AO MESTRE COM CARINHO

Marco Frenette

 

Roger Scruton não foi apenas um intelectual. Foi um espírito iluminado. Transformava palavras em armas de combate às trevas. As mesmas palavras que geram escuridão nas mãos dos progressistas que ele desnudou tão bem.

Ele expôs as pelancas do esquerdismo, as canalhices do relativismo e a força do belo no combate ao mal. Foi um homem completo, e tal plenitude veio de sua compreensão dos animais com aspecto humano. Entendeu o mal sem se animalizar durante os combates.

Manteve a elegância na crítica e a discrição diante das fraquezas demasiadamente humanas de seus adversários e inimigos. Uma pessoa de categoria que gerou um pensador categórico por conta de um raciocínio lógico, amplo e probo.

Aprendi muito com o mestre, e ainda aprendo. O aprendizado vem de releituras e do que ainda lerei, pois o rio não se repete, embora saibamos que a suposta novidade é apenas a magia da reformulação do que já foi dito mil vezes.

Scruton, o grande reformulador... e também o grande destruidor de vagabundos, mas de vagabundos refinados. Suas análises de escroques brilhantes como Sartre, Foucault e Ronald Laing revelaram a maldade e o cinismo debaixo da fraca camada de luz criada pelo talento literário desses ficcionistas.

Ele também tratou de Deus e das questões cristãs com uma delicadeza e uma profundidade impressionantes, igualando com os melhores momentos de Fulton Sheen e C. S. Lewis. Com ele, renovei minha experiência com o sagrado.

Conheci e conheço homens excepcionais, mas nenhum deles me ensinou ou me influenciou tanto como Scruton; mas chegou a hora da noite degolar o dia com sua espada azul, como bem cantou Erza Pound - e o verdadeiramente grande já se despediu dos menores.

 

 

  • 13 Janeiro 2020

ESSE IMPOSTO MALDITO CHAMADO IPTU


Percival Puggina

 

O IPTU é um imposto maldito, obsceno. Tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de um imóvel. Aplicado a uma estimativa de seu valor venal, é cobrado todo ano sobre o mesmo fato gerador. Em Porto Alegre, onde vivo, o IPTU local, com uma alíquota de 0,77%, faz com que o proprietário, a cada sete anos, transfira para a prefeitura 5,5% de seu imóvel. Tem ou não que chamar a polícia?

Não estou dizendo, com isso, que a prefeitura deva viver a mingua de recursos, impedida de cumprir suas tarefas. Estou dizendo, apenas, que suas fontes de receita não deveriam incidir sobre a moradia do cidadão, dada a importância do direito de propriedade e da habitação na ordem social, na vida familiar e na dignidade da pessoa humana.

Não me corresponde dizer como devem ser estruturadas as receitas municipais. Sei, isto sim, é que esse imposto, em muitos casos é expropriatório e, noutros, é expulsório, constrangendo munícipes a se deslocarem para bairros ou para outras cidades onde a planta de valores seja menos hostil. São pessoas que precisam abandonar a casa que com muito esforço e poupança adquiriram na juventude e não podem arcar com seu custo fiscal na velhice; são viúvas empobrecidas no luto, que herdaram sua moradia e são constrangidas a dela se desfazerem. São milhares de cidadãos empurrados para a inadimplência, para a dívida ativa, para a cobrança judicial.

Em Porto Alegre, o prefeito municipal encaminhou, e a maioria da Câmara de Vereadores aprovou, uma nova planta de valores que consagra o esbulho. Ela contempla aumentos que chegam a 30% em 2020 sobre o valor pago no ano passado e prosseguem nos exercícios seguintes com sucessivas majorações de 20%. Uma completa ausência de senso de medida e uma insensibilidade que beira a analgesia. O IPTU é uma arma fiscal que deveria exigir exame rigoroso para porte e emprego.

* Retificado em 04/01 às 18h00.

  • 04 Janeiro 2020

UM JUIZ DE PROVÍNCIA

Percival Puggina

 

O ministro Sérgio Moro tuitou assim, dia 24 de dezembro, sobre sua inclusão entre as 50 personalidades mais influentes da década, numa escolha da revista britânica Financial Times:

“Nada mau para um juiz de província, mas o mérito na verdade é dos milhões de brasileiros que se indignaram contra a corrupção e geraram uma onda pela integridade na política e nos negócios na América Latina. Sempre serei fiel a esses ideais e a vocês.”

Realmente, nada mau. Suba num banquinho, leitor, e contemple a atualidade política brasileira. Olhe à sua volta e veja quem não gosta de Sérgio Moro. Só vai encontrar figuras desprezíveis, ainda que, por influentes, não possam ser desprezadas. Elas têm grande influência, sim. Alguns, por isso, se sentem “supremos” e morrem de inveja. Muitos entrariam na sua lista de 50 personalidades mais repulsivas da década.

Pessoas como Moro são realmente incomuns. Suas principais qualidades, além do conhecimento jurídico, são de natureza moral, num país em que virtudes são objeto de chacota e onde sua atividade  tromba contra poderes de Estado tomados por gente que não lhe têm qualquer apreço e onde o único objeto de zelo é o próprio rabo.
 

  • 28 Dezembro 2019

OS DEMONIOCRATAS E O IMPEACHMENT DE TRUMP
Jorge Abeid, PdD

 

Os demoniocratas votaram na House o impeachment do presidente, mas ficaram na situação daquele químico que descobriu o solvente universal... UAU!, mas ... mas havia um problema: um pequeno inconveniente: o solvente universal não tinha como ser acondicionado.

Na cabeça de petistas, como na de demoniocratas, a situação se resolve com ajustar a lei à conveniência do momento, ou seja, querem que o senado se comprometa a seguir rito que acolha um processo sem crime definido e que ouça apenas as testemunhas de acusação.

Mas, palavra danada essa tal de “mas”, o senado é dos republicanos e eles insistem em ouvir as testemunhas da defesa também, e assim criou-se o impasse: eles só mandam o processo para o senado se ... e como o senado não concorda com o circo eles não mandam o processo. 

Então: o Presidente foi impeached, mas, de novo, o terror do mas, não o foi, porque a House não pode impeach ninguém. Quem impeach é o senado.

Talvez resolvam impeach a lei.

 

  • 22 Dezembro 2019

VOTO A JATO NO CONGRESSO (QUANDO CONVÉM)

Percival Puggina

 

Leio no Diário do Poder


O Congresso Nacional promulgou nesta quinta-feira (12) a Emenda Constitucional 105/19, que permite a transferência direta de recursos de emendas parlamentares a estados, Distrito Federal e municípios sem vinculação a uma finalidade específica.


A emenda resulta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 48/19, de autoria da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), aprovada em ambas as Casas na forma do texto do relator na Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG).


COMENTO

Nada fica para o ano que vem no Congresso Nacional quando envolve interesse direto dos parlamentares.

Com o novo preceito, que libera a unidade da Federação para dispor dos recursos como bem lhe convier, respeitados alguns impedimentos (leia aqui a íntegra da matéria do Diário do Poder) os congressistas poderão negociar com os prefeitos e os governadores sobre onde os recursos serão aplicados de modo a gerar o maior ganho político do parlamentar. 

O que se amplia aqui não é a autonomia da autoridade que recebe o valor, mas a soberania do parlamentar que o "concede".
 

  • 13 Dezembro 2019

 MÁS COMPANHIAS

Leio de Claudio Humberto, no Diário do Poder (09/12)

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, é o recordista absoluto de uso dos jatos da Força Aérea Brasileira (FAB), este ano, no total de 229 viagens e inacreditáveis 2.131 passageiros transportados. na nossa conta, claro. Maia não é o único a aproveitar a regalia. O uso dos aviões da FAB é restrito ao vice-presidente da República, ministros de Estado e aos presidentes do Supremo, da Câmara e do Senado.

Os presidentes Dias Toffoli (STF) e Davi Alcolumbre (Senado) também aproveitam, mas números de Maia fazem o uso deles parecer irrisório.

Até a terça (3), Dias Toffoli já havia realizado 87 viagens “a serviço” em jatinhos da FAB, na companhia de um total de 1.091 passageiros.
Alcolumbre fez 43 viagens, levando 743 pessoas com ele, entre fevereiro e terça (3). Incluindo passeio nos EUA em plena Black Friday.

Como os custos são sigilosos por envolverem aeronaves militares, os políticos deitam e rolam, sem prestar conta do gasto a quem paga: nós.


COMENTO

 Quem, no desempenho de cargo público, abusa dos privilégios que a posição lhe faculta, não comete aí o maior de seus pecados. Não está aí sua principal lesão ao bem comum.

Certamente, a par de tais abusos, outros são praticados à sombra, sem visibilidade, em arranjos, acordinhos e acordões, arquivamentos vitalícios, surdez à opinião pública e, principalmente, más companhias.

Estas se manifestam, tabmém, no grande número de caronas que, no caso do presidente da Câmara dos Deputados, permitiria lotar dois Boeing com pessoas dispostas a viajar mandando a conta para os outros. Mas também esse não é seu maior pecado.
 

  • 09 Dezembro 2019