Percival Puggina

24/01/2014
Honestamente, devo reconhecer: tenho um preconceito. Os rolezinhos me ajudaram a percebê-lo. Para ampla maioria, a moda de invadir shoppings é mais uma das tantas perturbações da ordem mediante ações coletivas que ocorrem no Brasil. Viés oposto, para ampla minoria, tais perturbações são veneráveis expressões de honoráveis movimentos sociais. Voto com a maioria, mas isso não é preconceito. É simples constatação. O meu preconceito aparecerá adiante. A massa dos rolezinhos está nessa para zoar. Não passa pela cabeça dos jovens a ideia de estarem decapitando Maria Antonieta ou restaurando a República nestes tempos nada republicanos. No entanto, como em todas as mobilizações desse tipo, há alguém mexendo cordéis para que elas aconteçam. Diariamente, jovens entram e saem dos shoppings, Brasil afora, sem qualquer restrição de circulação. E não chegam às centenas, numa determinada hora, em determinado lugar, sem prévia e bem concebida articulação. Existem peritos nessas coisas. Perguntem ao ministro Gilberto Carvalho que ele explica como é que se faz. Meu recém descoberto preconceito aparece ante o que vem depois da invasão. Ele se ouriça com aqueles que, tão logo os fatos ocorrem, deitam falação sobre apartheid social, racismo, segregação, consumismo, desalmado capitalismo e, claro, preconceito. Com sua vigarice intelectual, essas pessoas despertam em mim, como diria Roberto Jefferson, sentimentos primitivos. Constroem ódios para fazerem política. Entram em dispneia numa atmosfera sem conflito. Então, para produzir luta de classe onde não há, concebem analogias idiotas como esta, que ouvi: Aconteceria a mesma coisa se fossem centenas de senhoras com bolsas Louis Vuitton?. Ou ainda: Ah! Se fossem músicos de orquestra para surpreender com um recital seriam recebidos sob aplausos. É claro que seriam recebidos sob aplausos! As pessoas distinguem, sem canseira mental, um espetáculo de uma invasão. Ora bolas! Meu preconceito vai contra os que têm esse delírio de ver preconceito na mais límpida normalidade. Explicam a reprovação aos rolezinhos com frases assim - É a velha suspeição que, no Brasil, incide sobre quem é pobre, pardo ou preto. Ora, pessoas de todas as condições sociais circulam nos estabelecimentos desse tipo. Lojistas promovem custosas campanhas publicitárias para seduzir seus variados públicos. Disputam-nos entre si com concorrência de preços e de prazos de pagamento. Aliás, tanto os lojistas se interessam em atrair as populações de baixa renda que preferem vender-lhes a prazo para que periodicamente retornem às suas vitrinas e balcões. Nestes últimos dias, os ideólogos do preconceito entraram em prontidão. No Planalto aconteceu uma reunião de emergência que superou, no interesse das autoridades, até mesmo a chacina no Maranhão. Foi aí que aflorou, ainda mais nitidamente, meu preconceito contra essa mistificação intelectual, de motivação política e ideológica. Experimente, leitor, organizar um rolezinho no Palácio Piratini. Basta um pequeno grupo de pessoas de qualquer cor, pêlo e extrato social, se reunir na esquina da praça para que um pelotão policial, pronto para combate, aflore das entranhas palacianas e se poste diante do prédio em atitude defensiva. E olhe que o Piratini é um bem público! Já o shopping é um negócio privado, uma empresa comercial para centenas de outros negócios e local de trabalho para milhares de comerciários. Note mais: os que mexem os cordéis dos rolezinhos e os que saem em sua defesa remam o mesmo barco. São estrategistas da destruição, atuantes em todos os setores da vida nacional. Rolezinho, no fundo, é peça do jogo de poder. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Percival Puggina

17/01/2014
O sujeito na telinha da tevê torcia o nariz com repugnância. Ele se referia às pessoas que têm grade de proteção na frente da casa, ou moram em condomínios fechados, ou dispõem de vigilância, câmeras e alarmes, como se fossem marias-antonietas contemplando a plebe do alto de seus luxos, soberba e alienação. Era um de muitos, um de tantos, no mundo acadêmico e nos meios de comunicação, que fazem análise marxista até de chinelo velho. Em toda oportunidade se referem aos artefatos e serviços de proteção que usamos como se equivalessem às defesas de que os grandes traficantes se cercam em seus bunkers. Dizem-nos assim: Vocês se isolam do mundo, cultivam preconceitos, matriculam os filhos em escolas particulares também protegidas por grades e agentes de segurança. Descrevem uma realidade que domina a paisagem urbana das cidades brasileiras, como sendo coisa de gente preconceituosa, paranóica e indiferente à miséria alheia. No entanto, bem sabemos todos quanto esses cuidados são indispensáveis num país onde o crime espreita em cada esquina, em cada porta de garagem, em cada restaurante ou agência bancária. A espiral ascendente da bandidagem não pára de se ampliar desde que a análise marxista substituiu o rigor da lei pela tolerância ideológica às suas práticas. Sujeitos como o de nariz torcido na telinha da tevê querem provar, com ares solenes e doutas perspectivas, que somos os réus dos crimes que contra nós praticam; que somos uma espécie de celerados sociais, atemorizados com as consequências dos males que advêm de nossa resistência às suas fracassadas utopias, às suas estrelas e bandeiras vermelhas. O resumo de sua mensagem à sociedade, em matéria de segurança, é a de que, notadamente nos crimes contra o patrimônio, o criminoso é um anjo vingador que vem ao mundo para agir contra os insensíveis apegados aos frutos da sua cupidez. E o resumo de sua mensagem em matéria sociológica é a de que existem pobres porque existem ricos. Rematadas tolices! Se a criminalidade aumenta no Brasil num período em que o governo afirma que o desemprego cai e a renda evolui positivamente, parece óbvio que não há uma relação direta de causa e efeito entre pobreza e criminalidade. Pelo outro lado, todo o posto de trabalho vem da riqueza gerada pelo setor privado. Todo! Inclusive o emprego público, remunerado pelos tributos incidentes onde haja produção. O Estado é um gastador da riqueza de quem produz. É rematada tolice afirmar que a livre empresa ou que as economias abertas, concentrem renda e que a pobreza tenha isso como causa. Bobagem! O que mais esperam os desempregados nos países em crise é que suas economias nacionais comecem a vender, as empresas privadas a produzir e a reempregar, e a sociedade volte a consumir. Há alegria nos mercados quando os indicadores apontam sinais positivos no mundo dos negócios. O que os adoradores do Estado, que gostam de dançar ciranda em torno dos cofres públicos, não contam para você, leitor, é que a verdadeira concentração de renda, nociva e ativa, empobrecedora, que paralisa a atividade econômica como picada de cascavel derruba a vítima, é o Estado que se apropria de 40% do PIB nacional. Aí está a causa da pobreza do pobre: um Estado que concentra renda nas próprias mãos, que se deixa roubar, que gasta de modo irresponsável, que sustenta uma corte de madames pompadour, gastos secretos, luxos inauditos e extravagantes comitivas. Como não poderia deixar de ser, esse Estado entrega aos pobres do país, em péssimas condições, a Educação, a Saúde e o Saneamento que, se bons fossem, lhes permitiriam sair da miséria e cuidar bem de si mesmos. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Percival Puggina

17/01/2014
Tenho sob os olhos o site da Folha do dia 1º de dezembro último, onde leio: Miruna Kayano Genoino lembra com detalhes da tarde em que seu pai reuniu a família e comunicou: Lula pediu para eu ser presidente do PT e vou fazer isso porque esse projeto precisa funcionar. O ano era 2002 e Luiz Inácio Lula da Silva tinha sido eleito presidente da República. Genoino fez o que julgou necessário para o projeto funcionar. Mas, a despeito de possíveis méritos, incorreu nos crimes pelos quais foi denunciado e compôs, com José Dirceu, a dupla de famosos que o Partido dos Trabalhadores pretende transformar em mártires da fé petista. Mártires que teriam sido entregues, no curso da Ação Penal 470, aos leões e leoas de toga do Supremo Tribunal Federal. Permanece envolto em brumas o motivo pelo qual todos os outros condenados, entre os quais alguns petistas, não merecem que o PT lhes estenda, como sinal de solidariedade, sequer a ponta do dedo mínimo. Ela via inteira para os dois filhos diletos do partido e do governo. A filha de Genoino e o diretório paulista do PT lançaram uma ação entre amigos para coletar os recursos necessários ao pagamento da pena pecuniária que lhe foi imposta. Faz sentido. Poucas vezes se viu, no Brasil, um governo tão fracionado entre amigos. O próprio governo petista é uma ação entre amigos, carente de organicidade e eficiência. Afinal, lugar de amigo é no lado direito do peito e não nos órgãos de governo e de administração da República. A absorção da pena pecuniária por numerosos doadores não afronta à Justiça nem configura uma injustiça. Se tudo foi feito para o partido porque o projeto tem que funcionar, quem pode assegurar que não esteja sendo de inteira justiça a espontânea partilha da pena entre os companheiros de Genoino? Não é excessivo lembrar que, em 2005, ele deixou a presidência do PT por causa do Mensalão. Que Dirceu saiu da Casa Civil por causa do Mensalão. Que o Diretório Nacional do PT expulsou Delúbio Soares do partido, por causa do mensalão. O PT de hoje se esqueceu de algo que o PT de 2005 sabia. Especial para revista Voto, jan/2014

Percival Puggina

16/01/2014
Tenho sob os olhos o site da Folha do dia 1º de dezembro último, onde leio: Miruna Kayano Genoino lembra com detalhes da tarde em que seu pai reuniu a família e comunicou: Lula pediu para eu ser presidente do PT e vou fazer isso porque esse projeto precisa funcionar. O ano era 2002 e Luiz Inácio Lula da Silva tinha sido eleito presidente da República. Genoino fez o que julgou necessário para o projeto funcionar. Mas, a despeito de possíveis méritos, incorreu nos crimes pelos quais foi denunciado e compôs, com José Dirceu, a dupla de famosos que o Partido dos Trabalhadores pretende transformar em mártires da fé petista. Mártires que teriam sido entregues, no curso da Ação Penal 470, aos leões e leoas de toga do Supremo Tribunal Federal. Permanece envolto em brumas o motivo pelo qual todos os outros condenados, entre os quais alguns petistas, não merecem que o PT lhes estenda, como sinal de solidariedade, sequer a ponta do dedo mínimo. Ela via inteira para os dois filhos diletos do partido e do governo. A filha de Genoino e o diretório paulista do PT lançaram uma ação entre amigos para coletar os recursos necessários ao pagamento da pena pecuniária que lhe foi imposta. Faz sentido. Poucas vezes se viu, no Brasil, um governo tão fracionado entre amigos. O próprio governo petista é uma ação entre amigos, carente de organicidade e eficiência. Afinal, lugar de amigo é no lado direito do peito e não nos órgãos de governo e de administração da República. A absorção da pena pecuniária por numerosos doadores não afronta à Justiça nem configura uma injustiça. Se tudo foi feito para o partido, porque o projeto tem que funcionar, quem pode assegurar que não esteja sendo de inteira justiça a espontânea partilha da pena entre os companheiros de Genoino? Não é excessivo lembrar que, em 2005, ele deixou a presidência do PT por causa do Mensalão. Que Dirceu saiu da Casa Civil por causa do Mensalão. Que o Diretório Nacional do PT expulsou Delúbio Soares do partido, por causa do mensalão. O PT de hoje se esqueceu de algo que o PT de 2005 sabia. Publicado na revista Voto, edição de janeiro de 2014, nas bancas.

Percival Puggina

14/01/2014
ROLÉ PARA OS ENROLADOS MENTAIS Percival Puggina Pronto! Bastou que a polícia interviesse numa dessas invasões que jovens da periferia passaram a promover em shopping centers paulistas para se apresentarem os sociólogos e antropólogos da imprensa engajada prontos a defender os invasores e seu movimento. Denominadas rolés, as ruidosas aglomerações estão sendo organizadas através das redes sociais e, como não há mal que não se reproduza, já há duas previstas para Porto Alegre. As leituras do fenômeno seguem roteiros variados. Para uns trata-se de crítica anticapitalista. Para outros são expressão de insatisfação, denúncia de preconceito de classe ou de raça, resistência ao consumismo. Para os comerciantes é prejuízo certo e, para os frequentadores, hora de bater em retirada. Há uma grande diferença entre o direito individual de ir e vir e o direito grupal, seja lá de que grupo for, de se reunir com o intuito explícito de atrapalhar a vida dos outros, como entrar nas lojas para experimentar roupas que não pretendem comprar ou ocupar as cadeiras das praças de alimentação para degustar sanduíches de mortandela trazidos de casa. Certamente foi isso que o Poder Judiciário paulista levou em conta ao conceder aos comerciantes o direito de requerer intervenção policial para sustar tais mobilizações. Os enrolados mentais sempre consideraram a sua liberdade como um direito que pode ser exercido contra a liberdade dos demais, ou seja, com abuso, contanto que lhes convenha. Quem não é enrolado mental sabe que os rolés não estão criticando sistema algum, ao contrário, estão expressando um desejo de ingressar, até por vias simbólicas, no mercado de consumo mais sofisticado. Pergunte, leitor, a qualquer dos manifestantes, quem quer um I-qualquer-coisa com a maçãzinha mordida do Steve Jobs ou uma camiseta com jacarezinho da Lacoste. Nem se há de cogitar, como pretenderam alguns, sobre se haveria repressão caso ocorresse uma hipotética invasão de senhoras com bolsas Louis Vuitton. É inútil equivaler, para fins de comparação, fatos e delírios. Mas para a comunada até um pé de chinelo velho viabiliza análises marxistas.

Percival Puggina

12/01/2014
NÃO É POR FALTA DO QUE FAZER Percival Puggina A ministra Maria do Rosário completou, no início deste mês, três anos à testa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A SDH/PR tem status de ministério e isso permite à ministra desfrutar de vasto elenco de facilidades e recursos oficiais para cumprir, segundo seu bestunto, ao sabor do que lhe der na telha, aquilo que julga ser tarefa de sua pasta. E olha que não lhe falta o que fazer num país como o nosso! Raros são os municípios brasileiros que não disponibilizem, a cada dia, notícias sobre violações de direitos humanos. O bestunto da ministra, no entanto, lhe determina um roteiro bem específico, bem com jeito de PT, para ocupar seu tempo, ou seja: cuidar dos companheiros, inibir a ação policial, prestigiar a Comissão das Mentiras e denigrir as Forças Armadas. Assim, pode uma menina ser incendiada dentro de um ônibus, famílias podem ser chacinadas, facções esquartejarem-se reciprocamente num presídio do Maranhão, agricultores sumir em áreas de conflitos com índios, bandidos ser encarcerados em condições repugnantes e bandidos soltos fazer o diabo país afora, a prostituição infantil pode ser mote publicitário no país da Copa - nada disso suscita o interesse de Sua Excelência. Querem ver a ministra sair da poltrona e subir nas tamancas com ares de quem está fazendo o máximo pela dignidade humana dos brasileiros? Arrumem para ela alguma ossada para desenterrar. A ministra só se interessa por casos concretos, se as vítimas forem companheiros ou camaradas. Ora se ela via se meter no Maranhão do Sarney, aquele nobre amigo do peito do Lula e da Dilma!

Percival Puggina

11/01/2014
Excelências. Li, de capa a capa, o volumoso livro de Romeu Tuma Júnior que leva o sugestivo título Assassinato de reputações. A obra ganhou uma espécie de lançamento nacional através da revista Veja, no início de dezembro último, e consta entre as mais vendidas no país. Presumo, por isso, que milhares de cidadãos a estejam lendo. Assim como eu, hão de estar perplexos e alarmados com as denúncias que faz. É na condição de cidadão que redijo esta carta. Parece-me conveniente fazê-lo assim, aberta, para tornar pública a inquietação da maioria dos leitores que já percorreram as exaustivas páginas desse livro. Dirijo-a às autoridades porque são várias as que podem agir neste caso. Não alinharei, aqui, as acusações e denúncias descritas em Assassinato de reputações. De um lado porque muito pouco sei sobre o autor e, como simples cidadão, não tenho como averiguar a autenticidade do que dele se diz e do que ele relata. De outro, porque a honra alheia não encontra em mim alguém disposto a assassiná-la. A prudência exige que sobre ela só se emita juízo público negativo após sentença transitada em julgado. No entanto... milhares estão lendo esse livro. Como eu, se fazem perguntas civicamente inquietantes. Por que persiste, decorrido um mês inteiro de seu lançamento, o perturbador e coletivo silêncio de quantos deveriam agilizar-se para contestá-lo? Por que, mais grave ainda, as próprias instituições tão fortemente atacadas e apontadas como objeto de aparelhamento político-partidário não bradam em sua própria defesa? As denúncias são graves e, se verdadeiras, descortinam a gênesis de um Estado policial e totalitário. Há crimes noticiados no livro. E o de prevaricação não me parece o maior deles. Em meio ao inquietante silêncio de quem deveria falar, as solitárias reações que encontro ao explosivo texto são disparos laterais dirigidos ao seu autor, que se apresenta, na obra, como uma das vítimas dos assassinatos em série que menciona. Convenhamos que desacreditar o livro com uso do argumentum ad hominem, mediante ataque pessoal ao autor, não é satisfatório ou suficiente ante a torrente de denúncias que formula, relatando episódios que diz ter pessoalmente vivido. Aos cidadãos brasileiros interessa saber se o que está dito no livro é verdade ou não. E quais as providências adotadas por quem as deve adotar. Inclusive contra o autor se for o caso. Num Estado de Direito, os fatos descritos exigem investigação e cabal esclarecimento. Não podem ser varridos para baixo do espesso tapete do tempo. Não são, também, prevaricação, o silêncio de quem deveria falar e a omissão de quem deveria agir? Bem sei que a promiscuidade entre as funções de governo e as de Estado decorre do vício institucional que as vincula ao mesmo centro de poder. Nosso lamentável presidencialismo faz isso. É tentador, nele, confundir os espaços partidários (por isso provisórios) próprios do governo, com os espaços permanentes (e por isso não partidários) da administração pública e do Estado. No entanto, por mais que o modelo favoreça o aparelhamento das instituições, não é aceitável a ideia de que vivemos num país onde algumas delas servem para investigar ou não investigar, dependendo do lado para onde sopra o vento das más notícias. Gerar dossiês por encomenda política é coisa de Estado policial, totalitário. ZERO HORA, 12 de janeiro de 2014

Percival Puggina

09/01/2014
O ideal totalitário que ainda hoje assombra a América é o comunista. Ele está ativo e exerce poder pelo voto em mais de uma dezena de países que, aos poucos, são afastados da democracia e seus valores. No poder ou fora dele, os principais adversários que essa esquerda desvairada pretende eliminar são sempre os mesmos: a instituição familiar conforme a ordem natural, as Igrejas cristãs tradicionais e a católica em particular, e as Forças Armadas. O caso do Brasil, exemplo diretamente sob nossos olhos, é clara evidência do que afirmo. São antagonismos facilmente explicáveis. Quem pretenda subverter determinada ordem para impor outra (como exige o ideal totalitário) precisa, essencialmente, destruir as estruturas através das quais se reproduzem, nos indivíduos, os valores que lhe deem consistência. As três estruturas mencionadas acima - Família, Igreja e Forças Armadas - são como pilares, vigas e lajes de uma sociedade. Daí a persistência dos ataques que lhes são dirigidos. O ideal totalitário investe contra a instituição familiar por dois flancos. Num deles, tenta fazer da família uma coisa qualquer. No outro, busca transformar uma coisa qualquer em família. Os inimigos da Igreja não querem apenas eliminar qualquer expressão externa de sua existência. Querem, principalmente, como se a ordem jus-política prescindisse de um fundamento moral, eliminar a influência dos valores cristãos na moral social e, por via de consequência, no ordenamento jurídico dos povos. A nova ordem que os fascina precisa de uma moral sem fundamentos. As Forças Armadas, armadas e fortes, por vocação e formação de seus quadros, são exemplo social de ordem e disciplina a serviço da segurança e da paz. É visível o empenho do governo e seu partido em vilipendiá-las, em lhes suprimir recursos humanos, financeiros e materiais. Trata-se de conduta não oficial, mas efetiva, dos que desfilam sua bazófia e arrogância pelo país, como se proprietários dele fossem todos os seus ocasionais dirigentes e militantes. O grupo hoje instalado no poder, que perdeu o confronto com as Forças Armadas nos anos 60 e 70, vai à forra usando o aparelho do Estado. No entanto, em que pese todo o mal que lhes podem fazer e fazem, todas as mentiras que a respeito delas podem repetir e repetem, o povo brasileiro preserva as Forças Armadas como a segunda entre as 18 instituições mais confiáveis do país (a primeira, por motivos óbvios, é o Corpo de Bombeiros). As FFAA contam com a confiança de 66% da sociedade segundo o Índice de Confiança Social medido em 2013 pelo Ibope. Imagino o quanto deve ser difícil para quem há mais de meio século vem tentando desmoralizar as Forças Armadas, ver seus próprios líderes sendo presos e a sociedade dedicando aos silenciosos militares brasileiros o merecido respeito e confiança. Retorno ao ponto inicial. Vociferam incessantemente contra as convicções cristãs. Contra elas põem nas ruas as trupes de pelados, as vadias que se requebram com símbolos sacros, seus projetos de aborto, suas cartilhas e paradas gays, e outras tantas frentes de combate. Embora façam tudo isso e muito mais, as Igrejas persistem em terceiro lugar entre as instituições mais confiáveis segundo o sentimento nacional. E quanto à instituição familiar, o terceiro alvo preferencial do ideal totalitário?, indagará o leitor. Pois é. No universo da pesquisa (que também envolve as relações individuais/sociais dos entrevistados), a boa e velha família dispara em primeiríssimo plano, contando com a confiança de 90% das pessoas. Alegrou-me conhecer esses dados. Eles me permitiram confrontar o empenho dos adeptos do ideal totalitário com os resultados até agora colhidos na sua tarefa de demolição. Mesmo sem revides, mesmo contando com a indiferença de tantos, mesmo que ... os filhos das trevas sejam mais astutos que os filhos da luz (Lc 16,8), ainda há muito espaço para resistência. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Percival Puggina

06/01/2014
O BARBA? ORA O BARBA! Percival Puggina Os que tentam desmerecer o livro de Romeu Tuma Júnior, Assassinato de reputações, não passaram das primeiras páginas de uma obra tão cansativa e enfadonha quanto importantes são os fatos que denunciam. A obra é muito enfadonha. E são muito importantes suas denúncias. Saber se Lula, o Barba, era ou não informante do DOPS é irrelevante. Certamente não será essa acusação que vai deixar constrangido o gabola mais despudorado que a política nacional já produziu. Com a política que temos no Brasil destes vergonhosos anos, seu maior líder não poderia ser outro. Ele não seria o maior líder de um país como o nosso se não fosse assim. O livro é explosivo porque traz a seguinte denúncia a quem o souber ler: vivemos sob a égide de um Estado policial, constituído mediante o aparelhamento político, ou mesmo partidário, das instituições do Estado. Vivemos sob a égide de um Estado que viola garantias constitucionais dos cidadãos. Vivemos sob a égide de um Estado que, em vez de apurar crimes, investiga alvos escolhidos por motivos políticos. É disso que o livro trata.