• Percival Puggina
  • 22/04/2024
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O último pau do galinheiro

 

Percival Puggina

        Está em curso no Brasil um câmbio radical nas relações entre a nação e o Estado. Na vida real, longe das enganosas narrativas e torcidas populistas, resta apenas um fiapo do ânimo que levou Ulysses Guimarães a identificar como “Constituição Cidadã” a carta de 1988. A entusiasmada definição dada pelo idoso e experiente político paulista, deputado federal por 11 legislaturas, refletia a expectativa de ter sido estabelecida a prioridade da nação sobre o Estado. No entanto, com um modelo institucional errado, saiu tudo ao reverso das expectativas.

Passados 35 anos, o cidadão – perdoem-me por dizê-lo – é o último pau do galinheiro nacional. Vive em servidão, a custear mordomias e disparidades infinitas com o suor de seu rosto sob um Estado que se cobre de sigilos enquanto lhe restringe as liberdades. A opinião dos brasileiros é a suprema inutilidade nacional, objeto de desprezo por parte daqueles que, seguindo o “Waze” de Gramsci, chegaram ao poder pela “longa marcha através das instituições”.

No trajeto, os princípios constitucionais foram transformados em massa de moldar manuseada segundo a estética das circunstâncias. No tempo do general Golbery, isso era chamado “casuísmo”.

Com o advento das redes sociais, os cidadãos erguidos em 1988 à condição de fonte da qual o poder emana puderam se expressar com eficácia. Na semana passada, porém, ficou-se sabendo que tais redes vieram acabar com a felicidade dos membros da oligarquia instalada. Que dó que dá! Em nome dessa felicidade habitual, as redes sociais ganharam mordaça, usuários pagaram multas e restrições de direitos, outros carregam tornozeleiras ou foram para o exílio. O ruído da senzala perturba o sossego da Casa Grande.

Hoje, querem nos convencer que o Estado é o oráculo, o deus da religião civil de Rousseau – onisciente, onipotente e onipresente. Ademais, alguns de seus sacerdotes veem a si mesmos como Charlotte, a última bolachinha do pacote.

Com o espírito abalado nos últimos dias por saber que nossa própria realidade política e institucional precisou ser escrita em inglês e descrita com sotaque, participei no último fim de semana, em Londrina, do 4º Fórum Educação, Direito e Alta Cultura. Falei sobre o “Eloquente silêncio de uma nação”.

O convite para ali estar me proporcionou uma experiência maravilhosa, desde o impacto causado ao ver, do alto, aquela metrópole que nasceu no início do século passado e já conta 600 mil habitantes. Acrescida de seu entorno, vai além de um milhão.

Durante o Fórum, realizado pela Editora E.D.A., com a amável e criativa regência de Cláudia Piovezan, vi a trajetória institucional e social brasileira ser esmiuçada por personalidades como Ricardo Vélez Rodríguez, Roberto Motta, Pe. Antônio Fiori, Sandres Sponholz, Filipe Regueira de Oliveira Lima, Ludmila Lins Grilo, Diego Pessi, Isabelle Monteiro, Araceli Alcântara e Henrique Cunha de Lima. Uau! Londrina me cativou e renovou meu ânimo. Quanta gente boa, não por acaso na terra do casal Edson e Cláudia Piovezan, de Paulo Briguet, de Bernardo Küster, de Silvio Grimaldo e tantos outros!

Que o Salvador os abençoe pelo bem que fazem, conduzidos pela fé legítima, a fé que conta, no Deus de amor.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 


Manoel Luiz Candemil -   25/04/2024 09:54:45

É uma profunda ironia o Estado majorando e inventando tributos ao mesmo tempo que maltrata os cidadãos e denomina o regime de democrático!!!

ODILON ROCHA -   23/04/2024 15:34:24

Observações e descrição lúcida, como sempre. Fazendo uma juntada de seus excelentes antigos não me entra na cabeça que essa corja, afrontando a CF, praticando descaradamente o laxismo penal, ajeitando leis estranhas ao verdadeiro combate à criminalidade, protegendo os "pobres coitados e excluídos", etc., etc., não saiba o que está fazendo. Não acredito que tenham convicção sobre o decidem. A quem servem? Para quem, ou para o que, estão aplainando o terreno? De fato, onde pretendem chegar? Terão alguma vantagem por estarem fazendo medonho serviço? Por que o silêncio surdo, senão desbragada omissão, de quem deveria tomar a frente para acabar com esses absurdos que já nos acostumamos? Essas, e muito mais, são perguntas necessárias e, provavelmente, irrespondíveis. Provavelmente.

Eloy Severo -   22/04/2024 17:55:09

Como sempre, muito boa matéria.

Lígia Bach Costa -   22/04/2024 12:51:14

Parabéns pela reflexão lúcida sobre a situação atual no País!

Regina Guimarães -   22/04/2024 12:31:22

Professor Puggina, que bom vê-lo participando de encontros presenciais e também de debates online com grande abrangência de espectadores. Sua presença é muito valiosa, precisamos do seu talento, conhecimento e do seu verdadeiro amor pelo Brasil. Que Deus o abençoe.

IGNÁCIO JOSÉ DE ARAUJO MAHFUZ -   22/04/2024 11:26:14

Percival, Caro Mestre Puggina. SAÚDE E PAZ! PERFEITO! NA MOSCA! Subindo além das minhas gastas alpargatas, acrescento: VAMOS APROVEITAR ESSE "ÚLTIMO PAU DO GALINHEIRO", TODO KHDO, E SOVAR O LOMBO DA TAL CASTA QUE SE JULGA SUPERIOR... Fraternal abraço, Ignácio Mahfuz

Menelau Santos -   22/04/2024 10:13:30

Maravihoso, Professor! Elon Musk visitou O Alexandre de Moraes como Moisés visitou o Faraó. Com seu cajado em forma de Twitter, tem atras de si o Congresso Americano, como Moisés tinha Deus. Vamos ver quantas pragas Elon vai precisar jogar sobre o Xandão pra ele soltar nosso povo escravizado.