• Percival Puggina
  • 09/08/2021
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O MEDO DO STF RACHOU O CENTRÃO

 

Percival Puggina

 

         Durante quase dois anos, Bolsonaro radicalizou a autonomia dos outros poderes. Ele enviava suas propostas ao Congresso e dizia que não iria interferir porque sua “responsabilidade era propor e a do Congresso, deliberar”. A mídia militante, claro, o acusava de omissão e inaptidão para a negociação, perante temas relevantes da vida nacional.

Errado não era o Congresso votar contra o interesse do país; errado era o Executivo não “negociar” com um Parlamento negocista.

Até que caiu a ficha e o presidente percebeu que sem maioria não estava conseguindo aprovar coisa alguma. Pior do que isso, o Legislativo aproveitava seus projetos para virá-los do avesso, de regra em benefício próprio, como no caso da lei que define os crimes de abuso de autoridade, ou nas leis orçamentárias.

No exato momento em que Bolsonaro passou a negociar com o centrão, a mídia militante mudou de perspectiva e foi buscar a biografia dos personagens, como um achado na cartola de onde pinça seu relativo dever de informar. Como se houvesse outras bancadas para essa “negociação” e como se votos disponíveis não fossem os que o governo já tinha!

Imagino que uma aproximação do presidente com o PT e seus anexos traria felicidade geral à república dos derrotados.

“Mas o governo continua sofrendo derrotas dentro do centrão”, alegará o leitor atento. Claro, uma inusitada visita do presidente do TSE, presentes líderes de 11 partidos, convenceu-os de impor uma derrota ao presidente em matéria que, a juízo dele e de parcela expressiva da sociedade, é relevante para a democracia – a transparência das apurações. Difícil não ver na reunião e em suas consequências, com a troca de membros da comissão para garantir a derrota da PEC, sinais da fragilidade do Legislativo ante os poderes extraordinários de que se revestiram os dois tribunais superiores perante a classe política. Ali, a vontade pessoal se sobrepõe à Constituição e às leis.

Resultado, o poderoso centrão rachou! Uma parte apoia o governo e outra apoia o TSE e o STF... Parece brincadeira, mas não é.