• Carlos Newton
  • 05/11/2016
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EM FEVEREIRO, RENAN SAI DA PRESIDÊNCIA DO SENADO E SE TORNA A BOLA DA VEZ

(Publicado originalmente em Tribuna da Internet)

Não há dúvida de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ainda é um dos mais poderosos políticos do país. Mas seus dias de glória estão chegando ao fim. Seu mandato de presidente do Senado termina em 1 de fevereiro de 2017. Falta pouco, muito pouco mesmo. Quando perder o controle do Congresso, Renan passará a ser um parlamentar como qualquer outro, mas em situação de franca decadência. Embora seu filho seja governador de Alagoas, o candidato da família Calheiros acaba de ser derrotado na eleição para a Prefeitura de Maceió, numa evidência de que as coisas estão mudando na política estadual.

Ao praticamente afastar Renan da linha sucessória da Presidência da República, o Supremo acaba de demonstrar que o senador é a bola da vez, como se diz na sinuca. Na quinta-feira, chegou a ser comovente o esforço do prestativo ministro Dias Tofolli, que pediu vistas e interrompeu um julgamento que já estava decidido por maioria absoluta. Mas esse tipo de ajuda não adianta nada.

“POR OUVIR DIZER” – Renan se fez de desentendido e até divulgou uma nota, alegando que não será afetado pela decisão. “O presidente do Senado não é réu em qualquer processo judicial e, portanto, não está afetado pela manifestação dos ministros do STF, ainda inconclusa. O presidente responde a inquéritos e reitera que todos são por ouvir dizer ou interpretações de delatores. O presidente lembra ainda que todos serão arquivados por absoluta ausência de provas, exatamente como foi arquivado o primeiro inquérito”, disse ele, por meio de sua assessoria.
Como se vê, a desfaçatez do ainda presidente do Senado é incomensurável. Quer dizer que a Procuradoria-Geral da República e o Supremo abriram irresponsavelmente 12 inquéritos contra Renan Calheiros sem haver a menor prova contra ele? Apenas por ouvir dizer? Ou por interpretações de delatores? Afinal, que país é esse, em que o presidente do Legislativo sofre tamanha perseguição, à vista de todos?

ATENDENDO AO PLANALTO – Por enquanto, Renan ainda é útil e vai atendendo às necessidades do Planalto. Além de conduzir a aprovação da PEC do teto, vai lutar pela anistia ao caixa dois e pela Lei do Abuso de Autoridade, que representam os sonhos de consumo dos caciques do PMDB e de nove em cada dez políticos brasileiros.
Mas dia 31 de janeiro o sonho vai acabar, porque Renan sairá da linha sucessória “avant la lettre”, como dizem os franceses, antes mesmo de se tornar réu em algum dos 12 inquéritos, o que fatalmente acontecerá. E sem o poder de que ainda dispõe como presidente do Supremo, Renan não será mais nada, terá o mesmo valor de uma nota de três dólares.

DIÁLOGO REVELADOR – Ainda a propósito da derrocada de Renan, vale a pena relembrar a gravação do diálogo entre dois caciques do PMDB, Sérgio Machado e Romero Jucá, antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff:
Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
Jucá – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado – É… um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É, delimitava onde está, pronto.


TUDO PRONTO NO STF – Como se vê, Renan se dava tão bem com Eduardo Cunha que vai repetir a trajetória dele. É só uma questão de tempo. Para o senador alagoano, o pior está para vir. No Supremo, está tudo para transformá-lo em réu. O ministro Edson Fachin já concluiu o relatório e só falta a presidente Cármen Lúcia marcar a data do julgamento.
Outro detalhe: o herdeiro da empreiteira Mendes Júnior fez delação premiada e vai confirmar as propinas à ex-amante de Renan. Baixaria pura, bem ao estilo do ainda presidente do Senado.