Percival Puggina

23/05/2021

 

Percival Puggina

 

Telefonou-me o amigo jornalista Júlio Ribeiro, que apresenta o Boa Tarde Brasil na Rádio Guaíba de Porto Alegre. “Puggina, qual tua música brasileira preferida?”

A resposta estava na ponta da língua, mas eu precisava reler a letra e, nas horas seguintes, viajar em memórias e em reflexões sobre o desastre cultural brasileiro. “Aquarela do Brasil”, foi o nome que, por WhatsApp, enviei ao Júlio pouco depois. Talvez mais do que nunca, em tempos de tamanho desamor ao Brasil, o samba sinfônico de Ary Barroso vale por um manifesto.

Em duas ocasiões, jantando no exterior com minha mulher, noite romântica, música de fundo, aconteceu de ouvirmos os primeiros acordes de Aquarela do Brasil se difundirem pelo sistema de som ambiental. Aos poucos, as vozes foram calando, o silêncio se impondo reverente e os rostos se abrindo em sorrisos. Logo, todos marcavam compasso, balançavam os corpos numa celebração da brejeirice que é marca da cultura popular brasileira. Momentos de arrepiar, para um brasileiro “fora da base”.

A obra de Barroso fala do muito que maldosamente nos foi tomado depois. Há nela um saudável amor ao Brasil que se reforça (Brasil brasileiro), nação mestiça, do samba, do amor e de nosso Senhor.

Brasil meu Brasil brasileiro
Mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de nosso Senhor

Não se envergonha da história, mostra o multiculturalismo, venera a mulher.

Abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o Rei Congo no congado
Canta de novo o trovador
A merencória à luz da Lua
Toda canção do seu amor
Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado

E canta as maravilhosas dádivas com que a Criação obsequiou esta porção do planeta.

Esse coqueiro que dá coco
Oi onde amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Por essas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
Onde a Lua vem brincar
Oh esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro

Perdoe-me o leitor, mas que saudade me dá! E que tristeza me causa saber que hoje, brasileiros promovem mundialmente preconceitos e boicotes contra o Brasil; saber que amor à pátria é considerado defeito de caráter, mediocridade política e fanatismo “de direita”; que o desprezo à nossa história e origem é cultivado em salas de aula por professores que coletam o lixo histórico para construir narrativas que a tanto levam.  Quem vive politicamente de gerar preconceitos internos não tem escrúpulo em criar preconceitos externos contra o próprio país. E faz isso.

Estaremos (estivemos?) mais bem servidos por apátridas bandeiras vermelhas? Parece que o novo presidente dos EUA sinalizou o caminho das rupturas ao autorizar o hasteamento da bandeira do orgulho gay ao lado da “Stars and Stripes”, como se uma bandeira nacional não fosse de todos e precisasse de anexos. 

A divisão de um reino contra si mesmo, nas palavras de Jesus em Mateus, faz com que esse reino não subsista. Como nos é oportuno tal ensinamento!

Faça um bem a si mesmo. Depois de ler este artigo, ouça Aquarela do Brasil e assuma consigo mesmo o amável compromisso que ela inspirará.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

21/05/2021

 

Percival Puggina

 

No último dia 15, vi esse bom povo rezar, cantar, valorizar em cartazes, gestos e aplausos, palavras que traziam calor à alma na tarde fria de Porto Alegre. Havia, na manifestação pela Família, alguns amigos pessoais, claro. Mas eu conhecia aquela gente toda pelo muito que temos em comum no pequeno e imenso repertório de afetos morais e espirituais que trazemos no coração.

Estávamos unidos por algo valioso e, sim, também contra perigos assustadores. Quando lhes falei, encerrando o evento, disse que no campo político, no lado oposto, cada palavra proferida ali no Parcão era objeto de escárnio e combate. Era execrado cada cartaz, bem espiritual, valor moral, anseio expresso, oração pronunciada. Difícil, no mundo moderno, imaginar antagonismo maior e conciliação tão impossível.

Engana-se quem pensa que as bandeiras vermelhas expressam mera opção política. Não! Trata-se de algo muito mais profundo, que envolve a destruição de toda uma cultura. E não é para substituir por outra superior, que seus filósofos, psicólogos, linguistas, juristas estão longe de esboçar, mesmo os mais eminentes. Pensam tão distantes do homem real que negam a própria Razão.

Por acaso, poucas horas antes de sentar-me para escrever este artigo, recebi da editora Avis Rara, o livro “Guerra Cultural” de Stephen Hicks. Nas primeiras páginas, engasgo a leitura diante da composição de duas frases. Numa, diz Michel Foucault: “A Razão é a derradeira linguagem da loucura”. Na outra, Jean-François Lyotard completa o abismo: “A Razão e o Poder são uma coisa só”.

Perceberam, queridos leitores, as consequências disso? De um golpe só todas as bibliotecas são derrubadas.  É a filosofia que nega a filosofia! Segundo ela, observar a realidade, buscar sentido, aplicar a inteligência ao objeto, ter razão, por fim, é opressão. Que dizer, então da Fé, da verdade, do bem, do justo, do belo?

Sigamos adiante com os semideuses das prateleiras universitárias. Eles nos levam pela mão àquilo de que nos querem afastar. Pense nas nossas salas de aula que motivam o desamor à pátria, no “pluralismo” excludente das universidades, no que aconteceu com a arte ao longo do último século. Pense nas notícias que chegam de toda parte sobre a total rendição dos educandários católicos, pense na acomodação e reacomodação da doutrina à falta de juízo da hora. Pense na fragmentação da sociedade, no modo como o poder é disputado, no que o Congresso vota, ou não vota, e no que STF decide, ou não. Pense na erotização das crianças, na ânsia pela liberação da maconha, nas prisões abertas, na culpa das vítimas e na inocência dos culpados. E vamos, assim, virando o mundo pelo avesso, usando a difamada Razão para estabelecer relações de causa e efeito.

Durante dezenove séculos, minha amada Igreja Católica foi a grande depositária e sustentáculo da cultura do Ocidente. Sua missão educadora e cultural andava lado a lado com a espiritual. Ao ceder aquelas, fragilizou esta. Ao exorcizar seus conservadores, foi à dança com os lobos. Por isso, o Brasil, com um governo que coloca Deus acima de todos, está no olho de um furacão de intolerância a evidenciar que não há lugar para Ele na destruição empreendida por seus adversários. Há dois anos, o Brasil mostrou não estar perdido. Não há uma carta de rendição sobre a mesa. Ainda é tempo de salvação.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

18/05/2021

 

Percival Puggina

 

Há alguns anos, durante um dos mandatos de Lula, escrevi um artigo em que lastimava a falta de cobertura para a tarefa oposicionista no Congresso Nacional. Lembrava os tempos em que os jornalistas acompanhavam as sessões com bloco de papel e lápis fazendo registros sobre o que era dito pelos atores da cena política e o que lhes era sussurrado aos ouvidos para concluírem suas matérias no teclado das máquinas de escrever, aos fins de tarde.  Vi tudo isso acontecer, pois de algo me valem meus 76 anos. Testemunhei um tempo em que o aeroporto, às sextas-feiras, era tomado por repórteres que aguardavam deputados e senadores nos voos procedentes de Brasília. Com eles vinham, fresquinhas, notícias “da corte”. Estas rotinas morreram com a evolução frenética das comunicações.

O que está morto morreu. Com o tempo, já entrando no ritmo do século XXI, foi ficando visível que descera uma cortina de silêncio sobre os congressistas de perfil conservador e/ou liberal. A esquerda já estava no poder. E não apenas no altiplano de Brasília, mas nos cursos de jornalismo, nas redações, no grande mundo da cultura. Nem o jornalismo esportivo escapava àquela hegemonia. O politicamente correto dominava a comunicação social e impunha a toda divergência um cala-boca geral. Foi o tempo em que os gigantes da nossa imrensa foram morrendo e os conservadores remanescentes, excluídos das grandes redações, deslocados para as formas de mídia surgentes.  Restaram uns poucos, raros quais ursos brancos, como o Alexandre Garcia  o J.R.Guzzo e uns poucos outros.

Ao mesmo tempo, o trabalho dos ditos “progressistas”, os portadores de projetos de reengenharia social, atuais oposicionistas, recebem intensa cobertura da mídia militante. A esquerda política, ou seja, o petismo e suas “variantes” (para usar o vocabulário da pandemia), age com as facilidades de uma pedra de curling, batedores à frente, amaciando o terreno. O governo e os governistas, por seu turno, falam nas redes sociais. E também estas vêm sendo manipuladas por “comissários da verdade”, corregedores de “temas sensíveis”, cujas opiniões não podem ser contrariadas.

É fastidioso, por fim, o silêncio dos plenários vazios. Chega a ser ridícula sua substituição por sessões virtuais em que os parlamentares falam em chinelas e bermudas, desde as próprias moradias. São verdadeiros monólogos caseiros, proferidos às “telinhas” enquanto cãezinhos latem, portas batem e os temas não se debatem. O cenário que descrevo de modo algum serve ao interesse da sociedade, cujo amplo esclarecimento é papel comum do bom jornalismo, dos partidos e das instituições do Estado.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

15/05/2021

 

Percival Puggina

 

A Inglaterra, segundo as palavras de Churchill no famoso discurso de 18 de junho de 1939, teve sua “hora mais esplêndida” (finest time) ao entrar, sozinha, na guerra contra a Alemanha nazista. Os Estados Unidos tiveram sua “hora mais escura” (darkest hour) após o ataque terrorista às Torres Gêmeas e caçada a Bin Laden, retratada no filme Zero Dark Thirty (“meia noite e meia”, no jargão militar americano). E o Brasil está vivendo sua hora mais ridícula nessa CPI da Hidroxicloroquina (HCQ).

Pode o vírus voltar para a China com alvará de soltura porque, bem investigadinho em CPI do Senado brasileiro, não lhe cabe culpa alguma. Aqui, nas palavras de senadores membros da comissão, todas as vítimas, sem exceção, foram causadas pelo governo federal. No Brasil, de covid-19, só se morre pela insistência do presidente em apontar um tratamento precoce indicado mundo afora por médicos com atividade clínica, inclusive em automedicação.

“Mas como – perguntará o estrangeiro visitante, que sequer imagina as peculiaridades da política em nosso país – o governo trocou vacina por hidroxicloroquina? Ela é vendida sem receita médica? No Brasil, decisões terapêuticas não são privativas dos médicos?”

Ora, ora, mister, esclareço eu. Aqui há mentiras badaladas e verdades enxotadas. Se você fizer essas perguntas a um militante de esquerda ele o chamará de gado e esperará que você se afaste mugindo. Exibir discernimento resulta ofensivo em certos ambientes e veículos.

Como era absolutamente previsível, com cinco a seis bilhões de pessoas por vacinar e com os cinco países dos grandes laboratórios consumindo mais de 60% da produção em suas próprias populações, o imunizante é um bem escasso, não disponibilizado em ritmo adequado. Ainda assim, o Brasil consegue disputar o quarto lugar em número de doses adquiridas e aplicadas. Não é apenas de postos de trabalho, bens de consumo e matérias-primas que a pandemia gerou escassez. Vacinas também entram nesse cenário, mas o discernimento exigido para percebê-lo excede a capacidade de muitos militantes nas atuais corregedorias da opinião pública e entre os comissários da verdade.

A CPI da hidroxicloroquina já mostrou onde quer chegar. Ninguém precisa ser atirador de elite para identificar o alvo da artilharia inimiga. Ela quer carimbar uma narrativa unilateral, dando-lhe caráter suspostamente oficial. Em nossa hora mais ridícula, um medicamento que não é vendido sem receita médica virou objeto de ódio político e é o eixo em torno do qual giram os trabalhos de uma barulhenta CPI.   

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

Percival Puggina

12/05/2021

 

Percival Puggina

 

 “É nessa viscosidade intelectual que temos de viver e lutar se quisermos praticar a teimosia de resistir, de defender os valores fundamentais.”  Gustavo Corção, em Disparates e contradições do tempo.

A primeira e principal lição foi sendo ministrada aos poucos. Era difícil, mas não impossível. Tratava-se de fazer a sociedade ingerir, enrolada como em rocambole, a ideia de que a criminalidade deriva das injustiças do modelo social e econômico. Aceita essa premissa, era imperioso levar consequentes proposições ao campo do Direito. Claro, seria perverso tratar com rigor ditas vítimas da exclusão social. Aliás, permutar as palavras “pobre” e “pobreza” por "exclusão" e "excluído" foi estratagema vital para completar o rocambole no Direito Penal.

A situação exposta acima representa uma versão rasteira da velha luta de classes marxista. Uma luta de classes por outros meios, numa brilhante concepção revolucionária porque realiza a proeza de se travar fora da lei com a proteção dela. Graças a isso, a punição é a aposta de menor risco desses beligerantes. Graças a isso, no Brasil, o crime compensa. Por isso, também, só os muito ingênuos acreditarão que um partido, um coletivo burocrático ou institucional que assim pense pretenda, seriamente, combater a criminalidade. Preste atenção, afine os ouvidos e perceberá as manobras e o escandaloso silêncio dos nossos congressistas e do aparelho de Estado sobre esse tema. Ou não?

Portanto, olhando-se o tecido social, chega-se à conclusão de que o grande excluído é o brasileiro honesto, quer seja pobre ou não. O outro, o que enveredou para as muitas ramificações do mundo do crime, leva vida de facilidades sabendo que tem a parceria implícita dos que hegemonizam a política nacional. Nada disso estaria acontecendo sem tal nexo.

Viveríamos uma realidade superior se o Direito "achado nas ruas", que inspira ideologicamente a atuação de tantos magistrados, fizesse essa coleta nas esquinas, mas ouvindo os cidadãos, os trabalhadores, os pais de família, em vez de sintonizar a voz dos becos onde a criminalidade entra em sintonia com a ideologia.

O leitor sabe do que estou tratando aqui. Ele reconhece que, como escrevi há alguns anos, a tomada do Brasil pelos maus brasileiros seguia inevitável curso. Perderíamos a guerra. O crime iria vencer. Estávamos na fase de requisição dos despojos que deveriam ser entregues aos vencedores.

Ou não! Ou não! Corção tinha razão e foi nessa viscosidade intelectual que tivemos de viver e lutar contra o mal que se espalhou pelo país. Foi isso que nos mobilizou em 2018 para uma vitória que logo se revelou insuficiente porque a máquina do poder reage ferozmente e há um longo caminho até a vitória final. Em seu andar, o peregrino da história descobre que nossas instituições agem implacavelmente contra a ordem democrática das urnas. Também elas são bandidas e se homiziam nos morros do poder desde o qual legislam em causa própria e sentenciam como lhes convêm.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

10/05/2021

 

Percival Puggina

 

Em política, como na guerra, é importante conhecer o adversário. Principalmente se ele é multiforme, ataca desde várias posições, é poderoso, mais experiente e usa de meios que não nos estão acessíveis.

Essa afirmação tem muito a ver com o quadro sucessório nacional. Salvo imprevistos, a cena eleitoral está posta. De um lado, o atual presidente e, de outro, a atual oposição, talvez dividida, que chegará ao segundo turno unificada em torno do PT.  A tentativa de restaurar a estratégia da tesoura, com um candidato de esquerda representando a direita fica tão parecida com o produto oferecido ao Brasil durante os anos da roubalheira que não vejo como possa prosperar (eleitoralmente, claro).

O perfil desse futuro adversário é bem conhecido. É muito capaz; capaz de fazer coisas que sequer imaginamos, como confessou Lula em 2014. No entanto, quero expor aqui duas características extremamente graves que não costumam ser devidamente analisadas e explicitadas.

A primeira é o desamor ao Brasil. Para melhor entendimento, estou usando aqui a palavra “esquerda” sabendo de todas as suas limitações para fins conceituais. A esquerda é histórica e internacionalmente apátrida. É universalista, coletivista, se diz humanista, mas de um curioso humanismo onde o indivíduo não conta. Já na segunda página, então, o coitado desaparece como sujeito de qualquer ação livre.  

Por isso, a rejeição e os maus adjetivos a quem canta o hino nacional, exibe a bandeira verde e amarela e ama o Brasil. Por isso, as bandeiras vermelhas proporcionam a cor característica de suas manifestações mundo afora. Por isso, viajam ao exterior, à nossa custa, falando mal do país, promovem eventos internacionais para dirigir ao governo daqui ataques que causam mal à nação. Temos um governo de perfil conservador que ousou se opor ao falso progressismo, ao globalismo e ao anticristianismo que assolam o Ocidente. O mercado político internacional tornou-se, então, comprador de toda ideia de boicote, internacionalização da Amazônia ou mentira que nos desqualifique. Tal situação agravou-se após a derrota de Trump nos EUA.

A segunda é a dissimulação. Com raras e nobres exceções individuais, seu diálogo não é franco. Seu antifascismo é fascista. É fascista na violência e agressividade dos movimentos sociais, das ações rueiras, dos gestos e palavras de ordem. O fascismo é comum aos três fantasmas que horrorizaram o século XX: o comunismo, o nazismo e o fascismo propriamente dito. Nós não estamos associados a qualquer dessas famílias ideológicas.

Seu pluralismo é excludente até a última gota da divergência. Seu jornalismo exclui os fatos a ele inconvenientes; sua universidade sepulta autores e esconde obras; suas aulas suprimem verdades eternas; sua cultura, música, teatro, manifestos são de pensamento único. Como escreveu recentemente o Dr Alex Pipkin, que é judeu e sabe do que fala, o antirracismo da esquerda é profundamente racista, provoca divisões e acirra animosidades.

Seu apreço à democracia só se manifesta onde ela bem ou mal já existe, porque onde estão no poder, some na primeira página. E calam com descontraídos sorrisos de bem-aventurança em Cuba, na Venezuela, na Nicarágua, na Coreia do Norte. 

Penso que estes exemplos pinçados do cotidiano mostrem como, dissimuladamente, se valem de sentimentos que são de seu generoso apreço, leitor, para cooptá-lo e lhe proporcionar o contrário disso em modo pleno.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

07/05/2021

 

Percival Puggina

        

Tive a felicidade de conhecer o Rio de Janeiro no tempo em que seus morros eram expressões do capricho paisagístico de Deus no ato da Criação. Entre as preciosidades dessa estética divina destaco as agulhas pétreas dos Alpes e dos Andes, que vi como inspiração gelada do gótico que tanto fascínio exerce sobre mim.

No Rio é diferente. Aliás, é o oposto. A mão de Deus moldou, ali,  curvas tropicais, sensuais, grávidas de vida. A beleza da cidade costumava atrair um qualificado turismo nacional e internacional. De lá para cá, morros viraram ameaça soturna a pesar sobre a “cidade a seus pés”. Regiões inteiras tornaram-se palco de uma guerra sem fim, focos de insegurança, sedes de estados paralelos, casamatas de organizações criminosas, ocupações viciosas do espaço urbano que expandiram seu modelo pelos outros grandes centros do país.

Ontem, 6 de maio, a favela do Jacarezinho foi palco de uma ação policial que deixou 25 mortos. Aliciamento de crianças e adolescentes para o tráfico, roubo de cargas, homicídios, sequestros de pessoas e de trens são alguns dos ramos de negócios da quadrilha que atua na região. Desconheço os detalhes da operação, mas não vejo como aceitável que ações criminosas mesmo quando eventuais, fiquem sem resposta policial, judicial e penal.

Mesmo acostumada a dormir ouvindo o espocar dos tiroteios e o matracar das metralhadoras, mesmo habituada a contar, toda manhã, cadáveres abandonados pelos criminosos, o número de vítimas dessa operação ganhou manchetes em todo o país.

O que se colhe no Rio de Janeiro nestas últimas décadas é rescaldo da tolerância. Contaminadas pela corrupção, sua política, sua justiça, sua polícia foram sendo moldadas por um estilo de vida que zombou da virtude e se foi deixando encantar por seus demônios. Enquanto isso, parte da sociedade aderiu a uma falsa virtude que pretende combater o crime com pombas brancas, flores e pulsantes coraçõezinhos feitos com as mãos.

O saneamento de uma região conflagrada com ações de atenção social não prescinde da ação policial contra a criminalidade, nem do revide quando bandidos, armados, disparam contra a polícia. Nenhuma sociedade civilizada pode tolerar que criminosos ajam impunemente e atirem contra a polícia que expõe a própria vida para protegê-la.

O que se vê no Rio é um microcosmo compactado da realidade nacional. Não difere do que se observa no Brasil, nesse combate com objetivos revolucionários, multilateral, aos valores e princípios cujo abandono nos tem custado tão caro. Tão caro que “império da lei” mais parece nome de escola de samba.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

 

 

Percival Puggina

05/05/2021

 

Percival Puggina

 

A mídia militante foi buscar na covid-19 sua casa de armas. Decidiu que o Brasil deveria ficar fora dessa pandemia e que restavam ao vírus duas possibilidades: ou nos tratava com o devido respeito, ou deveria ser espatifado pessoalmente pelo presidente da República com aquela metralhadora imaginária da campanha eleitoral.

Ela, a mídia, assumiu-se como grande reitora das políticas sanitárias do país. Houve momentos em que quis mandar mais do que o STF, imaginem só! Não se espante, não estou inocentando o Supremo. Devo reconhecer, porém, que a Corte, muitas vezes, abre espaço ao contraditório. Tal condescendência nada resolve, posto que todos têm opinião formada sobre tudo. Mas o contraditório ao menos fala. Na mídia militante é diferente. O contraditório é relegado ao mutismo. O divergente é lobo solitário, exército de um homem só. Eu vivi isso.

Vão encontrar alvos para atingir o governo? Claro que sim. Certa feita, ouvi de uma jornalista do PT que “se o adversário não tem rabo a gente põe”. E se a CPI não consegue pôr, a mídia militante põe. Ela está com sangue nos olhos. Segundo ela, Mandetta comprometeu Bolsonaro. Ao que vi e sei, Mandetta comprometeu Mandetta. Foi ele que primeiro mandou não usar máscaras, depois mandou usar. Orientou para só procurar hospital com febre ou falta de ar. Provocou um esvaziamento de hospitais, UTIs e consultórios durante meses. Firmou inimizade com o tratamento precoce. Para a mídia, porém, na CPI, comprometeu Bolsonaro.

Jamais será reconhecido no foro da comissão e pela mídia militante que (dados de 5 de maio) o Brasil é o 9º país em número de mortes por milhão, o 9º em novas mortes por milhão. E é o 11º no quesito percentagem da população que recebeu apenas uma dose. Tem 2,7% da população mundial e aplicou 4,2% das vacinas disponibilizadas. É o quinto que mais vacinas aplicou. Jamais destacarão o fato de que este último dado o situa atrás, apenas, dos quatro países que as produzem em seus grandes laboratórios – EUA, China, Índia e Reino Unido.

Poderiam os números ser mais elevados? De que jeito? Os países produtores seguiram a regra de Mateus – “Primeiro os meus!” – e vêm utilizando em suas populações 62% das 1,175 bilhão de vacinas produzidas até este momento. Fica fácil, então, presumir o esforço comercial e diplomático para conseguir lugar na parte alta da tabela, bem como perceber o esforço político para ocultar tais informações.

Como brasileiro, particularmente, considero de meu dever louvar a importância da Anvisa e de seus protocolos, que sempre foram fator de tranquilidade da nossa população no consumo interno de vacinas e medicamentos. Ela só não é tão veloz como alguns queriam porque seus técnicos são responsáveis, não obedecem ordens da imprensa e conhecem o alto preço de quaisquer falhas nas autorizações que concedem. Especialmente em relação a algo que vai ser distribuído a toda população do país.

Um dos episódios mais lastimáveis dos últimos meses foi a ordem do ministro Lewandowski para que a Anvisa, em 30 dias decidisse sobre a importação da vacina russa Sputnik V pelo Maranhão. Ora, ministro!

Com sua licença, prezado leitor, vou parar por aqui, pois é hora de assistir o circo montado no Senado Federal.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

02/05/2021

 

Percival Puggina

 

         “Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que esse é apenas o primeiro passo. É uma maioria de circunstância que tem todo o tempo a seu favor para continuar sua sanha reformadora." (Joaquim Barbosa, quando o plenário retirou dos réus do mensalão a pena por formação de quadrilha).

         Quem acompanhou como eu o surgimento do PT desde a trincheira oposta não pode se surpreender com o resultado dessa obra política quando consegue uma cadeira do STF. Menos ainda se ocupa, ali, várias cadeiras. Finalmente, formado um “coletivo” amplamente majoritário, é só esperar o estrago. Ele se tornará cada vez mais audacioso e arbitrário. Como uma espécie de MST institucional, não respeitará cerca nem divisa com os outros poderes e tratará como inimigo quem pensa diferente.

         E são dezenas de milhões os que pensam diferente!  Exatamente por serem tantos, por nunca terem visto tantos inimigos em seu miniuniverso, membros do nosso STF adotam, a torto e a direito, a clássica conduta birrenta e autoritária do petismo quando antagonizado.

O presidente da República, por exemplo, é um que pensa diferente. Seus eleitores pensam diferente. Para tornar a desgraça ainda maior, aconteceu em nosso Supremo que os ministros mais antigos, anteriores ao PT e ao PSDB, aderiram ao mesmo ativismo e protagonismo.

         Anote aí este presságio e guarde em alguma gaveta que retenha anotações importantes, para posterior fact-checking: o pior ainda está por vir porque o domínio das ideias de esquerda no ensino de Direito é sufocante. Há tempos, as carreiras jurídicas de Estado vêm sendo ideologicamente tomadas em proporções alarmantes e o cenário não parece reversível sequer a médio prazo. Mas essa é outra história.

         O que nos interessa aqui são os rompantes que surgem a toda hora, com a expedição de ordens contra o Executivo e o Legislativo. Nada mais parecido com o PT. Alegam os ministros que o STF só “age se provocado”. Entendo, entendo. A simples presença de alguém “à direita” no Palácio do Planalto já é provocação suficiente para o “coletivo” do outro lado da praça.

         O STF legado pelo PT é petismo com “data venia”, mas com a mesma perda de limites, a mesma irrazão. Nos anos imediatamente anteriores a 2018, a sociedade percebeu não apenas que estava sendo roubada, como lhe demonstrava a Operação Lava Jato, mas estava, também, sendo submetida a uma lavagem cerebral para lhe subtrair princípios, valores, liberdade de pensamento e expressão, amor à pátria, unidade nacional – enfim, que lhe impunham um cortejo de males.

         Essas duas constatações elegeram Bolsonaro e levaram o STF a interferir nos outros poderes como nunca fez nos longos anos destrambelhados do petismo no poder.

         O STF mandou o governo realizar o Censo este ano. Não fazê-lo é inconstitucional. Não o realizar em 2020 não era inconstitucional. Em 2021 passou a ser. Por quê? Porque o Congresso garfou o dinheiro do censo e o STF do petismo perdeu, há muito, o rumo do bom senso. Há que preservar a “sanha reformadora”.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.