• Percival Puggina
  • 25/04/2024
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Qual maioria? A que ganhou ou a que perdeu?

 

Percival Puggina

         O esquerdismo militante convence seus agentes de que isso acrescenta importantes polegadas à sua estatura moral, induzindo-os a olhar a humanidade de cima para baixo. Cada um deles é o novo Adão que emergiu das trevas da injustiça, das opressões e das exclusões que até então “encobriam a superfície do abismo” (para usar a expressão bíblica).

Em suas ocupações e atividades profissionais, o esquerdista militante coloca a missão acima da função. Seja ele professor, jornalista, padre, pastor, artista, militar, burocrata, empresário – o que for – antes de tudo é um esquerdista empenhado no papel transformador e revolucionário que lhe cabe na construção dessa nova humanidade, bem ali, no lado esquerdo do palco das ideias.        

Em todas as muitas experiências históricas e atuais, essas premissas e seus fundamentos ideológicos levam, isto sim, a uma nova eugenia. A tal de direita (sempre dita “extrema”) precisa ser sufocada para perder expressão política. Há que quebrar esses ovos para a omelete da revolução. Daí a censura que sai do texto, da obra, e atinge o autor, a família e o ordenamento jurídico do país, com sucessivas e crescentes restrições de direitos. Daí termos modernos gulags nos tais inquéritos sigilosos. Daí, também, serem os alunos, os pacientes, os fiéis, os presos, os pobres, os negros, os pardos, os gays, os leitores e o público de esquerda os únicos merecedores de atenção e defesa. Infelizmente, de tanto ver, entendi, mas preferia não ter visto.

O ministro Luís Roberto Barroso, em recente encontro da OAB Nacional, fez uma série de afirmações que exigem reflexão (assista aqui). Disse ele, em síntese, que:

- a democracia enfrenta uma onda de populismo autoritário, anti-institucional e antipluralista que vem representando um risco em muitas partes do mundo;

- a referida onda se torna perigosa por ser “autoritária, xenófoba, racista, homofóbica e misógina”;

- o populismo autoritário é o responsável por uma divisão política “nós e eles”;

- no Brasil e noutras partes do mundo, a comunicação direta by-passa instituições intermediárias como o Legislativo, a imprensa, a sociedade civil, e com muita frequência elege as Supremas Cortes como adversárias;

 - as Supremas Cortes têm o papel de limitar o poder político das maiorias políticas;

- a articulação global extremista de extrema direita se utiliza das plataformas digitais para espalhar ódio, desinformação, teorias conspiratórias e destruir reputações.

O ministro parece ter retomado nesse pronunciamento o múnus ideológico e o esquerdismo militante que assumiu no último Congresso da UNE. O raciocínio, o vocabulário e a rotulagem dos opositores como “autoritários, xenófobos, racistas, homofóbicos e misóginos” o revelam.

Se há algo que conservadores e liberais não têm é uma articulação internacional que funcione em seu favor! Estaria o ministro se referindo a Elon Musk e à plataforma X quando menciona “articulação global da extrema direita”? Nesse caso, porém, não deveria levar em conta a atuação no sentido oposto dos notórios Facebook, YouTube, Instagram, Google, etc., que já reprimiam por conta própria e gosto os perfis e páginas de direita bem antes de serem instados a isso pelo STF e pelo TSE?

Esse by-pass às instituições intermediárias criticado pelo ministro não seria, em palavras mais claras, simplesmente a livre busca da verdade? Não seria o mero direito que assiste cada cidadão de interpretar e se expressar a respeito dos acontecimentos com liberdade, independentemente do que proclamem os oráculos oficiais?

Quando li sobre a tal “articulação global extremista de direita” me lembrei de que essa articulação sempre foi marca da extrema esquerda, com suas muitas e sucessivas “Internacionais” que até um belo hino próprio têm há um século e meio: (“De pé, ó vítimas da fome! De pé, famélicos da terra!"). Ademais, como desconhecer o Foro de São Paulo, o Sul Global, a Pátria Grande e outras articulações semelhantes? Como ignorar o movimento Woke? Onde ficam, nessa narrativa, a Nova Ordem Mundial e seus bilionários promotores?

Por fim, num país onde o presidente proclamado eleito é petista, tem maioria de 9 a 2 no STF, compra maioria no Congresso, conta com ampla cobertura do jornalismo militante das grandes redações e comanda com o tilintar das moedas o setor cultural, o ministro vê necessidade de controlar o poder político das maiorias! E essa maioria – surpresa! - não é a maioria governista, mas a ameaçada e silenciada oposição.

Infelizmente, entendi, mas preferia não ter entendido.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Manoel Luiz Candemil -   30/04/2024 10:21:14

Barroso exterioriza a tática esquerdista: acusar os opositores do que eles são!!!

Paulo Moraes -   29/04/2024 11:17:28

Pois é, somente negros, pardos, alunos, gays, etc., mereciam atenção e defesa, mas agora foram incluídos na lista, não sei se pela nossa maravilhosa esquerda, os cães de estimação, por conta da morte do Joca, um Goldie Retrieve transportado por engano para Fortaleza, que vem sendo noticiada há vários dias. Virou febre. Hoje, aparece na TV, um movimento nacional com dezenas de pessoas invadindo aeroportos com cães daquela raça, para protestar exigindo das companhias aéreas mais atenção com os animais. Agora, protestar pela prisão ilegal de pessoas acampadas em Brasília, pessoas mortas diariamente em assaltos, tiroteios, arrastões, aumento do custo de vida, e outras coisas mais que estão acontecendo diariamente, aí.....

Tito Livio Bereta -   28/04/2024 07:08:39

Quando penso que tudo isso não é novo; quando penso que foi elaborado muito antesedo que "sonhava nossa vã filosofia; quando penso em Gramsci a remodelar as instruções; quando penso que montaram no caminho toda sorte de atrativos para desviar do foco as verdadeiras intenções dos embriões dos donos do mundo, regrido um pouco mais e vejo que o diabo começou o seu trabalho muito antes desses mentirosos desvirtuadores de todos os costumes. Só faltava a tecnologia. Aprendam a ler, mas não sejam capazes de interpretar e muito menos, pensar!

NORBERTO INACIO SCHERRER -   27/04/2024 16:53:43

Parabéns Arq. Puggina. O texto representa a atual situação brasileira. Ou a direita se organiza e consegue um candidato decente para concorrer em 26, ou vamos continuar nas mãos desses (não sei definir)...

Flávio Casaccia -   26/04/2024 12:09:26

Excelente texto Puggina.

Julio Dias -   26/04/2024 10:45:53

Fantástica resenha com pitadas irônicas como sempre incisivas. O Brasil precisa cada vez mais de influenciadores como você! Valeu! Seguidor Contumaz

DAGOBERTO GODOY -   26/04/2024 10:04:19

Muito bom, como de costume, bravo Percival. Que diabo de democracia é essa, na cabeça do ministro Barroso, na qual a maioria política precisa ser controlada. Então, quem governa, a minoria política? Ou, de fato, Barroso acha que cabe ao STF governar?

José Eduardo Amaral Leal -   26/04/2024 09:59:51

É o que penso e sinto. E sinto muito!

Manoel Luiz Candemil -   25/04/2024 17:42:02

Um presidente da República que tenha sido efetivamente eleito pelos cidadãos costuma comprar outros poderes?