Percival Puggina

05/04/2022

 

Percival Puggina

 

         Cerca de 130 deputados federais trocaram de partido desde o início de fevereiro. Alguns se bandearam mais de uma vez nesse período. Poucas décadas atrás isso seria inconcebível. Os partidos tinham fisionomia própria e eram buscados por aqueles a quem fosse atrativa. Ali se estabeleciam relações de amizade, se formavam lideranças e se construíam carreiras políticas. Muitas filiações partidárias integravam um rito familiar porque os filhos acompanhavam os pais num encadeamento que refletia, de modo profundo ou superficial, uma visão de mundo, de valores, de economia, de sociedade, etc..

Mudar de partido era “trocar de camisa”, ou “virar a casaca”, coisa rara e inadequada. Pior do que isso só jogador de futebol sair de um clube para se integrar ao rival da mesma cidade.

Está mais do que provado, hoje, que os partidos fenecem como tal. De regra, são apropriados pelas representações parlamentares, que só pensam nas respectivas reeleições e são incapazes de escrever meia página sobre o conteúdo do manifesto de fundação da legenda que comandam. Esse documento, que é uma espécie de Carta Magna sobre os princípios, meios e fins partidários dorme o sono dos injustiçados entre as quinquilharias das siglas.  

O recente surto de migrações de detentores de mandato, aspirantes a candidaturas, obedece, nacional e/ou regionalmente, às conveniências eleitorais do ano. É coisa de temporada e vem logo depois da praia e das férias. Assim como as marés são influenciadas pelas fases da Lua, os fluxos partidários são atraídos pelos “puxadores de votos” nas eleições majoritárias e proporcionais. Não guardam relação com o que esses personagens trazem na cabeça ou nas mãos.

Que fique bem claro: não estão errados os candidatos, nem os deputados, nem os senadores, nem os dirigentes partidários. As decisões políticas são comandadas pelo mais puro e franco realismo. E o que acontece com os partidos políticos nacionais é mera consequência do modelo eleitoral e do sistema de governo que, em dias de muito azar e maus presságios, nos vêm proporcionando nossos constituintes republicanos.

O que acontece com os partidos é bem sintomático desses problemas institucionais de que tanto me ocupo. Causa tristeza cívica ver partidos trocarem de nome como trocam os letreiros em pontos comerciais construídos em lugar errado. E digo o mesmo da acelerada procriação de legendas estimulada pela bilionária disponibilização de recursos públicos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

29/03/2022

Percival Puggina

 

         Em Lucas 8:17, Jesus afirma: “Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado; nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz.”

Se era dito assim, dois mil anos atrás, num tempo em que não havia xerox nem Internet, imagine hoje, com essa aparentemente inesgotável capacidade de conhecer e armazenar o conhecimento. Essas mesmas tecnologias inutilizam conchavos e destronam caciques.

Durante muitos e longos anos o PSDB foi o partido dos caciques da política. Era a lâmina bem trajada e bem falante da tesoura esquerdista que comandou a política brasileira durante um quarto de século. Partido de ideias transversais e pronomes oblíquos.

Fernando Henrique Cardoso, na Constituinte, criou o Movimento de Unidade Progressistas (MUP) coletando a esquerda do PMDB, se aproximando do PT com o intuito de esquerdizar ainda mais a Constituição e acabou fundando o PSDB. De modo similar, o senador Álvaro Dias saiu do PSDB para criar o PODEMOS, que foi o partido de base para a formação do movimento Muda Senado. Que não mudou coisa alguma.

O Muda Senado surgiu em consonância com os apelos das multidões nas praças. O movimento queria moralizar aquele poder e fazê-lo cumprir seu papel institucional perante os maus usos e costumes de membros do STF. Abriu um guarda-chuva moral para abrigar inicialmente 22 dos 81 senadores. Eram 22 dentro e 59 fora. Com o tempo, o guarda-chuva, em vez de se expandir, foi se fechando e guarnecendo cada vez menos senadores.

O descrédito do Senado se reflete no mau desempenho dos caciques na cena política. Em 2018, Geraldo Alckmin, hoje em total sintonia com o descondenado Lula, representou o PSDB como a “toalha mais felpuda” da tribo tucana. E fez menos de 5% dos votos, embora os partidos de sua base de apoio correspondessem a quase metade do plenário do Congresso Nacional. Bye, bye caciques! O candidato escolhido pelo então poderoso PMDB para disputar a presidência, Henrique Meirelles, fez pouco mais de 1% dos votos.

A falta de sintonia e perda de influência das antigas lideranças fica muito evidente quando se observa a vitória de João Dória nas prévias tucanas e o mau desempenho dos nomes em que a turma da terceira via tem colocado suas fichas. Enquanto isso, da noite para o dia, novos partidos surgem das velhas tribos e, na mesma cadência, crescem e decrescem.

Caciques omissos perante seus deveres institucionais, protetores de corruptos, que jamais ergueram a voz contra os abusos do STF, perdem tribos inteiras e pagarão o preço de sua surdez à voz das ruas.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

28/03/2022

Percival Puggina

 

         O ex-deputado Roberto Jefferson está em prisão domiciliar, com tornozeleira, proibido de conceder entrevistas sem autorização judicial, de receber visitas de pessoas que não sejam familiares e de manter comunicação exterior, inclusive em redes sociais. É uma não pessoa.

Na opinião da PGR e dos ministros do STF que lhe recusam habeas corpus, o deputado, com vasto prontuário de problemas de saúde, é um tipo perigoso à democracia e às instituições. Em liberdade, supõem, fará por conta própria o que as Forças Armadas, por meio dos comandantes que falam por ela, há mais de seis anos reiteram que não farão.     

A seus carcereiros, deve ser vantajoso manter a hipótese de que Roberto Jefferson tenha esse poder e fantasiar sobre a eminência de tamanho risco. O poder a ele atribuído aumenta o poder de quem o mantém preso sem julgamento. A fantasia dá motivos aparentes para o STF inibir outros e para a deusa Themis exibir o fio de sua espada ante algo que deveria ser resolvido noutro foro e por outros meios.

Na minha perspectiva, é a sequência de atos de natureza similar que põe a democracia em risco e as instituições em descrédito. A criação de mártires é grave sintoma numa ordem institucional que se pretende democrática. As democracias não criam mártires e os nossos estão fazendo fila.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

26/03/2022

Percival Puggina

 

         O fato é que estamos sob censuras e ameaças. Existem questões importantíssimas a respeito das quais é perigoso falar. Quem criou isso – pasmem! – foi o ... . Esses temas, quando mencionados, acionam controles no território patrulhado das redes sociais e nas agências de checagem; ouve-se o bater de pregos no cadafalso do ... e alguns dos seus ... entram em surto.

É o caso do assunto que quero abordar, tomando as precauções necessárias, como percebem, porque não sou louco, não rasgo dinheiro e entendi os recados. Vêm daí essas lacunas que, prudentemente, estou deixando no texto, confiando em que o leitor, com o discernimento que tem, fará a sua parte. Peço que não me levem a mal pelo trabalho que lhes estou atribuindo, mas fazer o quê?

Refiro-me àquele dispositivo adicional que permite a ... dos votos. Isso está fora de questão para as próximas ... , mas nesse mundo de incertezas que se instalou no país, parece que o tema veio para ficar.

Beira as raias do inacreditável saber que o topo do poder ... até hoje não tenha percebido o efeito de sua rasgada interferência num tema de natureza legislativa e de tanto interesse para a legitimação do poder político em todas as suas dimensões. Inclusive, por tabela, para o próprio ... .

Como esquecer a substituição de quase duas dezenas de representantes partidários na CCJ da Câmara dos Deputados? Como esquecer que o fato ocorreu logo após a visita do presidente do ... ? Como esquecer que essa visita reverteu um quórum que até então era favorável à adoção das ... com o tal dispositivo adicional que permite a ... dos votos?

A extrema imprensa considerou aquilo expressão visível da independência e harmonia dos ... . Eu não. Na minha perspectiva foi um ato de invasão do espaço aéreo e terrestre de outro ... .

O que ouço no meu círculo de relações, expressa, também, o sentimento de que uma ... sem possibilidade de contagem dos ... tem significado a realização do sonho de consumo de quem organiza esses eventos. Usadas desde o longínquo ano de 1996, ano em que a GM lançou o Corsa e ano de lançamento do celular Motorola Startac de tampa e anteninha, as ... brasileiras são a segurança de ... sem possibilidade de encrenca, atraso e retrabalho. A menos que um ... resolva se instalar no meio dos computadores do ... .

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

24/03/2022

Percival Puggina

 

         Graças à investigação que Deltan Dallagnol comandou, sabemos muito sobre Lula. Antes, o ex-presidente já era conhecido como uma pessoa que eu, você e a maioria dos brasileiros não convidaríamos para conhecer nossa família. Depois do trabalho de sua equipe, ficou comprovado que o ex-presidente comandou uma quadrilha desmontada nas muitas fases e faces do escândalo conhecido como petrolão (que se estendeu por onde quer que os recursos federais andassem em volumes atraentes). É uma convicção que vem de fatos conhecidos e não significa concordância com as posições políticas do ex-procurador. 

Hoje, no novo Brasil que nasceu nas entranhas do STF, tudo foi para o já volumoso saco do aspirador de fatos.

Diante disso, para aqueles que inventam memórias para acomodar os acontecimentos à própria consciência (ou vice versa), vale lembrar: o petrolão foi aquela operação de rapinagem que aconteceu na Petrobras, em reprodução turbinada do mensalão.

Contudo, informa a mais recente narrativa, o petrolão, não existiu. Ladrões engravatados e suarentos confessaram crimes que não cometeram, devolveram dinheiro que não haviam roubado e foram condenados em duas ou mais instâncias judiciais por atos que não praticaram.

Como as pombas de Raimundo Correa, neste melancólico entardecer brasileiro, com alvarás judiciais presos ao bico, “serenos, rufando as asas, sacudindo as penas”, voltam todos à cena política, “em bando ou em revoada”... Valha-nos Deus!

Lembrei-me das pombas e daquilo que mais fazem nos pombais diante da notícia de que a 4ª turma do STJ condenou o ex-procurador Deltan Dallagnol a indenizar o beato Luiz Inácio no valor de R$ 75 mil por apresentá-lo como coordenador da organização criminosa que operou o petrolão.

Se não estou desinformado, procuradores investigam e, quando coletam provas suficientes para formular denúncia ao magistrado, informam o crime e seu autor. Salvo desejo do autor privado, toda ação penal pública é, como o nome parece sugerir, pública.

Portanto, a menos que tudo tenha sido muito mal relatado pela imprensa militante, a condenação do promotor encontra explicação no pacote de sucessivas decisões que descondenaram Lula. A indenização a que Dallagnol está obrigado a pagar é mais uma de tantas decisões judiciais que dão sentido a esta conhecida frase de um discurso proferido por Rui Barbosa no Senado, 107 anos atrás:

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

*      Atualizado em 24/03/2022, às 12h40min.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

22/03/2022

Percival Puggina

 

         Não, não me refiro a valor do resgate pago a sequestradores. O que tenho em mente é o imenso valor do bem sequestrado, que tem vínculo estreito com o sucesso, ou com o fracasso de uma nação.  

Em nosso país, a Educação foi sequestrada por interesses políticos, ideológicos e corporativos que a mantêm cativa, sob ferrolhos, impedindo-a de cumprir suas funções enquanto muitos dela se aproveitam para os próprios fins.

O art. 206 da Constituição Federal não deixa margem para fanatismos paulofreireanos. Nenhuma “autonomia” do professor, da escola, do departamento, da universidade, do Conselho, do sindicato pode desrespeitar o disposto no inciso III do art. 206 da Constituição Federal quando dispõe que o ensino será ministrado com “pluralismo de ideias e de concepções”. Mas para ler e entender isso é preciso não ser analfabeto.

Há um incompreensível silêncio sobre o dado divulgado em junho do ano passado pelo IMD World Competitiveness Center, que comparou a prosperidade e a competitividade de 64 nações. No eixo que avalia a Educação, o Brasil ficou em último lugar! Não surpreende o resultado, num país em que relacionar atividades pedagógicas a expectativas burguesas como competitividade e prosperidade é crime hediondo, punido com “cancelamento” definitivo do infeliz que o fizer. 

Quem desejar um Brasil mais qualificado sob o ponto de vista educacional terá que arrumar um banquinho e aguardar pelo menos uma geração inteira. Isso se começarmos amanhã de manhã bem cedo. Afinal, o fique em casa deixou nossas crianças por dois anos sem aula minimamente proveitosa e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua 2021) apontou um aumento de 66,7% no número de crianças de 6 a 7 anos que não sabem ler nem escrever!

"Uma geração inteira?", talvez exclame, preocupado, o leitor destas linhas. Sim, uma geração inteira porque para podermos alfabetizar melhor nossas crianças será preciso refazer um longo percurso que começa pela formação dos professores naquelas usinas dos recursos humanos do sistema que são as universidades. Ao mesmo tempo, haverá que abrir caminho até os registros e válvulas que comandam a entrada e saída de recursos do erário. E, também concomitantemente, acabar com as iniquidades instaladas na tradição brasileira, entre elas a que faculta ensino superior gratuito a quem pode pagar por ele. Em menos palavras: melhores professores, mais recursos financeiros, mais bom senso.

Por fim, se abrirmos a janela para espiar o Brasil real, será impossível não perceber que se instalou a cultura do não saber. Poucos são os alunos que querem aprender. Menos numerosos ainda os que têm hábitos de leitura. Separa-se o lixo na cozinha, mas não se separa o lixo inserido na Educação e nos meios de comunicação.

É a epifania da ignorância, cultuada em cativeiro e fanatismo.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

            

 

Percival Puggina

19/03/2022

 

Percival Puggina

 

         Às vezes penso que o ministro Alexandre de Moraes considera a unção editorial do Grupo Globo equivalente a um referendo social às suas tropelias. Não é. Nada a ver.

O ministro se tornou um incômodo souvenir da passagem de Michel Temer pela presidência da República. Essa habitualidade, porém, não é suficiente para que sua conduta deixe de ofender a parcela da sociedade que não jogou o bom senso às urtigas. A nação sabe que há um fígado atuando no topo do poder judiciário reproduzindo, em bile, aquilo que supõe ser o objetivo dos fantasmas que lhe povoam a mente. Em “defesa da democracia e das instituições”, acabe-se com elas...

Esse Brasil percebeu, na perenização dos inquéritos que Alexandre de Moraes comanda, o intuito de transformá-los em instrumento de coerção da liberdade de expressão. Suas maiores vítimas são os comunicadores que com maior eficácia e impacto junto à opinião pública desnudaram os abusos por ele praticados, traduziram ao bom português suas ameaças e interpretaram o tom belicoso de suas manifestações.

Implacável como o inspetor Jalvert de “Os miseráveis”, e sob os aplausos da Globo, o ministro os tomou por inimigos e avançou sobre eles. Puniu-os preventivamente, sem coisa julgada. Cortou-lhes as fontes de sobrevivência! Atrapalhou a vida de famílias. Fez da prisão preventiva instrumento de terror.

O mal se propagou pelas instituições e a Globo não viu.

Ao não suspender os atos truculentos de seu colega, os demais ministros fizeram do STF um poder jacobino.

Ao não reagir, a atual composição do Senado Federal irá para as urnas de 2022 e de 2026 carregando sobre os ombros o imperdoável pecado de sua omissão. O Senado brasileiro se tornou um inédito poder colegiado que prevarica.

A Câmara dos Deputados, ao homologar a prisão do deputado Daniel Silveira, evidenciou ser formada, majoritariamente, por desfibrados e engravatados comandantes do navio de cruzeiro Costa Concordia.   

Nosso Inspetor Jalvert, avança na perseguição ao cidadão Allan dos Santos. Destruiu-lhe a empresa, virou-lhe a vida pessoal pelo avesso, constrangeu-o ao extremo recurso de abandonar o país. Agora, para silenciá-lo de vez, fechou o Telegram.

A Globo achou muito correto. Milhões de brasileiros serão prejudicados em suas comunicações, em seus negócios. Serviços públicos terão interrompidos seus canais de informação. A defesa contra calamidades climáticas e proteção de comunidades em locais de risco idem, idem. Mas nada é mais importante do que cortar a voz de Allan dos Santos.

Como se não houvesse outubro, se dão por vencedores!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

18/03/2022

 

Percival Puggina

 

         Quem são os donos do Brasil? Nada que se diga sobre nossa História é tão mal intencionado, tão insidioso e venenoso, quanto afirmar que o Brasil foi invadido e que isto a que chamamos Pátria pertence integralmente aos índios, seus primitivos habitantes. Observe que a tese provoca orgasmos ideológicos nos esquerdistas mais radicais. A aparente “lógica” dessa afirmação abre caminho para a negação total do direito de propriedade e de todo o Direito. Nega legitimidade moral e jurídica a tudo que aconteceu de 1500 para cá. Transforma o amor à Pátria em delírio de exploradores brancos. Instala animosidade geral entre os brasileiros, cria ressentimentos, justifica a violência, semeia culpas, divide a nação entre devedores e credores, transforma mistificadores em moralistas do passado, do presente e do futuro.

Você pode imaginar algo mais aprazível para o esquerdismo militante? Eu não.

Transcreverei aqui uma carta que no ano 2000 escrevi a um religioso católico que contestou minha opinião sobre a legitimidade dos festejos dos 500 anos do Descobrimento. Creio que ela esclarece bem a questão que ainda hoje, infelizmente, serve a manipulações históricas nas salas de aula do Brasil.

***

Quem, em todo o planeta ocupa terras que foram suas desde os primórdios? Os próprios Tupiniquins que estavam no litoral da Bahia quando Cabral chegou, não haviam expulsado dali os tapuias? Os Incas, que habitavam as costas do Pacífico no século XVI, não haviam submetido dezenas de outros povos até se consolidarem como mais avançada nação pré-colombiana? E os Aztecas, a quantos expulsaram e sacrificaram? Que fizeram na Europa e norte da África godos, visigodos, alanos, alamanos, burgúndios, germanos, hunos?

Ademais, são bíblicos e bem conhecidos os episódios da conquista da Palestina pelos israelitas vindos do Egito. Deus afastou as águas do Mar Vermelho para a travessia do povo da Aliança, mas não deixou a Terra Prometida livre e desimpedida para ele. Rolou sangue – e muito sangue.

A origem italiana do religioso que me escreveu leva a supor que ele só é católico porque Constantino, em 312, pôs fim à religião do Império. E eu nunca vi qualquer religioso reclamando do que foi feito com a cultura romana anterior ao cristianismo.

Na mesma linha de raciocínio, deveríamos lastimar que o imperador, num canetaço, haja tomado de seus patrícios, a fé e os templos. Tampouco vi qualquer religioso denunciando a ação evangelizadora dos cristãos sobre os bárbaros arianos na Alta Idade Média, nem os procedimentos de Clóvis e Carlos Magno após terem sido batizados.

Sempre estudei nos mais elementares livros de história do colégio, que os índios foram vítimas de violência, tentativas de escravidão, etc.. Não sei, portanto, de onde saiu a ideia de que só agora, com o PT e seus consectários, vem a tona a verdade sobre os fatos (*).

O que surge como coisa nova, é a tentativa de lucrar dividendo ideológico, jogando brasileiros contra brasileiros e reduzindo a história a termos compatíveis com a interpretação marxista da luta de classes.

Finalmente, lamento perceber na manifestação de tantos católicos sobre o tema, um escasso valor dado à conversão, ao batismo e à evangelização de um continente inteiro. É como se deitassem maus olhos na cruz plantada pelos nossos descobridores nas areias de Porto Seguro, após a primeira missa, que ante ela se ajoelhavam para que os nativos (na forma da carta de Caminha) “vissem o respeito que lhe tínhamos”.  

O Brasil é de todos os brasileiros!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

17/03/2022

 

Percival Puggina

 

         Criança não vota. Por isso a esquerda perdeu o rumo no caso do Danilo Gentili. Saiba: a guerra cultural em curso no Brasil é uma guerra suja, ainda mais suja que a invasão da Ucrânia. Aqui, ela é silenciosa e visa crianças e adolescentes. Mentes deformadas são menos visíveis do que edifícios em chamas. Muitas vezes, os estragos reais dessa guerra se farão sentir anos mais tarde, como acontece em certos experimentos bélicos de laboratório.

(Calma, leitor, já vou falar sobre o filme.)

Foi assim que tudo começou, aliás, nos laboratórios de Ciências Sociais da Escola de Frankfurt, nas primeiras décadas do século passado. A ideia central, como costuma acontecer no Brasil, só chegou ao conhecimento público com meio século de atraso, quando o processo já ia longe e quando os alertas já soavam como reclamos de quem grita para o ônibus que já partiu.

Correndo livre, leve e solto, inclusive sem nome de batismo conhecido, o politicamente correto já então inibia a manifestação de contrariedade e toda reclamação era percebida e combatida, entre outras rotulagens, como conservadorismo exacerbado e reacionarismo. Houve tempo suficiente para o completo controle da cultura da elite e da cultura popular. Aquela, na Universidade; esta, nos grandes meios de comunicação.

Como não poderia deixar de ser, a saborosa cultura do Ocidente foi virando essa gosma intragável que não sabe o que é nem para onde vai. Onde o que importa é fazer crer que há algo acontecendo. Pois é a própria Escola de Frankfurt: seus membros queriam destruir uma civilização sem a menor noção sobre o que iria ocupar esse lugar.

(Calma, leitor, já vou falar sobre o filme.)

Entre os autores que eu lia nos anos 60 e 70, apenas Gustavo Corção e Nelson Rodrigues pareciam ver, nos acontecimentos, a guerra cultural e suas consequências. Com coragem, partiam para o ataque severo, no campo das ideias. Em palavras de Corção, “não há guerra com espingardas de rolha, baionetas de papelão e bombas de creme”.

Danilo Gentili foi à guerra. A violência que proporcionou, na cena de pedofilia que me recuso a descrever, não se combate com reclamação encaminhada a um 0800 da vida.  À sociedade, cabe chutar o politicamente correto, a tolerância covarde e viciosa, e responder com interdição, investigação e processo.

A cultura não é e não pode ser um valhacouto de criminosos, nem lugar sagrado onde só os devotos possam entrar. Num e noutro caso, porém, os membros do clube dispõem, como se sabe, de poderes próprios para lacrações e cancelamentos...

A audácia desse sujeito serviu para mostrar que não cometia qualquer excesso quem, contemplando a esmagadora derrota que sofríamos na guerra cultural até a eleição de 2018, enumerava os objetivos do esquerdismo revolucionário frankfurtiano: normalização da pedofilia e do incesto, publicidade e liberação das drogas, destruição da instituição familiar, implosão da Igreja Católica e infamação do cristianismo.

O governo, através do Ministério da Justiça, não jogou bombas de creme. Interditou. Cumpriu seu papel. Cumpra o seu o eleitor.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.