Percival Puggina

17/10/2009
No Brasil, tudo que se abriga no amplo espaço da política vive tempos de agonia. Agonia para valer. Sofrimento terrível, diante do qual as pilhérias e ironias do presidente da República soam como piada em velório. Se dispuséssemos de monitores capazes de acompanhar os fatos numa perspectiva que levasse em conta a saúde do corpo político nacional, ou ? quem dera! ? se contássemos com uma mídia atenta ao que é importante, perceberíamos as faltas de ar, as convulsões e os desfalecimentos que a acometem. Foi assim no caso de Honduras. Com raras exceções, a relação do Brasil com o que se passava naquele pequeno país centro-americano foi objeto de análises de natureza geopolítica que peço licença para considerar desfocadas. O Brasil nada tem a ver com aquele peixe. Aliás, o Brasil não lidera um sabugo em qualquer dos cinco continentes. ?Que exagero é esse, seu Puggina? Lula é um figurão da política internacional e o senhor diz que ele não lidera coisa alguma?? indagará o leitor. Nem na América Latina, meu caro. Aqui no Brasil, Lula tem 80% de aprovação. Fora daqui responde por 80% das gargalhadas. Na América Latina, até onde a minha vista alcança, Chávez é o cara em todos governos esquerdistas na América Central, para os quais o Brasil é irrelevante. Os demais estão ligados ao México ou aos Estados Unidos. No Caribe, Cuba está com Chávez e o resto na órbita dos Estados Unidos ou da Europa. Diante de Chávez também se perfilam, na América Sul, nossos vizinhos da Bolívia, Equador e Paraguai. Sobrou o quê? Argentina, Uruguai e Chile. Você acredita que qualquer deles tolere liderança brasileira? Poupem-me, então, dessa arrogância caipira que mantém inimizade profunda com os fatos da vida e do mundo. Prefiro o Brasil low profile do Itamarati, respeitado por quem tem a cabeça em cima dos ombros e longe dos intestinos, a esse Brasil que entregou sua embaixada para o caubói hondurenho e seus asseclas. Vale a pena, então, nos fixarmos no que é realmente importante. Por que o Brasil se meteu na enrascada de Tegucigalpa? Como foi possível apertar o gatilho de um tiro que lhe saiu pela culatra, quando qualquer estagiária do Itamaraty seria mais prudente? Bem, para responder tal pergunta é preciso saber o que se passa nas cabeças que dirigem, hoje, aquilo que só por teimosia a imprensa insiste em chamar de ?diplomacia brasileira?. Nossas relações exteriores, digamos assim que fica melhor, são comandadas por militantes de um partido político. E correspondem à política desse partido. Com base nessa cartilha e segundo seus gostos e desgostos, despreza-se uma nobre tradição. Ela nasceu com a criação da Secretaria dos Negócios Estrangeiros em 1822 e se consolidou ao longo do último século como uma respeitabilíssima política de não-intervenção, mediação e solução pacífica de controvérsias. O que sempre foi uma política externa do Brasil, com Lula e os seus sumiu para dar lugar à política de uma facção partidária, cuja capacidade de conviver harmonicamente com a divergência sempre teve o vulto de um cromossomo. É a mesma cartilha e o mesmo alinhamento político, ideológico e partidário que leva Lula a sobrevoar Israel pelos quatro pontos cardeais, sem jamais pousar (apesar dos insistentes convites), e ir dar tapinhas nas costas de todos os ditadores e aiatolás que circundam aquele país. Por quê? Ora por quê! Você sabe por quê. Não se espante, então.

Percival Puggina

12/10/2009
A VERGONHA BRASILEIRA NÃO PODIA SER MAIOR 4 jornalistas foram expulsos da embaixada brasileira pela mulher de Zelaya. Entre eles, a brasileira Laubana Santana. Como se fosse a dona da casa, anteontem (sexta), a ex-primera-dama Xiomara Castro de Zelaya expulsou de nossa embaixada em Tegucigalpa quatro jornalistas: uma jornalista nicaragüense, um fotógrafo venezuelano da rede Telesur, um repórter hondurenho. E... o que causa ainda mais pasmo: uma correspondente brasileira foi expulsa da embaixada de seu próprio país, por uma estrangeira. Pela esposa de um ex-presidente que ali também se encontra alojado, ambos na condição de hóspedes, ao arrepio do Direito Internacional e da Constituição brasileira. (Por André F. Falleiro Garcia)

Percival Puggina

10/10/2009
A proposta abaixo está prosperando na opinião pública do Rio de Janeiro. Pode acabar virando lei federal. Já que tem Copa em 2014 e Olimpíadas em 2016, a gente bem que podia enforcar 2015.

Percival Puggina

10/10/2009
Muricy Ramalho, técnico do Palmeiras, deve dormir mascando chiclete. Faz isso o tempo todo. Quando fala, as palavras lhe saem mastigadas e o microfone capta o desagradável ruído das mandíbulas em operação. Mas por que estou falando em Muricy? Porque existem pessoas que em vez de mascarem chiclete, usam as palavras como se chicletes fossem, dando-lhes o jeito que melhor lhes convém. Mascam um falatório no qual os vocábulos mudam de sentido para iludir os incautos. É o caso dos invasores de terras. ?Invadir? Não, nós não invadimos, apenas ocupamos?, disse-me outro dia um defensor do MST. E é sempre assim. Juram que não fazem aquilo a que se dedicam em tempo integral. E quando a BM chega ainda a acusam de estar invadindo. O que o MST faz é coisa diferente? Vejamos. O que tornaria a ?ocupação? moralmente aceitável com vistas à Reforma Agrária e substancialmente distinta da reprovável invasão? A questão não é apenas semântica. Ela abriga conteúdos de conhecimento indispensável para que se tome a posição correta. Esclarecem-nos os ruminantes de vocábulos: invasão seria o ingresso em propriedade alheia para assumi-la como coisa própria (é claro que numa perspectiva legal e moral isso não pode ser aprovado). Ocupação, por seu turno, seria a presença em propriedade alheia para cobrar do governo o atendimento de demandas que se têm como justas. Mais ou menos o que os Estados Unidos fizeram no Iraque, mas sobre o que aconteceu lá o pessoal do MST diz que foi invasão, claro. Faz sentido? Não, não faz o menor sentido. E dado que os próprios autores da distinção entre os dois conceitos admitem que o tema tem implicações morais, não se pode, em relação a ele, fazer concessões. Exemplifiquemos. Um grupo de sem-teto ingressa na sua residência, leitor, e lhe determina que se retire. Você discute, reage, mas acaba no olho da rua. Estando fora, busca retornar, mas não lhe permitem. Você protesta: ?Com que direito invadem minha casa e dela me expulsam?? E o grupo responde: ?Perdão senhor, não estamos invadindo. Uma invasão seria moralmente inaceitável. O que estamos fazendo é ocupação, coisa legítima e bem diferente?. E assim, servem-se do conteúdo da sua geladeira, deitam-se na sua cama e fazem uso de seus bens. Se você não recorrer às autoridades, eles permanecerão. Ocupando. Se você apelar às autoridades e o Judiciário deferir sua reintegração de posse, rasgarão a ordem do juiz, que convocará a força pública. Neste caso, perante a ação policial, eles se retirarão, ou serão retirados, deixando o bem conhecido rastro de selvagem destruição. E na invasão? Na invasão é tudo do mesmo jeito, ora essa. E do mesmo mau jeito. No começo, no meio e no fim os eventos e os procedimentos serão idênticos. Não se maltrata desse modo o significado das palavras em matéria tão grave, a menos que se tomem os demais por idiotas. Enquanto escrevo este artigo, o MST encerrou o ataque terrorista a um laranjal em São Paulo no qual foram derrubados sete mil pés de laranjeiras. E, de lambuja, destruídos 28 tratores. As cenas do local lembram um terremoto em Sumatra. Arre! O que as lideranças do MST não percebem é que perderam, junto com o respeito da opinião pública, todas as perspectivas confessáveis do seu movimento. Ficaram apenas as inconfessáveis. ZERO HORA, 11/10/2009

Percival Puggina

10/10/2009
Afinal, o que terá passado na cabeça dos eleitores do Comitê Olímpico Internacional para que o Rio de Janeiro acabasse sede dos Jogos de 2016? Como conseguiu superar Chicago? Como é que ?o cara? daqui passou a perna no ?the guy? de lá? Até hoje tem gente que não entendeu a opção por uma cidade que, dois dias após a festa da indicação, já estava incendiando trens (e note-se: o vandalismo ocorrido na Baixada Fluminense não foi obra de bandidos aquartelados nos morros). Como entender, por fim, que centenas de milhares de visitantes sejam levados a um meio urbano onde os próprios brasileiros evitam ir porque lá se instalou um Estado paralelo, criminoso, comandado pelo tráfico de drogas? A vitória carioca, no entanto, foi absolutamente lógica. O placar das sucessivas votações de Copenhagen mostra que os eleitores de cada cidade eliminada numa votação fluíam para o Rio de Janeiro na rodada seguinte. Examinemos caso a caso. A capital nipônica já fora sede dos Jogos de 1964 e a candidatura aos de 2016, sem apoio da população, decorria de uma decisão pessoal do governador de Tóquio. A cidade, por isso, era carta fora do baralho. Quem olha o resultado de cada apuração verifica que Madrid empacou. Fez 28 votos na primeira, 29 na segunda e 32 na terceira, ao passo que o Rio de Janeiro fez 26 na primeira, 46 na segunda e 66 na terceira. Apesar do esforço de Zapatero e do rei, Madrid era outra carta fora do baralho por uma razão muito simples: os jogos de 2012 serão em Londres e outras capitais européias têm planos para concorrer aos jogos de 2020. Se já era difícil escolher consecutivamente duas sedes européias, a repetição de continente por três vezes seria impossível. ?Tudo bem, esquece Tóquio e Madrid. Mas e Chicago? Por que Chicago, que nos parecia a candidata mais forte, se estatelou na primeira rodada??, perguntará o leitor. Pois é. Chicago, dentre as quatro, era a carta mais fora do jogo. Pesavam contra ela as animosidades africanas, latino-americanas e islâmicas. E pesava, principalmente, o fato de ser uma candidatura municipal. Se realizados em Chicago, os preparativos estariam sob total responsabilidade do poder local e não do Estado de Illinois, ou dos Estados Unidos. O COI não gosta de lidar com simples prefeitos. Entendeu, leitor? Os Estados Unidos são uma federação para valer e não este arremedo que suportamos aqui. Lá, seria impensável uma cidade promover-se com recursos subtraídos de outros municípios ou de outros Estados. Tais absurdos, porém, compõem a cena cotidiana do murcho e flácido federalismo brasileiro. Num restaurante, jamais aceitaríamos pagar a conta do regabofe servido à mesa vizinha. Mas soltamos foguetes e nos rejubilamos com a escolha do Rio, desatentos para o fato de que absolutamente todos os benefícios dos Jogos (a partir do início das respectivas obras) serão daquela cidade, ao passo que a nota da despesa será enviada para o resto do país. Chicago era carta fora do baralho porque os Estados Unidos são uma Federação. Ponto. E a vitória carioca respondeu à lógica de um país de tolos, capazes de conviver ? como está acontecendo no Rio Grande do Sul ? com o fato de até mesmo uma rodoviazinha de 22 km na Região Metropolitana ser decidida pela União, lançada numa cidade-satélite cujo prefeito é petista, em festa com a presença do presidente e de sua candidata. Será preciso dizer mais para mostrar o quanto é sodomizado o federalismo brasileiro?

Percival Puggina

03/10/2009
Eu não estava entre os que festejaram a escolha do Brasil para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Em matéria de despesa, sou mais Pré-sal. Esse, que está sendo apresentado pelo Lula como grande conquista de seu governo, foi integrado ao Brasil por determinação dos governos militares que estenderam nosso domínio sobre a plataforma continental de três para 200 milhas. Esse, que ganhou até madrinha, como se fosse bebê ou navio, até 2016 só vai gerar despesas, mas daí para frente passa a produzir resultados. Já os Jogos Olímpicos são uma forma de levar para o Rio de Janeiro recursos arrecadados no resto do país. Belo negócio fizemos os demais brasileiros! Hoje, perdemos todos. Só os cariocas ganharam.

Percival Puggina

03/10/2009
O episódio é recente e ocorreu em Viamão. Certa escola local fez mutirão para pintar o prédio. Toda a comunidade se envolveu nele. Serviço pronto, escola rejuvenecida, apareceram pixações nas paredes. Durante uma semana a direção investigou o fato. O principal suspeito, ouvido, denunciou outros alunos. Finalmente, foi identificado como sendo ele próprio o responsável. Além de pixador, agira como tremendo mau-caráter. Punição estabelecida e cumprida: diante dos colegas, o rapaz teve que repintar o que havia borrado e que fazer pequenos retoques em outras salas, dado que se havia omitido durante o mutirão da pintura. Você não imagina, leitor, a confusão que isso gerou. Os pais do aluno, que não haviam mexido uma palha, ou, melhor dizendo, um pincel, na pintura da escola, saíram do sofá e denunciaram a professora à Secretaria da Educação. O assunto ganhou páginas de jornal e foi tema dos principais programas de entrevistas e de debates em rádio e tevê. Até aí tudo à moda nacional: pais sem critérios, incompetentes para educar os filhos, produzindo cidadãos inadequados à vida civilizada e uma direção de escola que, ao resolver pôr ordem no seu terreiro, contrastou tanto com o contexto vigente que chamou a atenção da mídia estadual. O que me leva a este artigo foi o que, com os raros cabelos em pé, ouvi de muitos entrevistados sobre o episódio. Estou falando de gente grande. Estou falando de gente da Promotoria da Infância e da Juventude. Estou falando de doutos pedagogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e por aí afora. Estou falando de pessoas qualificadas, portanto, exceções feitas às autoridades educacionais do Estado, que rapidamente extinguiram o processo direcionado contra a professora. Mas a indignação de um eminente promotor com a ?humilhação? a que fora exposto o aluno, a sorridente tolerância de um mestre de professores da nossa universidade federal, para quem a transgressão é saudável para o adolescente, etc. e tal, não me saem da cabeça. Foi durante esses debates que fiquei sabendo de algo surpreendente: desde a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente não existem mais, nos regimentos escolares, punições prescritas para atos que contrariem o que neles esteja estabelecido. Não há mais pena de expulsão. Não há mais pena de suspensão. Não há mais punição alguma! Nestes assuntos, os Conselhos Tutelares mandam nas direções das escolas. Eduque-se alguém nessa bagunça. Chegava a ser engraçado. Os programas de debate, interativos, ouviam os entendidos e estes, com raras exceções, condenavam a conduta da direção da escola. A opinião pública, por sua vez, a aplaudia de pé, com a aprovação de mais de 95% de ouvintes e telespectadores. Milhares de telefonemas! Eis por que, então, trago o assunto aos meus leitores. Que o episódio sirva de exemplo. Como assim ? ?de exemplo?? ? perguntará o leitor. Sim, de exemplo para bem compreendermos a origem da esbórnia que se instalou no país. Assistimos ao efeito corrosivo do pensamento marxista que, inspirando as pedagogias dominantes no ambiente acadêmico nacional, conseguiu seu objetivo e virou tudo de cabeça para baixo. E que isso sirva de exemplo, por fim, aos que pensavam estar tudo perdido. Não, não está. O processo em curso corre de rédeas frouxas, é verdade, mas corre contra a imensa maioria da opinião pública. O mais notável nisso tudo é que a minoria ínfima, quando fala, limpa a garganta, estufa o peito, sobe o tom e garante que representa o povo. O povo não é burro nem mal intencionado.

Percival Puggina

28/09/2009
A injustificável interferência brasileira na questão hondurenha está desencadeando aquilo que se temia ? desdobramentos danosos àquele país e tumultuando sua realidade social e política. A situação era bem outra até Manuel Zelaya irromper na embaixada brasileira e, desde ali, organizar seus adeptos. Responda, leitor, estas duas perguntas: 1ª) o governo brasileiro estaria agindo do mesmo modo se idêntica situação ocorresse na Colômbia e o presidente destituído fosse, Uribe, que é ?de direita?? 2ª) o governo brasileiro estaria agindo do mesmo modo se em vez da pequena e distante Honduras, o fato se desse na vizinha e bem mais poderosa Argentina? PERCIVAL PUGGINA NA TV AL 28/09 às 24 horas e 29/09 às 11h30min, estarei sendo entrevistado na TV AL, no programa Com a Palavra.

Percival Puggina

26/09/2009
Quem diria que o Brasil haveria de patrocinar em Honduras uma pixotada sem paralelo, não é mesmo? Esse rolo só se pôde viabilizar num período durante o qual nossas relações exteriores são conduzidas por personagens que parecem adolescentes idosos, saídos de um congresso da UNE. Sabe como é? O sujeito ficou velho, mas ainda está lá, na UNE. O corpo e a próspera barriguinha vivem no século 21, mas o cérebro calcificou em meados do século passado, quando sonhava com a ditadura do proletariado e Kruschev ainda não tinha traído a memória do benemérito camarada Stalin. A turma simplesmente trocou a camiseta com estampa de Che por um terno Armani, a mesada do pai por um contracheque robusto e o dormitório coletivo por uma suíte no Ritz. Houve golpe em Honduras? Claro, companheiro. O poder só escapa das mãos dadivosas da esquerda por golpe ou fraude, não sabia? De mais a mais, é o que todo mundo diz, logo, só pode ser verdade. Certo? Errado, Marco Aurélio. Vejamos as coisas sob os prismas do legítimo interessado ? o povo de Honduras ? e de suas instituições. Escaldados até as orelhas por ditadores, os hondurenhos congelaram o prazo dos mandatos presidenciais e proibiram reeleições. Cláusulas rigidamente pétreas, estabelecidas por puro zelo democrático. Basta a um presidente propor algo diferente disso para incorrer em ?crime de traição? e ?cessar de imediato o desempenho de seu cargo? (arts. 4, 42 inc 5, 239 e 374 da Constituição deles). Zelaya sapateou sobre esse calo. Quando faltava menos de um ano para o término de seu mandato declarou-se inconformado com as restrições da Carta Magna. Foi atrás do espanhol Ruben Dalmau (o mesmo que assessorou o continuísmo de Chávez, Rafael e Evo). Emitiu decreto convocando plebiscito. Foi barrado pelo Judiciário. Expediu outro, chamando uma eufêmica ?consulta popular?, que foi, igualmente, proibida pela Justiça. Sapateou de novo, bateu pé, fez comício, mandou vir da Venezuela o material para votação e convocou o Exército para acompanhar o processo. O Tribunal Supremo Eleitoral mandou recolher a mercadoria. Zelaya destituiu o comandante do Exército, enviou seus agentes para retomar tudo de volta e acordou preso. Como o vice-presidente havia renunciado no ano passado, o presidente da Assembléia Nacional, próximo na linha sucessória, assumiu o governo até as eleições de novembro. Que outra mudança constitucional, além da possibilidade de voltar a concorrer, poderia levar Zelaya a jogar tão pesado, quatro meses antes da eleição de seu substituto? Golpe é a tomada do poder ou a permanência nele pela força, ou por via inconstitucional. Ora, a Suprema Corte hondurenha proclama ?urbi et orbi? que o processo ocorrido no país foi constitucional. A Assembléia Nacional diz o mesmo. E aluno neobolivariano de Chávez é quem tem razão? Quem pode informar sobre a constitucionalidade dos atos políticos de uma nação livre e democrática com maior autoridade e legitimidade do que sua corte constitucional? Mas os intrujões da diplomacia brasileira enfiaram o Brasil na encrenca que persiste quando escrevo estas linhas. Zelaya recebeu ?status de convidado? e transformou nossa embaixada num aparelho, no qual entrou sem tirar o chapéu, e desde o qual, como se estivesse na casa da mãe Joana, conclama seus adeptos do interior (deve ser gente da UNE deles) a virem para Tegucigalpa defendê-lo. Ou seja, estamos, irresponsavelmente, patrocinando um conflito de proporções imprevisíveis. ZERO HORA, 27/09/2009