Percival Puggina

30/01/2013
Do alto de seus vinte anos, os jovens contemplam a vida como quem, do alto de uma montanha, observa, extasiado, o mundo ao seu redor. Horizontes amplos, infinitas trilhas e 360 graus de possibilidades. Nessa idade, eu me lembro muito bem, a vida é eterna e a esperança infinita. Só os avós morrem quando se tem vinte anos. O velório de um jovem é inconcebível ruptura com a ordem natural. Contudo, a morte espreita a juventude com olhos cobiçosos. Enquanto os idosos morrem porque chegou a hora, porque dar adeus à vida terrena é próprio da velhice, os jovens morrem de infinitas maneiras, revelando inesperada vulnerabilidade. Idosos morrem porque não podem alterar o curso da vitalidade que se extingue. Jovens, porém, morrem desnecessária e superfluamente, por motivos que poderiam ser evitados. Essa é a tragédia das tragédias cotidianas. Ir-se assim, sem que nem porquê? Jovens morrem nas ruas, nas estradas, nas brigas entre gangues, na lenta e dolorosa morte das drogas, nas madrugadas onde a violência espreita, nas infames brigas por motivos fúteis. Morrem nas aventuras e travessuras, na terra, na água e no ar. Por isso pais e mães carregam no peito uma incompreendida e permanente aflição. A respiração para quando o telefone toca e para quando o telefone não toca. Paranóicos, nós? Não, não. Simplesmente pais cuidadosos de filhos incautos, que creem haver bebido a imortalidade no cálice da juventude. As grandes catástrofes carregam em seu script uma pedagogia brutal. Há nelas uma lição sobre o que não fazer. Sua dissonante partitura se faz com notas que pedem atenção e reflexão. Desafortunadamente, numa espécie de autodefesa, cerramos os olhos e os ouvidos. E pouco aprendemos com as lições que nos vêm dos sinistros e dos escombros. Por isso escrevo com a esperança de que a crudelíssima pedagogia dos fatos do dia 27 mostrem aos nossos jovens que nós, os pais, não somos coroas paranóicos a vislumbrar perigo ali onde tudo indica morar a felicidade e a alegria. Por isso escrevo confiando em que os jovens não pressuponham que as autoridades fazem sempre, em toda a parte, tudo que lhes compete para garantir a sua segurança. Não! Muitas vezes é o contrário. Por isso escrevo desejando que os jovens, diante de tão sofrida experiência, valorizem o dom maravilhoso da vida como uma dádiva frágil a exigir prudência e atenção. As alegrias dos filhos serão maiores e as aflições dos pais serão menores se, doravante, filhos e pais forem severos fiscais da própria segurança onde quer que estejam. ZERO HORA, 29/01/2013

Percival Puggina

28/01/2013
TRANSPARÊNCIA, APESAR DO VOTO SECRETO Percival Puggina Sim, o voto para eleição da presidência e demais membros das mesas diretoras das duas Casas do Congresso Nacional é secreto. Mas não existe qualquer proibição para que os parlamentares informem a seus eleitores em quem votaram. Como cidadão, eu espero essa resposta dos senadores e deputados eleitos pelo Rio Grande do Sul. Vamos ver quem tem e quem não tem compromisso com a transparência de suas decisões.

Percival Puggina

26/01/2013
O rapaz que fez soar a campainha era magro como a fome. Aproximei-me para ver o que desejava. De perto, descamisado, pele sobre osso, parecia um raio-x. Enquanto exibia um papel com assinaturas e carimbos, disse-me que estava em deslocamento para uma fazenda de recuperação de dependentes químicos. Mas não tenho o dinheiro para a passagem, arrematou com olhar súplice. Pelo sim, pelo não, dei-lhe dez reais e lhe desejei uma boa internação, proveitosa à sua recuperação. Dias depois, reapareceu-me à porta com o mesmo ar de sofrida determinação em buscar a cura. Identifiquei-o pelas costelas. O rapaz curtia tanto suas pedras de crack que fumava até o dinheiro da comida. E, com isso, fumava e descarnava o próprio corpo. O caminho da recuperação só é percorrido quando o viciado percebe a extensão do mal que a droga já lhe causou. A desgraça terá superado, então, o prazer. À falta dessa consciência, o viciado permanece em trânsito, dizendo que vai, mas não vai. Anunciando a busca de uma cura que não deseja ou não tem forças para enfrentar. *** O Congresso Nacional está doente. A instituição, eivada de vícios, mal se apruma. Sua imagem perante a opinião pública é péssima. Lembra o rapaz com cara de raio-x. Membros do Poder, feitas as honrosas exceções, tornaram-se dependentes de algo que parece muito bom - as emendas parlamentares. E a elas sacrificaram sua autonomia. Fumaram, no cachimbo das emendas, muitas convicções, credos e valores. Em torno delas, como acontece com as famílias dos dependentes químicos, estabeleceu-se uma rede de sujeições que envolve prefeituras e comunidades inteiras. Isso está destruindo a política. Explico. Na votação do orçamento da União, é permitido aos congressistas, todo ano, mediante emendas ao projeto do governo, destinar recursos para fins específicos, de interesse das suas comunidades. Um total de R$ 15 milhões em números de 2012. Como se sabe, na prática administrativa brasileira, o orçamento é mera autorização ao governo para gastar. Assim, as emendas parlamentares ao orçamento se tornaram moeda de troca, liberadas ou não pelo governo segundo a relação que os proponentes mantenham com ele. É o governo que abre, se e quando quer, a porta do Tesouro. Pois mesmo sob tal garrote, imposto pelo Palácio do Planalto, esse instrumento de liberação de recursos se tornou tão importante que a expressão emenda parlamentar virou sinônimo de proposta de recursos para fins específicos indicados por congressista. São recursos muito bem-vindos a pequenas prefeituras, instituições comunitárias e serviços de atenção à saúde, principalmente. Viabilizam obras e serviços que, sem elas não seriam prestados. No entanto, a mistura dos dois elementos - a possibilidade de emendar para atender as comunidades e a possibilidade de não ser autorizada a liberação - é letal. O governo atua como traficante e a maioria dos parlamentares se comporta como dependente. Enquanto isso, uns poucos lutam, sem muita esperança, por mudanças de rumo. Bastaria, por exemplo, reduzir o montante das emendas (já que o governo libera, mesmo, apenas uma parte delas) e tornar compulsória a autorização dos recursos por elas destinados. Mas para o governo, centralizador e autoritário, o cabresto sobre o parlamento transformado em dependente é o melhor dos mundos. Nossa democracia já está com as costelas de fora. ZERO HORA, 27/01/2012

Percival Puggina

25/01/2013
CONTO UM CONTO E NÃO AUMENTO NENHUM PONTO Percival Puggina O fato abaixo descrito ocorreu em meados de 2010.Certa tarde, tocou meu telefone e alguém me perguntou se poderia atender o secretário de Segurança Pública, general Edson Goularte. Pouco havíamos falado até então, o secretário e eu. Dele só tinha a imagem de um homem sereno e firme. Surpreendeu-me com um convite: O senhor aceitaria comparecer, como meu convidado, a uma reunião que manterei amanhã com representantes do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana?. Sim, eu aceitaria, claro. Como não? No dia seguinte, de paletó e gravata, como convém, compareci ao gabinete do secretário. Dali, após rápido cafezinho, fomos para a sala onde transcorreria o encontro. Falando pelos visitantes, o presidente do dito Conselho (o mesmo desembargador que ainda hoje dirige o organismo) fez breve relato de suas observações sobre o ocorrido na desocupação de uma fazenda em São Gabriel e reconheceu que as investigações a propósito do assassinato de um invasor avançavam regularmente. Em seguida, apresentou um curioso conjunto de postulações que considerava necessárias para haver mais paz no campo. Muito o gratificaria, por exemplo, que o governo gaúcho criasse uma brigada agrária, uma polícia agrária, uma justiça agrária (ou coisa que o valha) e sei lá mais o que agrário. Propunham, enfim, a criação de um conjunto de órgãos específicos para atuar em conflitos no meio rural (entendendo-se por conflitos aquilo que acontece quando o MST decide invadir alguma coisa, claro). As propostas foram recusadas pelo secretário. O Estado não dispunha de recursos para criar essas novas estruturas e o governo não via razão para fracionar as existentes. Ponto. Vamos adiante. Foi então que se deu o episódio a seguir, que relato em virtude de sua exemplaridade. Um dos membros do grupo visitante, em tom de espanto e sensibilidade arrepiada, disse ter chegado ao seu conhecimento que o comando da operação policial postado diante da área invadida impedira a entrega de alimentos aos invasores. Quando ele se articulava para dar sequência às expressões de sua inconformidade, o secretário interrompeu: Por ordem minha!. Entreolharam-se, incrédulos, os membros do Conselho. E o general prosseguiu: Se a Justiça determinara que eles saíssem, como haveria o Estado de lhes entregar alimentos para que ficassem?. Diante de lógica tão irretorquível, o outro optou por dramatizar ainda mais: Mas havia crianças ali, secretário!. Só não fungou uma lágrima porque ela não lhe veio. E o general, no mesmo tom sereno: A porteira estava fechada quando entraram, mas sempre esteve aberta para saírem. Responsabilize os pais pela situação que descreve. Por que estou contando isso? Porque esse diálogo serve para mostrar que movimentos revolucionários tipo MST, e a mentalidade revolucionária dos que deles se valem, são capazes de apresentar mistificações como teses e sofismas como argumentos, cobrando das autoridades, para aquelas e para estes, atenção e acatamento.

Percival Puggina

25/01/2013
E olha que são os pontos altos das campanhas! Durante os processos eleitorais para os cargos de presidente da República, governador e prefeito, os eleitores mais interessados aguardam com expectativa a realização dos debates que, reunindo todos os candidatos, estabelecem o confronto direto entre eles. Fora dos debates, os candidatos falam sozinhos, com textos e imagens editados por especialistas em comunicação, notadamente cientistas políticos, publicitários e jornalistas. Já nos debates é cada um por si, com a cara e a coragem. O debate é o palco do improviso, do inesperado, da ação e da reação. O objetivo de todo processo eleitoral e da publicidade dos concorrentes a postos executivos é tornar conhecidos os personagens e suas propostas de gestão. Os debates operam na mesma trilha. Com pequenas variações, as cenas se repetem, eleição após eleição, mais ou menos como descreverei a seguir. Os candidatos, dispostos um ao lado do outro, respondem perguntas formuladas pelo mediador e debatem entre si, dois a dois, o que tenha sido dito. Em sucessivos rounds, o apresentador enfia a mão numa urna e saca a pergunta (como antigamente, em tempos saudosos da Educação de qualidade, se sorteavam pontos de dissertação nos exames orais dos colégios): O assunto, agora é ... Infraestrutura!, anuncia e de outra urna saca o nome de quem vai responder. E os temas se sucedem, sempre os mesmos, referindo problemas recorrentes para obter respostas sempre iguais. Todos os leitores já assistiram essa cena incontáveis vezes e certamente perceberam que os candidatos, de fato, dizem mais ou menos a mesma coisa, tendo como ponto de partida a afirmação de que aquele tópico terá prioridade absoluta em seu governo. E acrescenta que é preciso investir mais nisso, com capacidade de gestão, para que a comunidade seja bem atendida. A partir daí o confronto se trava no plano individual, em torno da capacidade do interlocutor para fazer o que diz ou de sua credibilidade para criticar o que critica. Essa é apenas a primeira metade da história. A segunda se desenrola após a eleição. O candidato vitorioso, que prometeu fazer e acontecer, faz e acontece tudo ao contrário do que disse. Suas primeiras, mais urgentes e principais providências, as prioridades absolutas, são criar novos cargos para os parceiros, aumentar os vencimentos dos postos de confiança, meter mais um garrote financeiro nos aposentados, ampliar o orçamento para publicidade, tentar elevar impostos, taxas e tarifas, e por aí vai. Tivesse o candidato anunciado uma só dessas medidas durante a campanha eleitoral, teria encontrado as urnas vazias de votos para si no dia do pleito. Estou cansado de ver isso. Portanto, sugiro aos grandes veículos de comunicação uma alteração nas regras para tornar mais proveitosos os debates do ano que vem. Em vez de perguntar aos candidatos o que eles pretendem fazer, pergunte-se a eles o que não farão em hipótese alguma. Aí sim, com absoluta segurança, saberemos o que eles vão, mesmo, fazer. Um processo eleitoral que convive inconsequentemente com a mentira atenta contra a própria democracia. ______________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

19/01/2013
Atravessou os últimos sete anos sem esclarecimento cabal a incompatibilidade entre a consagração que o povo brasileiro dedica ao ex-presidente Lula e o que esse mesmo povo diz quando chamado a opinar sobre a moralidade da conduta de terceiros. Alguns analistas consideram, com bastante razão, que o brasileiro médio não consegue conectar o que pensa com o que faz. Simetricamente, as ações e omissões de Lula na vida real não influenciam o juízo que esse mesmo cidadão faz do ex-presidente. Já saiu de cartaz e vai para a amnésia seletiva a operação da Polícia Federal que revelou as relações promíscuas da personagem Rosemary com pessoas envolvidas em corrupção. Os fatos, que teriam tudo para abalar fortemente a imagem de Lula sequer lhe fizeram cócegas. No entanto, um breve resumo do que se tornou público mostra a gravidade das revelações. Vejamos: a) Lula tinha um affaire com Rosemary (até aí nada que mereça interesse, a não ser de alguma vizinha fofoqueira); b) para tornar mais fáceis essas relações, ele criou um cargo federal em São Paulo, designou Rosemary para esse posto e transferiu para nós, pagadores de impostos, o ônus de sua manutenção (aqui os problemas já entram para o campo político e penal, de onde não mais sairão, ainda que sobre eles se estejam empilhando as páginas do tempo); c) com o mesmo intuito de favorecer os encontros entre ambos, Lula inseriu a amiga nas comitivas que o acompanharam em dezenas de roteiros internacionais, com livre acesso aos seus aposentos privados, transformando em motel a aeronave presidencial; d) num arroubo tão sem propósito quanto o de Calígula ao incluir seu amado cavalo Incitatus na lista dos senadores de Roma, Lula fez com que fosse fornecido passaporte diplomático à sua teúda e nossa manteúda, dando-lhe status de servidora do país no cenário internacional; e) obviamente, a condição de servidora pública em missão diplomática, credenciou Rosemary às diárias pagas aos funcionários em tais situações; f) para ocultar todos esses fatos ao conhecimento da matriz, Lula, contrariando rigorosos dispositivos que regem as viagens aéreas, exigia que o nome da filial fosse suprimido das listas de passageiros embarcados na aeronave presidencial. Os leitores destas linhas sabem que tudo isto é fato. Aliás, fato que tão logo divulgado constrangeu a presidente Dilma a extinguir o cargo que a nossa manteúda ocupava no tal escritório de representação do governo federal em São Paulo. E o ex-presidente, a despeito de sua situação de homem público e de suas responsabilidades em relação aos próprios atos, manteve-se quieto como, digamos assim, um guri cujas fraldas precisam ser trocadas. Mesmo assim, o efeito dessas revelações sobre a imagem e o prestígio de Lula é igual a zero. Efeito nenhum. Ora, se forem verdadeiros os sempre altíssimos percentuais de apoio ao ex-presidente, é provável que muitos leitores destas linhas tenham o maior apreço pelo nosso Berlusconi matuto. Mas é inegável que o objeto desse apreço é um perfeito velhaco. ______________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

12/01/2013
Proporcionar segurança à sociedade é uma das finalidades do Estado. No entanto, cresce a sensação de insegurança e é imperioso refletir sobre o tema. As tarefas que convergem para esse elemento tão importante do bem comum não avançam em qualquer dos três poderes. Não se constroem presídios, não se ampliam os contingentes policiais e não se proporcionam boas condições materiais ao exercício dessas atividades. A legislação penal é leniente. A justiça é lenta. É preciso muito azar para alguém ser preso e ficar preso. Mas se ficar, cumprida parcela ínfima da pena, sai às ruas porque o Estado acredita que ele irá cantar no coro da igreja, entrar para o Rotary ou trabalhar como voluntário em obras assistenciais. As ações para a segurança pública, além de não avançarem, muitas vezes dão-nos a impressão de que estão em curso, sim, mas trafegando com excesso de velocidade, farol alto e na contramão do interesse social. Assim, por exemplo, a ministra Maria do Rosário, na condição de presidenta do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, vem de editar a Resolução Nº 08 de 21 de dezembro de 2012. Ao redigi-la, a ministra e o Conselho deram saltos olímpicos sobre os limites legais e constitucionais interpostos à sua atuação: determinaram procedimentos ao Ministério Público e às polícias estaduais, limites de ação aos serviços de inteligência das polícias militares, mudaram lei e atropelaram a Constituição. O objetivo da Resolução é determinar o que deve acontecer quando um policial em atividade funcional causar ferimento ou matar alguém. Já de início causa espanto que o foco esteja fechado sobre como devem agir as autoridades quando a autoria da ação lesiva é atribuída a um policial. É esse e só esse o tipo de evento que interessa à Resolução. Não há qualquer menção a igual rigor quando o morto é um policial. Nem quando o morto é um cidadão qualquer. Parece que só quem não deve morrer é o bandido. Tem mais: em suas considerações iniciais, a Resolução afirma que a violência das mortes causadas em ações policiais cria um ambiente de insegurança e medo para toda a comunidade. Deduz-se, portanto, que, para os redatores da Resolução, é a morte do bandido que causa insegurança à comunidade. Será? Lê-se, também, no referido documento, que até que se esclareçam as circunstâncias do fato os policiais envolvidos serão afastados imediatamente dos serviços de policiamento ostensivo e de missões externas ordinárias e especiais, e que os mesmos não participarão de processo de promoção por merecimento ou por bravura (aqui a própria Constituição Federal vai para o beleléu). Ou seja, se os preceitos da tal Resolução vigessem, os policiais que, nas proximidades de Cotiporã, participavam do bloqueio da estrada e reagiram ao tiroteio que lhes endereçaram os assaltantes, matando três deles, não poderiam ter sua bravura reconhecida e enfrentariam muito incômodo pela frente! Não se pode, em absoluto, deixar de cobrar do Estado seu dever de inibir a violência policial, a formação de esquadrões da morte e coisas desse tipo. Mas saltar daí a um zelo desmedido pela segurança dos criminosos, conforme resolve essa Resolução, é o equivalente prático de coibir a ação policial. E esta é, sim, objetivamente, reduto de esperança da sociedade apavorada. ZERO HORA, 13 de janeiro de 2013.

Percival Puggina

06/01/2013
Recentemente tive oportunidade de reapresentar meu velho repto. Estávamos num programa de debates. Meus dois interlocutores eram materialistas. Não apenas materialistas. Adversários militantes do Cristianismo em geral e da Igreja Católica em particular. Embora o tema do programa não fosse esse, a conversa acabou enveredando por aí. Lá pelas tantas, surgiu-me a oportunidade. Falaram em dignidade da pessoa humana. Perguntei, então, a ambos, lançando a questão como desafio: qual o fundamento da dignidade da pessoa humana? É uma questão que coloca o materialismo e seus adeptos num beco sem saída. Para respondê-la, o microfone correu a mesa. Falaram, falaram e nem de longe trataram do tema. Quando retornou a mim, chamei a atenção para o fato de que não haviam me dado qualquer resposta. Mencionada por materialistas, a dignidade da pessoa humana é mera retórica. Ante a provocação que fiz, um deles saiu-se com esta: O fundamento da dignidade da pessoa humana é a reciprocidade nas relações. Ora, salta aos olhos que a reciprocidade, vale dizer, a equidade nas relações e trocas interpessoais e sociais, pode ser, em alguns casos, fundamento da justiça, mas nem de longe serve como alicerce para a dignidade do ser humano. Em determinadas situações talvez seja consequência e, como tal, não pode ser fundamento. Todos aqueles que, do nascimento à morte, vivem de modo vegetativo, têm, como pessoas, dignidade igual à da mais eminente celebridade e à da mais justa e generosa das criaturas. E em nada podem, os desvalidos em si mesmos, contribuir para a tal reciprocidade. Ademais, exigir reciprocidade pode ser, em certos casos, puro egoísmo. Por vezes, contudo, a reciprocidade (como critério de justiça), se fundamenta, sim, na dignidade da pessoa humana. E aquilo que nela se fundamenta não lhe pode servir, também, como fundamento. Enfim, a questão que propus é irrespondível pelo materialismo. Se tudo é matéria, instinto e razão, o ser humano é apenas o mais complexo dos animais. E somente isso. Resulta, assim, meramente retórica toda menção que façam à dignidade humana. A prova provada me veio logo após, quando, tendo eu comentado a animalização conceitual da pessoa, quando vista apenas como ser material, meu interlocutor da ocasião afirmou que os animais também têm dignidade. É ou não é uma rendição? Homem e bicho é tudo a mesma coisa? Animais merecem respeito, mas a eminente dignidade, fundamento das melhores constituições, que a tem é o ser humano. Há muitos anos proponho essa questão em debates e ainda não encontrei um materialista que fizesse a respeito dela qualquer afirmação consistente. Falam sobre direitos humanos como parte de uma agenda muito mais ideológica do que efetivamente humana. O humanismo sem Deus é um humanismo desumano, reafirmou recentemente Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate. Com efeito, somente o revelado à tradição judaico-cristã satisfaz como resposta à questão contida no primeiro parágrafo deste artigo. É por isso que nela se fundamenta toda uma civilização e o que há de melhor em sua cultura: o homem é imagem e semelhança de Deus, e objeto de Seu amor. ______________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

03/01/2013
PARA O GOVERNO PETISTA, POLICIAL QUE MATA BANDIDO É BANDIDO. ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO. A ministra Maria do Rosário, como presidenta do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, deu-se ao desplante de, por simples Resolução (Resolução Nº 8 de 21 de dezembro de 2012, estabelecer um enorme regramento sobre a atividade policial no Brasil em caso de enfrentamento armado com bandidos. O texto é um disparate cujo único efeito será salvaguardar os bandidos mesmo quando atiram contra cidadãos ou contra policiais. Dispõe a ministra, com uma resolução que vai muito além de suas chinelas, que todo policial que ferir ou matar um bandido responderá por homicídio ou lesão corporal (conforme seja o caso). Será, também, afastado de suas funções externas e perderá o direito de ser promovido, ainda que por bravura, até o esclarecimento dos fatos e responsabilidades. E vai por aí, normatizando, legislando e se intrometendo nos outros poderes, determinando como deve agir o Ministério Público nesses casos. Se duvida, procure no google pela referida resolução. Entre as justificavas alegadas, a ministra menciona que a violência destas mortes atinge vítimas e familiares, assim como cria um ambiente de insegurança e medo para toda a comunidade. Ou seja, na opinião da ministra e seus conselheiros, não é a morte de cidadãos de bem por bandidos o que apavora a sociedade, mas, isto sim, a morte de bandidos pela polícia. Ela não tem a menor ideia do que a sociedade pensa e segue a cartilha partidária, pretendendo impor às instituições nacionais o programa de desagregação social proposto pelo PNDH-3. Sabe você quando haverá segurança neste país com o PT? Nunca! Note-se, por fim, que essa tolice toda sai da caneta da ministra com base numa tal Lei Nº 4.319, de 16 de março de 1964, que criou o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. No entanto, lido e relido o teor dessa lei, não encontrei nela autorização alguma para que o governo edite normas com tão desmedida abrangência e profundidade. O CDDPH é um órgão de estudo, aconselhamento, recomendações, articulações e fica totalmente contido nesse nível. Será que ninguém viu esse absurdo? Será que o Congresso nada fará a respeito? Será que as instituições policiais ficarão passivas diante disso? Será que o Ministério Público concordará, pelo silêncio, com essa violência que concede saúde e longa vida aos criminosos pela, doravante, prudente omissão dos policiais em serviço?