta de vergonha tomou conta do pais.

Juan Albornoz -   13/09/2024 12:21:03

Se foi o povo quem escolheu o esbanjador, então a culpa é do povo, mais se foi uma mão sinistra, essa sabe qual é o objetivo: quebrar o povo para tornálo dependente dos favores com dinheiro alheio e, quebrar o pais para que abdique da sua soberania e se submeta ao Amo do Mundo: "O Sistema". Esta receita está nos Protocolos de Toronto 666, disponíveis no Google desde o Século passado. Quem sabe ler que entenda. O povo não sabe ler e se sabe não entende. Viva o Paulo Freire; digo viva para que sofra os horrores da sua maldade. Nada a fazer, o tempo está a acabando, o único refúgio é a fe.

Rubilar José Bernardes -   13/09/2024 11:49:11

Lembrando do tal "Arcabouço Fiscal", que a imprensa amiga de desocupados exaltou em prosa e verso, alguém saberia dizer por onde anda o Min. da Fazenda do desgoverno atual?

DANUBIO EDON FRANCO -   13/09/2024 11:24:48

O que impressiona (será que impressiona mesmo?) não é o PT ter proposto isso, mas o bando de irresponsáveis que aprovaram o tal arcabouço fiscal. Na verdade, abriu-se a burra para os aproveitadores, como a dizer "eles levam e nós também". É impossível ter algum progresso com essa gente e com este governo em que o ministro da fazenda sustenta que aquele que, com seu trabalho progride e tem sucesso, deve ser grato ao país e, por isso, deve ser tributado. Está cada vez mais difícil este nosso Brasil. Ainda assim espero que os eleitores nas próximas eleições municipais, que se aproximam, lembrem-se de salvar suas comunidades, livrando-as deste câncer chamado PT.

DAGOBERTO LIMA GODOY -   13/09/2024 11:19:22

Ótima e bem-vinda análise. A mim parece que a bomba-relógio já explodiu.

Afonso Pires Faria -   13/09/2024 11:06:23

Perfeito como sempre. Infelizmente vivemos em um pais que sucumbiu a vida fácil e a mentira. Suas palavras atingem somente àqueles que delas não necessitam. É tudo verdade. Só que a verdade para nós é o nosso guia. Para os que precisam mudar, somente a mentira, a enganação e a narrativa surtem efeito e isso nós não somos capaz de ofertar para eles. "sic transit glória mundi".

MARIA DA GLÓRIA FRITSCH NUNES -   13/09/2024 10:50:26

Sim,ele precisa de dinheiro para pagar o CENTRÃO, que é maioria no Congresso e estes votar a favor de seus ideais monetários

Frederico Hagel -   13/09/2024 10:16:15

Muito instrutivo esse seu comentário. Fácil de ler e entender. Se divulgado amplamente poderia ajudar a derrubar o psicopata mentiroso e cínico alçado presidente.