GENOÍNO E A AÇÃO ENTRE AMIGOS
Tenho sob os olhos o site da Folha do dia 1º de dezembro último, onde leio: Miruna Kayano Genoino lembra com detalhes da tarde em que seu pai reuniu a família e comunicou: Lula pediu para eu ser presidente do PT e vou fazer isso porque esse projeto precisa funcionar. O ano era 2002 e Luiz Inácio Lula da Silva tinha sido eleito presidente da República.
Genoino fez o que julgou necessário para o projeto funcionar. Mas, a despeito de possíveis méritos, incorreu nos crimes pelos quais foi denunciado e compôs, com José Dirceu, a dupla de famosos que o Partido dos Trabalhadores pretende transformar em mártires da fé petista. Mártires que teriam sido entregues, no curso da Ação Penal 470, aos leões e leoas de toga do Supremo Tribunal Federal. Permanece envolto em brumas o motivo pelo qual todos os outros condenados, entre os quais alguns petistas, não merecem que o PT lhes estenda, como sinal de solidariedade, sequer a ponta do dedo mínimo. Ela via inteira para os dois filhos diletos do partido e do governo.
A filha de Genoino e o diretório paulista do PT lançaram uma ação entre amigos para coletar os recursos necessários ao pagamento da pena pecuniária que lhe foi imposta. Faz sentido. Poucas vezes se viu, no Brasil, um governo tão fracionado entre amigos. O próprio governo petista é uma ação entre amigos, carente de organicidade e eficiência. Afinal, lugar de amigo é no lado direito do peito e não nos órgãos de governo e de administração da República.
A absorção da pena pecuniária por numerosos doadores não afronta à Justiça nem configura uma injustiça. Se tudo foi feito para o partido porque o projeto tem que funcionar, quem pode assegurar que não esteja sendo de inteira justiça a espontânea partilha da pena entre os companheiros de Genoino? Não é excessivo lembrar que, em 2005, ele deixou a presidência do PT por causa do Mensalão. Que Dirceu saiu da Casa Civil por causa do Mensalão. Que o Diretório Nacional do PT expulsou Delúbio Soares do partido, por causa do mensalão. O PT de hoje se esqueceu de algo que o PT de 2005 sabia.
Especial para revista Voto, jan/2014