Percival Puggina

27/05/2019

 

 Não chega a ser novidade. A mudança vem acontecendo de modo gradual. Parcela crescente dos brasileiros que um dia confiaram seus votos à esquerda foi mudando de opinião e essa mudança acabou na grande reviravolta da cena política em outubro de 2018. Há quem morra de saudades.

 Vale a pena lembrar, muito especialmente a alguns setores da mídia tradicional (estou falando, entre outros, da Folha de São Paulo, Estadão, Zero Hora, O Globo e demais veículos do seu grupo) certos fatos relacionados àquela eleição. O candidato escolhido pelos partidos que tradicionalmente formavam a maioria do Centrão era Geraldo Alckmin. As nove siglas que se coligaram para elegê-lo compunham mais da metade das cadeiras na Câmara dos Deputados. Contudo, a coligação em torno do tucano acabou obtendo menos de 5% dos votos. Foi um claro abandono do comandante da nau tucana por seus marujos, que majoritariamente se transladaram para o barquinho de Bolsonaro

 A jogada valeu para assegurar o mandato de muitos. Diploma pendurado na parede é garantia da autonomia e permite a segunda traição. Em três meses os ex-marujos de Alckmin e parceiros de Bolsonaro recompuseram o Centrão e já começavam a reabrir a firma quando a opinião pública reagiu nas redes sociais. Imediatamente deram um passo atrás. Em tom de mágoa, afirmaram tratar-se de um mal entendido. Estavam todos cumprindo seus deveres constitucionais.

 Nenhuma das três coisas surpreende. Nem a traição a Alckmin, nem a traição a Bolsonaro, nem a completa traição à verdade contida na afirmação de estarem cumprindo seu dever. Esta última situação só acontece nas raras ocasiões em que o interesse próprio coincide com as exigências do interesse nacional. O que realmente surpreende é a defesa que os veículos de comunicação acima mencionados passaram a fazer do Centrão, confundido-o com o Congresso Nacional, buscando torná-lo imune a toda crítica, numa atitude tipicamente bipolar. Num momento transformam a crítica numa conduta revolucionária, autoritária, capaz de acabar com a democracia; noutro, reduzem a gigantesca mobilização social do dia 26, de apoio ao governo e suas reformas, a Sérgio Moro e a Paulo Guedes, às proporções de um comício na esquina do bar do Zé

 Nunca na minha vida percebi esses mesmos veículos interessados em preservar a boa imagem do Congresso Nacional. Subitamente, aparecem tomados de um amor fiel e protetor. Não admitem que se olhe atravessado para seus amados. Dizem estar protegendo as instituições. Na mesma linha, comparam a um flerte com o autoritarismo, qualquer crítica a ministros do STF, bem crescidinhos, alias, para se defenderem sozinhos.

 Na lógica desse nada admirável mundo velho, as coisas ficam assim:
• é proibido criticar o Poder Legislativo;
• é proibido criticar o Poder Judiciário;
• das fake news às patadas retóricas, estão liberadas as críticas ao Poder Executivo;
• é proibido criticar a orientação de tais veículos. Quem o fizer será acusado de ser inimigo da liberdade de opinião porque essa é uma das opiniões sem liberdade de expressão.

O fato, porém, é que o nada admirável mundo velho já era.

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

26/05/2019

 


 Ainda não eram oito horas da manhã de um domingo chuvoso, aqui em Nápoles, quando acordei pensando no que estava para acontecer no Brasil. Habitualmente, como tem ocorrido desde 2013, eu estaria, hoje à tarde, participando da manifestação no Parcão. No entanto, estou longe da minha terra e, pela primeira vez, longe do som da rua, longe do Parcão de Porto Alegre e do agito alegre e bem-humorado da querida Banda Loka Liberal.

Três horas da madrugada no Brasil... Arrumei um canto no quarto do hotel e gravei o vídeo que pode ser assistido aqui: https://youtu.be/O9RBv-VNVfw. Era uma forma de deixar meu recado, de reforçar a posição já expressa em artigo de ontem no meu blog, de convocar os brasileiros às ruas e, de modo um tanto estranho, ainda com cara de quem saiu da cama, dizer o que distingue este domingo na história das mudanças em curso no nosso país.

 As demais manifestações se fizeram contra a corrupção, contra os estragos do petismo, a favor da Lava Jato, para pressionar Eduardo Cunha a dar início ao processo de impeachment, a favor do impeachment, a favor da prisão após condenação em segunda instância, chamando o STF à responsabilidade. Neste dia 26, porém, a situação é diferente. Desta vez, o tema é Brasil. Mais do que qualquer outra coisa é o bem do pais que está no foco dos discursos e do clamor popular. Não o vejo como mobilização bolsonarista, ainda que para muitos isso seja o essencial; vejo este domingo como dia de um ruidoso e democrático clamor pelo país, para ser ouvido pelos mais surdos canais auditivos do Congresso Nacional. O clamor de um país em perigo iminente!

 Senhores congressistas, nós sabemos quem são e estamos vendo o que fazem. Nada é mais prejudicial e ultrajante quanto a lentidão em tempo de urgência, quanto o corpo mole quando a hora exige energia, quanto a ‘negociação de interesses’ quando o dever se impõe. Sim, os senhores podem fazer qualquer coisa, inclusive tudo o que não deveriam, mas não esqueçam de que, antes, a nação escolheu um caminho a seguir. Essa escolha foi a força vitoriosa do pleito e responde pelos mandatos da maioria dos senhores. Ouçam a voz das ruas e não se desviem dele.

 É o que sinto junto com muitos brasileiros nestes dias em que, retomado o país pela força indômita das urnas de outubro, percebemos a mobilização dos que, devendo seus mandatos aos eleitores do Presidente, emitem claros sinais de haver perdido sintonia com o interesse nacional.
 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

24/05/2019

 

 Estamos vivendo, no Brasil, um impasse do tipo clássico, previamente programado e configurado no modelo institucional que adotamos. Brigas de crianças se resolvem com mais facilidade do que a rinha entre cavalheiros. O governo quer algo; o Parlamento diz não; e nada acontece, seja no governo, seja no Parlamento.

Essa é uma das muitas disfunções e irracionalidades inerentes ao nosso modelo institucional e ao modo como vemos e fazemos democracia, temas sobre os quais muito já tenho escrito.

O atual confronto de opiniões tem tudo a ver com isso. As eleições de outubro do ano passado refletiram a indignação da maioria dos cidadãos com as consequências de vícios institucionais que impulsionam condutas criminosas ou de moralidade imprópria. Multidões foram às ruas e muitos mandatos foram cassados pelo voto soberano do eleitor. No entanto, os males do modelo persistem e, como não poderia deixar de ser, continuam produzindo consequências.

A sociedade se sentiu frustrada e ameaçada ao ver o Presidente chantageado por congressistas que explicitavam seu desejo de estabelecer “negociações” cuja consequência seria o retorno ao velho regime e a vitória dos derrotados nas urnas. Se os projetos são de elevado interesse nacional, como justificar moralmente que uma oposição inicial seja revertida mediante favores políticos concedidos pela BIC presidencial?

É óbvio que congressistas podem divergir do Presidente. O poder lhes é dado para isso. O que esse poder não pode e a sociedade não mais admite é que as mesmas convicções mudem se o governo distribuir cargos, espaços de influência ou atender “interesses” municipais ou regionais. É tão evidente o desvio ético dessa conduta que explicações se tornam supérfluas. Para tais práticas, que acabam em delação premiada, o eleitor disse sonoro não nos pleitos do último mês de outubro.

Recentemente, a professora e deputada estadual paulista Janaína Paschoal saiu em defesa do Congresso Nacional, disparando repreensões à mobilização prevista para o dia 26 de maio e acusando o Presidente de imobilismo. Segundo ela, negociações são inerentes à vida dos parlamentos e não há qualquer mal no fato de um parlamentar atender interesses de suas próprias bases. Horas depois, ela mesma desistiu de negociar e de formar opinião dentro de seu partido e rompeu com a bancada.

Quem tão bem lutou contra a corrupção durante o processo de Impeachment, como Janaína Paschoal, formando nesse embate e em cima dos carros de som suas bases eleitorais, surpreende ao atenuar, aparentemente ao menos, a rotina da formação de maiorias parlamentares. De fato, o que ela chama de imobilismo tem solução expedita. Basta seguir a velha receita. Mas aí estaríamos nos curvando ao modelo político ficha suja que tem regido as relações entre os governos e o Congresso Nacional, com apoio do establishment partidário. Bem preferível seria se suficiente maioria do Congresso entendesse e se posicionasse em conformidade com o bem do país.

Com menos de cinco meses de mandato, as raposas de ofício já falam em impeachment de Bolsonaro. Negar à opinião pública o direito de se manifestar a respeito, de apoiar o Presidente que vem sendo responsabilizado pelas dificuldades que enfrenta no Congresso, é abonar o modelo corrupto e corruptor. É fragilizar a coragem moral que, teimosamente, insiste em ter voz nas ruas.


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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

22/05/2019

 

Resumo, aqui o pronunciamento que fiz dia 21 de maio, na sessão solene em que recebi o título de Cidadão de Porto Alegre, concedido por Lei Municipal, proposta pelo vereador Ricardo Gomes (PP) e unanimemente aprovada pela Câmara de Vereadores.

Num primeiro momento do discurso afirmei que recebia o título exatamente no ano em que completava seis décadas como morador da Capital gaúcha. Pensar nas razões que a ela me prendem é pensar em pessoas reais, em memórias também reais que eram a maior alegria, maior graça e maior bem que a cidade me proporcionava. Eram as pessoas que ali estavam, seja compondo a solene Mesa diretora dos trabalhos, ornada com a presença de autoridades, seja no plenário e nas galerias. Eram todos amigos, amigos queridos, novos e antigos, mas todos participantes daquela contagiante unidade que aproxima os bons. A mesa era presidida pelo vereador João Carlos Nedel e dela faziam parte, além de mim e minha mulher Mariza, o prefeito em exercício Gustavo Paim, o ex-prefeito Guilherme Socias Villela, o vice-presidente da Federasul César Leite, o desembargador aposentado Vladimir Giacomuzzi e o deputado estadual Mateus Wesp.

Falei do grande bem que é viver numa cidade onde se construíram afetos, onde se constituiu família, e onde o passar dos anos formou verdadeira multidão de relações. São pessoas que vejo onde quer que vá e me proporcionam a alegria de reencontros e abraços que agasalham vidas inteiras. Agradeci a todos, realmente emocionado pelas palavras gentis que me dirigiram e, como expressão disso que relato, todos os vereadores que se manifestaram trouxeram testemunhos de convivência comigo. Nem tudo é ruim em ser idoso. Emocionaram-me os vereadores Ricardo Gomes (proponente), João Carlos Nedel, Reginaldo Pujol, Wambert Di Lorenzo, Nelcir Tessaro, Fernanda Jardim, Felipe Camozzato, Rafão Oliveira, Comandante Nadia e Ramiro Rosário.

O vereador Ricardo Gomes é um amigo recente. Desde que o conheci, porém, identifiquei nele virtudes que me levaram do respeito à admiração. E daí à amizade. Foi meu candidato a vereador e, cumprindo a meta, desempenha frutífero e exemplar mandato. Tem visão de história e de futuro que fazem dele o que qualifico como um “clássico moderno”, que conjuga a hoje invulgar erudição, o conhecimento da cultura de que é herdeiro e da civilização a que integra, com a compreensão sobre o que fazer e o que não fazer, na política, para a colheita, ali adiante, de uma vida social, política e econômica em padrões superiores.

O discurso propriamente dito


Queridos amigos!

Seria impossível para mim, e certamente incompreensível para vocês, se desenvolvesse este discurso sem falar em política, principalmente num momento em que a economia estertora em ambiente de descrédito e de más expectativas. Ambiente que significa uma possível nova recessão, novos desempregados, novos desabrigados, velhas e novas empresas fechando as portas.

É um momento de ter a cabeça no lugar para perceber que esse descrédito não se deve às medidas propostas pelo governo, das quais, ao contrário, se esperam soluções. Sabidamente, quando forem aprovadas, os gráficos e as curvas das tendências começarão a se inverter.

Os problemas principais são dois:

1º) a irracionalidade do sistema político que primeiro elege o governante e, depois, o incumbe de virar-se para compor maioria. É como se dissesse: “Dê um jeito aí e consiga 308 votos na Câmara e 48 no Senado!”. O meio comum de fazer isso é o pior possível e termina em delação premiada.

2º) o sistema conduz o parlamento à irresponsabilidade em relação aos problemas do país. Ontem (20/05) , diante da reação das redes sociais, parece que a Câmara dos Deputados pegou no tranco. E hoje o dia transcorre como se a ideia de recriar os dois ministérios mais gastadores e perigosos da antiga estrutura não tivesse dono conhecido. Ninguém os quis e ninguém os quer. Ótimo! Mas a crise poderia aprofundar-se e o jogo das negociações chegar ao impasse. No impasse, nos tantos impasses que já tivemos, nada acontece no governo, nada acontece no parlamento, mas a conta vem para a sociedade. E tem-se a crise.

***
Aos meus 74 anos, onde posso contar mais de meio século, portanto, de cidadania responsavelmente exercida, eu não lembro de ter vivido algum período sem crise. A crise é companheira cotidiana da vida dos brasileiros. Escrevi outro dia, que cada dia tem, necessariamente, sua crise e sua cueca.

A crise é econômica, é social, é cambial, é criminal, é inflacionária, é recessiva, é política, é juspolítica, e, enquanto isso, seja numa, seja noutra, seja em várias simultaneamente, o país naufraga socialmente nos porões, valões e escorregadias encostas da miséria. E nos dois paradigmas nacionais: o da ordem e o do progresso.

Eu me consideraria um vitorioso se, um dia, a sociedade despertasse para a irracionalidade de um sistema político que tão levianamente irresponsabiliza os parlamentos. E faz isso:

• seja não permitindo ao governo fazer o que deve,
• seja não o impedindo de fazer o que não deve,
• seja obrigando o governo a fazer o que não deve.
Em todos os casos, nenhum ônus vai à conta do Parlamento! Todos vão à conta financeira da sociedade e à conta política do governante, como se ele pudesse tudo, inclusive operar milagres.

Só isso bastaria para a reprovação moral do sistema político brasileiro. E vejam que eu sequer mencionei a imposição dos negocistas que, em cada proposta, olham para o governo com a cupidez de quem percebe a oportunidade de obter alguma vantagem.

***
As instituições têm um papel pedagógico diante da sociedade. Se racionais, elas educam politicamente os cidadãos. Se irracionais, elas os deseducam e as consequências costumam ser desastrosas.

Levam o Estado a tornar-se gastador (para atender as demandas sociais e políticas). A endividar-se para continuar gastando além da conta, até que a dívida se torna impagável. Essa é a hora em que as marmotas saem da toca para exigir a aplicação do calote aos credores, em nome de uma estranha justiça social, para que o Estado continue gastando. Nossas marmotas já saíram da toca. E o Congresso dá sinais de querer que o governo continue gastando...

***
Outro dia, ouvi de um taxista:” É, o Brasil não tem jeito. Está sempre sendo roubado pelos estrangeiros. Sobreveio-me uma tristeza infinita ao ouvir aquela arenga das Veias abertas na América Latina. Segundo ela, somos pobres por culpa dos outros. Porque os portugueses vieram nos explorar e levaram nosso pau brasil. É verdade, está fazendo uma falta! Não dizem, porém, ter sido a coroa portuguesa que criou as primeiras leis preservacionistas, designando as “madeiras de lei”, ainda hoje tidas e descritas como tal.

“Levaram nosso ouro!”, como se a mineração não fosse um negócio privado sobre o qual a coroa cobrava imposto de um quinto, difícil de arrecadar porque a turma criava novos e novos desvios para chegar aos centros urbanos sem passar pelos postos fiscais. O ciclo do ouro do Brasil fez a riqueza do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de São Paulo, de Cuiabá.

Portugal não veio levar nossas riquezas Tivesse vindo, teria construído barracas, em vez de igrejas, cidades, palácios, modestos, mas dignos como os do reino. Veio nos trazer a Europa, sua civilização e sua cultura que, para nós chegou com as bênçãos da fé e do idioma que aprendemos da voz nos nossos país. E disso e de muito mais somos herdeiros.

***
Aprendi a amar o Brasil estudando História e ouvi, mais tarde, para jamais esquecer, que ninguém ama o que desconhece nem esquece do que ama. Assim como isto vale para o amor a Deus e para o amor aos amigos, vale, também, para nosso país.

Entre nós, porém, tudo é feito para que o Brasil seja apresentado aos estudantes, aos jovens, como palco de mazelas, deplorável e reprovável. Quanta perversidade nessa história ensinada por catadores de lixo, que põem o lixo na vitrina enquanto ocultam todo bem de que somos herdeiros! Dão-se bem nas trevas. São como insetos de caverna que fogem da luz. Escondem os heróis da pátria, seus fundadores, a beleza e grandeza de um passado que começa muito antes de Cabral e do qual Cabral foi apenas portador!

Dói no coração perceber que tantos jovens brasileiros são levados, assim, a não amar o Brasil. Não sabem de o quanto são herdeiros! Isso lhes é ocultado! Nem o hino nacional lhes é conveniente e suficientemente ensinado.

Dói no coração! Vale o mesmo para Porto Alegre, numa forma muito bem posta pelo nosso saudoso historiador Francisco Riopardense de Macedo, meu professor na Faculdade de Arquitetura e citado pelo AA Mayer dos Santos em seu livro sobre os prefeitos de Porto Alegre.

“Quem não conhece a história de sua cidade, que é parte de sua própria, não é cidadão. É hóspede.”

 

 

Percival Puggina

20/05/2019


“Vejo grandes perigos que são possíveis conjurar, grandes males que se podem evitar ou restringir, e firmo cada vez mais a crença de que, para serem honestas e prósperas, basta ainda que as nações democráticas o queiram.” Alexis Tocqueville


 “Ingênuo!”, exclamarão alguns. “Não entende de política!”, dirão outros. “Quem é esse cara?”, indagarão muitos.

Que as pessoas argumentem para defender o próprio interesse é perfeitamente comum. Na política, muito “escondidinho” é feito com esse recheio. Bem diferente é o que acontece quando os sofismas são apresentados por pessoas e por meios de comunicação dos quais se espera melhor discernimento.

Afirmar que o Congresso pode barrar a Medida Provisória da Reforma Administrativa e argumentar sobre os fundamentos desse direito, é bem diferente de sair em defesa do Centrão (do Centrão!) quando faz isso. Aqui estamos diante do interesse público, do desrespeito à vontade popular que quis eleger um governo e um programa comprometido com a austeridade e a redução do gasto. A MP da Reforma Administrativa define o modo como o Presidente pretende governar. Com ela, reduziu para 22 o número de ministérios, extinguiu 21 mil cargos de confiança e eliminou custos fixos que ascendem a centenas de milhões de reais.

O Centrão, que não se confunde com o Congresso, e certamente não reúne a elite moral do Parlamento, decidiu – de modo inédito – intervir na forma como o governo deve ser organizado, cobrando a recriação de pelo menos dois ministérios (o das Cidades e o da Integração Nacional). Além de ser, o primeiro, um anacoluto na gramática de uma Federação, as duas pastas serviam aos interesses políticos dos congressistas junto aos prefeitos e governadores. Eram ministérios endinheirados e agências de negócios tão importantes quanto escusos. Reabri-los é uma bofetada na face da maioria do eleitorado que se manifestou nas urnas de outubro do ano passado. O mais desinformado jornalista de Brasília sabe disso e sabe que, exatamente em nome do respeito devido a quem venceu a eleição, o Parlamento deve se manter em prudente distância do modo como o governante eleito pretende organizar seu trabalho.

Não há, nesse sentido, uma autonomia absoluta do Executivo, mas há uma autonomia relativa, saída da consideração à decisão das urnas. Há coisas que não se deve fazer e uma delas é exigir a criação de ministérios como condição para aprovar projetos de governo. Isso não expressa uma convicção técnica sobre gestão, mas uma operação comercial. É indecente com todos os créditos do adjetivo, principalmente quando o Centrão quer a volta dos ministérios para si, com porteira fechada!

Portanto, dizer que tal conduta é própria da democracia e das prerrogativas dos poderes é defender um jogo político que levou muitos aos desconfortos dos cárceres! Tudo bem que Rodrigo Maia e seus seguidores queiram isso. Tudo bem que a oposição formal estimule todos os descréditos daí decorrentes. Tudo bem que muitos se deixem levar na conversa e que se ouricem os políticos beneficiados pela “negociação” que troca voto por cargo e influência. Mas não venham membros da Academia, jornalistas de relevo (valor é outra coisa), dizer que o Presidente, ao manifestar seu desgosto, revela espírito autoritário e incapacidade de conviver com os fundamentos da democracia. Todos nós sabemos o quanto era desprezível e quanto mal fez às finanças do país, a harmoniosa relação dos governos petistas com sua base.

Quando foi decidido que é inconveniente escandalizar-se diante de algo escandaloso? “Democracia” com esses fundamentos descreve bem os governos anteriores, aos quais correspondem outros adjetivos que recheiam milhares de páginas de inquéritos e sentenças judiciais condenatórias. A isso a maioria do eleitorado de outubro, que exige respeito, disse um redondo não. Isso tem menos a ver com Bolsonaro e mais a ver com o Brasil querendo ser honesto e próspero.

 

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

17/05/2019

 

 Todo dia, toda hora, em algum lugar, alguém está falando a nós, o povo. Falam-nos nos meios de comunicação, nas redes sociais, nas tribunas, nos púlpitos, nos palanques sobre o que nós, o povo, queremos. E sempre há alguém acusando outrem, por estar fazendo as coisas de modo diverso daquele que nós, o povo, desejaríamos. Essa apropriação, que nos converte em gado do discurso alheio, é uma espécie de abigeato praticado cotidianamente. Muitas vezes, a verdade nos é roubada e a mentira vendida ao povo.

 Há no povo homens e mulheres; há crianças, jovens, adultos e idosos (e também jovens idosos e adultos infantis); há pessoas instruídas e incultas, bem como sábios incultos e acadêmicos tolos; existem pessoas dos campos e das cidades, do febril anonimato das grandes metrópoles e das pequenas comunidades urbanas onde todos se conhecem; há pessoas de várias classes sociais e níveis de renda; há no povo uma diversidade cultural, racial e religiosa. Em cada grupo encontraremos bons e maus, trabalhadores e vadios, pessoas com e sem esperança, enfermos e sãos, cada qual com suas debilidades e fortalezas, vocações, inclinações e tendências políticas.

 Tudo isso é povo. Como pode alguém, pois, apropriar-se de todos e de cada um, como enlouquecido aparelho de rádio que sintonizasse, simultaneamente, o conjunto das emissoras? Ninguém, a rigor, tem o “povo” nas mãos, seja governo, seja oposição. (Espero que me entendam, quando digo isso, aqueles que mais precisam entender).

 Lembro-me do governo Olívio Dutra e do Orçamento Participativo (OP). Segundo seus promotores, aquilo era uma forma de atribuir ao “povo”, a decisão sobre o destino das verbas públicas. E o “povo” ia para lá e para cá nas assembleias do OP. Nelas o “povo” deliberava exatamente sobre os gastos não obrigatórios, as tais despesas discricionárias de que hoje tanto se fala. No final do processo, todo o “povo” convergia à Praça da Matriz para um grande comício com bandeiras vermelhas e palavras de ordem. Ali, testemunhavam algo insólito: a trepidante e inolvidável entrega do Orçamento do Estado à Assembleia Legislativa. Juro para vocês! Eu vi isso acontecer, mais de uma vez... As velhas entranhas do Theatro São Pedro, no outro lado da praça, roíam-se de inveja por nunca haverem reunido tanto público nem tantos talentos da nobre arte de representar. Ah! Claro, nenhum OP estadual gaúcho cumpriu, senão minimamente, o que foi deliberado pelo “povo”. O contingenciamento sempre pegou firme.

Na recente mobilização do “povo” pela Educação, que ganhou repercussão nacional, eu assisti a uma repórter da Globo sublinhando que o ato não era político nem partidário... Qualquer imagem em close ou microfone aberto mostrava justamente o contrário nos cartazes, nas cores, nos símbolos, nos discursos. A Educação, a pobre e deficiente Educação nacional, foi intensamente maltratada, aliás, na gramática, no desapreço à verdade dos fatos e no escancarado paradoxo de quem silenciou em todos os contingenciamentos promovidos pelos governos petistas (cumprindo a lei, diga-se de passagem), e sai aos berros quando outro governo adota o mesmo procedimento.

Existem políticos, jornalistas, sindicalistas, militantes, professores, que têm verdades de fabricação caseira. É uma produção barata, que conta com logística estruturada para circulação e distribuição.


* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

15/05/2019

“O que estamos discutindo dentro do Centrão é que precisamos fazer uma reforma que não garanta a reeleição de Bolsonaro. R$ 800 bilhões garantem, de cara, a reeleição de qualquer um. Se dermos R$ 800 (bilhões de reais) como disse ele, significa que nos últimos três anos de governo (na Presidência), há R$ 240 bilhões ao ano para gastar. Eu acho que temos de ter (economia) em torno de R$ 500 bilhões. R$ 600 bilhões seria o limite para essa reforma”. (Dep. Federal Paulinho da Força)

 Talvez nunca como nestes dias o pecado original de nossas instituições tenha exibido aos olhos da nação sua face ímpia e impiedosa. O pecado é velho como a República. É original porque nasceu com ela. E é mortal porque, desde então, responde por inextinguível sucessão de crises sociais, políticas e econômicas.

 Dou aqui meu testemunho sobre o que vi e vivi em mais de meio século de atenta observação: as crises brasileiras são como as cuecas do cotidiano. Não há dia sem cueca, nem dia sem crise. Estamos sempre com elas, companheiras inseparáveis, a cueca e a crise.

 Não vou entrar na chatice técnica da alfaiataria institucional e seus defeitos de costura. Irei direto ao ponto que avulta sob nossos olhos quando o ministro da Economia, um homem que sabe o que diz e não brinca em serviço, afirma que a Economia está no fundo do poço. Sabemos, todos, que para lá deslizam as esperanças dos necessitados, dos desempregados, dos desabrigados e a confiança dos investidores, cuja atividade poderia vir em seu socorro. É a crise.

 Claro, o Congresso Nacional poderia – não mais do que isso, “poderia” – acelerar a aprovação de projetos de reforma previdenciária e fiscal que, sabidamente, restaurariam a confiança dos investidores, a credibilidade dos mercados na seriedade da gestão pública nacional. Mas no Congresso Nacional, Paulinho da Força fala pela alma da Casa. É a cueca.

Ao longo de décadas, os problemas fiscais foram empurrados com o umbigo, o endividamento chegou a treze dígitos, pode alcançar R$ 5 trilhões e engolir um PIB inteiro. Mas nada é tão importante quanto a próxima eleição.

O Congresso Nacional, em vez de arregaçar mangas e votar as reformas, se compraz com obstruções e negociações deliberadamente infindáveis, mantendo a velha tradição de preservar dedos, anéis, pulseiras, colares e cofres na Suíça. As exceções, honradas e celebradas exceções, são em número insuficiente para vencer a inércia dos que preferem deixar tudo como está. Para estes últimos, até uma tragédia de porte bolivariano serve contanto que isso lhes viabilize a reeleição, que o COAF fique longe de Sérgio Moro, que se recriem alguns ministérios gastadores e que o sindicalismo militante e partidário preserve suas sinecuras. Tudo sem pressa porque a pressa é inimiga da refeição.

O que descrevi é pecado, é mortal, mas não é o pecado original. O pecado original do modelo institucional brasileiro consiste na irresponsabilidade institucional dos parlamentares. São como engenheiros cujas obras pudessem desabar sobre a cabeça dos outros sem que nenhuma consequência os atinja. Tudo é cobrado do governo ainda que este só possa fazer o que eles permitem. Aconteça o que acontecer, sejam quantos forem os novos desempregados, nada os interessa e preocupa mais do que a próxima eleição.

Há uma multidão de novos congressistas. Foram necessários menos de quatro meses para que muitos, não se sabe ainda quantos, fossem cooptados pela mentalidade irresponsável da Casa. Há, porém, gente da melhor qualidade, aparentemente poucos, em cujo exemplo e trabalho repousa parte da nossa confiança e esperança.

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

13/05/2019

Enquanto o Congresso impede o governo de salvar a economia e moralizar o país, importantes veículos e multidão de jornalistas se dedicam, quase esportivamente, a tarefa cotidiana de responsabilizar o Presidente. E dane-se o Brasil e os brasileiros!

 O Impeachment e a Lava Jato criaram condições para que o rumo da história mudasse e para que o Brasil retornasse às mãos de seu povo. Pessoalmente, saí de trás do teclado, do microfone e do vídeo, onde atuava havia várias décadas, e fui para a rua. Para espanto geral dos familiares e meu próprio escândalo, fiz passeata, carreata, subi em carro de som, discursei em todas as manifestações havidas em Porto Alegre. Jamais fizera nada assim, nem mesmo quando fui candidato. Não era para mim, mas pelo Brasil e sua gente que precisava ser libertada e ter sua dignidade restaurada.
Centenas de vezes, ao longo das últimas décadas, com total senso de pregar no deserto, assim como denunciava os descaminhos por onde a esquerda conduzia os povos, Brasil aí incluído, cuidei de denunciar, também, o absurdo de um modelo institucional em que o governo, a administração e órgãos do próprio Estado são moeda de troca para compor maiorias parlamentares negocistas e custear suas negociatas. Questões institucionais, contudo, nunca são levadas a sério no Brasil!

Nas eleições de 2018, o Brasil mudou de mãos. O eleitorado brasileiro promoveu uma faxina no Congresso Nacional. A vitória de Bolsonaro incomodou a esquerda no Brasil e no mundo, desencadeando ódios cósmicos que estão em curso.

No entanto, para tudo deve haver limites. E o que está acontecendo os excede totalmente. O irracional modelo institucional brasileiro, ficha irreparavelmente suja, que nunca produziu bons resultados levou apenas quatro meses para recompor um mal-intencionado Centrão que quer governar o governo. Um Centrão que quer tirar o COAF (órgão criado para combater crimes financeiros, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo) do Ministério da Justiça e restitui-lo ao Ministério da Economia porque enquanto ali esteve hospedado a bandalheira correu solta.
Em nossa longa história, governos criavam ministérios e espargiam recursos orçamentários para contentar partidos que, de olho no butim, cresciam como moscas no bufê do poder. Bolsonaro reduziu o governo a 22 pastas, não fez negócios com elas e não cessou de ser criticado por isso. Agora, o Centrão quer recriar uma excrescência não federativa, o Ministério das Cidades, que foi verdadeiro escritório de corretagem dos negócios eleitorais dos piores congressistas. De contrapeso ainda exige a recriação do Ministério da Integração Nacional. No primeiro, os parlamentares fazem acordos com os prefeitos; no segundo, negociam com os governadores. E todo jornalista de Brasília sabe disso!

Eu nunca vi o Congresso Nacional determinar ao governo que, contra a vontade do Presidente da República, crie ministérios para deleite de seus membros!

Diante desse quadro sinistro, que ameaça o futuro da reforma da Previdência, que se contrapõe ao combate à corrupção, que quer restabelecer as sinecuras sindicais e reintroduzir a contribuição obrigatória, que a tudo quer adiar, obstruir e impedir, parcela significativa da imprensa se dedica a criticar o Presidente. A ironia da coluna de amanhã é mais importante que o futuro do Brasil e de seus desempregados. Imaginam, talvez, ser maiores do que o buraco que, por exclusiva responsabilidade do Congresso Nacional, se descortina, hoje, para o futuro do país. Talvez se creiam, para sempre, na mesa das lagostas e dos vinhos finos.

O Brasil está em cabo de guerra. Numeroso grupo de congressistas o quer tomar de nossas mãos. Querem governar o governo. Não esmoreça, não abandone o posto, não largue a corda.
 

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

10/05/2019

 

 

 Ontem, 9 de maio, numa cumplicidade translúcida, escancarada, as raposas da comissão mista meteram pata na reforma administrativa austera e séria proposta pelo Presidente. Não lembro de que algo assim já houvesse acontecido. O Congresso negar ao eleito a possibilidade de organizar seu governo segundo melhor lhe pareça? Note-se: essa metida de pata ocorreu para recriar dois ministérios que são autênticos navios piratas, a serviço dos cambalachos em que se negociam votos e se atendem interesses locais em detrimento da conveniência nacional. A recriação do Ministério das Cidades e do Ministério da Integração Nacional tem que ser lida e entendida pelo que é: uma regressão à velha política, à política das raposas. Se vivemos ou se queremos viver numa Federação, poucas coisas serão tão perniciosas e não federativas quanto um Ministério das Cidades e um da Integração Nacional. Ambos são clara expectativa de influência e poder sobre os prefeitos e governadores, com mediação e bônus para aquele lastimável tipo de congressista que, sem isso, não sabe o que fazer em Brasília.

 Sem essas duas pastas (pelo controle das quais se engalfinharão), as velhas raposas viam verdes as uvas...

Aquela esperança que se acendeu com o resultado das eleições de outubro passado, determinando grande renovação nas duas casas do Congresso, já foi consumida pelo jogo de interesses da velha política. Ela continua a dar as cartas, os partidos do velho Centrão receberam a lição das urnas, mas rapidamente recrutaram adeptos entre os novos colegas e se firmaram como centro de poder. Ontem se juntaram ao PT para tirar o COAF das vistas do Ministério da Justiça, vale dizer, de Sérgio Moro, para hospedá-lo no Ministério da Economia.

O Ministério da Economia não é hospedaria adequada para o Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Na página do órgão, lê-se:

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras - Coaf tem como missão produzir inteligência financeira e promover a proteção dos setores econômicos contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.

Não se trata, como tentaram fazer crer alguns meliantes da retórica parlamentar, de um órgão para “lidar com finanças”, em paralelismo ou em subsídio ao Banco Central. O COAF, como se vê e como ele se descreve, é um órgão para investigar condutas criminosas, ilícitas, que requerem ação do Ministério da Justiça e da Polícia Federal, e relações institucionais com MPF e Justiça Federal. Bolsonaro levou o COAF para o lugar certo, onde os bons cidadãos sabem que ele deve ficar.

Raposas cuidam de seus rabos ainda mais do que macacos. Se o COAF deve ir para a pasta da Economia, a Polícia Federal deveria, pelo mesmíssimo motivo, ir para a Secretaria da Pesca.

Essas decisões da comissão mista, que agora dependem dos plenários das duas casas, são importantíssimas ao futuro do país. Enquanto as velhas raposas do Congresso Nacional, ao modo vulpino, ajudam o PT, agora na oposição, a quebrar de novo o país, discutem-se entre nós temas que, em poucos meses, virarão blábláblá dentro do buraco de que nos avizinhamos. Todas as raposas, creiam, estarão do lado de fora e não lhes faltarão uvas. Nem vinhos finos.

P.S. Melhor será se acordarmos logo para o fato de que não aconteceram as esperadas mudanças no Congresso Nacional. Estes dias deixaram evidente que as velhas raposas do Centrão continuam dando as cartas e ignorando o país real. O Congresso foi renovado, mas a regra do jogo continua sendo ficha suja. Então, escrevi este artigo para que isso nos mobilize. Depois de tudo que aconteceu nos últimos seis anos, esses cavalheiros e essas damas não podem imaginar que tudo continuará como antes. Nem pensar!

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.