Percival Puggina
27/09/2019
Na semana que passou, levado por dois de seus democráticos sapatos, o Legislativo e o Judiciário, o Brasil enfiou os pés na lixeira moral. E cobriu a cabeça com a tampa da lata. Ali estamos.
Numa noite, noite em que até os urubus de Brasília foram embora nauseados, o Congresso Nacional, derrubando vetos do Presidente Bolsonaro, decidiu que delegados, promotores e magistrados ficam sob risco de prisão se se meterem com quem não devem.
Sabe com quem está falando? Não sabe? Então não se meta. Ao derrubar os vetos de Bolsonaro, a maioria dos congressistas estabeleceu uma nova ordem segundo a qual quem deve não teme. Duas tardes depois, no STF, seis ministros gastaram latim, português e entoaram a falaciosa erudição de seus assessores para sepultar a Operação Lava Jato.
Com quanta autoridade o fizeram para arrancar da viciosa, prostituída e inextinguível cartola constitucional, mais uma artimanha recursal na escalada da impunidade! Morte à Lava Jato! Haja pedantismo para criar uma nova gambiarra salvadora no Código de Processo Penal! A tudo assisti na pungente condição de sujeito passivo das decisões. A essas alturas, temendo mais à impunidade do que ao crime, vendo depenarem as asas da Nação para que nem mesmo nossas aspirações pudessem voar, lembrei-me de Vieira: “Entre o conhecimento do bem e do mal há uma grande diferença: o mal conhece-se quando se tem e o bem quando se teve; o mal quando se padece, o bem quando se perde”. Não é uma descrição perfeita do que está acontecendo conosco?
Não faltará quem diga que este grito de dor cívica clama contra a democracia; que é um desabafo de insubordinação às instituições. O mal súbito que acomete alguns intérpretes da realidade nacional, pretensos pastores da opinião alheia, se expressa, ele sim, em profundo desprezo à democracia. Dietrich Bonhoeffer, pastor protestante e membro da resistência antinazista alemã, enforcado em 1945, encerra toda polêmica a respeito com frase definitiva, que inculpa boa parte da imprensa brasileira nestes dias: “O silêncio ante o mal é, em si mesmo, o mal. Não falar é falar. Não atuar é atuar”.
Meu desprezo não vai à democracia. Ele vai à vilania de quem, no Congresso Nacional, delibera em benefício próprio, inibindo a ação dos agentes aos quais incumbe fiscalizar e investigar, defender o bem público e promover o combate à criminalidade e à corrupção. Ou, ainda, no outro lado da Praça, intima ao silêncio da gaveta investigações a que comparece o CPF de quem tem a chave da gaveta. Não menos desprezível é o ato de deliberar sobre matéria de elevadíssimo interesse nacional mobilizado por sentimentos vis – de vingança, inveja, ira e ciúme – que jamais deveriam ter acesso ao ambiente de trabalho de quem tem o dever de servir a boa Lei e a boa Justiça.
Mataram a Lava Jato. É possível que, na semana que vem, ela desça ainda respirando do pelourinho armado no STF. Mas descerá em maca, debilitada, desestimulada, caricatura de si mesma, como convém à festa dos corruptos.
Que nos socorra o Deus dos desgraçados. A Ele nossas orações.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
26/09/2019
"O presidente fez um discurso ideológico!"
Depois de década e meia de discursos, experimentos, práticas, relacionamentos, leis, nomeações, opções, infiltrações e aparelhamentos ideológicos de esquerda, há quem se espante, no Brasil, com a ideologização do governo Bolsonaro. Não se requer muita honestidade intelectual, não; basta não ser um punguista intelectual, ou um intelectual punguista, para reconhecer que não há ideologização maior do que nomear para o STF 13 ministros de esquerda, dos quais oito ainda permanecem na Corte que rompeu relações com a Nação. Mas isso nunca suscitou os mesmos melindres. Quem comandava a política externa brasileira era Marco Aurélio Garcia, na Secretaria de Relações Internacionais do PT.
Os governos petistas puderam nomear com critérios ideológicos reitores de dezenas de universidades federais. Aliás, as universidades se tornaram aparelhos políticos a seu serviço, como bem se pôde perceber. As gestões petistas, onde atuaram e onde atuam, são marcadas pela ideologia de esquerda. E isso tampouco suscitou escândalo algum nos círculos que hoje condenam a ideologização do governo Bolsonaro.
Em sucessivas Assembleias da ONU, Lula e Dilma proferiram discursos que entraram para a história das insignificâncias ou das ridicularias. Discursos que proporcionaram memes, discursos que ninguém no Brasil se deu o trabalho de ler e, menos ainda, de aplaudir. Foram todos inócuos, mas não havia dúvida na seleta plateia sobre a natureza do sinistro alinhamento do Brasil, nem das afeições internas e externas daquelas duas figuras exóticas. Elas convergiam para a escória da política internacional e para os “negócios” que acabaram se tornando conhecidos.
Nenhum dos atuais críticos do discurso de Bolsonaro fez fila no microfone para investigar ou reclamar disso! Do meu humilde canto, eu escrevi. Externei ao longo dos anos meu constrangimento, como cidadão brasileiro, ante os ostensivos e inegáveis desatinos ideológicos dos ex-presidentes.
Era tudo tão ideológico – estou adorando usar essa palavra hoje! – que os resultados colhidos após década e meia de governos foram os, inevitáveis e bem conhecidos dessa visão de mundo: corrupção, insegurança pública, ascensão do corporativismo; economia em decadência, empobrecimento da população; aumento dos desníveis de renda, da máquina pública e do peso do Estado.
Quão difícil aceitar que essa ideologia funesta perdeu a eleição! Quão pungente resulta a percepção de que outras ideias, combatidas ou mantidas ocultas no Brasil ao longo de quase meio século, ressurgiram no coração e na mente dos cidadãos: família, valores, ordem, cultura de trabalho, patriotismo, liberdade, importância do direito de propriedade, combate à impunidade, segurança e unidade nacional; respeito à fé, seus cultos e símbolos.
Foi o que se ouviu na ONU, sob intenso aplauso nacional. O Brasil deixou a sala maior do que entrou e os brasileiros viveram um dia para não esquecer. Ainda que no fundo não seja ideologia, mas mera aplicação da inteligência aos fatos nacionais.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
24/09/2019
A lamentável morte da menina Ágatha deu origem a inúmeras matérias às quais não pareceu importante mencionar:
• as infinitas culpas do crime organizado, principal causador de tais situações;
• as simétricas responsabilidades de sucessivos governos tolerantes com a formação desses estados paralelos, criados pela covardia de bandidos que usam como escudo humano bairros inteiros das nossas cidades;
• a cumplicidade de tantos, nos poderes de Estado, a fazer da tolerância com a criminalidade o gatilho ideológico que dispara sua utopia revolucionária;
• o falso humanismo que discursa do alto da torre de uma imaginária superioridade moral enquanto faz vítimas na vida real;
• o lamentável papel desempenhado continuada e historicamente, nos meios de comunicação, pelos que soluçam em textos histéricos a cada bandido morto;
• o criminoso mercado das drogas, das armas, dos veículos furtados, das cargas roubadas, que faz prosperar o crime, seus agentes e seus protetores.
A GloboNews, durante horas diárias de programação, conta bandidos afastados para sempre do serviço ativo, soma policiais mortos e abalados por problemas psicológicos, ouve familiares de vítimas. No fundo de tudo, a personagem errada das cenas é a autoridade policial, com o modo imperfeito ou impróprio de atuação. E o crime? Ora, o crime e a criminalidade devem ser parte da vida; e a polícia e a segurança pública, parte da morte.
É triste, muito, muito triste a perda de vidas inocentes! Estou inteiramente solidário com os familiares dos que comparecem às estatísticas dessa guerra. O que eu solenemente dispenso é o ataque frontal que alguns meios de comunicação estão promovendo à Polícia, instituição que sequer existiria se não houvesse a criminalidade e, especialmente, em nosso país, o crime organizado. Muito estranho o jornalismo zarolho, que ataca o efeito e não vê a causa. A Polícia não cometeria um único erro se não tivesse contra quem agir. Ou tantos contra quem agir, enxugando o gelo da permissividade processual penal.
O mundo do crime declarou guerra. É uma guerra assimétrica e multiforme. Ele dissemina o vício que debilita a sociedade e faz prosperar os criminosos. Não contente, mata. Mata na dependência, mata na guerra pelo ponto, mata para mostrar poder. Mata pelo valor de um telefone celular, pela cheirada de logo mais, porque o tremor não controla o dedo no gatilho. Mata 60 mil por ano. Organizado, dispõe de recursos incalculáveis e confronta a miséria do Erário.
De que modo entender matérias jornalísticas que, ou trabalham pelo avesso da verdade, ou são incapazes de arranhar a superfície dos fatos, como se, deliberadamente, pretendessem ocultá-los ao discernimento da opinião pública? Raspe a matéria, leitor. Faça uma “raspadinha” no conteúdo que lhe é apresentado e verá que diariamente, em todo país, milhares de homens e mulheres, a serviço da sociedade, saem de suas casas sem saber se vão voltar. Saem para enfrentar criminosos ante cuja conduta os adjetivos, as repreensões e as penas são tragados por certo jornalismo e por incerta justiça.
Tome, agora, o elevador social. Suba vários andares no edifício do banditismo. Desça lá no topo, nos grandes salões acortinados, com seus sofás de couro, periodicamente redecorados à sua custa. Verá que ali, outro tipo de crime engravatado, a toda hora encobre pegadas, limpa digitais, toma dinheiro seu para pagar advogados; faz acordos, achaca o governo, extorque a nação. Observe que as notícias a respeito são frias como ata de assembleia de cotistas de fundo de investimento. Não há nelas um único adjetivo. Não revelam nem suscitam qualquer emoção. Raspe, então, a notícia. Veja como querem, agora, impropriamente, valer-se de Ágatha para destruir o pacote anticrime de Moro e restaurar a abstenção anterior. Conjugue os fatos e perceba o quanto tudo serve para serem escondidos os verdadeiros culpados e tenha curso a inculpação dos inocentes.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
21/09/2019
Dedicado ao que habitualmente faço, ou seja, a observar a cena política nacional, percebi que o Presidente da República está no meio de um fogo cerrado desencadeado pelo conjunto de forças que a ele se opõem. Vem bala de todo lado. Ocorreu-me então que identificar as origens desses ataques poderia organizar as estratégias de defesa muitas vezes difíceis de hierarquizar quando são simultâneos. Foi assim que cheguei a esta lista dos 10 principais inimigos do governo Bolsonaro. São eles:
1 – Os eleitores de Haddad, Ciro Gomes, Marina Silva, Guilherme Boulos e demais candidatos pela esquerda derrotados em 2018.
2 – Os estatistas. Compõem um conjunto muito poderoso de pessoas, habituadas a viver à sombra do Estado. São competentes, normalmente ascenderam às suas posições mediante concurso público, têm uma vida confortável e segura à qual se habituaram. Há em torno de si um grupo bem mais numeroso de servidores que participam de benefícios análogos. A maioria dessas pessoas não quer nem ouvir falar em cortes de verbas, dificuldades fiscais, contigenciamentos e outros termos igualmente incômodos.
3- As muitas seitas do movimento comunista atuantes nas novas formas de luta de classe introduzidas no país durante as últimas décadas. Buscaram prerrogativas e direitos especiais e os querem proteger de um presidente que sempre se opôs a isso.
4 – A visão de mundo que domina as posições do STF. A expressão “visão de mundo” aparece repetidas vezes nas manifestações de muitos senhores ministros. Eles consideram que el color del cristal con que miran é o único certo. Nenhum deles é conservador ou liberal. Sua manifesta visão de mundo torna-se, pelo poder que detêm, um dos maiores problemas do país.
5 – O aparelhamento político do Estado. Sucessivos governos de esquerda permitiram um generalizado, profundo e manhoso aparelhamento da burocracia nacional. Essa máquina, que inclui toda a Administração, penetrada pela influência política ao longo de décadas, usa contra o governo, à exaustão, os instrumentos públicos de que dispõe.
6 – Os partidos de esquerda com atuação no Congresso Nacional, a saber: PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB e Rede e o Clube dos Corruptos. O grupo não tem representação parlamentar suficiente para parar o governo, mas tem votos e prerrogativas regimentais para atrapalhá-lo. Em muitos casos, partidos de esquerda agem em parceria com o Centrão e com parte da direita no Clube dos Corruptos, dedicados a legislar em causa própria, chantagear o governo e extorquir o Erário. Com raras exceções, são inimigos da Lava Jato e da Lava Toga.
7 – O jornalismo militante que, de modo individual ou coletivo, com determinação editorial ou não, faz do combate ao governo o eixo de sua atividade cotidiana. De momento, está em grupos da mídia o principal agente opositor, substituindo os partidos, aos quais falta credibilidade para a tarefa.
8 – A miríade de organismos que orbitam e parasitam a esquerda e a ela, direta ou indiretamente prestam serviço. Refiro-me, entre outros, à OAB, à CNBB e suas pastorais, aos sindicatos e suas centrais.
9 – O movimento comunista internacional. É ativa e vigorosa a solidariedade que entretêm com seus parceiros daqui, através de instituições e organizações, periódicos e, em especial, de entidades que, muito seletivamente, atuam no campo dos direitos humanos. Passam longe de Cuba, Venezuela e Nicarágua e vêm cá contar o número de bandidos mortos em confronto com a polícia.
10- O ambiente cultural e acadêmico. Ambos perderam poder, receita, e olham o futuro com insegurança. Sempre foram bem sucedidos e bem remunerados agentes da hegemonia esquerdista.
Diante desse cenário podemos, em contrapartida, construir a lista dos apoiadores, que incluirá, certamente, setores do empresariado, Igrejas Evangélicas, o governo norte-americano e cidadãos de pensamento liberal e/ou conservador que foram eleitores de Bolsonaro em 2018, tendo feito, então, uma opção por mudança. É contra tal segmento demográfico, numeroso e disperso que se voltam, igualmente, os ataques dos inimigos do governo. Nas últimas semanas não tem faltado articulistas, colunistas e comentaristas disparando contra esses cidadãos, visando a seu constrangimento.
Deles se diz serem agentes de um apoio cego, irracional e acrítico. Em outras palavras, se você não preserva sua isenção no cume de um rochedo inatingível como mosteiro medieval, você é um idiota robotizado. Noutra leitura dos mesmos fatos, deve-se presumir que quem ataca o Presidente e seu governo faz uma oposição lúcida, iluminada e iluminista, sincera e veraz, sublime nas intenções e nos métodos.
A ideia desses movimentos táticos é impor a retração da base popular de apoio ao governo. Usam com esse intuito uma falsa coerção moral, uma fake reason que desconhece a natureza da política. Se prosperasse a ideia, o governo e seu Presidente, em meio a tanto chumbo grosso, perderiam sua mais consistente sustentação política. Não é hora de soltar a ponta da corda. É hora de redobrar energias. O Brasil está sendo atacado e precisa.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
16/09/2019A celeuma suscitada pela declaração do vereador filho do Presidente é um dos mais claros exemplos de o quanto pode ser inventiva e excitante a atividade nos laboratórios de manipulação em que se transformaram alguns veículos da imprensa brasileira. São entes estratégicos do velho “mecanismo”.
Neles, os fatos são escaneados, sempre, na perspectiva do dano que possam causar ao governo, conduta que inclui o descarte de quaisquer boas notícias ou matérias que possam fortalecê-lo. Para os manipuladores desse laboratório, com suas luvas descartáveis, pipetas e retortas, a notícia é destilada como lhes convém. Por exemplo: afirmam com ar sério, que as instituições nacionais funcionam às mil maravilhas; o Congresso Nacional é apresentado como voz do povo e voz de Deus; o Supremo Tribunal Federal, por sua vez, como um Olimpo regenerado, onde os deuses abandonam os vícios e apenas as virtudes são preservadas. Já ao Executivo, cada dia sua dose de veneno.
Quero deixar claro que não conheço o tal vereador e nada sei de sua biografia. Votei no pai dele e defendo o governo porque vejo o bem que faz e o mal que impede seja feito. Conheço seus inimigos e identifico o trabalho dos laboratórios de manipulação da informação (basta olhar a vitrina).
A frase que o vereador fez sobre democracia e velocidade foi muito mal redigida. No entanto, sequer com má redação se presta às interpretações que os laboratórios de manipulação quiseram impor à leitura de sua clientela. Bem ao contrário, tais interpretações evidenciam que, mesmo escrevendo mal, o autor da frase é muito mais sensível do que seus detratores à natureza política do problema que abordou. “Sorry periferia!”, como diria o saudoso Ibrahim Sued; o vereador carioca entende muito melhor o problema institucional e político brasileiro do que vocês.
Ele captou nas redes sociais o mesmo desalento nacional que venho observando e ao qual tenho me referido em sucessivos artigos e vídeos dos últimos meses. Em sua postagem, afirma uma obviedade gritante: na democracia, especialmente no nosso modelo, as mudanças acontecem em very slow motion. O episódio democrático eleitoral pode promover (como aconteceu no ano passado), um giro de 180 graus em apenas nove horas de votação, mas correspondentes câmbios na vida social, política e econômica se arrastarão ao longo dos anos. Ou não? É importante que todos tenham consciência disso para evitar o desalento cívico e inquietudes não democráticas.
Qual a celeridade esperável de um Congresso que se reúne três dias por semana e onde funcionam as obstruções, os longos prazos, as faltas de quórum? Como serem ágeis as mudanças quando a oposição, a toda hora, apela às interferências do STF?
Quem mais me espanta, como observador, são os juristas chamados às falas sobre o assunto. Fazem fila. E são unânimes em ignorar o caráter disfuncional de nossas instituições! Chegam ao absurdo de erguê-las ao nível da perfeição, mesmo quando basta não ser idiota para ver o quanto elas sempre se prestaram e se prestam a todo tipo de chantagem e extorsão. Objetivo sistemático e sistêmico: realizar aquilo que vem sendo rotulado nos laboratórios de manipulação como “interlocução” entre os poderes. Haja realismo cínico! Em que país vivem e que livros andaram lendo os jornalistas e os doutos entrevistados da Globo ao longo destes dias? Não sabem eles o quanto é suja a ficha desse modelo institucional, o quanto da corrupção a ele é devida? Ignoram o quanto nosso sistema eleitoral patrocina e é patrocinado pelo oneroso corporativismo? Ora, por favor, tenham dó da Nação! Parem de atrapalhar e comecem a ajudar o país. Trabalhem com pautas reais!
Tudo que maldosamente foi “presumido”, “intuído”, “inferido” da frase do vereador o foi para atingir o governo. Atribuíram-lhe o que não disse. Ocultaram, no laboratório de manipulação, outra verdade que enunciou: “a roda segue girando em torno do próprio eixo”. Na mosca! Com efeito, a regra do jogo político determina o comportamento dos agentes políticos. A democracia brasileira se arrastará em ritmo antagônico ao desejado pela sociedade enquanto continuarmos esperando que as coisas “se mudem”, mantendo o hábito segundo o qual “está tudo errado, mas não mexe”. A democracia brasileira funciona mal e poderia funcionar muito melhor. Nosso modelo institucional, ao operar, faz exatamente isso que vemos. Desconhecê-lo, repito, é idiotia. Afirmar que a frase expressa uma opção por ditadura é enorme desonestidade intelectual.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
14/09/2019
Há quem, diante dos problemas do país, intimado a reagir, proclame como sublimando sua cidadania: “Faço mais nada, cansei”. A energia cívica durou até a eleição? Não resiste o enfrentamento com a oposição? Subestimava, tanto assim, os interesses contrariados?
Os corruptos e os corruptores, os que contam bandidos mortos e não contam suas vítimas, os jornalistas a serviço “da causa”, os “intelectuais” cuja fonte secou, os professores de narrativas ensaiadas, os abortistas e ideólogos de gênero não cansaram, não chutaram o balde e não mudaram de vida. Jamais!
A política, principalmente numa democracia instável como a nossa, não é um jogo que se assiste. É um jogo que se joga! Não faz sentido à cidadania ser exercida da arquibancada, entre os bocejos dos entediados. Não cabem, não hoje, não agora, neutralidades de observador forasteiro, sem interesse no resultado do jogo, sem conhecimento de que há um campeonato cujo resultado impactará a vida de todos. Esse tipo de alheamento, sim, cansa!
Muitos brasileiros, com razão, perderam a confiança nas instituições, notadamente em relação ao Congresso Nacional e ao STF. O compadrio tem sido evidente. Uma mão lava a outra; ambas, porém, não lavam a imagem refletida no espelho. Simultaneamente, poderosos setores da imprensa, para os quais “anormal” é o Presidente, buscam aparentar normalidade institucional mesmo quando o Congresso vota uma lei que vai inibir a persecução criminal, ou aumentar verbas partidárias, ou perdoar multas aplicadas pela Justiça Eleitoral. Até o velho realismo cínico do “é dando que se recebe”, graças ao qual centenas de parlamentares condicionam seus votos a favores oficiais, recebeu um polimento midiático e passou a ser demandado como desejável e normal “capacidade de interlocução”. Não! Isso é um escândalo. E note-se bem: na avaliação desse tipo de conduta, não se sonegue a informação de que nosso sistema de governo é ficha suja e, como tal, concede vantagem a quem dele se vale para tais práticas.
Estou convencido de que, hoje, nenhuma atitude política é mais relevante do que dar força a grupos parlamentares que se articulam para um upgrade nos padrões de conduta do Congresso Nacional. Refiro-me de modo especial ao Muda Senado, cujos atuais 21 membros organizam-se para forçar a Casa e, especialmente seu presidente, Davi Alcolumbre, a cumprir seus deveres democráticos e regimentais. Só o Senado tem o poder de reagir à ditadura do STF, seus desmandos, sua abusiva interferência na vida nacional, sua acintosa irreverência aos valores cultivados pelas famílias brasileiras e julgar a suspeitíssima conduta de alguns de seus membros, tantas vezes denunciados perante os silenciosos arquivos do nosso Senado.
O Muda Senado agendou grande mobilização popular para Brasília, no próximo dia 25 de setembro. Tão importante quanto o comparecimento de quantos possam é a pressão dos cidadãos sobre os senadores que desejam a eterna inviolabilidade dos arquivos onde Eunício de Oliveira, Renan Calheiros e Davi Alcolumbre têm sepultado todas as acusações formuladas contra ministros do STF. Têm explicações a dar aos eleitores de seus Estados. Querem eles que o Senado continue exatamente como está? Omisso? Escorando esse STF? Têm companheiros a proteger na Suprema Corte? São coniventes com a ditadura do Judiciário? Com a palavra os outros 60 senadores e seus eleitores.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
12/09/2019
Em plena Semana da Pátria (05/09) os brasileiros foram agraciados com um artigo de Luiz Fernando Veríssimo cujo destaque vem do instigante título “É Guerra”. Ao lê-lo – a imaginação nos proporciona tais deleites – visualizei o cacique Veríssimo, vestindo tanga de penas, rosto tisnado em vermelho e preto, de jenipapo com fuligem e urucum, preparado para o combate. Aparentemente ao menos, na opinião do belicoso cronista, o Brasil tomado pela bandidagem no longo reinado petista era um paraíso de amor e paz que está sendo arrasado pelos “morteiros verbais” de Jair Bolsonaro.
Bom humorista, que fica engraçadíssimo quando escreve sério, Veríssimo não deixa dúvidas sobre suas intenções, nem sobre a necessidade de arregimentar tribos. É aos estudantes, então, que soa seu tambor. É aos eternos manipulados do partidão. Há tanto tempo transformaram a UNE em embaixada do comunismo mundial que Fidel Castro – pasmem – é seu patrono. Por que a eles? Porque para a dança de bate-pés do cronista gaúcho, os brilhantes estudantes brasileiros irão emburrecer com os cortes de verbas introduzidos pelo governo federal por demanda da tragédia econômica que a irresponsabilidade fiscal e a corrupção causaram ao país.
E vai em frente conclamando à luta: “Temos de esquecer nossas diferenças e nos concentrarmos nessa verdade nua e crua: que isso não é um país, isso é uma zona de guerra. E eles atiraram primeiro.” Na sequência, afirma, na contramão de todas as evidências, que o sistema educacional é o primeiro sacrificado “com ataque frontal à inteligência” onde quer que “o mercado derrote o bom senso” (deve vir daí o atraso de todos os países capitalistas e a prosperidade dos comunistas). Quanta superficialidade é necessária para produzir tal manipulação? E como é bela a liberdade que nos permite conhecer os lados mais escuros do pensamento alheio, sempre impedido de manifestação nos regimes que tanto agradam a L.F. Veríssimo!
Por falar em recantos escuros, sob o título “Sol negro no céu da Pátria”, Mário Sérgio Conti publicou (na Folha, claro), um artigo no próprio 7 de setembro, em que o grito de guerra de Veríssimo ganha contornos tétricos. Definitivamente, Mario Sérgio não consegue ser engraçado. Aliás, não consegue sequer articular um sorriso que se tome como legítimo. O artigo começa citando Benjamin Kunkel, um novelista norte-americano que migrou da literatura para a economia marxista. No trecho escolhido a dedo pelo colunista da Folha, Kunkel, com candura tipicamente leninista, lastima não haver, a facada desferida em Bolsonaro, concluído sua tarefa assassina. Afinal, a escolha seria entre o pulmão de Bolsonaro e o pulmão do planeta.
Tudo errado, impreciso e superficial, mas o intuito belicoso, tétrico, é escandalosamente explícito.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
09/09/2019
Há anos venho apontando a deformidade que, aos poucos, foi atribuindo ao STF o atual aspecto suspeito e assustador. Ele perturba a nação, infunde sentimentos de revolta e já nem tenta dissimular seu viés totalitário. Essa deformidade levou ao que se lerá nas linhas a seguir: uma verdadeira repulsa aos padrões morais da sociedade.
Não há, entre nossos ministros, um único conservador e um único liberal. Tamanha exclusão da divergência só vamos encontrar em tribunais constitucionais de países como Cuba, Venezuela e Coreia do Norte.
O prefeito do Rio de Janeiro mandou recolher a publicação de uma história de super-heróis destinada ao público infantil, na qual se insere um “beijo gay” entre os personagens. O autor do texto certamente considera esse conteúdo indispensável à narrativa. Afinal, parece que nenhum herói será suficientemente heróico e valente se não arrostar tais situações.
Seguiu-se uma série de marchas e contramarchas judiciais até que o assunto, numa velocidade que nem os advogados de Lula conseguiriam superar, foi bater no STF. A casa das grandes decisões nacionais não poderia ficar fora dessa. Parem as máquinas! Suspendam as audiências! Há um beijo gay a ser escrutinado à luz da “Carta Cidadã de Ulysses”. Dias Tóffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello vieram às falas, ouriçados em sua sensibilidade progressista. Naquela Corte, paradoxalmente, ninguém é mais “progressista” do que o decano, que saiu verberando: “Mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo e apologistas de uma sociedade distópica erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da República!!!".
Curiosamente, é bem o que a sociedade pensa dele e de seus pares quando os vê empenhados em corrigir e reitorar as opiniões dos demais cidadãos.
Segundo Dias Toffoli, o ECA obriga o uso de advertência sobre o conteúdo quando ele envolve coisas como "bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições”. E acrescentou que os materiais destinados a crianças e adolescentes devem “respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família”. A imagem de dois homens se beijando não se enquadraria, segundo ele, em qualquer desses conceitos. Dito assim, claro que não. Contudo, criança, até segunda ordem, é uma pessoa, uma pessoa muito especial. E a preservação de sua inocência é um desses “valores éticos e sociais” de que fala a Constituição. Em que momento deixou de ser ? Quando trocamos a inocência das crianças pela retórica pretensiosa de Celso de Mello?
Doravante, qualquer conteúdo homossexual, mesmo que exclusivamente homossexual, fica liberado para venda ao público infantil, com o vigor e o atrativo dos super-heróis e dos superbandidos, e com as bênçãos do STF. Criatividade não faltará para quem quiser forçar ainda mais a barra.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
06/09/2019
Vai passando batida mais uma Semana da Pátria. São poucas, fora dos círculos militares, as manifestações de celebração a esse marco temporal de nossa nacionalidade. Mas não escrevo para pedir que as pessoas, que os lares e que as vitrinas se enfeitem de verde e amarelo. O objetivo deste texto é bem diferente. É um apelo aos brasileiros, de modo especial aos que amam a pátria e se sentem responsáveis por ela.
Escrevo para muitos, portanto. Aproveitemos esta semana para refletir sobre o que tantos conterrâneos continuam a fazer. Por vocação e gosto desejam prosseguir na faina que acabou por transformar o Brasil numa casa de tolerância, desavergonhada como raras vezes se viu igual. Uma casa de tolerância tão avessa à ordem que não se perturba com vê-la entregue aos criminosos. Que conta bandidos mortos e não conta policiais perdidos em combate. Que fala mal do Brasil para o mundo e faz palco a todo estrangeiro que venha fazer o mesmo aqui dentro. Casa de tolerância que aplaudia e hoje reverencia o gangsterismo político e o crime que por tanto tempo operou nos altos andares da República. Casa de tolerância de um banditismo deslavado e sorridente, de uma elite rastaquera e debochada, que conta dinheiro e votos como se fossem a mesma coisa. E festeja toda impunidade.
Já não lhes basta a própria corrupção. Dedicam-se, há bom tempo, à tarefa de corromper, aos milhões, o próprio povo, desde as mentes infantis. São milhões e milhões que já não se repugnam, que desconhecem constrangimento, que não reclamam e, pior, se proclamam devotos. Aplaudem.
Não é apenas no plano da política que a nação foi sendo abusada e corrompida. Também nos costumes, no desprezo à ética, à verdade e aos valores perenes. No pior dos sentidos, foi arrastada nesse rumo uma nação debilitada pela pobreza. Incitaram o conflito racial em um povo mestiço desde os primórdios. À medida que Deus foi sendo expulso, à base de interditos judiciais e galhofas sociais, instalou-se, no Brasil, a soberania do outro.
Recebemos de Deus e da História um país esplêndido. No lugar onde hoje emergimos de qualquer mergulho nos acontecimentos das últimas décadas é impossível não perceber que às ações de agora correspondem reações contrárias, empurrando-nos precisamente para os embaraços dos quais quisemos sair e saímos.
Nosso dever cívico não tem data nem prazo de validade. São tempos para não esmorecer, tempos para que não tombem nossos braços nem nos falte o indispensável alento para o convívio livre e democrático com a divergência, conhecendo os valores que abraçamos e confirmando, sempre, nossa confiança nos frutos da verdade, da dignidade e da liberdade.
Feliz Semana da Pátria, de uma pátria mais feliz consigo mesma!
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.