• Percival Puggina
  • 14/07/2020
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A QUEM O CONSERVADORISMO FAZ MAL?

 

Sempre me chamou a atenção o modo como tantos analistas observam as posições do governo federal e de seus membros mais falantes e os acusam de serem “petistas com sinal trocado”. Verdade que durante as últimas duas décadas o vaivém do balanço da política emperrou do lado esquerdo. Subiu e manteve no alto seus tripulantes. Fernando Henrique e Lula, quem não sabia ficou sabendo, eram “inimigos” íntimos e a rivalidade entre seus torcedores, uma construção engenhosa e embusteira.

As relações entre os dois principais líderes da política brasileira no período produziriam excelente conteúdo para um drama recheado de conflitos shakespearianos. Lula gostaria de ter sido FHC e este gostaria de ter sido Lula. Aquele nutre indisfarçável sentimento de inferioridade em relação ao tucano. Este gostaria de posar como líder popular. No entanto, ambos convergem na destruição do conservadorismo, inimigo comum que tinham como totalmente derrotado por WO na guerra cultural.

Para que parcela significativa da população compreendesse a transformação a que fora submetida, foi necessário que o “progressismo” da esquerda operasse no poder durante duas décadas e produzisse terrível estrago nas relações em sociedade e na ordem social. Por fim, foi necessário que se despisse inteiro ante os olhos de todos e ensaiasse os próximos passos em propostas legislativas ainda mais perniciosas.

Desde o começo do novo governo, qualquer passo na direção desejada pela maioria do eleitorado, como por exemplo a substituição de alguns donos das posições de mando, natural à alternância do poder político, era atacado como radicalismo e intolerância. A vitória dos conservadores era aceitável, desde que tudo ficasse como estava. Acusava-se o novo governo de fazer o que fora eleito para fazer.

O conjunto de siglas partidárias, a miríade de organizações da sociedade, o imenso aparelho esquerdista nos poderes de Estado, e boa parte dos grandes meios de comunicação, passaram a agir com um roteiro bem definido: guerra total aos conservadores e à penetração do conservadorismo na sociedade.

O coronavírus abriu enorme espaço para o autoritarismo e para a concentração de poder político. Governadores, prefeitos, presidentes de legislativos e órgãos colegiados foram favorecidos pelos plenários vazios, pelos conchavos “in vitro” e reuniões “em vídeo”. Ele também desacelerou uma agenda em desenvolvimento havia alguns meses no sentido de iniciar a formação de um movimento conservador no Brasil. As “lives”, hoje em voga, não substituem os plenários e auditórios porque não proporcionam as mesmas possibilidades de agregação e articulação dos colóquios, encontros, congressos.

Quando se abrirem os currais da pandemia estaremos na arrancada das eleições de novembro. No curto prazo, esse voto é nossa principal arma para proteger nossa cultura, nossos valores e  nossa fé da corrosão a que foram submetidos durante tanto tempo. Hoje são vulneráveis à intolerância das estruturas de poder preexistentes, mediante intimidações, censura, demissões e prisão.
 

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


Jose Maia -   16/07/2020 22:34:11

PT x PSDB são iguais, só divergem nos métodos. O PT, por querer ser sempre hegemônico, nunca aceitou discutir os pontos positivos do PSDB, mas ao assumir o governo fez tantas besteiras que o povo se cansou de ambos. Se o governo do Bolsonaro é ruim ou não, teremos a confirmação até 2022.

nelson medeiros -   16/07/2020 14:52:33

Busquei no Polibio o teu site, agora estas nos PREFERIDOS!!! Obrigado por seus comentarios de texto leve, verdadeiros e sobretudo sensatos, sem o odio imperante na esquerdalha. Temos mais uma voz A SE SOMAR CONTRA O EIXO DO MAL!!!!

Menelau Santos -   15/07/2020 20:31:16

Certa vez, na época dos grandes índices inflacionários, vi na televisão alguém do povão comentar: "se a inflação fosse ruim para todos, já tinha acabado". Professor Olavo certa vez postou que na época da ditadura militar meia dúzia estava ferrada e a maioria da população contente. Hoje, meia dúzia tá contente e a maioria da população ferrada. O texto do Professor Puggina é certíssimo e só reforça isso. O conservadorismo faz mal à essa meia dúzia que vive bem hoje em dia e não aceita perder os privilégios. É o "Beautiful people". Mas o povão, ou seja os que elegeram Bolsonaro, quer o conservadorismo porque sabe que lhe faz bem. As eleições é nossa arma. Não podemos desperdiçar essa chance.

Adão Silva Oliveira -   15/07/2020 12:39:17

Perfeito o texto. Resta esperar que em Porto Alegre conservemos o conservador Marchezan. Não vamos exagerar no conservadorismo e inventar um Zucco da vida ou algum conservador de Rachadinha na Câmara Municipal.

Luiz R. Vilela -   15/07/2020 11:57:51

Procurei ser sempre como foi meu pai. Este por sua vez, seguiu os traços de seu pai, meu avô. Meus filhos também foram ensinados a viver como toda a família sempre viveu. Vivemos do trabalho, nunca fomos ricos, também nunca precisamos nos valer de ajudas do governo ou de quem quer que seja, vivemos sempre as nossas custas e temos orgulho disso. Acreditamos sempre no trabalho, na família, na religião e nas tradições que nossos antepassados nos legaram e que jamais as abandonaremos. Somos conservadores? Achamos que sim, esta é a vida que conhecemos e que gostamos, então vamos mudar porque? Este tal "conservadorismo", nos quais nos acusam de viver, sempre esteve presente na humanidade e deverá permanecer eternamente, pois a mudança leva ao desconhecido e todos desconfiam do que não conhecem, e como diz o ditado espanhol, "solo se ama lo que se conoce", nós amamos a nossa maneira de ser e não queremos mudanças, principalmente a isto que chamam de "progressismo", mas que na verdade é a forma mais atrasada de relacionamento humano, onde o indivíduo passa a ser propriedade do estado, inclusive sendo proibido de deixa-lo, onde até extremos eram usados para os que tentavam fugir dele, como os que foram FUZILADOS ao tentar sair da antiga Alemanha Oriental. A liberdade é um bem inalienável do ser humano, e qualquer forma de vida ou governo que não a contemple, terá sempre o nosso desagrado e oposição. Queremos ser como sempre fomos, nos faz bem, e quem quiser ser diferente, que seja, mas sem a nossa participação.

Marcio Reis Gouvea -   14/07/2020 21:17:51

Obrigado Percival por mais texto primoroso......